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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

À Capela

"Uma boa intenção devia ser suficiente para resolver um problema? Devia, mas não é. Ou é?!


Na semana em que Vítor Pereira ficou, enfim, menos mal, e André Villas Boas, por ironia, se vê agora bem pior, no momento em que Jorge Jesus pode, por fim, celebrar a sua primeira qualificação para os oitavos-de-final da Champions e emendar assim a vergonhosa campanha na prova da época passada, e mesmo quando estamos a poucas horas de confirmar a grande expectativa criada em torno do maior derby do futebol português, muito graças ao forte dispositivo anímico que o Sporting vem revelando para não falar da sua crescente intensidade competitiva, há quem pareça muito mais interessado em fazer de um outro dispositivo, neste caso de segurança, o assunto principal da semana.

Não têm mais nada com que se preocupar.

Estamos a falar da colocação de uma rede, já instalada em muitos dos grandes estádios europeus com objectivos bem cumpridos, aprovada neste caso pela Liga de Clubes e avaliada pelas forças de segurança, e que é a melhor solução especialmente para todos os estádios submetidos a maiores enchentes e palco dos mais escaldantes desafios.

Trata-se, grosso modo, uma rede de fibra não inflamável, sem qualquer perigo para os espectadores e com fortes vantagens no controlo do arremesso de objectos, por exemplo, e também, claro, dos indesejáveis encontros físicos de primeiro grau entre os adeptos dos clubes em jogo ou com as forças de segurança.

É o cenário ideal? Claro que não. Mas estaremos nós em condições de aplicar cenários ideias quando se vêem por aí tantas cenas eventualmente chocantes?

Ideal seriam estádios sem fossos e sem redes. E não seria também ideal não se ver violência nos campos? E o arremesso de perigosos objectos e tochas? E cadeiras incendiadas, arrancadas ou atiradas?

Alguns sportinguistas parecem agora ter-se indignado muito mais do que quando no seu próprio clube se decidiu construir um disparatado fosse a toda a volta do relvado do novo estádio - como hoje reconhecem, aliás, os seus dirigentes.

Do polémico fosso de Alvalade à polémica instalada pela história da rede na Luz vai, agora, a distância entre o desnecessário e o ridículo.

OK, os leões estão a fazer uma tempestade num copo de água diante do desaconselhável silêncio encarnado. Na verdade, não custava nada aos responsáveis da Luz ter explicado os benefícios prováveis do novo dispositivo de segurança em qualquer estádio de futebol, sobretudo em jogos de tão forte tensão emocional.

Imagine-se, entretanto, que por causa do novo dispositivo, os dirigentes dos dois clubes já nem sequer se vão sentar à mesa antes do jogo, e os do lado leonino - rejeitando o convite para o tradicional almoço - retaliam ainda com a ausência do camarote presidencial dos encarnados.

Vão juntar-se na bancada ao coro dos que falam em sentir-se enjaulados ou engaiolados (expressões ouvidas apenas da boca de alguns sportinguistas...) por um dispositivo de segurança que é apenas isso, um dispositivo de segurança, e que amanhã à noite não trará, acredito, nada de anormal ao jogo grande da jornada, que todos esperam ver chegar ao fim como um grande jogo.

Vão ver.

Na noite de estreia no maior derby português para muitos dos jogadores estrangeiros das duas equipas e na noite de estreia em clássicos até do próprio árbitro, os dirigentes leoninos julgarão estar, com aquela medida, a dar a melhor resposta à natural ansiedade dos seus adeptos.

A diferença é que aos adeptos não se exige que vejam claro; mas aos dirigentes deve impor-se que não sejam cegos.

Nas polémicas, não há nada pior do que ficarmos a falar à capela. Ou seja, sozinhos."


João Bonzinho, in A Bola

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