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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A conquista de Old Trafford

"Na passada terça-feira, o Benfica não ganhou em Old Trafford, mas conquistou Old Trafford. Empate inesquecível, que entra como uma página brilhante da nossa história.

Há empates assim, como o 4-4 de Leverkusen, nunca mais se esquecem.

Absolutamente impressionante o momento do segundo golo inglês, onde segundos depois se ouvia no estádio «SLB, SLB, SLB», como que a gritar estamos juntos.

Eram três mil heróis, foram três mil felizardos que dirão até morrer Nós vimos o Benfica calar o 'teatro dos sonhos'. Nós vimos o Benfica conquistar Manchester.

Qualquer que fosse o resultado do jogo seria positiva aquela prestação, impressionou a forma como jogamos a nossa personalidade. Onze inicial muito bem escolhido e substituições de mestre.

Jesus foi altivo nas declarações que fez antes do jogo, mas foi imperador na forma como o comandou.

Matic e Rúben seguraram um apuramento merecido e deixaram os adeptos a fazer contas aos adversários.

Terça-feira passada, apesar do apuramento, foi dia aziago para o Benfica. Primeiro um sorteio padrasto na Taça de Portugal, colocando no nosso caminho os dois mais difíceis adversários em prova e logo no terreno destes.

Vencendo Marítimo e Sporting arrisco que ganhamos a Taça de Portugal. Os protagonistas do dilúvio da Figueira mereciam um sorteio mais simpático.

Depois, o jogo de Inglaterra trouxe-nos a lesão do nosso capitão. Luisão faz muita falta, é o jogador que mais falta faz nesta equipa onde é capitão. comandante, xerife e patrão.

O amarelo que exclui Maxi e o golo fora de jogo do United são coisas insignificantes quando comparados com a falta do Luisão.

Que Luisão volte rápido, porque a jogar assim há vários troféus para ele levantar este ano e sem ele é muito mais difícil."


Sílvio Cervan, in A Bola

Um 'derby' sem fronteiras

"Amanhã, uma dúzia de jogadores de seis países vão estrear-se no derby dos derbies do futebol português, um jogo que pede meças a qualquer Inter-Milan, Boca-River, Celtic-Rangers ou Manchester United-Manchester City. São 104 anos de confrontos directos (para ser mais preciso completam-se apenas no próximo dia 1 de Dezembro...) entre os dois clubes que nasceram em berços diferentes e implantaram-se, cada um à sua maneira, na sociedade não só portuguesa mas também de língua portuguesa. Esta é, a um tempo, uma realidade e uma responsabilidade. É verdade que especialmente nos países africanos de língua oficial portuguesa e em Timor (no Brasil o impacto, face à dimensão do país e à circunstância histórica, é pequeno) o Benfica-Sporting é visto com a paixão de uma partida local, entre clubes do coração, ou não fosse até capaz de parar a guerra colonial, como descreve Lobo Antunes com a mestria que Deus lhe deu, quando era hora de relato radiofónico.

Significa isto que todos os agentes ligados directa ou indirectamente ao derby têm sobre os ombros a responsabilidade acrescida do exemplo, a obrigação de tudo fazerem para que a partida decorra sem incidentes dentro e fora das quatro linhas, afinal aquilo que deve ser a normalidade...

O desporto, mais especificamente o futebol, é neste momento um dos principais veículos de aproximação de Portugal aos países que falam a língua de Camões. É fundamental que, nesta fase complicada que Portugal atravessa, todos percebam esta verdade e que todos estejam à altura do momento. Porque o Benfica-Sporting, o jogo mais belo do calendário nacional, só faz sentido se for entendido como o fazem hoje, em A BOLA, Eusébio e Hilário. Rivais, sim. Amigos, sempre."



José Manuel Delgado, in A Bola


PS: A entrevista publicada hoje n'A Bola, ao King e ao Hilário é de facto muito boa, uma delícia de pequenas histórias... Sendo que a oportunidade desta entrevista foi 'definida' pela velhaca e mentirosa máquina de propaganda Lagarta:

O jornal oficial dos Lagartos, desesperados, numa tentativa de responder às declarações do Eusébio ao Expresso, fizeram uma entrevista ao Hilário, supostamente negando as afirmações do King. Não só falharam o objectivo principal, porque uma cuidada leitura de toda a entrevista, confirma tudo o que o King disse, como ainda mais grave, 'puxaram' para título da entrevista, uma frase do Hilário completamente fora do contexto, tentando provocar uma desavença entre os dois 'irmãos'!!! Desrespeitando o seu ex-jogador...

Não é a primeira vez que isto acontece no panfleto propagandista Lagarto, têm todo o direito em serem parciais, não têm é o direito de entrevistarem pessoas, e depois como as respostas não são totalmente do seu agrado, habilmente, colocam frases na boca das pessoas, que nunca foram ditas...

Ainda recentemente quando tentaram branquear a história do Góis Mota no balneário do Atlético, ameaçando a equipa de arbitragem, fizeram exactamente a mesma coisa: alterando as respostas do entrevistado!!!

Lagartices!!!

À Capela

"Uma boa intenção devia ser suficiente para resolver um problema? Devia, mas não é. Ou é?!


Na semana em que Vítor Pereira ficou, enfim, menos mal, e André Villas Boas, por ironia, se vê agora bem pior, no momento em que Jorge Jesus pode, por fim, celebrar a sua primeira qualificação para os oitavos-de-final da Champions e emendar assim a vergonhosa campanha na prova da época passada, e mesmo quando estamos a poucas horas de confirmar a grande expectativa criada em torno do maior derby do futebol português, muito graças ao forte dispositivo anímico que o Sporting vem revelando para não falar da sua crescente intensidade competitiva, há quem pareça muito mais interessado em fazer de um outro dispositivo, neste caso de segurança, o assunto principal da semana.

Não têm mais nada com que se preocupar.

Estamos a falar da colocação de uma rede, já instalada em muitos dos grandes estádios europeus com objectivos bem cumpridos, aprovada neste caso pela Liga de Clubes e avaliada pelas forças de segurança, e que é a melhor solução especialmente para todos os estádios submetidos a maiores enchentes e palco dos mais escaldantes desafios.

Trata-se, grosso modo, uma rede de fibra não inflamável, sem qualquer perigo para os espectadores e com fortes vantagens no controlo do arremesso de objectos, por exemplo, e também, claro, dos indesejáveis encontros físicos de primeiro grau entre os adeptos dos clubes em jogo ou com as forças de segurança.

É o cenário ideal? Claro que não. Mas estaremos nós em condições de aplicar cenários ideias quando se vêem por aí tantas cenas eventualmente chocantes?

Ideal seriam estádios sem fossos e sem redes. E não seria também ideal não se ver violência nos campos? E o arremesso de perigosos objectos e tochas? E cadeiras incendiadas, arrancadas ou atiradas?

Alguns sportinguistas parecem agora ter-se indignado muito mais do que quando no seu próprio clube se decidiu construir um disparatado fosse a toda a volta do relvado do novo estádio - como hoje reconhecem, aliás, os seus dirigentes.

Do polémico fosso de Alvalade à polémica instalada pela história da rede na Luz vai, agora, a distância entre o desnecessário e o ridículo.

OK, os leões estão a fazer uma tempestade num copo de água diante do desaconselhável silêncio encarnado. Na verdade, não custava nada aos responsáveis da Luz ter explicado os benefícios prováveis do novo dispositivo de segurança em qualquer estádio de futebol, sobretudo em jogos de tão forte tensão emocional.

Imagine-se, entretanto, que por causa do novo dispositivo, os dirigentes dos dois clubes já nem sequer se vão sentar à mesa antes do jogo, e os do lado leonino - rejeitando o convite para o tradicional almoço - retaliam ainda com a ausência do camarote presidencial dos encarnados.

Vão juntar-se na bancada ao coro dos que falam em sentir-se enjaulados ou engaiolados (expressões ouvidas apenas da boca de alguns sportinguistas...) por um dispositivo de segurança que é apenas isso, um dispositivo de segurança, e que amanhã à noite não trará, acredito, nada de anormal ao jogo grande da jornada, que todos esperam ver chegar ao fim como um grande jogo.

Vão ver.

Na noite de estreia no maior derby português para muitos dos jogadores estrangeiros das duas equipas e na noite de estreia em clássicos até do próprio árbitro, os dirigentes leoninos julgarão estar, com aquela medida, a dar a melhor resposta à natural ansiedade dos seus adeptos.

A diferença é que aos adeptos não se exige que vejam claro; mas aos dirigentes deve impor-se que não sejam cegos.

Nas polémicas, não há nada pior do que ficarmos a falar à capela. Ou seja, sozinhos."


João Bonzinho, in A Bola

Palco dos Sonhos

"Nada melhor do que um palco mítico do Futebol, como é o de Old Trafford, em Manchester, para o Benfica alcançar mais um feito glorioso. O Futebol internacional rendeu-se, uma vez mais, ao Futebol pragmático do Benfica, que fez em Manchester uma grande partida e que o coloca, desde já, nos oitavos-de-final da prova rainha do Futebol europeu. Mais do que destacar as individualidades, penso que o que importa realçar é o espírito do colectivo que soube impor-se nos momentos de maior adversidade. Fomos grandes a sofrer, fomos enormes a atacar, fomos práticos na abordagem ao jogo e, raramente, deixámos os de Manchester jogar à vontade. Estivemos muito bem em todos os sectores, mas foi o guarda-redes, Artur Moraes, o jogador mais influente no desfecho do resultado. Um punhado de excelentes defesas em momentos críticos permitem-me afiançar que, depois de Preud'Homme, foi a contratação mais acertada de um passado recente para a baliza 'encarnada'.

Jorge Jesus está, igualmente, de parabéns pois não se encolheu. Fez alinhar uma equipa de cariz ofensivo, mas equilibrada em todas as fases de jogo... e aqui residiu a grande força da nossa equipa. O Benfica nunca se partiu, nunca desfez a coesão do grupo, e com um espírito de coragem, entrega e solidariedade que caracteriza este grupo de trabalho, conseguiu-se alcançar o objectivo da qualificação.

Uma palavra final para os três mil adeptos que encheram um dos topos de Old Trafford. O Benfica é grande porque tem, de facto, uma massa adepta invulgarmente dedicada, que acarinha e apoia os seus atletas como se da família se tratasse. Fomos grandes também a cantar, fomos enormes em empurrar os ingleses para o silêncio, fomos correctos nas celebrações, fomos inexcedíveis no apoio. No final, os ingleses aplaudiram-nos, porque não só fomos melhores dentro de campo, mas porque também fora dele, soubemos fazer parte de um espectáculo inolvidável."


Luís Lemos, in O Benfica

Old Trafford

"Não fui ver o Benfica a Old Trafford. O Benfica não ganhou em Old Trafford. Ouvi o Benfica desde Old Trafford. O Benfica ganhou Old Trafford.

Eu sei que estava lá o Aimar e o Luisão, o Artur e o Javi, o Jorge Jesus e o Pietra, mas o Benfica que ganhou Old Trafford foi um Benfica de adeptos, sócios, simpatizantes, portugueses e benfiquistas. Foi um Benfica nascido na vontade e expressado na voz e na emoção de quem gritou a alma benfiquista durante mais de noventa minutos. Foi o Benfica de quem não renova contratos, pois assinou no benfiquismo um compromisso para a vida, um compromisso incondicional e intemporal. O Benfica que ganhou Old Trafford foi o Benfica de três mil vozes que deram voz a milhões de vontades. No Benfica que venceu Old Trafford estava a eficácia de Rogério Pipi, a elegância de José Águas, o magnetismo de Coluna, a rapidez de Simões, a abnegação de Toni, a determinação de Bento, o génio de Chalana, o benfiquismo de Rui Costa, a magia de Aimar… Mais do que tudo, estavam também as lágrimas do benfiquista desconhecido a quem me abracei no Bessa, no jogo do título no ano de Trapattoni; o sofrimento do benfiquista de pelo menos sete décadas que se senta atrás de mim no Estádio da Luz e que, sempre em silêncio, festeja os golos do Benfica apertando as mãos (fundindo as mãos) como se naquele aperto estivesse a capacidade de transformar o caos em cosmos. No Benfica que venceu Old Trafford estavam os sorrisos, as lágrimas, os abraços, os impropérios, as injustiças, as esperanças de todos os que sabem que, se não fossem benfiquistas, não seriam as pessoas que vieram a ser.

Dizem os jornais que o Benfica empatou em Old Trafford. Mentira, o Benfica ganhou Old Trafford, porque, durante mais de noventa minutos, o que se ouvia era a voz do Benfica cantando bem alto o nome do Glorioso. O resto foi um teatro de sonhos a silenciar-se perante a voz do Benfica, a nossa voz."


Pedro F. Ferreira, in O Benfica

Há de tudo na Liga...

"1. O Benfica já teve de tudo este ano. Um jogo debaixo de um nevoeiro intenso, que em certas alturas nada deixava ver, num estádio (do Nacional da Madeira) aliás impróprio para uma I Liga. Um jogo (em Braga) de constantes (e estranhos...) apagões. Agora, um jogo numa autêntica piscina, sem que, desta feita, a equipa da casa, da Naval 1º de Maio (que aliás se bateu muito bem até final), tivesse qualquer culpa no sucedido. Foi pontapé para a frente, à espera que o golo surgisse. Felizmente, surgiu a tempo de se evitar o prolongamento e um desgaste suplementar. Foi a única coisa positiva (para o Benfica) deste jogo da Taça.


2. Portugal confirmou a presença na Fase Final do Campeonato da Europa, eliminando a Bósnia na nossa Catedral, naturalmente escolhida face à sua lotação (mais 15 mil lugares que Alvalade) e ao apoio que, ali, o público podia dar à Selecção Nacional. Tudo normal, tudo lógico. Mas nem sempre foi assim. Inaugurado em 1954, o nosso antigo Estádio, que também era o que tinha maior lotação, apenas em 1971 foi pela primeira vez utilizado pela Selecção, numa altura em que o Estádio de Alvalade já recebera três jogos e o do Restelo um jogo (nas Antas haviam sido realizados oito, mas no Porto não havia a alternativa-Estádio Nacional). E depois ainda há quem diga que o Benfica era o Clube do Antigo Regime. Antes pelo contrário, muito antes pelo contrário...

Eusébio, sem o dizer abertamente, confirmou-o com o exemplo da sua juventude em Moçambique. Não terá sido 'politicamente correcto' mas foi sincero e disse uma verdade: 'Não gosto do Sporting. No meio bairro, era o clube da elite, da polícia e dos racistas.' Claro que os sportinguistas não gostaram de ouvir as verdades, mas bastará citar dois dos seus mais emblemáticos presidentes (Góis Mota e Casal-Ribeiro) ou ver a composição da Conselho de Estado à data do 25 de Abril de 1974, recheado de altas figuras deste clube. O Sporting foi mesmo o clube do Regime. O Benfica e Eusébio, graças aos seus êxitos, foram aproveitados pelo Regime nos seus últimos anos. Sem nada poderem fazer para o evitar.


3. Carlos Martins passa por momentos dificílimos. Já não tenho idade para tentar salvar a vida do seu filho, Gustavo. Mas também eu faço um apelo aos benfiquistas para se dirigirem aos postos de rastreio."


Arons de Carvalho, in O Benfica

Talentos

"Incrível! Um jogador de Futebol de 20 anos precisou apenas de 66 segundos em campo e de dois toques na bola para resolver um encontro, jogado num atoleiro, e assim resolver uma eliminatória da Taça de Portugal. O atleta em questão, Rodrigo Moreno, brasileiro de nascimento, espanhol de nacionalidade, faz parte do plantel do Benfica: transitou há dois anos do Real Madrid e está agora à disposição do treinador do Benfica após um ano de empréstimo ao Bolton. O golo de Rodrigo foi o sexto com a camisola do Benfica, cinco dos quais em quatro jogos. Na equipa de Sub-21 de Espanha, Rodrigo Moreno tem sido o marcador de referência dos últimos tempos.

Este é um talento descoberto e valorizado no Benfica. E vários outros têm despontado nos anos mais recentes. Angel Di Maria era um jovem predestinado, mas sem massa muscular nem sentido de equipa, quando chegou ao Benfica. Fábio Coentrão era um médio contratado ao Rio Ave e rodou por outras equipas antes de assentar no plantel do Benfica e se afirmar como o melhor defesa esquerdo do Mundial de 2010. David Luíz era um esperança do Futebol brasileiro e no Benfica fez-se uma realidade do Futebol mundial. E Bruno César, craque do Brasileirão, precisou de se exibir no Benfica para ser chamado à canarinha. Prontos a dar muito que falar, no plantel do Benfica, estão jovens atletas como o belga Axel Witsel, o sérvio, Nemanja Matic, ou os portugueses da estirpe de Mika, Luís Martins, David Simão ou Nélson Oliveira.

Juntando a todos estes talentos que agora despontam, a sabedoria, a experiência e a criatividade de jogadores feitos que o Benfica soube encontrar e trazer para o plantel, bem se pode dizer que a equipa está bem servida de talentos e bem provida de activos. Mas tal como a vida, a roda da fortuna também não deixa de rodar."


João Paulo Guerra, in O Benfica