Últimas indefectivações

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Os jornalistas não são figurantes do entretimento

"O Benfica chegou a acordo com Jorge Jesus, ou vice-versa. Tanto faz. Assim terminou sem acrescento de embaraços o litígio judicial que opunha as duas partes desde o verão de 2015 quando o treinador, sabendo bem quanto era indesejada a sua continuidade na Luz, partiu surpreendentemente para Alvalade. "Surpreendentemente", enfim, só para quem andava a dormir. O desfecho desta semana pode não ter agradado às franjas de fanáticos dos dois lados da Segunda Circular mas considere-se como uma dádiva dos céus a cordialidade expressa pelo Benfica e por Jorge Jesus, ou vice-versa, na conclusão do absurdo que, felizmente, não chegou a ser discutido na barra de um qualquer tribunal.
O que o Benfica deve a Jorge Jesus e o que Jorge Jesus deve ao Benfica fica agora e, espera-se, para sempre contabilizado com a justiça devida: uma catrefada de títulos em meia-dúzia de anos electrizantes. O facto de o treinador, na véspera do acordo com o antigo patrão, ter admitido publicamente que foi "muito feliz no Benfica" fazia, de facto, prever um desfecho airoso e com aquela coisinha reconfortante a que se costuma chamar honra para ambas as partes. Era apenas isso o que se exigia ao grande clube que fez, finalmente, daquele treinador maduro um treinador campeão e que se exigia também ao treinador campeão que devolveu ao enorme clube o hábito, há muito arredio, de erguer troféus atrás de troféus. E, pronto, não se fala mais nisso.
Deviam ou não deviam aqueles 40 jornalistas ter correspondido ao ‘convite’ endereçado – através da exposição de uma lista com os seus nomes – para comparecer numa "sessão de esclarecimento" encenada pelo presidente de um clube de futebol com anúncio prévio de transmissão em directo da dita sessão no canal de televisão do dito clube? Não, não deviam. Os jornalistas não são, nem por definição nem na sua essência, figurantes voluntários de programas de entretenimento televisivo. Um dia até podem vir a ser mas, por enquanto, ainda não são. Ainda assim compareceram meia-dúzia, o que é de assinalar. Terão os outros 34, com as suas sonoras ausências, violado de alguma forma o código deontológico da sua profissão? Não, não violaram código algum. Não fugiram à informação nem, muito menos, fugiram à notícia. Aliás, ressaltou evidentíssima a notícia para quem a quiser ler: os jornalistas não são figurantes de programas de entretenimento. Queriam melhor notícia?
A vaga de confissões do já famoso empresário César Boaventura faz crer que este campeonato nacional de futebol de 2017/2018 vai durar muito para lá do mês de Maio. Muito, mesmo.
O Benfica joga hoje em Paços de Ferreira. Para ganhar os 3 pontos terá o campeão de ser esta noite a melhor das quatro equipas em campo. À partida, não vai ser fácil. As outras três equipas são a do Paços de Ferreira, a equipa de arbitragem e a equipa do vídeo-árbitro. Não corras, não, Benfiquinha."

Sensibilidade e bom senso

"Rui Vitória, um treinador sensato por hábito e formação, pediu ontem rigor o bom senso aos árbitros. Fê-lo, como frisou, sem querer acusar ninguém, embora tenha ficado para todos claro que se referia, em concreto, às desastrosas arbitragens de João Capela no Tondela - Sporting e de Vasco Santos no Estoril - FC Porto - neste último caso com mais responsabilidade do VAR do que do árbitro. É um facto que esses dois jogos tiveram, por motivos diferentes, momentos inenarráveis, arrasadores para a credibilidade de uma classe para quem os portugueses sempre olharam (e, se as coisas se mantiverem assim, continuarão a olhar) com profunda desconfiança.
Convém, ainda assim, lembrar que casos como os deste fim de semana não são tão raros como deviam. Ou seja, não é a primeira vez que um árbitro prolonga para lá do razoável o tempo de compensação ou que o VAR valida um golo tão incompreensíveis como os do Tondela ou da Amoreira, têm-se sucedido. Por uma razão simples: não é bom senso que o arbitragem precisa (os árbitros até têm dado sinais de ser os mais sensatos em toda esta loucura), mas sim de competência. Porque não há tecnologia, por mais válida que seja,capaz de sobreviver à incompetência. Claro que para se ser bom árbitro é preciso outros atributos, entre os quais o tal bom senso, a sensibilidade e, até, a coragem. Mas sem competência nenhum dos outros serve de muito.
E, claro, os bons árbitros (porque aos mais não há nada que lhes valha) precisam também de tranquilidade. E porque como quase tudo é uma pescadinha de rabo na boca, isso só lhes será dado se os clubes tiverem, também eles, bom senso. Que, como todos sabemos, caiu em desuso em quase todas as áreas da nossa sociedade, futebol incluído."

Ricardo Quaresma, in A Bola

Bruno e a má cópia de Pinto da Costa

"Para Bruno de Carvalho, Pinto da Costa representa a figura do mestre mas o Porto não é Lisboa e a cópia, de má qualidade, está cheia de erros.

Percebe-se, sem grande esforço de análise, que Pinto da Costa representa para Bruno de Carvalho a figura do mestre. Salvaguardando as devidas diferentes de personalidade, o presidente do Sporting vâ no homem que fez, com Pedroto, a grande revolução do norte, com o sucesso de uma evidente transferência de poder, e até de regime, de Lisboa para o Porto, o modelo a seguir.
No essencial, Bruno de Carvalho tem por objectivo o sucesso de uma nova revolução: desta vez, quer, ele próprio, garantir o poder absoluto do futebol português, transferindo-o para o outro lado da Segunda Circular, mesmo que para isso, esse poder tenha de regressar transitoriamente à Invicta.
Há, porém, alguns problemas que parecem de difícil ou mesmo impossível solução, os quais Bruno de Carvalho não é capaz de contornar. O primeiro é que, obviamente, o Porto não é Lisboa. Não se trata, evidentemente, de um juízo de valor, mas de uma constatação da realidade histórica das duas cidades e da manifesta diferença de idiossincrasia dos seus povos; o segundo, é que não tendo suficiente capacidade intelectual para inovar e criar um modelo próprio fazendo ajustar o esgotado modelo do pintismo ao novo tempo e à nova realidade, apenas se limita a fazer uma cópia cheia de erros e de manifesta má qualidade; enfim, o terceiro e definitivo problema é que Bruno de Carvalho parte do princípio errado de que é possível aplicar internamente uma declaração de 'estado de sítio', proibindo os direitos e garantias de um universo leonino que há mais de cem anos soube tornar-se mais livre e o mais diverso universos dos clubes de futebol nacional.
O objectivo primeiro e essencial de Bruno de Carvalho até pode ser legítimo, desde que visto num quadro de cultura de poder fundamentalista em que sempre têm vivido os sucessivos imperadores do nosso império do futebol.
Porém, o projecto para o tornar exequível é primário e condenado ao fracasso, a curto ou a médio prazo. E essa é a razão maior para qual os sportingusitas devem estar assustados. No momento em que o seu futebol perder (e pode acontecer já esta época) é legítimo temer pelo futuro e pelo desabamento da resistência psicológica do povo leonino, sobretudo, se tiver que se confrontar com um novo regresso a um ponto zero.
Se Bruno de Carvalho tivesse aprendido o essencial com Pinto da Costa e não apenas a espuma do seu modelo revolucionário, teria verificado que o líder portista nunca caiu no erro de declarar guerra ao mundo e de ficar orgulhosamente só. Bruno percebeu essa ideia no que respeita aos clubes e, daí, a tácita aliança que estabeleceu com o FC Porto contra o inimigo comum, o Benfica, mas não entendeu que Pinto da Costa sempre manobrou com agilidade e inteligência em todos os outros sectores da sociedade portuguesa, incluindo-se, aqui, a estratégia de alianças e de criação de cíclicos inimigos criteriosamente escolhidos na área dos media.
Outro erro grosseiro de Bruno de Carvalho foi o de não entender que Pinto da Costa sempre criou condições para unir os portistas em redor de inimigos e de objectivos comuns. Porque Pinto da Costa, mesmo no tempo em que precisou de recorrer a estratégias agressivas, que foram consentidas e toleradas por um universo político e judicial amedrontado com o fantasma do imenso poder do futebol, nunca dividiu internamente o seu clube e levou os seus críticos a admitir que tudo o que fazia, mesmo o que ia além do moral e eticamente admissível, o fazia em prol dos interesses do FC Porto e não dos seus interesses individuais, coisa que Bruno de Carvalho não parece ser capaz de distinguir.
(...)"

Vítor Serpa, in A Bola

PS: Entre outras coisas, onde é que o Serpa foi buscar a ideia que o universo leonino, hà mais de cem anos, é o universo mais livre e mais diverso?!!!
Um adepto do Belenenses, com realidades alternativas Lagartas é perigoso!!!

Resposta a um sportinguista zangado

"O facto de o futebol ser um mundo sujo, e de haver múltiplas razões para duvidar da hombridade de personagens como Filipe Vieira ou Pinto da Costa, não justifica um discurso totalitário.

A propósito do artigo que escrevi sobre Bruno de Carvalho, um leitor deixou este comentário no meu Facebook: “Sempre fui um leitor assíduo dos seus textos. Os quais se identificavam sempre com a minha linha de pensamento. Lá estava plasmado tudo o que gostaria de dizer faltando-me o engenho para tal. Contudo, o que escreveu sobre o presidente do meu clube foi para mim de tal gravidade que me faz abandonar este espaço. (…) No seu clube as situações são muitíssimo mais graves e o seu silêncio sobre isso raia a falta de seriedade.” Esta crítica merece que eu regresse ao tema do Sporting, para clarificar dois pontos que são para mim fundamentais.
O primeiro tem a ver com aquilo a que se costuma chamar a “paixão pelo futebol”, e que todos nós tendemos a aceitar pacificamente, como uma espécie de fanatismo manso. Ninguém leva a mal que um adepto de futebol declare em público que prefere ver a sua equipa ganhar com um golo irregular do que acabar o jogo empatado – e quem não apreciou a mão de Vata no jogo com o Marselha, como é o meu caso, é porque não é um verdadeiro benfiquista. Deixou-se aos poucos instalar a ideia de que o verdadeiro benfiquista, tal como o verdadeiro sportinguista ou o verdadeiro portista, deve suspender durante 90 minutos o espírito crítico e as regras de civilidade como demonstração da sua verdadeira “paixão” pelo clube. Alguém aceitaria que um militante do PSD declarasse publicamente que preferia ver Rui Rio ser eleito primeiro-ministro através de uma fraude eleitoral do que António Costa continuar em São Bento? Claro que não. Mas o futebol é outra coisa, não é?
Eu até estaria disposto a admitir que o futebol é, de facto, outra coisa se esse fanatismo fosse apenas do domínio da encenação, como o Carnaval – um breve momento em que nos entregamos nos braços da loucura. Só que o peso que o futebol tem presentemente na nossa sociedade, e a forma como ele está a contaminar o nosso espaço público, cada vez permite menos essa tolerância para com comportamentos bárbaros. Precisamos, por isso, de regressar ao bê-á-bá civilizacional, colocando o futebol no seu devido lugar, deixando de ser complacentes com a conversa dos fanáticos e combatendo todos os discursos totalitários.
E é assim que chegamos ao segundo ponto fundamental deste texto e às críticas do leitor. Quando ele declara que no Benfica há situações “muitíssimos mais graves” e que não falo delas, o mais importante não é mostrar o que eu já disse sobre Luís Filipe Vieira (e disse alguma coisa), mas afirmar claramente que para quem ama a liberdade não há situação mais grave no futebol do que a tripla bizarria a que assisti na última semana. 1) O discurso de Bruno de Carvalho sobre o que os sportinguistas devem ver, ler ou fazer; 2) o índex detalhado do inquisidor Saraiva sobre como se deve comportar uma comunidade de 3,5 milhões de pessoas; 3) o comunicado conjunto do Sporting e de uma dúzia de comentadores amestrados sobre o “desrespeito sistemático da instituição”. O facto de o futebol ser um mundo sujo, e de haver múltiplas razões para duvidar da hombridade de personagens como Filipe Vieira ou Pinto da Costa, não justifica um discurso totalitário, mesmo que em nome do combate à corrupção. Todos os fascismos e todos os comunismos destruíram regimes corruptos – e isso não os tornou mais admissíveis. Metam isto na vossa cabeça, por favor: entre um grande ladrão e um aprendiz de ditador, o aprendiz de ditador é, de longe, o mais perigoso."

Uma Semana do Melhor... Chupa-Chupa!!!

Benfiquismo (DCCLVIII)

Mais um...

Jogo Limpo... Juízes!!!

Luís Ferreira, Calheiros e Donato Ramos

"FC Porto lidera com mérito. Terá jornada fácil e amiga no Algarve antes de receber o Sporting.

Numa semana em que o Benfica goleou o Boavista, o FC Porto goleou o Rio Ave, o SC Braga goleou o V. Guimarães, Bruno de Carvalho goleou o Sporting, que por sua vez tinha goleado o tempo regulamentar de um jogo de futebol, ficou tudo aparentemente satisfeito. Houve goleadas para todos os gostos. No António Coimbra da Mota, tivemos uma nova aparição de Luís Ferreira, esse valor seguro da arbitragem nunca falha. Depois do Benfica - Boavista da última época, aqui está novamente em destaque. Luís Ferreira representa, nos tempos actuais, o que os seus colegas Carlos Calheiros ou Donato Ramos representaram na década de noventa passada.
O FC Porto lidera com mérito num campeonato onde terá uma jornada fácil e amiga no Algarve antes de receber o Sporting, num jogo de crucial importância. O Benfica não pode fazer mais do que ir vencendo os seus jogos e contornando os adversários dentro de campo, porque fora já se viu não ser capaz. No passado sábado, no jogo com o Boavista, não fazendo uma exibição de tanta qualidade como a do Algarve, o Benfica teve sempre o jogo controlado em mais uma exibição fantástica de Zivkovic. Saí da Luz ainda irritado com a derrota (única até agora) da primeira volta. Na Mata Real, teremos um adversário desesperado por pontos, num campo tradicionalmente difícil para o Benfica, e que exige um jogo de máxima intensidade do Benfica. Como sempre disse, os candidatos ao título poucos pontos perdem num campeonato tão desequilibrado, por isso, para quem já perdeu 13, resta vencer os jogos todos. Neste momento não faltam onze jogos, falta Paços de Ferreira e mais dez. O calendário tem que ser tratado com o cuidado de todas as parcelas, este é o momento da Capital do Móvel.
Semana pontuada com uma excelente exibição dos orientados de Paulo Fonseca (Shakhtar), que se arriscam a ser os únicos intrusos numa Champions reservada a quatro países. A Taça Latina da década de 50 era bem mais plural e democrática que a actual liga dos milhões. Como me lembrava um amigo esta semana, agora há mais goleadas na Liga dos Campeões que na Taça de Portugal, porque o desnível é maior.
Última nota, porque no mundo ainda há heróis; aos 36 anos (37 em 8 de Agosto) Roger Federer é de novo n.º1 do ranking ATP vencendo o seu 97.º torneio. Não há palavras? Se calhar há; Obrigado! (pelo exemplo e pelo desporto)"

Sílvio Cervan, in A Bola