Últimas indefectivações

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

E Pluribus Unum

A todos um bom Natal...

"É uma boa e doce rabanada de Natal passar a consoada em primeiro, mas, sejamos realistas, só haverá verdadeiro significado se formos primeiros no fim da 30.ª jornada. É esse o único momento em que um benfiquista festeja a sério o primeiro lugar.
Bela exibição, aquela que permitiu vencer de forma dilatada o Marítimo com novo hat trick de Cardozo que teima em fazer difícil a vida dos seus detractores. Diria que não está um bom momento a vida daqueles que não gostam dele.
Na Taça da Liga houve várias abordagens muito empenhadas. O FC Porto interessadíssimo em vencer a prova não poupou um titular, e ganhou com normalidade e justiça. O Benfica, igualmente interessado em vencer a prova, só iniciou o jogo de Olhão com um titular, e, quando se viu a perder, teve, e bem, que ir ao banco encontrar soluções que permitiram com mais qualidade e ritmo dar a volta a um resultado que estava difícil. Vencer o Olhanense e ganhar em Moreira de Cónegos permitirá descansar a quase totalidade dos jogadores no jogo com a Académica que antecede a recepção ao FC Porto. Gerir jogadores não pode ser abdicar da vontade de ganhar.
O Sporting também interessado em ganhar qualquer coisa conseguiu um empate empenhado na Madeira. Não posso deixar de comentar o quase único assunto de relevância desportiva dos media portugueses: a crise do Sporting. Depois de contratar um treinador para treinar os jogadores, Vercauteren, o Sporting contratou um treinador para treinar os treinadores, Jesualdo Ferreira. Aguardamos a todo o momento a contratação de um treinador para treinar o presidente, que é, como se tem visto, aquele que tem tido piores exibições.
Saiu em sorte o Bayer Leverkusen, desportivamente será dos adversários mais difíceis, mas só pela saudade de lembrar os míticos 4-4 e a exibição de Kulkov valeu a pena. Foi um dos jogos mais marcantes da história europeia do Benfica dos últimos 40 anos."

Sílvio Cervan, in A Bola

A máscara

"Assustado, o homem escondeu-se. Havia razão para tanto medo? Algo parecido com uma manta negra tapou-lhe a cabeça por inteiro. Uma máscara: sinistra, por sinal. Quem se cobre assim tem motivos muitos fortes para o fazer.
Geralmente, quem se cobre assim são os cobardes ou os bandidos. Não era o caso, certamente, ninguém acreditaria em tal. No dia seguinte, sem máscara, rodeado pela falange, tinha a cara a descoberto. Não era agradável, mas estava à vista, que é como deve ser quando se trata de pessoas de bem. Esquecido dos medos, lançou-se em ironias bacocas de mau aprendiz de fraco mestre. Traçou cenários distantes e inverdadeiros, misturou-se palavras ocas e foi deixando pairar ameaças. É próprio de quem se sente protegido, resguardado.
De cara lavada, como costuma dizer-se, às vezes sem muito nexo. Podemos todos imaginar as expressões que se esconderam por baixo daquele pano negro, ou manta, ou cobertor ou lá o que era. Chamemos-lhe máscara. Imaginem para lá da máscara: era pavor aquilo que se escondia? Uma lágrima de cagaço? Não podemos saber, não é? É precisamente para isso que servem as máscaras, para nos deixar na dúvida. E na dúvida ficámos. Mas temos uma certeza: quando Vítor Pereira tirar a máscara surgirá por debaixo dela a sua verdadeira cara - a cara de Vítor pereira. Esse mesmo, o dos árbitros.

P.S. - Se há coisa deprimente num circo é ver o palhaço a tentar ter graça e não arrancar gargalhadas. Mas ainda mais deprimente é ver, atrás do palhaço, um servil jornaleiro a rir-se sozinho da piada inexistente só para agradar ao palhaço. Ficam bem um para o outro. São tristes."

Afonso de Melo, O Benfica

Adiou-se a verdade

"O futebol, tal como o teatro, é uma arte. Setúbal é uma honrada cidade marcada pelo teatro (veja-se a grande herança de Luísa Tody) e pelo futebol. Assim, poderemos dizer que, na passada sexta-feira, todos pudemos assistir, com a decisão de adiar o jogo entre o Setúbal e o FCP, a um golpe de teatro.
Jogar num relvado encharcado retira uma grande percentagem da vantagem técnica e da velocidade aos intervenientes no jogo. Logo, a equipa mais dotada acaba por ter mais dificuldades em fazer valer as suas valências. Todos vimos (até Pedro Henriques, o comentador da Sporttv, normalmente dócil para com o FCP) que o relvado do Bonfim estava em condições. Estava bem melhor do que o relvado de Coimbra, onde o Benfica viu, recentemente, a arbitragem tirar-lhe dois pontos. Todos vimos a representação de Proença (quem mais poderia ser?!), desesperadamente em busca de dois charquitos no imenso relvado, onde pudesse deixar cair a bola e demonstrar ao mundo que a bola não salta quando cai na lama. Estava feita a prova da legalidade da decisão e estava demonstrado como a verosimilhança é importante na representação teatral. No entanto, isso não basta para que se chame verdadeiro ao que é apenas verosímil. 
A pantomina continuou com as declarações servis do presidente do Vitória e a enternecedora imagem de Joaquim Oliveira, qual mordomo papal, a segurar o guarda-chuva do Sr. Costa. Seja como for, não era necessário tanto esforço para nos convencerem de que tudo aquilo foi legítimo e necessário. Pois, normalmente, naquele palco e com aqueles actores, costuma haver um par de servis e salvadoras substituições lá pelo minuto 58. Ou seja, por vários motivos, sabemos que não havia necessidade de Proença ter decidido, mais uma vez, adiar… a verdade desportiva."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

PS: 


Recordo aqui o Naval-Benfica, na Taça do ano passado:

André Gomes