Últimas indefectivações
quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Primeira derrota europeia...
Limoges 36 - 28 Benfica
17-11
Derrota, por mais de 6 golos, e assim perdemos a vantagem em confronto direto, após a vitória na Luz! Ambas as equipas estavam qualificadas, mas estes dois jogos, 'contam' para a próxima fase de grupos, e assim as duas equipas levam 2 pontos, mas os Franceses ficaram com a melhor diferença de golos! Diga-se que o Limoges tem uma orçamento muito superior, e a vitória do Benfica na Luz, foi uma grande 'surpresa'!
Péssimo final do 1.º tempo, e nunca mais conseguimos aproximar o marcador... Acabámos por cometer demasiados erros não forçados, principalmente no ataque...
Agora, vamos ter jogos com adversários Espanhóis e Suecos, mas mantendo o nível, creio que temos hipóteses...
Filtros...
Benfica perdeu 1-0 contra o Bayern Munique na Alemanha e foi dizimado pela comunicação social portuguesa.
— Polvo das Antas - Em Defesa do SL Benfica (@moluscodasantas) November 26, 2024
Sporting é goleado em casa por 1-5 contra o Arsenal e já estão a passar pano em todos os canais nacionais.
Vão mas é para o caralho.
Vamos lá a isso
"1. As declarações de Andreas Schjelderup sobre o seu colega de equipa Ángel Di Maria são deliciosas. 'É realmente impressionante o facto de ele continuar a jogar ao nível que joga com aquela idade. Ele é um vencedor nato. É uma pessoa fantástica e um jogador ainda melhor'.
2. Schjelderup tem 20 anos e é norueguês, Di Maria tem 36 anos e é argentino. O Benfica tem, com certeza, aquilo a que um dia se convencionou chamar 'um bom balneário'. Gente muito jovem e cheia de ambições convive e trabalha diariamente com gente muito crescida com currículo invulgares. Schjelderup está feliz porque marcou o seu primeiro golo no Estádio da Luz, contribuindo para a goleada (5-0) que o Benfica aplicou ao Rio Ave em Outubro. 'Era um sonho marcar um golo naquele estádio'. Sonho cumprido. Vamos a mais sonhos, Schjelderup.
3. Tomás Araújo fez o seu jogo de estreia pela seleção nacional na passada segunda-feira, em Split, sendo titular da equipa de Roberto Martinez no desafio com a Croácia. Aos 22 anos o nosso defesa-central atingiu o patamar sonhado por qualquer jovem futebolista. Representar o seu país, jogar na seleção, estar entre os maiores e ao lado dos maiores. Tomás Araújo esteve muito bem de quinas ao peito. Esteve em campo até aos 63 minutos e só terá sido substituído porque se magoou num lance disputado com um adversário com a colaboração inadvertida de José Sá, o guarda-redes chamado à ação em Split. Quando Araújo saiu, Portugal vencia por 1-0 e dominava o jogo. Sem Araújo em campo, foi um descalabro na defesa. Coincidências, dirão os cépticos. Mas Já começam a ser coincidências a mais...
4. Taça de Portugal 2024/2025. O nosso registo na segunda competição nacional não é nada famoso na última década. Não há benfiquista que não deseje ver a equipa chegar à final da prova e sair dessa ocasião na qualidade de vencedora. A Taça de Portugal, conquista-se passo a passo. O próximo passo da corrente edição é já neste sábado, na Luz, e o adversário é o Estrela da Amadora.
5. Desenganem-se os que sonham com facilidades. A Taça é a Taça, e o seu sortilégio advém do facto de tudo ser possível na Taça de Portugal. A expressão tomba-gigantes não nasceu do nada. No sábado, a chave do sucesso é respeitar o Estrela e as legítimas ambições do Estrela. Vamos lá a isto, Benfica.
6. Os últimos dias trouxeram-nos as tristes notícias das partidas de João Diogo e de Pedro Guerra, dois grandes benfiquistas, duas figuras incontornáveis da BTV. O Benfica acima de tudo, sempre. Que descansem em paz.
7. A continuação da Assembleia Geral Extraordinária para Revisão de Estatutos será convocada, nos termos legais e estatutários para o próximo dia 14 de Dezembro de 2014. Será a terceira sessão deste importantíssimo processo democrático. Tomem nota: 14 de Dezembro, mais um dia a tratar do futuro do Benfica."
Leonor Pinhão, in O Benfica
Pela saúde e pelo bem-estar
"João Santos, Presidente do Benfica entre 1987 e 1992, teve uma vida ligada aos problemas alimentares e de nutrição
As eleições do Benfica em 27 de Março de 1987 levaram a votos três listas, incluindo e do presidente incumbente, Fernando Martins. A lista A foi a vencedora, com 52,14% dos votos, encabeçada por João Maria dos Santos Júnior (1914-2005), que, aos 72 anos, se tornou o mais velho presidente do Benfica a ser eleito, recorde quebrando pelo próprio, dois anos depois.
Figura pouco conhecida na vida encarnada, era sócio desde 19 de Setembro de 1933, e só em 1987 considerou ser 'a hora própria' para agir pelo Clube. A sua idade era motivo de ataque pelos seus adversários, embora a sua vitalidade contrariasse tais argumentos. Afirmava ser um homem sem temor à luta o pelos ideais e pelas instituições por que pugnava. O Benfica, disse, ocupava, 'naturalmente há muito tempo, um lugar de destaque'.
Empresário de sucesso, João Santos foi um visionário da alimentação saudável. Perante a desequilibrada alimentação dos portugueses, em meados do século XX, 'eminentemente vegetariana, por obrigação', introduziu em Portugal o movimento de Alimentação Racional, que mais tarde implementaria no Brasil e em Angola. Este conceito sustentava que uma alimentação equilibrada, repartida pelos vários recursos da roda alimentar, beneficiava uma vida de saúde e bem-estar plenos, especialmente para as crianças, principais visadas no contexto sociocultural português da época.
Com base neste preceito, João Santos fundou a Diese, no final de 1956, levando para o mercado suplementos e alimentos dietéticos, introduzindo também e agricultura biológica no país. Assim seria condecorado com uma medalha do movimento francês Vie et Action, pela sua luta pelo bem-estar da humanidade.
Quase três décadas antes da sua presidência, João Santos foi convidado a pronunciar uma conferência pelo então diretor da iniciação desportiva do Benfica, Domingos Gouveia. Na noite da 27 de julho de 1960, no ginásio da secretaria na Rua do Jardim do Regedor, o futuro presidente João Santos apresentou o tema 'Nutrilogia Social', perante uma assistência maioritariamente jovem, mostrando-se um 'conhecedor profundo' sobre a problemática da 'alimentação da camada juvenil, em especial e da criança portuguesa'. Foi um apelo aos pais para que as crianças tivessem 'um mais normal desenvolvimento'.
Esta foi a primeira de uma sequência de palestras organizadas por essa seção encarnada, consignadas a esse tema que começava, então, a pediátrica, e de qual João Santos foi um visionário.
Conheça mais sobre a figura deste e outros presidentes do Benfica na área 28 - Homens do Leme, no Museu Benfica - Cosme Damião."
Pedro S. Amorim, in O Benfica
Para o Pedro Guerra
" 'Nunca lutes com um porco. Ficas todo sujo, e ainda por cima o porco gosta'. Quem o disse pela primeira vez terá sido o dramaturgo irlandês Bernard Shaw. E é um bom exemplo daquilo a que se propôs Pedro Guerra quando abraçou o desafio de ser comentador desportivo na televisão portuguesa. Num momento em que a instituição Sport Lisboa e Benfica estava a ser atacada por todos os lados, com golpes vindos de dirigentes, adeptos e comentadores afetos aos dois maiores rivais futebolísticos nacionais. Pedro Guerra chegou-se à frente e aceitou entrar no jogo.
Em alguns momentos, não foi bonito. Para ninguém. Goste-se ou não do estilo e do conteúdo, o antigo diretor de conteúdos da BTV defendeu o Glorioso, por exemplo, no caso dos e-mails. Nessa entente contra o roubo estratégico de informações privilegiadas e devassa da vida privada de homens e mulheres com ligações ao SL Benfica, também o seu nome andou nas bocas do mundo. Pedro Guerra deu a cara pela anterior direção do Clube, sempre carregado de papéis, declarações e provas factuais. A primeira vez que o vi assim, sentado a uma secretária com pilhas de documentos a rodeá-lo. Pedro era um dos jornalistas mais destacados do semanário O Independente. Foi há 25 anos, e não poderei nunca esquecer a sua dedicação, bondade e educação. Foi um camarada de profissão como tive poucos, sempre atento, curioso e com um sentido de humor invulgar, de tão refinado.
Foi esse o Pedro que recordei, na quarta-feira passada, quando dele me despedi durante as cerimónias fúnebres. O Pedro até se pode ter sujado na lama do futebol português, mas não era essa a sua essência, só uma personagem criada num dado momento. Um abraço à esposa, à família e aos amigos, que conheciam a grandeza da sua personalidade."
Ricardo Santos, in O Benfica
Um guerreiro
" 'Luís, neste dia tão triste para ti, vou dar-te uma notícia que te pode confortar um pouco: somos campeões europeus de hóquei!'
A minha mãe falecera nessa noite, eu estava no velório, e naturalmente não vi em directo a épica vitória sobre o FC Porto em pleno Dragão Caixa, que valeu a primeira Liga dos Campeões da história do hóquei em patins benfiquista. Estávamos no dia 2 de Junho de 2013. Esse foi, porventura, o momento mais alto de sempre das nossas modalidades. E, paralelamente, um dos dias mais tristes da minha vida.
Amante de hóquei desde criança, sonhei durante anos com aquele título, depois de ver o Benfica perder várias finais. Não havia pior dia possível para o saborear, mas a mensagem foi, de facto, reconfortante. E jamais a esqueci.
O seu autor defendeu o Benfica com unhas e dentes em vários programas televisivos, muitas vezes para lá dos limites, e num contexto extremamente difícil - em que a comunicação dos rivais se tinha tornado, digamos, mais musculada, e em que o Benfica estava exposto como nunca á pirataria informática.
Talvez tenha sido um dos casos mais gritantes que conheci de contraste entre a imagem pública que permitiu criar (fomentou?) de si próprio e a postura privada - que pode ser atestada por quem com ele lidou. Odiado por todos do lado de fora, e pouco consensual dentro da nossa casa, era, porém, simpático, amável, divertido, cortês, disponível, quase sempre frenético, por vezes excessivo, mas invariavelmente leal e amigo.
Pude testemunhar de perto, em muitas ocasiões, o seu benfiquismo à prova de bala. Não deixava de ser um profissional de comunicação a fazer o seu trabalho, mas amava o Clube profundamente, e vivia-o em todas as suas dimensões.
Chamava-se Pedro Guerra. Deixou-nos nesta semana, depois de meses de sofrimento.
Até sempre, amigo!"
Luís Fialho, in O Benfica
Community Champions
"O projeto Community Champions League, promovido pela Fundação Benfica em parceria com a GEBALIS, as juntas de freguesia de Lisboa e a Cruz Vermelha Portuguesa, é um projeto com impacto social elevado e metodologia inovadora que utiliza o futebol como uma ferramenta de inclusão social e integração. O projeto envolve a formação de equipas informais de jovens provenientes de bairros sociais de Lisboa, incluindo também refugiados acolhidos em Portugal com o apoio da Cruz Vermelha.
Tem elevado impacto social porque possibilita a criação de oportunidades para jovens em contextos vulneráveis promovendo a coesão comunitária e a igualdade de oportunidades. Mas também porque junta diferente origens e culturas num ambiente de respeito e fair play e contribui para reduzir o estigma social, fomentar o diálogo intercultural e fortalecer os laços entre comunidades.
É inovador na forma como o poder do futebol é utilizado enquanto plataforma para o desenvolvimento pessoal e social, isto acontece porque as equipas não são avaliadas apenas pelos resultados desportivos, que também pelos valores que demonstram, como o respeito e a solidariedade, e pelo trabalho comunitário em equipa. Este formato valoriza competências sociais e emocionais, incentivado os jovens e tornaram-se agentes de mudança nas suas comunidades.
Em suma, este projeto mobiliza os jovens de forma única recorrendo ao poder do futebol, atua no terreno como uma 'escola prática' de cidadania, fortalece e coesão social e capacita-os trabalhando a liderança e o empreendorismo na resolução de problemas e produzindo benefícios objetivos para os bairros.
A Community League é, acima de tudo, um excelente exemplo de como um clube de futebol pode ser parceiro social relevante numa grande cidade e como o desporto pode ser uma ferramenta poderosa para transformar vidas, promovendo uma cidade mais inclusiva e participativa."
Jorge Miranda, in A Bola
Acompanhante de luxo?!
"▶️ O que fazia Paulo Costa (vice presidente do Conselho de Arbitragem) ao lado de André Villas Boas, no estádio do Moreirense?
▶️ Estaria a assistir ao descalabro do clube do coração?
▶️ Estaria a pensar no que poderá ser feito para inverter a situação em que se encontra o FC Porto?
▶️ Já alguém o viu ao lado de outros presidentes, noutros estádios?"
Benfica: hoje há Di María, amanhã não sabemos
"O 25 de novembro que mais me interessa aconteceu em Vigo, precisamente há 25 anos. Não assinalo a efeméride porque não sou masoquista, mas todos os anos alguém na comunicação social faz questão de me relembrar um dia que pareceu irreal, primeiro, para gradualmente se tornar um daqueles momentos a que chamamos de rude despertar. Os anos passaram e já conseguimos rir de um dos piores onzes viStos a envergar o manto sagrado numa competição europeia, mas o facto permanece e a memória também.
Não sabemos sempre o que estamos a ver quando estamos a ver tudo acontecer, mas tenho a certeza de que todos sentiram que aquela noite em Vigo permaneceria como uma das piores da memória coletiva benfiquista. É sempre assim com as tragédias, mas será que conseguimos ser assim com os pequenos milagres que acontecem à frente dos nossos olhos? Será que os valorizamos devidamente? Ou será que nos aburguesámos e nem damos pela magia irrepetível a acontecer?
Ver Ángel Di María fazer o que quer num relvado em 2024 é um privilégio ainda maior do que parece à primeira vista. Não se trata apenas da oportunidade de ver um intérprete extremamente eficaz e útil aos objetivos da equipa, que puxa pelos colegas e pelos adeptos puxando, antes de mais, por si mesmo, quando a maioria dos atletas da sua idade já estaria em casa descansada e contente com uma carreira observada no retrovisor. Visto assim parece muito, e é, mas é ainda mais valioso do que isso, pela escassez crescente de intérpretes como ele.
Não é só o Benfica que tem dificuldade em apresentar jogadores com a qualidade artística de Di María. São mesmo todos os clubes, seja porque já não se fazem destes ou porque o treinador tem uma ideia de jogo que parece uma Autoeuropa futebolística, em que os líricos acabam a apertar parafusos ou são substituídos pela inteligência artificial.
Bem sei: a história repete-se e vai desmentindo cada geração que diz que estamos perdidos e que dantes é que era bom. Ainda assim, devo teimar. Tenho andado atento e não vejo em que é que a evolução desta modalidade irá voltar a coincidir com a origem cultural das colheitas de décadas anteriores. Talvez lá cheguemos, por força de circunstâncias ou porque toda a gente se fartou de ver robôs, mas parece-me que estamos muito longe de ver chegar esse dia. Esta constatação torna jogadores como Di María, aos 36 anos, uma verdadeira espécie em vias de extinção. Pode até haver quem pareça uma promessa de Di María, mas rapidamente se verá esmagado pelas instruções do diretor da linha de montagem.
Entretanto, podem continuar à procura. Avisem-me quando encontrarem um jovem jogador que se aproxime da combinação de personalidade, desobediência, talento e ética de trabalho que define este génio argentino há quase 20 anos.
Podia ser só um lamento de quem sofre por antecipação, mas escrevo estas linhas com o entusiasmo de quem acredita que o melhor de Di María está para vir. Se dúvidas restarem, é ver ou rever os golos marcados contra o Estrela da Amadora ou os muitos golos e assistências que leva esta época.
Recapitulemos: um jogador no suposto crepúsculo da sua carreira, regressado ao primeiro clube que representou fora da sua terra, um intérprete quase único de um tipo de futebol que desaparece a cada dia que passa, a viver um momento de forma que até parece brincadeira, e tudo isto envergando uma camisola encarnada com o emblema mais bonito e grandioso da história dos emblemas. Não questiono a felicidade que Di María dá aos adeptos, mas será que paramos para pensar no quão raro é aquilo que está a acontecer? Há quem, munido de uma angústia existencial saída do Football Manager, diga que Di María é um problema para Bruno Lage e para o Benfica. Nada mais errado. Di María é uma bênção. Nem todos percebem isso hoje, mas todos chegarão ao corolário inescapável. Daqui a uns anos, num domingo frio, chuvoso e mal jogado na Luz, os mais esquecidos vão esconder as lágrimas e dirão entre dentes: éramos felizes e não sabíamos.
Já aqui critiquei muitas vezes o projeto desportivo do Benfica, ou a ausência do mesmo, ou a dificuldade em compreender que projeto é esse. Mas, tal como num jogo de futebol, até o pior jogador pode ter um lance muito bem conseguido. Di María foi um destes raros momentos que trouxe alguma alegria a um Benfica deprimido e afastado dos títulos. Todos precisamos dos títulos e não descansaremos enquanto não voltarem, mas passa-se uma vida, entretanto, e, aconteça o que acontecer, nunca poderemos ser indiferentes a quem cuida tão bem de uma bola de futebol.
O futebol é uma coisa muito séria, ou melhor, que eu levo muito a sério, mas é também mais do que as suas dimensões organizacionais e macroscópicas. Umas vezes é uma derrota copiosa em Vigo que nos perseguirá a vida inteira. Outras vezes é um hat trick do jogador favorito partilhado entre pai e filho, como aconteceu comigo e com o meu Tomás no último sábado. Não sei se algum de nós mais tarde se lembrará do resultado deste jogo, mas a exibição do Di María, aquele carrossel imparável de golos lindos, essa memória já cá canta.
E por isso termino com dramatismo, porque a vida me lembra cada vez mais que estes momentos não têm preço e são tudo o que importa, quase sempre mais do que o resultado final. Aproveitemos cada um desses dias com a voracidade de quem não sabe quantas mais oportunidades terá, com uma consciência aguda da finitude dos outros, dos que mais nos dizem, uma finitude que é, também, a nossa. Hoje há Di María, amanhã não sabemos. Celebremos enquanto assim for!"
Jorge Jesus: as razões do coração
"O significado de Teoria
É celebérrima esta frase de Pascal (1623-1662): «O coração tem razões que a razão não entende.» Deus, por exemplo (disse ele), só pelo coração se pode compreender, jamais pela razão finita e limitada. Se bem penso, Pascal, tão exímio cientista como filósofo, queria realçar (também) que, no âmbito do conhecimento, não bastam a física e a matemática, pois que a imaginação, a poesia, o sonho são igualmente imprescindíveis. Pascal criticava a hegemonia do racionalismo então em voga.
Quando, em 2012, o mister Jorge Jesus, me convidou para trabalhar com ele, no departamento de futebol do Sport Lisboa e Benfica, endereçou-me um convite que me honrou sobremaneira, não só porque guardava do seu convívio a imagem de um homem bom, prestante e leal, como também levava comigo a certeza de que muito poderia aprender da sua indesmentível competência, como treinador de futebol (o seu currículo assim o confirma). Não foi por isso difícil a minha anuência e, durante treze meses, em diálogo diário e em tom cordial com Jorge Jesus, de maio de 2012 a junho de 2013, pude aumentar o meu exíguo conhecimento das coisas do futebol. Demais, verdadeiramente, só se conhece o que se vive. Esta a primeira lição que colhi do meu trabalho no departamento de futebol do Benfica.
O segundo ponto a realçar é uma verdade, para mim, incontroversa, já há muito tempo: a prática (não podendo dispensá-la embora) é mais importante do que a teoria e a teoria só tem valor se for a teoria de uma determinada prática. «O que é um discurso teórico, ou uma teoria? Entre os gregos, havia a tradição de cada cidade enviar um observador às festas religiosas das outras cidades. Esse observador não participava dessas festas, não interferia nelas, apenas as contemplava, para depois relatar a ocorrência e o significado da sabedoria religiosa que nela se manifestava. Esse observador, em língua grega, era chamado de theorós, de onde deriva a palavra teoria.
Teoria significa aí o resultado de uma contemplação, ou seja, de uma observação em que o observador não interfere na coisa observada.» (José Auri Cunha, Iniciação à Investigação Filosófica, Editora Alínea, S. Paulo, 2013, p. 158). Portanto, o teórico sabe o que vê, não sabe porque faz. E só o fazer (o agir) transforma. À ciência atual, para surgir como um saber operativo e não como um discurso contemplativo, já se chama tecnociência, para que nesta palavra se realce que a ciência moderna integra, simultaneamente, a quantidade e a qualidade. A linguagem matemática é a sua linguagem preferida. E só pode medir-se aqueles aspetos da realidade que são quantificáveis, como, por exemplo, o comprimento, a largura, o peso, etc.
O significado da prática
O Jorge Jesus, sempre cortez e, direi mesmo, fraterno, em relação à minha modesta pessoa, não escondia que o embalava o desejo de acentuar que, pelo que na análise do futebol observava, os práticos eram de saber mais fiável do que os teóricos. E rejubilou, quando me ouviu dizer que «a prática é o critério da verdade». Esta frase, aliás, dá-lhe um gozo irreprimível. Demais, a prática é necessária, porque só a prática transforma.
Como já vimos atrás, o discurso da teoria é o de alguém que contempla tão-só. Mas estudar epistemologia, como eu o tenho feito, não é engajar-se num saber teórico, sobre o mais? É que não há prática sem teoria, designadamente no método científico, que faz apelo (bem audível!) a uma constante atitude reflexiva. Como já o aprendi, há muitos anos: a teoria nasce da prática mas, depois, a teoria acompanha a prática e, por fim, perspetiva e antecipa uma nova prática. Na verdade, o essencial da existência humana joga-se no campo do prereflexivo. O vasto mundo da afetividade, a atitude religiosa, a criação metafórica e poética não são racionalmente especulativas, mas precisam da ciência e da filosofia, em proveito de uma compreensão racional. A passagem de um pré-saber ao saber é uma realidade eminentemente teórico-prática.
Num breve clarão de humildade, Jorge Jesus questionou-me: «Então o que tenho eu de fazer?» Adiantei: Ler…» Jorge Jesus não me deixou completar a frase, coçou os pulsos com suavidade e respondeu-me: «É o que eu tenho feito.» Esboçou um sorriso e acrescentou: «Pouco mais tenho feito na minha vida profissional do que ler, ler o que os meus adjuntos fazem e dizem, ler o comportamento dos meus jogadores e dos jogadores dos clubes adversários e ler jogos, os meus e os que a televisão e o computador me dão a conhecer.» Alonguei a memória pelo extenso currículo do Jorge Jesus — um currículo que o coloca a par de qualquer treinador de excecionais recursos e, rendido, balbuciei um comentário: «De facto, já dizia o Paul Feyerabend: se resulta, tudo vale.» E assim rematei: «O meu amigo tem a teoria da sua prática que, por ser altamente competitiva e proporcionar um número incontável de vitórias, merece estudo e respeito. Afinal, também o Jorge Jesus tem muito a ensinar-me.» E, depois de uma gargalhada de prazer pelo que me ouvira, ainda (simpático e generoso) me segredou: «Mas o professor está aqui, neste departamento de futebol, para ser o meu mestre.» E eu: «Querido amigo, não exagere: há momentos, e são muitos, em que me sinto um seu discípulo. Pode crer.»
Vale a pena ler o livro de Paul Feyerabend, Contra o Método (uma obra que, rapidamente, se tornou um livro clássico, ao lado doutros, como A Lógica da Investigação Científica, de Karl Popper e A Estrutura das Revoluções Científicas, de Thomas Kuhn). Neste livro, o autor acentua: não há um método só, para resolver um problema, qualquer que ele seja. A presunção académico-intelectualista, que se julga indiscutível e única, não é única, nem indiscutível…
Uma nova linguagem
Um dia, durante um dos nossos habituais almoços, levantou-me ele (bem me lembro) a seguinte interrogação: «Ó professor, diga-me cá, eu às vezes julgo que há necessidade de uma outra linguagem que retrate bem o que é o futebol.» O Jorge Jesus é conhecido pela originalidade da sua linguagem, assente na estrutura engenhosa do seu dia-a-dia mas, francamente, nunca esperei pergunta que tanto me fizesse pensar. Assim lhe respondi, se não estou em erro: «O desporto é um espaço expectante, sempre à espera de ser exprimido pela novidade constante dos sentimentos que desperta. A sua linguagem é o novo que é preciso estudar.» E, de braço estendido, cumprimentei-o: «Parabéns pela sua pergunta.»
No JL (Jornal de Letras, Artes e Ideias), de 2 a 15 de outubro de 2024, em entrevista de Luís Ricardo Duarte, o escritor moçambicano, Mia Couto, diz-nos, a propósito do seu novo livro, A Cegueira do Rio: «Mesmo se quisesse propor uma verdade, só o poderia fazer, usando uma linguagem inventada. A do quotidiano não traduz essa magia, nem o lugar fantástico onde ocorreu este episódio, na fronteira entre mundos, incluindo o da realidade e o da ficção.» E refere que, naquele seu livro, há uma história a várias vozes: «Com cada fala destacada graficamente ao longo do romance, dando indicação de que há línguas e linguagens diversas e a disputar entre si o lugar da narração. Quero mostrar ainda que a escrita não é tão restrita como às vezes se pensa.»
Quem, como eu, privou, ao longo de anos e anos e não só em Portugal, com agentes do futebol (jogadores, dirigentes, médicos, enfermeiros, jornalistas, estudiosos de vários saberes) e isso ocorreu mais vezes do que eu mesmo poderia esperar — escutou como, para exprimir o que sentiam, muitas vezes findavam todo o seu discurso, numa única expressão: «Peço desculpa, se me servi de uma linguagem um bocado livre. É uma linguagem só nossa, do futebol.»
No livro Os mandamentos de Jesus, da autoria de Rui Pedro Braz, pode ler-se: «É na relação com os jogadores e na forma como lhes transmite as suas ideias, que parece residir um dos grandes segredos de Jorge Jesus.» E eu questiono: Não têm a medicina, o direito, as várias engenharias, cada uma das ciências humanas, etc., etc., a sua linguagem própria? Estou a ouvir, indignados, alguns dos leitores desta minha humilde prosa: «Mas quer comparar o Jorge Jesus a quem?...»
Um treinador incomparável
Fui júri em vários doutoramentos, em Faculdades de Desporto, em Portugal, Espanha, Brasil e Chile. Fui orador em dezenas e dezenas de congressos e colóquios. E não só de Desporto, também de Filosofia e Medicina. Medicina? É verdade: trabalhei na Direção-Geral de Apoio Médico, como adjunto do diretor-geral, o médico, especialista em cirurgia geral, Dr. Aníbal Silva e Costa — o médico (é bom não esquecê-lo) que mais saber e energias exauriu por que a medicina desportiva fosse reconhecida como especialidade médica.
Pois o Dr. Aníbal, quando, um dia, me viu a ler O Nascimento da Clínica, de Michel Foucault, e após um interrogatório, num almoço, no Hotel Tivoli, até ao estrangeiro me enviou, como se eu médico fosse, a dois congressos médicos, para defender o tema: O Racionalismo na Medicina e na Educação Física. Isto, para dizer que aprendi (repito: não ensinei, aprendi) com muita gente e de alta estirpe tecnocientífica e, embora doente e a caminho dos 92 anos de idade, julgo poder acrescentar que, sem o convívio que ainda hoje tenho com o Jorge Jesus, não entenderia, de forma tão explícita, nem um jogo de futebol… nem o «tudo vale» de Paul Feyerabend.
Se fosse um escritor como Ramalho Ortigão, principalmente no seu livro Costumes e Perfis, eu poderia traçar-vos, com arte e celeridade, um profissional de futebol que não sabe de futebol porque muito estudou sobre este desporto que, desde criança, me delicia. Este homem sabe de futebol, porque o ama. É verdade: não conheço ninguém que mais ame o futebol do que o Jorge Jesus. E, porque o ama, dele sabe como poucos. E, porque muito o ama, por vezes, nem palavras tem para exprimir o que sente. Ele é um treinador incomparável. Está por fazer-se uma tese de doutoramento sobre um treinador que nunca leu um livro sobre futebol e sabe de futebol como um expert.
No futebol altamente competitivo, não sabe de futebol quem muito leu, mas quem fez currículo… na prática! Aos olhos do adepto (e não só) o bom treinador não é o que lê muito — é o que faz bem! Como o Jorge Jesus, que só tem razões do coração, porque as razões da razão não lhe chegam, para fazer o que faz e como faz. Quero eu então dizer que o muito amor dispensa um estudo sério e rigoroso? Quero dizer tão-só que quem ama até vê coisas que não estão nos livros…"
O desporto como metáfora de um tempo
"Num tempo em que o mundo parece suspenso entre incertezas e transformações, o desporto emerge como um espaço paradoxalmente estável e dinâmico. Ele reflete, com uma honestidade que por vezes nos escapa na esfera política ou social, a tensão entre o humano e o sobre-humano, o esforço individual e a coesão colectiva.
Assistir a um jogo, seja ele de futebol, ténis ou basquetebol, é um ato que transcende o simples entretenimento: é participar numa narrativa maior, onde o imprevisto e a glória coabitam.
O desporto, porém, não existe isolado da sua época.
Há nele, hoje, um traço de hiper-modernidade: uma voragem mediática que tudo consome, uma exaltação dos números e das estatísticas, uma mecanização quase brutal do desempenho.
O VAR, por exemplo, para além de uma ferramenta de precisão, tornou-se símbolo de uma era que prefere o cálculo à intuição, a máquina à dúvida. Contudo, nesse afã pela perfeição, algo se perde — o instante mágico do golo improvável, da falha que humaniza, do erro que é, em si, parte essencial do jogo.
Atualmente, o mundo do desporto é atravessado por uma questão maior do que as próprias competições: a sustentabilidade.
Clubes de topo discutem o impacto ambiental das suas operações, federações ponderam o papel do desporto na mitigação das alterações climáticas e atletas tornam-se embaixadores de causas ecológicas.
Portugal, com a sua tradição desportiva, não pode ficar à margem deste debate. Não basta termos orgulho nos nossos estádios, clubes ou nos feitos de Cristiano Ronaldo: é preciso que o país compreenda o desporto como motor de mudança social e ambiental.
Tomemos o caso da Alemanha, onde clubes como o Bayern de Munique lideram projetos de eficiência energética, ou da Escandinávia, onde a construção de infraestruturas desportivas segue padrões ecológicos rigorosos.
O desporto, como a arte, pode e deve ser um espelho da nossa civilização, mas também, e sobretudo, um instrumento para a transformar.
Que lições podemos aprender com os campos, estádios, pistas e pavilhões? Que valores resgatamos ao assistir à superação de um atleta ou à vitória inesperada de uma equipa subestimada?
Uma, imperiosa, é sabermos que o mais importante não são as medalhas ou os troféus, mas o eco das histórias que ficam, porque, como bem disse Eduardo Lourenço, «o desporto é o mais universal dos poetas»."
Reversão de penálti e ausência de VAR
"Miguel Fonseca, que dirigiu o Vitória de Guimarães-União de Leiria referente à 4.ª eliminatória da Taça de Portugal, protagonizou episódio raro no passado sábado, quando decidiu prestar declarações a uma jornalista do Canal 11 sobre decisão tomada no decurso do jogo.
O jovem árbitro de 28 anos surgiu na flash interview calmo e descomplexado, para explicar lance ocorrido aos 78', que o levou a anular um pontapé de penálti (assinalado por si), a punir pretensa infração de Borevkovic sobre Victor Rofino.
O que tornou o momento diferente foi o facto da reversão ter acontecido sem recurso às imagens facultadas pelo VAR. É que a videotecnologia não está disponível nesta fase da prova.
Miguel Fonseca, que obviamente tomou a decisão inicial em consciência, optou por alterar o veredito depois de comunicar com os colegas de campo que lhe terão indicado a existência de erro. O processo acabou por prolongar-se por alguns minutos, não obstante a funcionalidade do sistema de comunicação e a proximidade física entre todos. Isso ter-se-á devido ao ruído exterior e à contestação de alguns jogadores vimaranenses.
Compreende-se a estupefação generalizada que a situação originou ou não estivéssemos a falar de três momentos que muito dificilmente se repetirão nos próximos tempos: a anulação de uma decisão relevante sem intervenção do videoárbitro; e a disponibilidade pessoal e oficial para se falar publicamente sobre o sucedido.
O que aconteceu em Guimarães merece reflexão atenta a vários níveis. Por agora, parece-me preferível sublinhar os factos que dali emergiram como mais relevantes: a coragem e humildade de Miguel Fonseca em assumir o erro — sim, o pontapé de penálti foi mal assinalado —, alterando a decisão após indicação da equipa; e a reposição da verdade desportiva, que impediu o irregular benefício de uma equipa em detrimento de outra.
A importância da videoarbitragem no apoio à decisão devia ser por esta altura um não assunto, tal a evidência recorrente e factual da sua utilidade ao serviço do jogo. Compreendo quem ainda defende a beleza do espetáculo pela via das emoções e entusiasmos, mas o romantismo da visão colide de frente com a realidade que carateriza o futebol profissional de hoje. É que aí as consequências de boas ou más decisões são muitas vezes maiores do que vitória ou derrota, impactando clubes e SAD's a vários níveis: na associação ou desvinculação de parcerias e patrocinadores, na renovações e rescisão de contratos com atletas e equipas técnicas, no retorno financeiro via transmissões televisivas ou bilhética, na projeção internacional de marca, na continuidade ou desistência de objetivos e projetos, etc, etc.
E a verdade é que, em quase todas as jornadas, há lances corrigidos em sala com impacto nos resultado, na justiça do vencedor ou na verdade das competições. Isso significa que o VAR, com todas as arestas por limar e imperfeições por corrigir, salvou e continuará a salvar o futebol muitas e muitas vezes.
Quer parecer-me que a qualidade de uma ferramenta assim não pode ser desvalorizada. Goste-se ou não, a indústria evoluiu, acompanhando as tendências destes tempos. É por isso fundamental que continue a usufruir de meios que a tornem mais justa, sem beliscar a sua essência, imprevisibilidade e espetacularidade. E é precisamente aí que mora o grande desafio de quem comanda a máquina.
Até lá, a questão de fundo mantém-se inalterável: preferimos um jogo cheio de emoção, falatório e controvérsia constante que algumas decisões espoletam ou um que se aproxime mais de resultados justos, pela via das (boas) decisões tomadas finais?"
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