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quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Campeonato entre parêntesis

"Discordo do modo como são constituídos os grupos para apurar os eleitos para um Mundial de futebol.

Selecção e selecções
1. Campeonato interrompido pelos jogos entre selecções, tempo ideal para vaguear entre os interstícios que as eliminatórias para o Mundial de 2018 nos permitem. Sem o nervosismo inerente à paixão clubista, mas com a ansiedade imanente ao amor pátrio. Mandaria a correcção política escrever que a sensação é a mesma, mas é meu dever escrever o que sinto, mais do que aquilo que racionalmente deveria pensar. Porque no pensamento a racionalidade leva-me a pôr Benfica e Portugal (ou Portugal e Benfica) no mesmíssimo plano. Já o coração é mais incontrolável, deambulando ardilosamente entre os neurónios. E aí o Benfica torna a dianteira. Por ele me transformo, por ele usufruo de alegrias quase infinitas, por ele sofro até ao tutano da alma. E isto não significa que não me sinta orgulhosamente e exuberante, como português, quando a nossa bandeira sobe bem alto e quando ultrapassamos barreiras de um país pequeno face a países, mais ou menos arrogantemente, auto-intitulados fortes. Que me desculpem os mais puristas patriotas (e alguns de pacotilha), mas só quem tem uma verdadeira paixão clubista perceberá o que escrevo. Seja benfiquistas, portista ou sportinguista. Assim como compreendo muito bem os que são apenas sócios da selecção. Falo com muitos e, sobretudo muitas. E o que constato? Que, salvo raras excepções, não têm clube ou, não têm paixão e militância emocional.
2. Discordo do modo como são constituídos os grupos para apurar os eleitos para um Mundial de futebol. Não que ponha em causa o carácter universal da competição. Referindo-me mais concretamente à Europa, entendo que deveriam ser preservados alguns pontos, tais como:
a) evitar os jogos entre tão díspares divisões que nada acrescentam e são ridículos;
b) em vez disso, acho que deveriam ser organizadas diferentes divisões, segundo o ranking oficial, digamos o primeiro, segundo e terceiro escalões, em que haveria o aliciante de os jogos serem mais equilibrados e havendo sempre selecções apuradas destes diferentes escalões, maioritariamente do primeiro, menos do segundo e um representante da 3.ª divisão. Um pouco, aliás, como já se faz para o apuramento na Champions em que há um APOEL, um Qarabag ou um Astana que, de outro modo, seriam esmagados nas eliminatórias.
Gosto particularmente da lógica de apuramento na América do Sul, disputando-se um verdadeiro campeonato, todos contra todos e alcançados o apuramento os primeiros 4 ou 5 classificados. Bem sei que lá - tirando a Venezuela e, quiça, a Bolívia - há mais homogeneidade futebolística, mas não me pareceria mal que as 16 melhores selecções europeias fossem divididas em dois grupos com apuramento das melhores três ou quatro.
Luxemburgo, Bielorrúsia, São Marino, Moldávia, Arménia, Cazaquistão, Malta, Lituânia, Macedónia, Liechtenstein, Gibraltar, Kosovo, Ilhas Féroe, Letónia e Andorra são selecções que deveriam jogador o seu campeonato para uma delas ser premiada com a ida ao Mundial. Bem sei quão são importantes, para as eleições da FIFA, os votos destas federações secundárias. Daí que nada mude ou se finja que muda.
No seu conjunto, a triste figura que fizeram no actual modelo resume-se a um deplorável quadro (não considerando a última jornada): em 144 jogos, 12 vitórias, 23 empates e 109 derrotas (vitórias, e empates, quase só entre eles, quando no mesmo grupo). Marcaram 82 golos e sofreram 392 golos! Se, porém, retirarmos os encontros entre estas duas selecções quando jogaram entre si, quando no mesmo grupo, teríamos, por exemplo: Gibraltar só com derrotas, 3 golos marcados e 43 sofridos; Liechtenstein só com derrotas, 1 golo marcado e 35 sofridos; São Marino só com derrotas, 2 golos marcados e 46 sofridos; Malta só com derrotas, 3 golos marcados e 22 sofridos, etc., etc. Enfim, uma fartura, à custa de um franganotes que, em alguns casos nem países são (Gibraltar) e noutros nem estádios têm em condições, como Andorra, Kosovo e, claro, Gibraltar que jogo em... Faro! Assim se vão acumulando internacionalizações a rodo para todos os gajos, que até os passarões de intermediação futebolística agradecem pois a um qualquer banal jogador sempre é possível apor o carimbo de internacional e inflacionar o passe.
3. Escrevo antes do decisivo Portugal-Suíça na Luz. Temos tudo para não precisar do habitual play-off. E assim continuar um itinerário de apuramentos ininterrupto neste século, ou seja, atingir o 10.º entre 5 Mundiais e 4 Europeus. Brilhante!

Taça de Portugal
A propósito de condições mínimas dos estádios (ou mais rigorosamente dos campos de futebol), em que a UEFA é tão intransigente nas competições europeias de clubes e a FIFA tão negligente nas competições mundiais de selecções, passo para a Taça de Portugal, que, agora, já é disputada pelos clubes da divisão principal. Com uma regra que aplaudo: equipas de escalões inferiores jogam sempre em casa quando o sorteio lhes dita uma equipa de escalão superior. Por duas boas razões: a possibilidade de aumentar a surpresa do que se convencionou chamar tombas-gigantes e a obrigatoriedade de as equipas mais cotadas irem jogar por esse Portugal fora. Enfim, dois factores que tornam ou deveriam tornar, a Taça de Portugal como a competição mais democrática do futebol português.
Acontece que nem sempre as regras são regras e a sua excepção toma conta da regra. O Benfica iria a Olhão, contra uma equipa com tradições primodivisionárias, mas que agora anda pela 3.ª divisão, pomposamente chamada de 'Campeonato de Portugal' (então as 1.ª e 2.ª divisões são de onde?). Parece que o relvado de Olhão está uma miséria e vai daí o jogo será no estádio do Algarve. Gostaria de saber se o tal relvado está mais impraticável que o dos Barreiros no Funchal onde o Benfica se viu obrigado a jogar num simulacro de relva misturada com abundante terra e outras ervas. O Benfica joga do mal o menos - perto de Olhão. Já o FC Porto, a quem calhou em sorteio do Lusitano Ginásio Clube, mais conhecido por Lusitano de Évora, clube com 106 anos e com a sua camisola de riscas verticais estreitas, não vai jogar no velhinho campo Estrela. Sinto um especial carinho por este clube, não só porque é uma bela cidade de Portugal, mas porque me lembro dos tempos em que disputava a primeira divisão e de alguns dos seus jogadores que moíam a cabeça aos grandes do nosso futebol (Vital, Falé, Polido, José Pedro e tantos outros). Pois, lá está, o campo não terá condições e o jogo será em... Lisboa (Restelo). Lá se vai o fascínio do sorteio que Évora bem merecia acolher. Pergunto: se ao Olhanense e ao Lusitano tivessem calhado outros clubes da primeira divisão que não um dos grandes, onde se disputariam os encontros?

Contraluz
- Número: 26 milhões
É o que Neymar exige ao Barcelona que, se não pagar, deveria - segundo ele - ser expulso da Champions. Ah, ia-me esquecendo: €26 M de prémio de renovação de contrato que foi... interrompido por vontade do próprio, que até já havia recebido antecipadamente €8,5 M! A ignomínia insaciável de um atleta que sabe muito de bola, que nunca está satisfeito nas suas contas por mais zeros que estas tenham à direita, mas que de ética é um zero à esquerda. Uma desfaçatez sem limites. Ele e outros também são especialistas em fugir aos impostos e dizem, com um ar angélico, que disso nada percebem porque alguém, que não eles, trata do assunto. E o mundo futebolístico ajoelha-se perante monstros aldrabões e fiteiros. Fosse com um comum cidadão e por uns patacos, o que aconteceria?
- Bom exemplo: Andrés Iniesta
Não me refiro à sua sageza em não misturar futebol com política ao contrário do seu colega Piqué que resolveu ser independentista jogando pelo adversário (Espanha). Refiro-me antes ao seu carácter discreto, sereno e anti-vedeta e, obviamente, ao seu futebol de eleição (que saudades tenho do par Iniesta-Xavi, único na história do futebol), e também porque foi notícia a sua renovação vitalícia pelo seu único clube, o Barcelona, onde está há 19 anos!
- Péssimo exemplo: a falta de respeito por um minuto de silêncio
Sporting, Porto e Benfica multados pela javardice do costume de grupelhos de adeptos. Uma multa que deveria directamente ser paga pelos javardos. Talvez assim se calassem. Quando não se respeita uma morte, não se respeita a própria vida. A começar pela dos próprios."

Bagão Félix, in A Bola

Pormenores

"Há vários aspectos que marcam o rumo e definição de um jogo de futebol, surgindo à cabeça a qualidade dos jogadores e a organização colectiva e estratégia traçada pelo treinador, mas quando a bola começa a rolar, por mais apurado que tenha sido o trabalho até aí, do ponto de vista táctico e emocional, a história de cada encontro ganha vida própria, não há qualquer controlo remoto capaz de dominar e concentração e inspiração (ou falta dela) de cada protagonista naquele dia, naqueles 90 minutos, o que se reflecte na eficácia das acções defensivas e ofensivas (tendo como consequência directa golos sofridos ou golos marcados). Há, depois, uma série de questões mais voláteis: um ressalto, uma lesão, um erro individual, um equivoco de arbitragem. Fazem parte do jogo e, normalmente, os benefícios vão-se dividindo. A estrelinha hoje pode ser o galo de amanhã ou vice-versa. Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe. Mas há ainda, outro tipo de detalhes. Vou dar-vos um exemplo.
Na segunda-feira, a República da Irlanda conseguiu uma vitória decisiva em casa do País de Gales, que lhe permitiu, por troca com os galeses, precisamente, ficar no segundo lugar do grupo D, atrás da Sérvia, e assim garantir presença no play-off de acesso ao Mundial. Para a história do jogo ficará o golo solitário de James McClean, jogador do WBA, aos 57 minutos, e daqui a 1, 5, 10, 15 ou 20 anos ninguém vai lembrar-se, provavelmente, do pormenor: a forma como Jeff Hendrick,médio de 25 anos do Burnley, numa jogada que foi tudo menos um hino à elegância, pressionou o defesa Ashley Williams, reagiu rápido ao ressalto, evitou que a bola saísse e acreditou mais que todos os outros que aquele esforço poderia dar em algo, fazendo a assistência para o golo.
Ontem, ao assistir ao Portugal-Suíça, lembrei-me muito de Jeff Hendrick, de como nos estava a faltar um detalhe assim, daqueles que não estão nos livros, para desbloquear o jogo. E não é que ele apareceu? Obrigado, Djourou!"

Gonçalo Guimarães, in A Bola

Uma odisseia na Luz

"Odisseas Vlachodimos chegou ontem a Lisboa e nem precisou de um cartaz luminoso para ser mais um exemplo da incoerência que o Benfica revelou no último defeso e que parece não ter acabado. 
Com a saída de Ederson anunciada largos meses antes, ninguém percebeu muito bem qual o plano das águias para a baliza. Era confiar em Bruno Varela, Júlio César e Svilar? Então porquê tantos movimentos no mercado, em especial pelo finlandês Lukas Hradecky? Era assegurar uma alternativa sólida, directa ao onze? Então porque... não foi contratado ninguém?
Em Outubro, numa altura em que o mercado está fechado, aterra em Lisboa um guarda-redes de 23 anos, internacional sub-21 pela Alemanha e titular de um dos grandes da Grécia. Se fosse em Agosto, seria visto como o principal candidato ao onze. Como é agora, é impossível saber o que espera o Benfica de Vlachodimos. Virá com o estatuto de número 1? E em que pé fica a aposta em Svilar, considerado no Seixal como um diamante em bruto? Virá para ser alternativa? E Bruno Varela não serve nem para isso? Então... porque foi titular no arranque da época?
São demasiadas coisas que parecem fazer pouco sentido e que, numa altura que tudo corre mal dentro de campo, ficam mais expostas ao julgamento dos adeptos e opinião pública. Após ganhar quatro campeonatos seguidos, talvez se tenha pensado que a mítica frase de Mário Wilson fosse de novo verdade. Mas o "risco" de ser campeão - no Benfica ou em qualquer outro clube - exige muito trabalho."

O Mundial 2018 tem um vencedor (e já foi eliminado)

"Ainda nos devem dois campeonatos do mundo e vários anos de interregno por altura das grandes guerras. Devem-nos vários jogadores atirados para as fileiras de combate, onde destruir adversários era muito mais do que deixá-los para trás com a bola nos pés.
A guerra deve-nos, provavelmente, a hipótese de ver a melhor Jugoslávia de sempre, numa fase final. Deve uma presença no CAN ao Togo; uma casa a sério, a Paulo Fonseca e ao seu Shakhtar.
Conflitos e situações políticas internas, mesmo que diferentes de um estado de guerra, também tiraram um Mundial a Johan Cruijff, outro à União Soviética e a vida ao colombiano Escobar.
A guerra roubou palco à Wunderteam austríaca, privou o mundo de Sindelar, fez de sérvios, kosovares, albaneses ou croatas refugiados ou nómadas. Trouxe muitos a Portugal, roubou a real identidade a outros tantos.
Não é difícil concluir que a guerra já teve protagonismo a mais no futebol e quando se pensa que é coisa do passado convém lembrar que a Síria fez toda a campanha de apuramento para o Mundial da Rússia sem jogar em casa. Fez da Malásia a Síria que já não tem. Existe, mas não como deveria. 
Chegar mais longe do que nunca, nestas condições, é a primeira grande vitória do Mundial. Sejamos francos: há muito pouco interesse numa fase de apuramento, quando comparado com toda a magia da fase final. Por isso, acompanhar a saga da Síria foi do melhor que este período deu.
Mesmo sabendo que a própria selecção não é consensual no país. Não se pode falar de um povo unido em torno de um campo de futebol porque há quem veja a selecção da Síria como um produto do regime de Bashar Al-Assad. Omar Al Somah, por exemplo, o homem que levou o narrador sírio à loucura com o golo em Teerão que apurou o país para o play-off com a Austrália, esteve cinco anos afastado da selecção por apoio aos opositores do regime. Firas al-Khati, talvez o melhor jogador, esteve fora pelo mesmo período.
Não nos enganemos, portanto. Há muito de político por trás da actual selecção síria, mas é tentador escolher só o futebol e tentar separá-lo do resto. Para quem gosta deste mundo, não é difícil torcer pelo sucesso de um país sem casa, devastado pela guerra e que, a somar a tudo isso, nunca teve visibilidade suficiente num desporto que até é democrático o suficiente para projectar jogadores dos quatro continentes e de países sem expressão, como a Libéria de Weah, o Togo de Adebayor, a Arménia de Mkhytaryan ou Trinidad de Dwight Yorke.
Da Síria, nada.
Provavelmente, porque o remate de Al Somah, desta vez, foi uns centímetros mais para a direita do que o previsto, também não será desta que um sírio entrará para a história do futebol. E se aquele pontapé tivesse entrado, nada garantia que assim fosse. Havia um playoff para disputar e não são poucas as equipas que passaram pelo Mundial sem deixar pegada. Alguém sabe dizer o nome de um chinês do Mundial 2002? De um zairense de 74? Um salvadorenho de 82?
Mas, como quando os marfinenses paravam a guerra civil para ver os jogos de 2006 ou o Shakhtar festeja um título em Lviv, ver a Síria ficar tão perto, mesmo que caindo em lágrimas, não pode deixar de ser visto como uma vitória do futebol sobre a guerra.
Tudo somando, ainda estamos a perder. Este é pouco mais do que um golo de honra. Mas é também um raro caso em que é bem melhor que não haja oportunidade para empatar."

Palco talismã da selecção

"Depois de uma exibição algo cinzenta em Andorra, o jogo da Luz chegou para sossegar alguns espíritos.

Cumprida a obrigação de ganhar em Andorra, faltava outra vitória para ganhar o direito de comparecer pela quinta vez consecutiva na fase final do Campeonato do Mundo de Futebol.
E o estádio da Luz foi, mais uma vez, o palco talismã da selecção portuguesa, defrontando e vencendo a Suíça, num jogo para o qual entrámos em situação de desvantagem.
Os suíços chegaram a Lisboa com um registo invejável, depois de terem ganho nove jogos consecutivamente. Bastar-lhes-ia, pois, terminar o jogo com Portugal como o iam iniciar, ou seja, um empate a zero. E, mesmo sabendo que a qualidade do adversário dava para assustar, a verdade é que não se trata de uma tarefa impossível.
A primeira parte da selecção portuguesa não foi verdadeiramente convincente, mas também não levou ao desespero. E, no pós-intervalo, a nossa melhor condição permitiu materializar a vantagem que era necessária para poder respirar fundo e confirmar uma superioridade que nunca foi colocada em causa.
Depois de uma exibição algo cinzenta em Andorra, o jogo da Luz chegou para sossegar alguns espíritos.
Por isso, lá estaremos na Rússia no próximo ano para tomar parte na festa maior do futebol mundial, na companhia de mais 31 selecções de todos os continentes.
Até lá há ainda algum caminho a percorrer: serão vários os jogos particulares, o primeiro dos quais com a Espanha, que permitirão a Fernando Santos descobrir novas pistas, para que no Mundial seja possível apresentar a melhor e mais competitiva selecção.
O que se conseguiu até aqui é mérito de um triângulo que merece destaque: a começar pelos jogadores, passando pelo seleccionador, e sem esquecer a Federação, com Fernando Gomes à frente. 
É ao excelente trabalho deste corpo que se fica a dever mais este sucesso agora alcançado.
Os portugueses estão-lhes gratos."

Novos embaixadores do “mar português”: que desafios?

"Frederico Morais (actualmente, o mais bem posicionado atleta no ranking mundial), Joana Schenker (acabada de se sagrar campeã mundial de bodyboard), Teresa Bonvalot, Miguel Blanco, Vasco Ribeiro, Camila Kemp (entre tantas, tantos outros talentos confirmados e promessas futuras), têm elevado a qualidade dos atletas portugueses em contexto nacional e mundial.
De facto, 2017 está a ser um ano onde novos "embaixadores" do talento português têm ganho uma nova e maior visibilidade.
Por certo que, esta nova geração de atletas não surge por obra do "mero acaso" nem por um fenómeno de "geração espontânea".
O Surf, em Portugal, tem-se afirmado nos últimos anos como uma modalidade em franca progressão, seja em termos da qualidade dos seus atletas/treinadores, das ferramentas de especialização disponíveis para estes últimos (como é o caso, a título de exemplo, da pós-graduação em High Performance Surf Coach, da FMH) ou, inclusive, dos modelos de treino cada vez mais multidisciplinares, integrando preparadores físicos, nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos, no corpo de especialistas que suportam algumas escolas.
Por esta razão, e até do ponto de vista económico, tem-se revelado uma "apetecível" fonte de aposta para algumas empresas que, cada vez mais, procuram associar-se a atletas e eventos, valendo, o negócio do surf, em todas as suas vertentes, mais de 400 milhões de euros em Portugal.
À semelhança de outras modalidades, e da Formação à Alta Competição, muitos talentos se perdem ou não se afirmam, de forma consolidada.
De facto, quando se começa a "avistar a alta competição", muito em particular numa modalidade individual, o principal adversário começa a ser... a sua PRÓPRIA CABEÇA (em boa verdade, o mesmo acontece na vida de cada um de nós!).
Actividades como o surf e o bodyboard, para além da exigência comum a todas as outras modalidades, no que compreende a mestria de competências técnico-tácticas (em contexto de treino e performance) e das competências psico-emocionais que irão suportar a exibição de uma performance de excelência, de forma consolidada, compreendem ainda uma componente de 'risk -taking', muitas vezes experenciada em situações percepcionadas como "quase-morte" (entenda-se "ameaços" de afogamento ou "face-to-face"... com tubarões).
Por esta razão, a partir de um dado n~ivel de performance, a diferenciação em termos de tabela classificativa, começa a manifestar-se em função dos traços de personalidade dos atletas, do seu talento e da sua capacidade em produzir uma espécie de "never ending" esforço de superação (que se encontra bem espelhado na entrevista a Frederico Morais . http://tribunaexpresso.pt/surf/2017-10-05-O-bom-rapaz-).
Na realidade, a busca incessante de optimização de todas as variáveis que possam estar associadas ao sucesso desportivo (desde o lifestyle, à nutrição ou ao treino de competências psicológicas), acaba por ser um denominador comum a todos os Top Performers, independentemente da sua área de actuação (desporto, empresas ou artes).
Para o "comum dos mortais", possivelmente, este cenário faz antecipar uma Vida recheada de stress e um "overload" de responsabilidades mas, na realidade, este tipo de performers desenvolve uma relação de desafio com a actividade escolhida, referindo, muitos deles, que a constante superação se traduz, frequentemente numa espécie de "adição positiva" (com uma boa dose de adrenalina e reforço constante da confiança, associados).
Kelly Slater, neste enquadramento, espelha actualmente um ideal de longevidade e sucesso, associado a 42 anos de vida e 11 títulos mundiais, transformando-o, por certo, numa inspiração para muitos atletas.
Curiosamente, e como o próprio reconhece, ele conseguiu um sucesso sem igual devido à sua forte estratégia e resistência mental.
Reconhecido pelos seus oponentes como um concorrente feroz (que não se inibe de tentar manipular, durante o heat, o equilíbrio psicológico dos seus adversários), este atleta usa seu talento (surf) como pré-requisito para o sucesso, mas confia na sua capacidade estratégica para se superar e superar os seus adversários a 200% - só isso lhe garante a possibilidade de ganhar a jovens extraordinariamente dotados, com metade da sua idade.
A performance de excelência que reflecte a imagem de marca deste atleta, curiosamente, mais não é do que um fortíssimo compromisso com a modalidade que abraçou, que se tem traduzido, ao longo dos anos, numa procura de expertise em áreas tão distintas como o funcionamento do seu corpo e mente, o domínio sobre as condições climatéricas e de mar e, muito provavelmente, até num "profiling" que já possui dos seus adversários...
Enfim, numa busca incessante (e infindável) de mestria sob todas as variáveis que possam estar associadas ao Sucesso...
Este sim, será o verdadeiro "campeonato" em que os nossos atletas terão que competir: o do compromisso com uma busca incessante de excelência."

Alvorada... com Manteigas

Benfiquismo (DCXXIII)

Vamos a eles...

105x68.... Selecção, Taça...

O problema do futebol português

"Muitos leitores terão visto imagens da lesão do jogador de voleibol do Benfica. Durante o derby, Ary Neto deslocou o ombro, estando a sua carreira em risco. De imediato, a equipa médica do Sporting prestou auxílio e enquanto o brasileiro abandonava o pavilhão, os adeptos do Sporting ovacionaram-no. Sucederam-se trocas de agradecimento nas contas oficiais de twitter dos dois clubes. Um ambiente que contrasta de forma radical com o que se passa no futebol.
Não por acaso, o presidente da Federação tem alertado para a degradação do clima em redor do futebol e para a "apologia do ódio" que se instalou para "esconder insucessos", e que tem nos ataques sistemáticos às arbitragens o seu triste corolário. Faz sentido a preocupação de Fernando Gomes: se este ambiente ainda não contaminou o sucesso das selecções, o risco de tal acontecer é real.
Por que razão este clima de urbanidade que se vislumbrou, por momentos, numa partida de voleibol se encontra tão distante do dia-a-dia do futebol português?
Não sou adepto de um futebol higienizado. Pelo contrário, o sucesso do futebol explica-se por se tratar de um último reduto de irracionalidade, que precisa da dose justa de paixões exacerbadas. Há, contudo, limites e em Portugal estes têm sido ultrapassados demasiadas vezes.
Existem explicações para a degradação do ambiente em torno do futebol e muitas delas estão no espaço mediático.
Com o surgimento dos canais de cabo o ritmo noticioso intensificou-se e o espaço para análise aumentou. Ora não foi preciso muito tempo para os vários canais perceberem que não há minuto de televisão tão barato e que dê tanta audiência como pôr uns quantos adeptos a falar de futebol. Sei do que falo, pois eu próprio participo num desses programas, onde, justiça seja feita, mantemos uma bonomia relativamente incomum.
O problema é que nos programas de futebol fala-se, num tom exaltado e intragável, de tudo menos de futebol: 95% do tempo é consumido em discussões infindáveis em torno de erros das arbitragens – que cresceram exponencialmente com a qualidade das realizações que tornam possíveis repetições de todos os ângulos – e por comentários aos devaneios dos directores de comunicação dos clubes.
A degradação do clima mediático tem na falta de acesso aos protagonistas do jogo outro dos problemas. É difícil encontrar uma entrevista a um treinador ou jogador onde estes falem de futebol. Os clubes não deixam os atletas e responsáveis técnicos falarem ou, quando deixam, estes não têm nada para dizer. Também a discussão sobre futebol tem horror ao vazio e há excesso de tempo de comentário e falta de assunto para comentar.
Claro que nem tudo é explicável pela dinâmica comunicacional. Pode bem dar-se o caso de o essencial da degradação do ambiente resultar da senda vitoriosa de um clube, num contexto de constrangimentos financeiros. Se o Benfica não vencer este ano, vão ver como vai melhorar o ambiente do futebol português."