Últimas indefectivações

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Há muito por ganhar


"Diz-se que, no desporto, 'o que conta são os resultados'. A análise é condicionada por eles, incluindo a de dirigentes, devendo estes, no entanto, e recorrendo ainda a um aforismo, ter a capacidade de olhar para a floresta como um todo e não para as árvores que os rodeiam. Temos um exemplo paradigmático e de sucesso relativamente recente no Clube, quando, em 2013, na sequência de tudo perdido, Luís Filipe Vieira percebeu, contra a opinião da maioria, que deveria renovar o contrato de Jorge Jesus, dando assim um passo vital para o inédito tetra que se seguiu.
Perder uma Supertaça, mesmo sendo apenas um troféu, é péssimo, seja com um dos adversários que fazem do ódio ao Benfica uma das suas forças motrizes, o FC Porto e o Sporting, seja com outro qualquer. E não o é somente por se tratar de uma derrota, das quais ninguém gosta. É-o porque o etos benfiquista tolera a possibilidade de derrota. Já dizia a canção, concisa e acertadamente, 'o nosso destino é o de vencer'.
O repúdio à possibilidade da derrota não significa, no entanto, que neguemos a sua ocorrência ou que, acontecendo, devamos proceder a purgas desprovidas de sentido para acalmar as hostes.
Tivemos períodos de maior e menor fulgor desportivo, não me constando que, desde a consolidação da presença do Clube na sociedade portuguesa, o activo mais sólido do Benfica, o benfiquismo, tenha sido afectado por aí além por essas oscilações. E, presentemente, sabendo que só com a devida distância poderemos, de facto, estabelecer os limites de um período, creio que perdura um caracterizado por sucesso desportivo (diferentes de ganhar sempre) e as bases do sucesso permanecem sólidas. Espero ter razão, acredito que terei."

João Tomaz, in O Benfica

Foi-se 2020, finalmente!


"Hoje não vos vou falar de desporto, mas também se aplica. Este ano de 2020 foi tão invulgar e triste, que o campo desportivo foi apenas mais uma das áreas em que, enquanto sociedade, nos tiraram o tapete.
De Março para cá, as nossas vidas mudaram. Os afectos públicos deixaram de fazer parte das rotinas - há quanto tempo não abraçamos o beijamos, como merecem, os nossos pais e avós? As nossas liberdades enquanto cidadãos foram afectadas - ajuntamentos públicos e privados, acesso à cultura e ao ensino, tudo restringido. Em dados momentos, como o que vivemos nesta semana, até a possibilidade de nos movimentarmos pelo país foi proibida.
Centenas de milhares de portugueses e residentes em Portugal perderam os seus empregos ou viram reduzidos os seus empregos ou viram reduzidos salários, horários e transformada e organização do seu trabalho. No espaço noticioso fomos inundados pela covid-19, 24 sobre 24 horas. Tudo passou para terceiro plano. Em primeiro a pandemia, em segundo os cuidados a ter para evitá-la. No momento em que vos escrevo, os dados oficiais de mortes por covid-19 em Portugal estão à beira das 6700 pessoas, para um número total de casos que já ronda os 400 mil. Todos temos alguém, mais ou menos próximo, que já passou pelo quadro diário de números da Direcção-Geral da Saúde. A pandemia veio afectar-nos, como sociedade e individualmente, muito mais do que passaríamos. Provavelmente, mais do que alguém poderia prognosticar, mas estarmos cá.
Estamos prontos para enfrentar mais um ano com a palavra da moda: resiliência. A física diz-nos que resiliência é a 'capacidade de um corpo recuperar a sua forma original após sofrer choque ou deformação'. Tenho dúvidas de que voltemos à 'forma original', mas com coragem, ambição e capacidade de superação, com ganas, foco e querer, podemos até melhorar enquanto seres humanos. Que 2021 nos traga, pelo menos, isso.
E saúde."

Ricardo Santos, in O Benfica

Feliz 2021, Benfica!


"Então o senhor covid decidiu invadir o balneário dos nossos jogadores? Não seremos o primeiro nem o último clube no mundo a levar com uma visitinha do vírus, mas fiquei muito frustrado com este timing. Tenho pena de que o bicho não tenha aparecido uma semaninha mais cedo, a tempo de poupar os jogadores e os adeptos daquela exibição tão pouco conseguida na Supertaça. Paciência, pelo menos alguém na estrutura que encomende já uma remessa de vacinas para protegermos o quanto antes os elementos mais importantes: o Taarabt e o Luisão.
2020 já lá vai, o que significa que abandonámos finalmente um dos anos mais difíceis de enfrentar em toda a nossa vida. Fomos obrigados a ficar trancados em casa, a usar máscara e a assistir de longe à perda da confortável liderança que tínhamos em Janeiro. Qualquer um deseja entrar em 2021 com o pé direito, no entanto espero que o Grimaldo, o Vertonghen, o Nuno Tavares, o Gabriel, o Cervi, o Pedrinho, o Waldschmidt e o Seferovic entrem com o pé esquerdo.
Este primeiro mês de 2021 será decisivo, o que significa que não há espaço para erros. E e todos os benfiquistas continuamos à espera de um Benfica à altura das exigências. Garantiram-me que esta equipa ia jogar o triplo, e é dessa raça, crer e ambição que eu gosto. Mas é uma promessa que tem de ser convertida em realidade. Merecemos um 2021 muito mais generoso que o antecessor, onde fomos privados de tudo e mais alguma coisa. Que este novo ano recomponha o mundo de saúde, harmonia e, sobretudo, que volte a encher as bancadas da Luz com 65 mil apaixonados carregados de saudades de sentir a pele arrepiada enquanto toca o hino."

Pedro Soares, in O Benfica

Apagar 2020


"Ano para esquecer, ano maldito, ano terrível, todas as palavras seriam poucas para definir aquele que seguramente foi, para a humanidade, o pior ano do século.
Uma pandemia irritante e inesperada destroçou vidas, famílias, empresas e empregos. Obrigou hábitos até há pouco impensáveis. Confinou e violentou populações. E o pior é que, mesmo rasgando as folhas do calendário, este passado e presente de ansiedade ainda não se pode extinguir na totalidade.
Também no desporto, e em particular no futebol, tudo foi diferente, para pior. Campeonatos interrompidos, bancadas vazias, competições burocráticas, sem chama, sem luz, nem cor.
Desde Março que não vou à Luz. Um infeliz recorde mesmo forçado a viver o Benfica à distância, nem assim houve motivos para comemorar: perdeu-se um campeonato que à entrada de 2020 parecia cantado, perdeu-se uma final da Taça a jogar contra dez, e nem a Supertaça se salvou.
Também nas modalidades pouca coisa há para reter. O vírus retirou-nos campeonatos de voleibol, hóquei, talvez futsal, talvez até basquetebol, várias competições femininas. Quando o mundo parou, também os nossos juniores caminhavam para o título. E além do título de atletismo, da nova Taça 1947 de hóquei, da Supertaça de voleibol, e agora da Taça de futsal feminino, não me recordo de mais nada de relevante para mencionar nestes doze meses.
Que 2021 seja bem melhor é o desejo de todos. E para o Benfica, em particular, queremos vitórias e troféus, sobretudo naquele que é o principal barómetro para os grandes clubes portugueses: o campeonato de futebol. Jorge Jesus e os seus jogadores têm a palavra."

Luís Fialho, in O Benfica

2020, um ano inesquecível


"Chegou hora do balanço. Não fora o maldito vírus, esta seria uma época de muitas conquistas. Iniciámos o ano com a brilhante vitória da nossa equipa masculina de atletismo, no Campeonato Nacional de Estrada. Foi um 11 de Janeiro à Benfica, em Oeiras, com um quarteto de luxo - Samuel Barata, Rui Pinto, Samuel freire e Alexandre Figueiredo. Quase um mês depois, na Figueira da Foz, Samuel Barata, Duarte Gomes, Alexandre Figueiredo e Samuel Freire voltaram a brilhar no Campeonato Nacional de Corta-Mato Curto. A 22 de Fevereiro, em Braga, mais uma conquista - o Campeonato Nacional de Clubes em Pista Coberta. A 7 de Março, em Vagos, António Vital e Silva (martelo), Leandro Ramos (dardo), e Emanuel Sousa (disco) arrasaram no Campeonato Nacional de Lançamentos Longos. No dia seguinte, em Braga, a nossa equipa de sub-23 bateu toda a concorrência no Campeonato Nacional de Esperanças.
Após a primeira vaga da pandemia, no Estádio Universitário de Lisboa, foi escrita uma das mais brilhantes páginas do atletismo, com a conquista do décimo Campeonato Nacional de Clubes em Pista, em masculinos. Este ciclo vitorioso do atletismo terminou, no passado dia 18 de Dezembro, na Maia, onde o fantástico Samuel Barata se sagrou campeão de Portugal de 10000 metros.
Fechámos o ano com três brilhantes e categóricos triunfos - a Supertaça masculina de voleibol, em Gondomar, a Taça 1947 masculina de hóquei em patins, no Luso, e a Taça de Portugal feminina de futsal, em Matosinhos. Oeiras, Figueira da Foz, Braga, Vagos, Maia, Gondomar, Luso e Matosinhos, oito concelhos mágicos pintados de vermelho e branco.
Votos de um 2021 retumbante!"

Pedro Guerra, in O Benfica

De todos, um!


"Que 2021 seja o ano do regresso à normalidade. Deverá ser este o desejo de milhares de milhões de seres humanos no cair das doze badaladas e na despedida do ano áspero que acabamos de atravessar. Que não será exactamente assim, por milagre de calendário, que a Covid-19 passará aos manuais de história, também o sabemos todos. Mas a chegada do novo ano com notícias de vacinas a encherem os telejornais de todos os povos é um banho de esperança que há muito almejávamos. A ciência e o engenho humano, alinhados em cooperação e num grande objectivo comum, talvez o primeiro de que temos memória à escala planetária, mostram à sociedade que a humanidade não perdeu o futuro. Pelo contrário, sabe e quer superar-se a cada nova contrariedade, mostrando que não nos resumimos globalmente a uma sociedade supostamente sem valores e centrada apenas na economia e na competição. Pelo contrário, quando somos postos à prova, sabemos ir ao fundo do conhecimento, invocar a ciência e cooperar como nunca, até entre nações menos relacionadas entre si, para alcançar o bom comum.
Mas, se lições há que este ano de covid nos trouxe, a recentragem de valores, a importância da família nuclear e da solidariedade vicinal, as virtualidades indiscutíveis do Estado Social e a cidadania enquanto espaço de liberdade e responsabilidade individual de que depende o bem-estar coletivo são algumas dessas lições. Também aprendemos que todos somos poucos, e que ninguém se pode demitir dos problemas, mas antes assumir como suas as dores de todos e fazer parte das soluções, mesmo que isso pareça menos óbvio. E, neste particular, o Benfica, o clube secular que toca a vida dos portugueses muito além das alegrias do relvado, continua a mostrar-se exemplar. Não para exibir o que faz, mas porque os benfiquistas lhe exigem que faça  que há a fazer em prol da sociedade. E foi assim, uma vez mais em 2020, com o Benfica a mobilizar-se e a oferecer luta musculada e sem quartel à pandemia, apoiando vultuosamente o SNS e levando ajuda aos mais vulneráveis no terreno. Será assim, sem dúvida, no próximo e em todos os anos vindouros, mostrando que é muito mais que um clube e que é, isso mesmo, 'de todos, um'.
E pluribus unum. Venha de lá 2021!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Núm3ros d4 Sem4n4


"5
Nossos jogadores (Gonçalo Ramos, Jardel, João Ferreira, Pizzi e Seferovic) impedidos de defrontar o Portimonense devido ao teste positivo à covid-19, relembrando-nos a facilidade com que o vírus se propaga, a importância da testagem e a urgência da vacinação em grande escala;
6
Taças de Portugal, em 7 edições conquistadas pela nossa equipa feminina de futsal. A senda vitoriosa das tricampeãs nacionais perdura, para honra e glória do Benfica, hegemónico neste particular do panorama desportivo português (vencemos todas as competições desde 2016/17 inclusive);
14
Rafa, o homem do jogo frente ao Portimonense, com um golo e uma assistência, chegou à 14.ª posição do ranking de golos e assistências neste Estádio da Luz. Soma agora 19 golos e 13 assistências, totalizando 32 combinações os dois itens, igualando o registo conseguido por Mitroglou e Rodrigo. Em competições oficiais pelo Benfica, chegou aos 42 golos e é o 54.º neste ranking (a par de Iaúca (52.º) e Filipovic (53.º), mas utilizado em mais jogos);
16
Anos que Renato Paiva serviu o clube no futebol e formação. Por ele passaram alguns dos jogadores que mais se destacam no futebol nacional e mundial na actualidade. Ficará na memória a dedicação, a competência, a correcção e o benfiquismo de um treinador que tem agora a oportunidade de singrar num clube equatoriano que, em 2019, venceu a Americana e, em 2016, foi finalista da Libertadores.
1829
Ao fim de 22 jogos em competições oficiais, Vertonghen é o mais utilizado, com 1829 minutos em campo (incluindo tempos adicionais). Na peugada do belga estão Everton (1685), Vlachodimos (1543) e Darwin (1517). Vertonghen participou em 19 partidas e tem uma média ligeiramente superior a 96'15'' por jogo."

João Tomaz, in O Benfica

O melhor 11 de 2020 | SL Benfica


"2020 foi um ano extremamente difícil pelas razões que todos conhecemos. No entanto, foi ainda mais difícil para quem é adepto do SL Benfica.
Aliado ao aparecimento de uma pandemia, que veio condicionar as nossas vidas, o descalabro desportivo encarnado contribui, de certeza, para um agravamento (ainda maior) do estado de espírito de milhões de portugueses.
Com o ano a aproximar-se do fim, esta semana decidimos eleger o melhor XI encarnado de 2020, composto pelos melhores jogadores que estão (e estiveram) ao serviço do Glorioso ao longo deste ano. 

Guarda redes
Odysseas Vlachodimos O dono da baliza continua a ser o grego, que demonstrou, ao longo deste ano, ter evoluído consideravelmente o seu jogo. Imperial dentro dos postes, Vlachodimos melhorou o controlo da profundidade, ajustando o seu posicionamento fora dos postes de modo a dobrar os seus colegas de setor.
De resto, o grego, se quiser elevar-se a outro nível, terá de melhorar o seu timing no que toca a intercetar cruzamentos, assim como deverá treinar mais o seu jogo de pés.

Lateral direito
André AlmeidaOs anos passam, pandemias surgem, mas há uma coisa que teima em não mudar: André Almeida continua a ser, face às alternativas que são utilizadas, a opção mais fiável para a lateral direita encarnada.
Face à sua lesão, temo-nos deparado com uma súbita saudade do português – muito por culpa das exibições de Gilberto -, que, apesar de não encantar, ia cumprindo o seu dever, marcando, ocasionalmente, golos dignos de prémio Puskas.

Defesa central
Rúben DiasO dia que todos nós, benfiquistas, temíamos finalmente chegou. Rúben Dias, por força do falhanço da qualificação para a fase de grupos da Champions, rumou aos ingleses do Manchester City FC, deixando o clube do seu coração após dez anos ao serviço das “águias”.
Um líder nato, com uma leitura de jogo e uma capacidade de passe e desarme assinaláveis, Rúben foi um dos alicerces da defesa benfiquista e é, atualmente, um dos melhores defesas do futebol europeu. 

Defesa central
Jan Vertonghen Uma contratação inesperada, mas que veio engrandecer o Sport Lisboa e Benfica. Perspetivava-se uma dupla de ferro composta pelo belga e Rúben Dias, mas, pelas razões descritas anteriormente, a parceria foi sol de pouca dura, sendo que Vertonghen é, atualmente, um bombeiro que tenta apagar (muitas vezes sozinho) os incêndios que assolam a defensiva encarnada.
Um grande defesa, cujas capacidades técnico-táticas estão furos acima dos restantes companheiros de setor, mas que precisa de maior apoio por parte da equipa (e do treinador).

Lateral esquerdo
Álex Grimaldo Um desequilibrador nato, que, se melhorar o aspeto defensivo, tem tudo para sonhar com a titularidade da lateral esquerda da La Roja e, possivelmente, de dar o salto para palcos maiores. 
Grimaldo continua a ser um jogador fulcral para o futebol do Benfica, sendo que a sua vasta amplitude de recursos técnicos o tornam no melhor lateral dos encarnados.

Médio direito
RafaApesar de ter sido um ano marcado por lesões e alguma irregularidade exibicional, Rafa cimentou o seu lugar no onze encarnado, através das suas arrancadas a rasgar as defesas encarnadas e dos golos que somou ao longo da temporada.
Além disso, o português melhorou o jogo em espaços mais curtos, tornando-se, também, uma alternativa viável para jogar em espaços mais interiores.

Médio centro
Adel TaarabtUm jogador imponente, com uma fome de bola insaciável e uma capacidade técnico-tática acima da média, o marroquino foi, muitas vezes, uma peça importante para desbloquear os jogos para os encarnados.
No entanto, a sua (in)capacidade defensiva expõe demasiado a equipa, que, num sistema tático com apenas dois médios centro, vê-se constantemente desequilibrada devido à fraca transição defensiva de Taarabt.

Médio centro
Pizzi Apesar de ter demonstrado alguma irregularidade exibicional ao longo do ano, é indiscutível que Pizzi continua a ser um jogador importante na manobra ofensiva encarnada, sendo prova disso os 31 golos marcados na época passada.
Com uma visão de jogo e uma capacidade de definição no último terço do terreno acima da média, o transmontano tem-se afirmado como um dos grandes jogadores do século XXI encarnado.

Médio esquerdo
Everton Cebolinha Vindo do Grémio por 20 milhões de euros, Everton tomou a ala esquerda de assalto, afirmando-se como titular indiscutível nesta segunda passagem de Jorge Jesus pelo Benfica. 
Rápido, com uma boa capacidade técnica e de definição, o brasileiro, que é o reforço com mais minutos de competição (1553’) soma já quatro golos na sua primeira época na Europa, deixando bons indicadores para o futuro.

Ponta de lança
Carlos Vinícius O artilheiro da época passada, Carlos Vinicius abandonou a Luz após uma época, onde marcou 24 golos e somou 13 assistências em 47 jogos, sendo que em grande parte deles partiu do banco.
Aliás, é de realçar que o brasileiro fez um golo ou assistência a cada 77 minutos em campo, o que é o melhor rácio de minutos por participação num golo entre todos os jogadores com mais de 300 minutos na Primeira Liga em 2019/2020.

Ponta de lança
Darwin NúñezUm avançado caro que se pode vir a tornar barato. Darwin, que chegou este ano vindo do UD Almeria por uns impressionantes 24 milhões de euros, já se afirmou como titular indiscutível no XI encarnado. Um avançado possante, raçudo, cuja velocidade e capacidade de explorar as costas das defensivas adversárias o tornam numa ameaça constante.
Com seis golos e quatro assistências em 17 jogos, espera-se que o jovem uruguaio se afirme como mais um dos grandes goleadores a passar pela Luz e que, após de conquistar muitos troféus, permita um bom encaixe financeiro aos cofres encarnados."

Sobre as crenças...



"“Explicar uma coisa, é retroceder facilmente aos seus antecedentes;
conhecer uma coisa, é prever facilmente as suas consequências.”
(William James, 1842-1910)

A criança é irrequieta: vai para o judo. O jovem não colabora com os colegas: vai para o basquete. O miúdo é hiperactivo: vai para o karate. A criança tem uma má postura: vai para a natação. O petiz é indisciplinado: vai para o aikido. O jovem é obeso: vai para o futebol. Não se mexe: vai para o atletismo. É desatento: mais um para o karate. Afinal o desporto acaba por ser uma clínica… devido a acreditar-se em generalidades.
Vem isto a propósito daquilo em que se acredita sobre o desporto, estando sempre à espera de benefícios por parte deste sem nos interrogarmos se o desporto é neutro ou se o desporto é inócuo.
E se a maioria das pessoas ainda possuem crenças positivas e fundamentadas em relação ao desporto durante a fase de formação de jovens desportistas (mas atenção à deformação!), essas mesmas pessoas e talvez muitas mais possuem crenças erradas em relação ao desporto profissional qualquer que seja a modalidade, dado o actual estado de mercantilização do mesmo.
– Mister, acredita que ainda vai a tempo de ganhar o campeonato? - pergunta o jornalista ao treinador.
– Claro que sim, temos de acreditar sempre que estamos sempre a tempo - responde o treinador.
– Com esta sua vinda, acredita que a prestação da equipa vai melhorar?
– questiona o comentador desportivo à recente aquisição. – Sim, eu vim para ajudar o clube e prometo trabalhar, trabalhar muito para ajudar o clube a ser campeão. E acredito que vamos ser campeões!
Mais uma vez, a propósito de crenças de jornalistas, de treinadores, de comentadores e de desportistas… 
Vivemos desde os primórdios da nossa espécie sujeitos a crenças. A nível social em termos de superstições, de rituais e de opinião pública, a nível individual em termos de convicções. Nos tempos actuais essas crenças são ainda mais instiladas na nossa consciência pelos ‘mass media’.
As crenças são opiniões formadas, interiorizadas, provenientes da nossa educação, das nossas vivências, da nossa formação… ou são o impulso para tendências que seguimos devido aos nossos modelos, aos líderes em que depositamos confiança, ou graças à acção da publicidade, do marketing ou da propaganda… Está nos manuais.
As crenças influenciam os nossos valores, que por sua vez se reflectem nas nossas atitudes e que se demonstram nos nossos comportamentos. Também vem nos manuais.
Somos influenciáveis e manipuláveis, e mesmo que estejamos a isso atentos as pressões podem ser tantas que delas não conseguimos escapar. E sem darmos conta vamos construindo as nossas crenças, quer sejam baseadas em factos fundamentados quer nos sejam inculcadas pela repetição da apresentação de arquétipos quer de estereótipos.
Em tempos idos havia os que acreditavam na Santa Inquisição, hoje em dia há os que acreditam que a Terra é plana. Havia antigamente os que acreditavam no poder absoluto e agora há os que não acreditam na ciência. Havia os que acreditavam nos ideais da Revolução Francesa agora há os que acreditam nos ‘reality shows’. E ainda há aqueles que acreditam que o desporto é o remédio para todos os males.
Segundo Maria Luísa Soares (1), “submetemo-nos às crenças – como seguimos as regras –, sobretudo a essas crenças práticas sobre as quais se funda toda uma forma de vida e de conduta. E aqui dá-se a submissão: à regra, ao hábito, à nossa ‘imagem do mundo’, que não é uma teoria construída por nós, mas que nos é conatural, de certa forma herdada, pertence-nos e possui-nos, dominando-nos inconscientemente.” Há neste pequeno conteúdo três noções fundamentais: a) a nossa submissão àquilo em que acreditamos (porque só vemos aquilo que queremos ver), b) a noção de fazermos nosso aquilo que nos foi inculcado por outros (a nossa disponibilidade para sermos enganados sempre que haja alguém com disponibilidade para nos enganar); c) a noção daquilo que nos domina inconscientemente por não estarmos (nem sermos) preparados a equacionar a realidade dos factos e das suas interpretações por não termos (não nos ter sido) desenvolvido um espírito crítico.
O desporto, submetido às leis do comércio, apresenta-se apenas como espectáculo mas os seus fins últimos são económicos ou políticos. Basta um olhar atento sobre o mesmo e analisarmos criticamente quais os seus efeitos na sociedade e nos indivíduos. Basta não nos esquecermos das elevadas quantidades monetárias que movimenta e pensarmos nos interesses imobiliários dos clubes, no ‘namimg’ dos estádios, na publicidade ostentada pelos competidores, na presente nos painéis publicitários e nas conferências de imprensa dos treinadores de futebol, nos direitos de imagem e nos direitos televisivos. Basta interrogarmo-nos sobre o que produz um jogador de futebol por exemplo! 
Como nos diz Manuel Sérgio (2), é necessário reorganizar os fundamentos do Desporto (e repare-se no “D” maiúsculo) através de uma séria crítica epistemológica, lógica e axiológica. E ética e moral, acrescentaríamos nós. De salientar que, segundo o mesmo, na mesma obra, “o Desporto só pode concorrer à transformação do mundo se, primeiro, se transformar a si mesmo.” Para isso não pode ser só um promotor da quantificação do sucesso, da exaltação exacerbada dos mais aptos ou mais capazes, ou do desportista-mercadoria, ou da simples hierarquização meritocrática. Nem da subserviência ao vil metal onde só o lucro interessa. Ainda estaremos a tempo?
No dealbar de um novo ano, que todos nós esperamos que seja melhor que aquele que termina dadas todas as vicissitudes por que ainda estamos a passar, nada melhor do que nos determos um pouco nas palavras de Augusto Curry (3): “quem não critica aquilo em que crê não lapidará as suas crenças, quem não lapida as suas crenças será servo das suas verdades. E, se as suas verdades forem doentias, certamente será uma pessoa doente.” Com a implícita consequência de poder fazer outros doentes…"

Fever Pitch - João & David... Inglaterra!