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sexta-feira, 18 de junho de 2021

Valter...

SL Benfica | 5 retornados úteis para 2021/2022


"Num ano que se espera de requalificação do plantel, importa perceber o momento do SL Benfica e o desgaste financeiro que 2020-21 proporcionou. Em temporada atípica, na qual a grande maioria dos clubes optou por reforçada cautela no momento de ir às compras por força do impacto da pandemia nas suas contas em relação à bilheteira, principalmente, as águias foram em sentido contrário.
98,5 milhões de euros gastos, a janela de transferências mais dispendiosa da história do clube e o sexto lugar no ranking mundial do mesmo índice. Com o fracasso a toda a linha, é momento de voltar ao projeto imposto desde 2016 – foco no Seixal – e voltar a basear o plantel na prata da casa, que na sua maioria se aventurou Europa fora em 2020-21.
Ao todo, foram 16 os emprestados pela equipa principal dos encarnados, que se espalharam por 11 países e que, com raras exceções, viram o seu desenvolvimento comprometido por opções desadequadas na escolha dos destinatários.
É hora de voltar a casa e contribuir para a causa benfiquista, sedenta de uma base identitária que relacione equipa e massa adepta e da qualidade imposta pelo produto nacional, visível nas grandes carreiras das seleções nacionais Sub-21 e “A”.

1. Carlos ViníciusDez golos e três assistências enquanto alternativa a Harry Kane, cumprindo na perfeição o papel a que foi proposto. 13 contribuições para golo em 1009 minutos (20 jogos), perfazendo média de 77 minutos entre cada participação em finalização certeira da equipa: só os 45 milhões da cláusula de compra impediram a continuidade de Carlos Vinícius em Londres, para bem do SL Benfica.
Na Luz e com os elementos da frente em claro défice emocional – temporadas complicadas para Darwin, Waldschmidt ou Gonçalo Ramos –, Carlos Vinícius teria impacto e assumiria papel de destaque, regressando onde nunca deveria ter saído, quando se despediu enquanto melhor marcador do campeonato 2019-20.
O seu regresso, porém, esbarra na vontade de Jorge Mendes, que pretende negociar o ponta-de-lança e garantir encaixe financeiro significativo, vontade a que o SL Benfica não é alheio.

2. Florentino Luís Experiência pessoal incrível para o atleta, comprometendo, paralelamente, o plano desportivo. O empréstimo ao AS Mónaco foi passo atrás na carreira – nove jogos na Ligue 1 (235 minutos), dois na Coupe de France –, parado que esteve praticamente todo a temporada.
Olhando o plantel monegasco, percebia-se desde logo uma extrema dificuldade em competir por um lugar: com Tchouameni, Fofana ou Fábregas, a condição de emprestado retirou-lhe quaisquer hipóteses de afirmação. Porquê valorizar Florentino quando se dão 15 milhões ao RC Estrasburgo para contar com Fofana? Ou 18 milhões ao FC Girondins de Bordeaux para contar com Tchouaméni?
As qualidades superlativas do seu talento, traduzidas numa admirável visão de jogo e num completo domínio da arte de defender, não se ofuscam porém com tanta facilidade nem passam despercebidas a quem sabe.
Rui Jorge viu nele a peça fundamental no equilíbrio do seu onze na fase a eliminar do Euro quando os jogos pediam mais segurança do que aquela que Daniel Bragança conseguia assegurar – a entrada em campo do médio do SL Benfica foi fulcral tanto com a Itália como com a Espanha, assegurando-lhe titularidade na final contra a Alemanha. Se o resultado final foi inglório, certezas ficaram assentes quanto às capacidades intactas de Florentino, apesar de um ano clubístico menos conseguido.
A voltar à Luz, colmatava uma série de problemas apresentadas pela intermediária em 2020-21. Um ‘6’ clássico ao gosto de Jorge Jesus, que rende mais como único homem, pivot defensivo que liberta o outro médio da parelha para papel mais despreocupado e que poderia até conciliar-se com Julian Weigl em jogos de maior envergadura tática.
Pelo que pode oferecer no seio do plantel e pelas características distintas, novo empréstimo não se justifica.

3. Gedson Fernandes Começou mal a sua aventura no estrangeiro. A chegada a um Tottenham com ambições de top quatro da Premier League não foi o espaço ideal para ter minutos, como seria expectável.
A essa incapacidade de se afirmar num plantel recheado de estrelas conciliou-se o pouco à vontade de Gedson em jogar como lateral – posição onde Mourinho mais via utilidade nos talentos do multifacetado médio benfiquista. Não quis, a sua vontade em triunfar enquanto box-to-box remeteu-o a papel de terceiro ou quarto plano: daí que só tenha cumprido um jogo nos primeiros seis meses de 2020-21, 90’ na terceira eliminatória da FA Cup.
A mudança para Istambul foi então lufada de ar fresco necessária na sua carreira. A partir de janeiro foi fulcral na luta pelo título turco – 17 jogos na Süperlig, 1399 minutos – caminhada inglória para o Galatasaray SK, que perdeu o confronto com o rival Besiktas JK por um mísero golo (os mesmos pontos, 84, diferença de golos 45-44 a seu desfavor). Apesar disso, essa boa sequência deu-lhe estatuto para o Euro Sub-21, onde foi titular nos quartos e meias-finais, atuando no lado esquerdo do losango de Rui Jorge.
A alta rotação que emprega no seu jogo e a dimensão física que dá à equipa são características a gosto de Jorge Jesus, mas cabe ao SL Benfica perceber que papel irá ter Gedson dentro do grupo: seria sempre solução muito prática num papel de rotação, pela polivalência e características diferenciadas que lhe permitem fazer a diferença no aspeto físico.
Porém, da Turquia ouvem-se laivos de interesse tanto de Galatasaray SK como dos rivais Besiktas JK, cabendo ao SL Benfica discernir em que tipo de contornos se assume o interesse turco: novo empréstimo, tendo em conta a nova visão financeira do clube, só se justificará com cláusula de compra obrigatória.

4. Jota Ganhou outro fôlego com o papel importante que teve no Euro Sub-21. Saiu do banco nos três jogos da fase a eliminar e ajudou a seleção de Rui Jorge com um golo, além de dar outros recursos técnicos e amplitude ao 4-4-2 losango apresentado.
Durante a temporada, na La Liga, foi na maioria do tempo suplente quer de Óscar Plano quer de Orellana, ainda assim com aptidão suficiente para completar 17 jogos, o que equivale a 665 minutos, mais 63′ para a Taça do Rei.
Além da concorrência, foi obrigado a duas paragens prolongadas – infeção por Covid19 e entorse -, com as participações a intensificarem-se nesta reta final de época: o que prometia uma ideia de continuidade para uma eventual segundo ano de empréstimo, não tivessem os leoneses descido ao segundo escalão, ao terminarem no 19º posto da La Liga.
Com estilo idêntico ao de Everton Cebolinha, Jota seria adição valiosa às extremas encarnadas, mais não fosse nessa perspetiva de rotação. Com as saídas de Pedrinho, Cervi ou Chiquinho, ganha-se o espaço necessário para inclusão de Jota no plantel principal dos encarnados, num regresso que se concilia com os desejos de recato financeiro e valorização de prata da casa.

5. Tiago DantasA grande paixão futebolística de Hansi Flick. Com a saída do técnico de Munique, o clube liderado por Rummenigge e Salihamidzic abandonou as pretensões de desenvolvimento dos talentos de Tiago – apesar da cláusula de compra, cifrada nos 7,5 milhões de euros, ser esforço mínimo para os cofres alemães.
Com a saída do técnico alemão rumo à Maanschaft, a política interna voltou aos moldes tradicionais: a prioridade é a prata da casa, Musiala, Arp, Zirkzee, Rhein e companhia. Com sete jogos cumpridos na 3.Bundesliga ao serviço da equipa secundária e dois na divisão principal, junto das estrelas maiores do conjunto, não se pode considerar época perdida para Tiago Dantas: a experiência de treino acumulada junto de grandes craques e de um grande treinador são experiência que lhe será muito útil no futuro.
A única condicionante do seu talento, a capacidade física, seria aspeto visado com o máximo cuidado na sua aventura alemã, entretanto interrompida precocemente – e por isso mesmo, regressando à Luz e a conceitos futebolísticos primitivos, muitos não lhe verão grandes possibilidades de integrar a intermediária das águias.
Não é fácil imaginá-lo num meio-campo a dois de Jorge Jesus: e mais difícil ainda é imaginá-lo no futebol sem ideias a que se assistiu em 2020-21, em Lisboa. Ainda assim, é essencial segurar Dantas e introduzi-lo na equipa principal, com uma perspetiva a longo prazo. A inteligência ímpar do seu jogo e as doses industriais de criatividade que empresta ao conjunto assim o obrigam."

O Cantinho Benfiquista - Euro 2020 Special | Better Late Than Never

Tóquio #17 - Patrícia Sampaio

Euro2020: Países Baixos 2 - 0 Áustria

Euro2020: Dinamarca 1 - 2 Bélgica

Euro2020: Ucrânia 2 - 1 Macedónia do Norte

Espírito desportivo: valores em conflito


"Os universos moral e desportivo cruzam-se. Com a prática desportiva pretende-se inventar um universo à parte: ser “desportivo” é ser “moral”; ser “atleta” é ser “exemplar”. Cremos que é uma imagem demasiado fácil e redutora, até porque temos versões negativas da prática desportiva: os excessos, as lesões, as violências, as corrupções, etc. No geral, o desporto vive prosaicamente com o seu tempo, pretendo magnificar a sua imagem. Desejando ser um modelo, deixa-se devorar pela paixão. Quando se pretende perfeito, cria uma certa inquietação.
Que sentido dar, então, a estes “combates” regulamentados, do qual o desporto-espetáculo se tornou emblemático, esta “mise en scène” que se pretende exemplar e que fascina? O tema educativo está, inevitavelmente, presente, mas como compreender um desporto que afirma o seu valor formativo, quando, na verdade, pode trair o seu projeto inicial? Quais são os valores que são transmitidos aos jovens de hoje?
Se olharmos para a expansão do desporto no final do século XIX, ou seja, o das competições físicas abertas a todos, regulamentadas pelos clubes e associações, não parece existir uma exigência pedagógica. A moral da valorização da competição, em que se promete o seu controle, faz sonhar com uma prática onde triunfam os equilíbrios educativos: o prazer e a vontade, a iniciativa individual e solidária. Nasce um “espírito desportivo”, uma Morale des Sports, para retomar o título de um ensaio de Paul Adam (1907), que leva à “energia do caráter e o vigor”, e que alia o aperfeiçoamento individual e o respeito pelo outro. Nasce também o sentido da regra moral em que a gratuitidade do confronto desportivo leva ao “culto da honra e da sinceridade”, segundo Pierre de Coubertin.
Difundir o “fair-play” atravessa a vida doméstica e a vida do trabalho, e nas relações sociais. Daí a insistência do modelo exemplar do desporto. O desporto agrada pelo fervor competitivo e pela sua moralidade. A prática imposta constrói um mito, ou seja, um evento de uma perfeição credível e, portanto, realizável num mundo quotidiano, a crença da sociabilidade exemplar, idílica, que proíbe a banalidade dos dias.
O espírito desportivo é uma forma excecional de suscitar os modelos e de os exibir. Como todo o fenómeno de sociedade, a ligação entre desporto e educação, postulando a virtude do desporto, presta-se a diversas interpretações. O espírito desportivo assenta numa representação do homem e da mulher (corpo e alma) e a expressão de um jogo através de regras e de representação de um homem e de uma mulher aptos a desenvolver as suas qualidades físicas e intelectuais."