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sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Aniversário...!!!

O melhor Messi numa Argentina com costela catalã


"Reação feroz à perda, ataques mais elaborados e papéis bem distribuídos e aceites, e no centro o melhor de sempre como catalisador de tudo. Vénia a Scaloni

Aos 37 anos, Messi assinou um hat trick e duas assistências na goleada da Argentina a uma Bolívia que parece em crise de abstinência sempre que não joga em altitude. Os adeptos e, sobretudo, jogadores e técnicos pouco se importaram com a dimensão do rival e recostaram-se, na realidade ou em sentido figurado, a apreciar o momento. Com tanto conquistado, a Pulga confessa que já só desfruta daqueles que serão os últimos momentos com a albiceleste e reconhece até «parvoíces de criança» no balneário.
O caminho foi longo e difícil até se tornar consensual. Houve momentos de burnout depois de vestir a exigente e pesada camisola da Argentina, que carregava um nome esmagador, também começado por M, e antes até surgiram dúvidas se deveria ser ele a usar a braçadeira, quando ainda era demasiado novo, sendo esta mais imposta pelo talento do que pela capacidade de liderança.
Criado na austeridade de La Masia, que professa o coletivismo como religião e dilui o conceito de estrela, pelo menos enquanto rock stars, Messi viveu quase sempre na sombra antes de assumir o seu papel em campo, onde dividiu responsabilidade com Xavi e Iniesta. Se antes se sentiu oprimido por ter de ser sempre ele a decidir por um país eternamente à espera de um Messias, ainda mais de quem tem cinco das sete letras possíveis, a conquista do título mundial, que pareceu escrita nas estrelas e no qual apareceu mais como catalisador do que decisor, reservou-lhe lugar como o maior da história. Mesmo um eterno Maradoniano como eu deve reconhecê-lo.
Por mais paradoxal que possa parecer, obter o máximo de Messi passou por rodeá-lo de um coletivo, tal como acontecia na Catalunha, que não só o protege ainda mais das contribuições defensivas como distribui as responsabilidades no ataque. Tal não quer dizer que tenham deixado de procurá-lo, porém passaram a fazê-lo no momento e nos locais mais apropriados, onde o seu génio, também mais maturado e menos explosivo, é aproveitado na plenitude.Todos sabem o seu papel, incluindo o melhor jogador, cada vez mais aglutinador. Scaloni (quem diria?) fez o que antes ninguém conseguiu e, por vezes, esta Argentina de ataques mais elaborados e rotações posicionais estabelece pontes temporais com esse Barça glorioso.
Hoje, a reverência é total. Os colegas esperam por si junto ao relvado para que os lidere. A união é absoluta e a Argentina é uma equipa europeia, quase catalã."

A Xana está viva!


"O dia em que o intratável Luís Enrique me emocionou ao falar sobre a morte da filha Xana... A minha faz hoje 22 anos...

Dizem que não existe dor maior do que perder um filho. Num documentário que estreou na Movistar+, Luis Enrique, treinador do PSG, foi questionado sobre essa dor. Que sentiu em 2019 quando perdeu a filha Xana, de 9 anos, vítima de osteossarcoma, uma forma de cancro dos ossos. A resposta do treinador espanhol começa com uma pergunta: considero-me um felizardo ou um desgraçado? «Um felizardo, muito felizardo», garantiu, num testemunho de 69 segundos que me emociona profundamente.
«A minha filha veio viver connosco nove maravilhosos anos. Guardamos milhares de memórias dela. Ela está viva, espiritualmente, todos os dias falamos dela, rimo-nos das coisas dela», conta Luis Enrique com uma dignidade e serenidade absolutamente desconcertantes. E termina com uma questão que me perturba: «Acredito que ela nos está a ver, logo, o que quero que a Xana pense sobre a forma como estamos a viver isto?»
Dou por mim a pensar que a dor gera ressentimento para depois dele se alimentar, num ciclo vicioso que, depois, se alimenta de nós, bloqueando a felicidade que devemos assumir como dever maior. Dou por mim a pensar que continuamos a preferir quantidade a qualidade, nove anos podem valer bem mais do que 3285 dias. Dou por mim a repetir Saramago, para quem, como já aqui escrevi, o contrário de viver é esquecer, não é morrer. Dou por mim a pensar se é dor maior perder um filho de nove preenchidos e felizes anos ou ter um filho de 40 anos, por exemplo, a quem um pai chama de estranho. Dou por mim a pensar que só o amor cura. Só o amor é vida.
Dou por mim a ler o poeta algarvio António Ramos Rosa, que faria precisamente hoje 100 anos:
«Ainda que a noite pese séculos sobre as costas
E a aurora indecisa demore
Mão posso adiar para outro século
A minha vida nem o meu amor
Nem o meu grito de libertação.
Não posso adiar o coração.»
Dou por mim a pensar que acusei Luis Enrique de arrogante quando, recentemente, destratou uma jornalista que lhe perguntou sobre o que pretendia com a tática usada no jogo pelo PSG e o treinador respondeu que não explicava porque a jornalista não iria entender. Afinal, qual o verdadeiro Luis Enrique? O arrogante e por vezes intratável ou o pai que me emociona profundamente? Ambos são verdadeiros, porque cada um de nós é anjo e diabo. Os melhores de nós são os que conseguem calar o segundo. Sabendo também que importante é perceber a diferença entre feitio e caráter.
Dou por mim a pensar que a minha filha faz hoje 22 anos. Sinto-me um felizardo. Só não consigo deixar de me sentir culpado por acreditar que tive mais sorte com a filha que tenho do que ela com o pai que tem. Amo-te Joana, perdoa-me as muitas vezes que não te disse que tenho muito orgulho na mulher que és.

PS – Dou por mim a pensar que tenho saudades de Mário Wilson. Faria hoje 95 anos. Fino trato, sentido de humor, muito humanismo. Deu-me entrevistas deliciosas, deu-me o privilégio de me achar piada e gostar de mim. Tudo o que fazia e dizia deixava no ar um cheiro intenso a perfume. Bem haja, Velho Capitão."

Densidade competitiva no futebol (água a mais também mata a planta!)


"Num ano de profundas alterações competitivas ao nível da nova metodologia das competições europeias, Liga das Nações e Mundial de Clubes, associando os jogos da Liga Portugal, Taça da Liga e Taça de Portugal, vemos a oportunidade dos jogadores que estejam presentes nestas andanças realizar jogos de 3 em 3 dias, podendo atingir no final de época mais de 60 jogos… É obra!
Sabemos que os jogadores, por vezes limitados pela ausência prolongada em treinos nos clubes de origem, inseridos noutros perfis de exigência técnica, tática, competitiva e emocional, com distintas equipas técnicas e por vezes com diferentes objetivos de conquista, podem ver comprometidas alguma respostas comportamentais, nomeadamente ao nível do espírito de coesão de grupo, que nalguns casos o vapor do êxito propaga e aquece, e noutros casos a marca do insucesso dissimula e constrange.
Deste modo a tal filosofia do treino para o jogo ou do jogo para o treino, merecer a alta qualificação de liderança por parte do treinador como gestor de recursos humanos, com vista à obtenção de sucesso, será fundamental avaliar de forma continuada tanto em termos somáticos, como cognitivos, como comportamentais, o estado de competências dos seus jogadores e anotar os traços da sua personalidade daqueles que perante este fenómeno estarão mais disponíveis para exibir esse marco vibracional de entusiasmo, agarrando o futuro com mais esperança.
No que concerne à densidade competitiva, a ciência do treino desportivo, em termos energéticos, refere que as 72 horas entre jogos será tempo suficiente para repor os níveis de glicogénio e as fontes energéticas ao nível básico de Vo2 Max (consumo oxigénio), mas nada refere neste caso de acumulação de tantos jogos em sequência, nem as horas em que se realizam, nem as consequências inerentes aos resultados obtidos e/ou rendimento apresentado, nem as alterações climáticas e sequentes fusos horários a ultrapassar pelo jet lag existente que globalmente conduzem a situações de dessincronização dos ritmos biológicos, gerando, como temos vindo a referir, maiores manifestações de fadiga, maiores dificuldades de concentração, maior irritabilidade ao desgaste, diminuição do estado de alerta, alterações do ritmo cardíaco, etc.
Creio que se torna fundamental então treinar, apenas e quase só para recuperar. Neste âmbito julgo pertinente recorrer a outras estratégias que, associadas, podem ajudar a complementar o afastamento duma síndrome de fadiga e possível estado de maior prevalência de lesões. Estudos realizados até ao momento entre os maiores clubes europeus referem a existência duma média de 7.9 lesões em cada 1000 horas de treino, confrontando as 29 lesões em cada 1000 horas em competição, sendo a maior percentagem ao nível muscular e osteoarticular. Será importante abrir aqui um parêntesis, no sentido de avaliar neste âmbito as consequências referenciadas a este nível, duma elevada densidade competitiva dos jogadores nas provas para as quais se viram convocados. Mas sobre esta temática, valerá a pena voltar um dia a uma reflexão mais profunda, naturalmente após verificar alguns resultados apresentados.
No sentido de valorizar o contributo para uma possível adaptação aos microciclos semanais de treino, apresento algumas sugestões, que me parecem de maior relevância:
— Treinos curtos em volume e de média/alta intensidade, com intervalos longos, valorizando a compensação hídrica e respiratória;
— Inserir no processo de engenharia ambiental de treino as técnicas que sejam capazes de promover a confiança dos jogadores, assegurando-os e encorajando-os na capacidade de serem bem-sucedidos;
— Reformular os objetivos de conquista, (curto, médio e longo prazo) — difíceis e desafiadores, comparando a análise de ranking de sucesso de complexidade crescente;
— Operacionalizar nos processos de treino, as técnicas de redução de stress e ansiedade (individual e coletivo), utilizando as técnicas de relaxamento muscular progressivo, imaginação, respiração e visualização mental, simulando as condições adversas, passíveis de consciencializar as tomadas de decisão antecipadas de previsível sucesso;
— Sempre que possível esta administração metodológica deverá ser realizada nos espaços de jogo e especialmente nas zonas de maior fluxo exibicional, podendo e devendo ser aclaradas com um processo de autocomunicação, onde podem intervir focos de irradiação mediática causadores de muita felicidade e bem-estar social, clubística, familiar e profissional;
— Estabelecer planos de atenção superior com objetivos bem claros, eliminando aspetos circundantes e supérfluos, mas devidamente realistas, capazes de criar um estigma de orgulho no símbolo que representa. Já referi por diversas vezes que as expressões mentais convertidas em ato tornam-se mais reveladoras na tomada das decisões, sendo mais eficazes para obter o sucesso, e perduram mais no tempo.
Nesta fase de abrangência competitiva altamente desgastante, as condicionantes biológicas, fisiológicas, atléticas e funcionais devem seguir com rigor a inserção das componentes comportamentais no plano de recuperação do esforço. Jamais esquecer uma instrumentalização duma cultura de honestidade, autenticidade, ética, resiliência e altruísmo para gerar as melhores condições dum estado de crença, que Norman Cousins (1915-1995) refere: «Este estado de crença também pode gerar biologia como força motriz de intencionalidade energética onde se atestam comportamentos, ajustam desejos, invocam convicções , acabando por bater nas portas onde habita o sucesso»…E são tantos os exemplos que se nos oferecem esses relatos fantásticos de apoteose exibicional e que alguns, desatentos, cognominam de sorte!
Os caminhos da aprendizagem transformam-se em projeto e mudança. Os processos que estão na base do treino orientado para o sucesso advêm dum postulado já referenciado nos finais da década de 70, em que o nosso querido Professor Doutor Manuel Sérgio a este propósito dizia: «Não pode haver preparo físico independente do modelo do jogo, adiantando que na preparação física, técnica, tática psicológica, o todo é uma referência constante pela sua complexidade, onde a ciência e a consciência não se podem limitar aos gastos energéticos e neuromusculares. A importância de trazer à planificação do treino não apenas a educação de físicos comprovadamente atléticos ou técnicos estruturalmente eficazes, ou táticos substancialmente competentes, mas a educação do que está para além do jogador que é o homem como pessoa. Estamos no confronto com pessoas pelo movimento intencional de transcendência em que do corpo em ato emerge a carne, mas também a paixão, o sangue, a rebeldia, as emoções e os sentimentos — tudo isto visando a transcendência ou a superação.»
Nos dias de hoje, através de uma dinâmica de intervenção ou planificação do treino, é possível a reconstrução dum modelo operacional, e após a avaliação de várias competências dos jogadores poderemos atestar comportamentos, ajustar desejos, invocar convicções e partir para nova viagem de sonho onde possa habitar o êxito.
Deste modo procuramos atenuar o fardo das cargas em estado difícil de gerir pelo desgaste, provocado pela densidade competitiva, por um lado, e por outro lado aumentamos o foco pela inteligência emocional, como garantia do estado de forma do jogador.
Acuso alguns exemplos que podia confirmar o estado de forma duma equipa e dos jogadores que dela fizeram parte, em que estas vertentes foram trabalhadas de forma seriamente comprometida, em semanas para as quais se antecipavam jogos de dificuldade máxima, e nos momentos de descanso ativo, se viram ativados estes ciclos de intervenção, com resultados simplesmente notáveis, muito embora, claro está sem a fobia e complexidade duma densidade competitiva, tal como se nos apresenta o calendário nesta época.
Seria injusto caso não voltasse a referir o que está plasmado na tese da intencionalidade operante, por parte do nosso sempre amado Professor Manuel Sérgio, que nos garante que é a partir do tónus mental e emocional que cada sujeito cria a própria realidade. Deste modo bem podemos explicar o contributo inestimável de consciência ancorada num estado e alegria e felicidade, que permite obter um estatuto pleno dum ganhador.
E as equipas felizes transportam no seu seio uma energia autenticada pela segurança no que querem fazer, ocultando o que têm de evitar, sendo capazes de produzir relações de elevada estabilidade, validadas pelo sucesso alcançado. Os elementos que delas fazem parte estabelecem um clima de reações mais estável e, porque possuem um sistema imunitário mais resistente e duradouro, fazem das causas participativas, no viver e no treinar, os melhores instrumentos para atingir resultados de sucesso e ainda porque, e repito-o: «Cada gota de suor terá sempre de conter um grão do pensamento.»"

O verdadeiro valor do Desporto


"O desporto é mais que uma atividade ou entretenimento, e o baixo investimento revela uma negligente compreensão do seu impacto. Após pressão, os 42,5 milhões no orçamento de estado para 2025 foram corrigidos e classificados como apenas «uma inconsistência na classificação dos valores», certo é que refletem sem dúvida uma inconsistência nas políticas públicas. Não se trata apenas dos decisores, também a sociedade que por tantas vezes de forma quase imoral crítica os resultados e prestações dos atletas nacionais permanece silenciosa perante estes números. Não se trata de uma questão partidária, trata-se sim se uma questão de cultura, de mentalidade.
Portugal é um dos países mais sedentários da União Europeia, com 64 % da população a praticar menos de 1h30 de atividade física por semana. A inatividade aumenta em 20 % o risco de doenças cardiovasculares, uma das principais causas de morte. Na infância, 31,9 % das crianças entre os 6 e os 8 anos têm excesso de peso, e 13,5 % são obesas. Apesar destes dados alarmantes, investimos apenas cerca de €40 por habitante no desporto, muito abaixo da média da UE: €113.
Ora serve também este artigo para recordar que o desporto ocupa 7 funções essenciais na sociedade: Função Física (promoção da melhoria da saúde e condição física, bem como prevenção da doenças), Função Psicológica (promoção do bem-estar mental, competências emocionais e estilos de vida saudável), Função Social (promoção da integração social, combate à exclusão social e promoção de competências sociais), Função Educativa (promove a aquisição de valores essenciais à vida em sociedade e o desenvolvimento individual), Função Económica (a indústria do desporto gera emprego e rendimentos, além disso os eventos desportivos têm uma forte componente de atração turística), Função Recreativa (fonte de diversão, lazer saudável, entretenimento e qualidade de vida) e, ainda, Função Cultural (veiculo para a promoção e divulgação de identidade e culturas locais).
Bem sei que o valor foi corrigido! Contudo continuo a considerar que 54.5 milhões previstos de investimento no desporto ficam aquém do desejável para uma sociedade evoluída. O investimento no desporto não é apenas para o desenvolvimento desportivo, não se resume a títulos ou medalhas. Investir no desporto é investir na saúde, na coesão social, na segurança, é investir na educação, na economia e na cultura. O investimento no desporto não trará apenas ganhos na área desportiva, mas poderá contribuir a médio longo prazo para a redução dos custos com a saúde e segurança do país."

A Senhora da Gadanha desprezou a filosofia


"Perfumo não foi apenas um dos melhores centrais argentinos de sempre: foi um pensador do jogo

Roberto Alfredo Perfumo era um homem que pensava muito. Na girândola do jogo e na vertigem da bola, ganhava tempo para si próprio. Alimentava ritmos, dava ordens, vigiava os companheiros. Um dia contou: «O meu mestre, Ernesto Duchini, quando me apanhou nas equipas jovens da Argentina, queixava-se de que eu era demasiado individualista. Certa vez, num treino de conjunto, interrompeu o jogo e gritou – ‘¿Quierés jugar solo? Bueno…’ Tirou de campo a minha equipa toda e deixou-me a jogar sozinho contra onze. Em cinco minutos já tinham marcado 15 golos e eu com os bofes de fora». Cresceu aprendendo. Primeiro no Pulqui, uma equipa de Sarandí, a cidade onde nasceu no dia 3 de Outubro de 1942. Depois, no River Plate e no Racing, deram-lhe a alcunha de El Mariscal, O Marechal. E a braçadeira de capitão. Começou por jogar no meio-campo mas recuou para central. Dali via melhor o jogo e podia orientar os camaradas como se montasse um cavalo branco no centro da batalha. Filosofava sobre o tema da liderança numa equipa: «Está el líder de tarea: que es el que tiene la pelota durante el juego; el líder de estrategia: que es el que la recompone o la afirma cuando está detenido el partido; y el líder de vestuario: el caudillo o cacique; todos detrás del gran jefe, que es el entrenador; los demás son todos indios». E acumulava em si uma multiplicidade de estilos.
Foi com ele que o Racing se tornou a primeira equipa argentina a ganhar a Taça Intercontinental, batendo o Celtic. 4 de Novembro de 1967. Roberto reclamava publicamente antes do jogo decisivo, desempate em Montevidéu: «Vivemos um mito. O mito de que os europeus correm mais do que nós. Depois de termos jogado em Glasgow, apesar da derrota, não consegui ver isso. Não, eles não correram mais do que nós. Tivemos medo e nenhuma razão para ter medo».Em seguida colocou as coisas de forma simples se bem que intraduzível: «La única forma de desordenarlos es con garrote. Se van a enojar, y ésa es la chance que tenemos; que se enojen y no jueguen». Quarenta anos mais tarde escreveu um artigo no diário Olé. Nele explicava a maneira como esse Racing tinha sido construído: «No terceiro jogo, o Basile, que jogava a meu lado no centro da defesa deixou-se expulsar de forma ingénua. Quando saiu de campo disse-me: ‘Roberto, toma conta da nossa defensita’. E eu com vontade de o mandar para o mesmo sítio por onde tinha nascido. ‘Ese era nuestro Racing, liderado por Pizzuti, un maestro en el arte de manejar y disciplinar a una manga de hijos de puta que ni sabían en qué cancha jugaban y que estuvieron 39 fechas invictos’».
Em 1974, no Mundial da Alemanha (ainda Ocidental), Perfumo foi o capitão da Argentina no jogo contra a Holanda. Um massacre de 4-0 com dois golos de Crujff mais um de Krol e outro de Rep. A teoria de Roberto caía por terra ao mesmo tempo do que toda a selecção albi-celeste. Os europeus não se limitaram a correr mais como correram melhor e por todo o campo como diabos enraivecidos vestidos de cor-de-laranja. Mais tarde, também filosofou sobre Crujff: «Era impossível controlá-lo porque era ele que te marcava. Aparecia sempre por detrás do seu marcador. Às vezes parecia parado mas nunca se podia confiar nisso. Recebia a bola, levantava a cabeça e arrancava a uma velocidade que nos deixava mortos. Nos primeiros cinco metros era letal. E, na grande-área, encontrava a baliza com uma facilidade incrível. ‘Se te iba y era gol’».
Na Argentina, durante décadas, as palavras de Roberto Alfredo eram escutadas ou lidas com uma espécie de veneração. Tornou-se um comentador inimitável pela forma como construía as suas teorias e as apresentava de uma maneira translúcida, requintada e ao mesmo tempo popular. Em 1997 publicou um livro no qual espelhava toda a sua sabedoria: Jugar al Fútbol. Bíblia de muitos treinadores, jogadores e jornalistas. A morte veio ao seu encontro quando tinha 73 anos e foi muito pouco filosófica: ao sair de um restaurante em Puerto Madero, nos arredores de Buenos Aires, tropeçou num atilho desatacado de um sapato e mergulhou pela escadaria à sua frente. A cabeça rachou-se na dureza de um degrau. A Senhora da Gadanha mostrava, mais uma vez, que não tem respeito por ninguém. Nem por aqueles que amam a filosofia como acontecia com Perfumo…"

Rabona: Mbappé

Bolso: 2004/05 - Talismã Mantorras!

Atypical: Did you miss me??