Últimas indefectivações

quinta-feira, 21 de maio de 2020

David Luiz...

Pedro Proença e a razão objectiva

"Existem várias razões pelas quais se devem fazer todos os esforços para que o campeonato de futebol seja retomado, mesmo que para isso se tenha de jogar em regime de excepcionalidade, ou como agora se diz, em regime de nova normalidade.
A menos importante dessas razões não será, certamente, a financeira. Abrange todo um mundo transversal, que começa nos clubes, passa pelos jogadores, treinadores, todos os profissionais do sector, e termina nos operadores televisivos e no tal canal.
Ora, quando os principais operadores decidiram, com a frieza própria da racionalidade da gestão, interromper os pagamentos aos clubes pelos direitos consagrados em contratos que não previam esta calamidade pública provocada pela pandemia, logo se admitiu, em nome da sobrevivência desses clubes, que mais tarde ou mais cedo, com maior ou menor risco, o campeonato se haveria de reiniciar.
E assim deverá acontecer, dentro das normas estabelecidas pela autoridade sanitária, criando-se uma solução convincente para um problema de extrema gravidade.
Por isso, quando Pedro Proença tentou, sem sucesso, um discreto alerta às autoridades políticas do país, lembrando-lhes as óbvias virtudes, para a saúde pública, da transmissão das jornadas em falta, em sinal aberto, as operadoras e o eterno canal da família, contratado para o exclusivo, gritaram traição a uma só voz. Não cuidarem, sequer, de procurar saber em que condições se poderia concretizar a ideia, mas é verdade que, nas actuais circunstâncias, a exclusividade de um canal pago acrescenta um factor de risco que pode e deve ser ponderado."

Vítor Serpa, in A Bola

Golo: Félix

Ecletismo assegurado

"Em tempos de incerteza, a melhor notícia que poderíamos ter em relação ao ecletismo no Sport Lisboa e Benfica será a continuidade da aposta do Clube, mantendo as suas diferentes modalidades. 
O investimento terá de ser, naturalmente, feito com realismo. Atravessamos um tempo inusitado, marcado pela indefinição quanto ao que o futuro próximo nos reserva.
No caso das modalidades de pavilhão, em que todas viram as competições abruptamente terminadas devido à pandemia, desconhece-se ainda quando regressarão, em que condições e com que clubes, enquanto se deparam, também, com a impossibilidade de estimar, para já, os reais impactos da pandemia ao nível da captação de receitas.
A tradição eclética do Clube, um dos seus eixos fundacionais, continuará a ser respeitada e estimulada, mas sem nunca colocar em causa a sua sustentabilidade.
Os planos para a próxima temporada, face à conjuntura nacional em que estamos inseridos, e à qual o Benfica não é alheio, estão a ser reavaliados. Conforme explicou, ontem, à BTV, o vice-presidente com o pelouro das modalidades, Domingos Almeida Lima, "o Benfica tem de reajustar as suas políticas económicas e orçamentais e é nesse contexto que se está a trabalhar".
Merece realce a postura do Sport Lisboa e Benfica ao longo destes últimos meses, a qual tem sido exemplar.
Enquanto se aguardava pelas decisões das Federações quanto à retoma das competições, o Clube mostrou total disponibilidade para apoiar esse regresso. A partir do momento em que as Federações decidiram dar as competições por concluídas, o Clube acatou essa decisão e compreendeu-a, mesmo tendo noção de que era um forte candidato a conquistar quatro dos cinco campeonatos em disputa (além dos femininos) nas modalidades de pavilhão.
O Sport Lisboa e Benfica será sempre um agente promotor e entusiástico do ecletismo e nunca deixará de assumir o seu papel fundamental no desenvolvimento do desporto no nosso país. E queremos continuar a lutar por títulos e a ganhá-los, não obstante os inevitáveis acertos orçamentais, em que a aposta na Formação desempenhará um papel importante, a serem feitos numa situação que não tem paralelo e que ninguém estava preparado.
Manter a elevada competitividade das nossas equipas será o grande desafio, ao qual nos lançamos com entusiasmo, ambição e a convicção de que o faremos, porém conscientes de que os compromissos assumidos terão sempre de ser cumpridos e de que não devemos, nem podemos, hipotecar o futuro.
#PeloBenfica"

O Brinco do Baptista #41 - Adeptos: Desistir ou resistir?

Fala barato !!!

""Tenho de dizer isto, porque vivemos em democracia: como o Benfica não estava em 1º no momento da paragem, tudo ficou muito mais complicado."
(Rui Santos, 2020)
Sugerimos várias perguntas da semana (imagem), já que deve ser o Benfica o responsável pelo recomeço da maioria dos campeonatos europeus. Deixamos as datas provisórias de início dos mesmos:
Maio:
16 – Alemanha
23 – Hungria
23 – República Checa
28 – Dinamarca
30 – Croácia
30 – Israel
30 – Sérvia
30 – Ucrânia
30 – Lituânia
Junho:
1 – Montenegro
3 – Albânia
4 – Portugal
5 – Bulgária
6 – Eslovénia
6 – Eslováquia
8 – Suíça
12 – Turquia
12 – Espanha
12 – Inglaterra
13 – Islândia
13 – Itália
14 – Grécia
14 – Suécia
16 – Noruega
17 – Finlândia
Parafraseando o próprio: "mandam umas larachas relativamente ao futebol, apenas por vaidade ou por protagonismo.""

Competências!



"O jornal oficial do #PortoaoColo distorceu. Os cartilhados lançaram o ataque.
Em nome da verdade, gostaríamos de perguntar a Bernardino Barros:
Em que parte Aimar disse que viu jogar o Félix com 10 anos?
Em que parte disse Aimar que viu Félix a jogar no Benfica com ele?
Devido aos normais problemas de tradução entre a língua castelhana e a língua da cartilha, deixamos a citação original:
"Uma grande quantidade de jogadores, e de certeza que nos estamos a esquecer de alguns, um que Não Devemos Ter Visto nem de perto, se calhar ainda nem devia ter nascido foi o João Félix, devia ter uns 10 anos quando jogávamos no Benfica, que aparição..."
Nós “não papamos grupos” e estaremos sempre aqui na defesa da verdade porque daqueles lados já sabemos com o que contar: mentira, omissão e deturpação. Há coisas que nunca mudam."

'Ja, wir konnen'

"1. O futebol voltou. Se fosse alemão, Obama diria ja, wir konnen (yes, we can). E nem foram precisos semáforos à entrada das grandes áreas.
2. O treinador do Aubsburgo não pôde ir para o banco por ter violado o protocolo: foi comprar pasta de dentes. Ou seja, agora os presidentes já não precisam de despedir os técnicos, basta-lhes mandá-los ao supermercado.
3. Temos de adaptar-nos. Antes: «O médio X, que acabou o jogo com queixas, será reavaliado». Agora: «O médio X, que acabou o jogo com sintomas, será testado». Depois é só trocar o spray milagroso pelo álcool-gel.
4. Por cá, este novo futebol é um mundo de oportunidades para as peixaradas televisivas podem colocar-se linhas para medir o distanciamento social entre jogadores, repetir frames para perceber se no beijo ao colega houve ou não contacto entre lábios e face, discutir-se a intensidade do cumprimento com os cotovelos e da palmadinha no rabo, a intencionalidade de uma assoadela ou cuspidela. Ou será que vêm aí programas higiénicos?
5. A hipótese de a Liga fazer relatório semanal de infectados é estúpida. Um mapa de infectados não é um mapa de castigos e só vai gerar especulação entre cada actualização.
6. Perco a fé quando oiço o presidente do V. Setúbal a falar do Estádio do Bonfim como se fosse o Allianz Arena. Mesmo que seja aprovado pela DGS.
7. «Não vale a pena querer meter o motor de um Ferrari no chassis de um Fiat Punto», diz André Bernardo, administrador e nova estrela do Sporting, sobre o que tem sido feito na era Varandas. O que parece às vezes é que esta Direcção é o motor de um Fiat Punto no chassis de um Ferrari.
8. Mike Tyson e Evander Holyfield podem voltar a defrontar-se, 23 anos depois. Mais corajoso do que dar a outra face é dar a outra orelha.

P.S. - Veem? Tudo vai mudar no nosso futebol, estamos desinfectados! Até a violência das claques já acabou."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

«Sporting ofereceu mais 20 contos mas preferi o Benfica»

"Diamantino, bem ao seu jeito, faz-me duas ou três reviengas antes de conseguirmos marcar a entrevista. Ao fim de alguns whatsapps, lá fechamos a hora e Diamantino atende pontualmente, pronto para desbobinar a cassete das memórias dos tempos de jogador. Sem rodeios ou frases feitas, e com muitas gargalhadas à mistura, Diamantino vai por ali fora sem medo e conta-me os pontos altos da passagem pelo Benfica, a desilusão com a Seleção, a juventude de um miúdo educado mas reguila, cuja referência era Cruyff, terminando com um olhar assertivo e pragmático sobre o que esperar para o futebol português nos próximos tempos.

– Onze épocas à Benfica –
Tenho que começar por aqui. O meu pai diz que se não te tens lesionado contra o Guimarães antes da final da Taça dos Campeões Europeus [1988], o Benfica tinha ido lá…
(risos) É o que toda a gente diz. De tanta coisa boa que fiz, e isso é um elogio claro, uma das coisas que as pessoas mais me dizem quando me veem é “Por causa de si, não ganhámos a Taça dos Campeões Europeus”. Ehehehe.

Tu nem jogaste a final e as pessoas dizem-te que a culpa de o Benfica não ter ganho é tua?
Ehehe, é mesmo!

Foste ver a final a Estugarda?
Sim. Eu lesionei-me no sábado e o jogo foi na quarta-feira. Eles decidiram não me operar logo naquele dia e fui ver a final com a perna engessada. Quando vim de Estugarda fui directo ao hospital para ser operado.

Como é que se vive uma final daquelas a partir da bancada?
As coisas no futebol, para mim, sempre foram algo efémeras, tanto que em casa não tenho assim nada à mostra, nem camisolas nas paredes. Está tudo no sótão em caixotes. Eu como jogador vivia da mesma maneira: aconteceu, paciência. Se calhar era a época mais consistente que eu estava a ter, ainda por cima naquela idade estava no auge, com 26 ou 27 anos. Até já estava a jogar como médio ofensivo, já tinha deixado os extremos. Estava a ser uma grande época, por isso é que as pessoas diziam que aquilo circulava tudo à minha volta e que se eu tenho jogado tínhamos ganho aquela final. 

Foi o momento mais difícil da tua carreira?
Sim, é possível que sim. Mas não olhei para isso como uma catástrofe enorme que se abateu sobre mim. Aconteceu, foi assim, e realmente teve alguma influência na minha carreira porque naquela altura estive muito tempo parado. Muito tempo não, eu fiz três meses e pouco numa lesão que costuma ser seis ou sete meses. Eu ao fim de três meses e 12 dias estava a jogar, mas foi sobretudo porque eles queriam. Eu só ao fim de um ano, mais ou menos, é que me senti em condições.

Quem eram os líderes da brincadeira no balneário?
Eu era um brincalhão, o Carlos Manuel também, o Bento. Eu entrei no Benfica em 1977, entrei como júnior mas para os seniores e ainda podia fazer mais dois anos de júnior. Naquela altura era muito difícil entrar numa cabine do Benfica, havia nomes enormíssimos como Toni, Humberto Coelho, Vítor Baptista, Vitor Martins, Zé Henrique. Eu quando fui para lá era um miúdo, não tinha grande moral naqueles primeiros anos (risos). Naquela altura havia hierarquias e mais respeito pelos jogadores mais antigos, hoje já não.

Em que sentido?
Um exemplo. Quando cheguei ao Benfica, o treino começava com uma corrida de 10/15 minutos à volta do campo. Este aquecimento era feito em grupos de três ou quatro e esse respeito e essa hierarquia viam-se logo aí, porque chegavas nesse ano e ias para último da fila. Ou seja, só ias subindo na fila consoante os anos que fosses ficando. Eu acabei por chegar à primeira fila, foram muitos anos. Quando eu cheguei, os primeiros eram o Humberto, o Toni, os mais antigos no clube.

Havia quase uma reverência dos recém-chegados relativamente aos mais experientes?
Sim, nessa altura por muito “palhaços” que fossemos não tínhamos a confiança para chegar lá e falar com o Humberto e com o Toni, começar ali a brincar, como eu já apanhei no meu tempo aqueles que vinham dos juniores. Não é que não respeitassem mas não olhavam muito ao estatuto, já vinham dos juniores como craques. Nós não, podíamos ser craques mas mantínhamos ali… eles obrigavam-nos a manter porque não davam muita confiança. Tenho orgulho em dizer que aprendi muito, muito, muito no Benfica, não só como jogador mas também como pessoa, foi uma escola para a vida.

Final da Taça de Portugal 86/87, fui ver o resultado: Diamantino Miranda 2-1 Sporting. Os teus dois golos são fabulosos. Na tua opinião, qual deles é o melhor?
Eu nesse ano acho que marquei oito ou nove livres directos. Talvez a jogada do segundo golo, como é uma jogada quase individual, é um passe do Nunes ainda no nosso meio-campo e depois a partir daí é uma jogada completamente individual até ao golo. O primeiro é mais um golo de técnica. Quer dizer, o segundo também (risos). O segundo tem tudo, técnica, velocidade, potência, drible, tem tudo.



O primeiro drible é qualquer coisa. Tu sentes que o defesa vem nas tuas costas?
Sim, eu costumava fazer muito aquilo. Normalmente eu era marcado muito em cima e por isso costumava olhar antes de receber a bola. Se via que o jogador estava à distância, percebia que, quando o passe fosse feito, ele ia arrancar. Porque naquela altura, se passasse a bola não passávamos nós e eu já sabia que tinha um adversário, caricaturando, tipo touro a ir contra a capa. Fiz muitas vezes aquele tipo de drible mas havia vezes que os defesas chegavam a tempo de me dar uma porrada (risos). Mas aquela saiu bem e ainda bem.

O livre também é qualquer coisa…
O golo de livre também é um excelente golo porque eu tinha a percepção que os guarda-redes mais experientes, que era o caso do Damas, grande, grande guarda-redes, normalmente tentavam adivinhar os lances. Naquela zona o mais comum era colocar a bola no canto mais próximo por cima da barreira e eu entendi que era isso que o Damas estava a pensar. Quando parto para a bola, vejo o Damas dar um passo para o lado do poste mais perto e acabei por decidir meter a bola no lado dele. Ele quando deu o passo quis recuperar mas já não deu tempo.

Tu até o cameraman enganas porque ele ainda está a focar-te quando te estás a preparar para bater e de repente já a bola está a entrar.
É, porque nós tínhamos aquele livre estudado. Quando era mais longe da baliza era o Carlos Manuel que marcava e, como aquele era mais perto, fui eu a marcar. O Carlos Manuel preparava a bola e assim que ele tirava as mãos eu rematava. Ele nem sequer recuava, ao tirar as mãos eu marcava logo. Eles eram apanhados desprevenidos porque julgavam que era o Carlos Manuel a marcar e, como ele estava com as mãos em cima da bola, descontraíam um pouco. Fizemos vários golos assim.

Entrevistei há uns tempos o Álvaro Magalhães, que me disse que se há equipa que sabe jogar no Jamor é o Benfica. Concordas? 
É assim, o Benfica sabe jogar no Jamor, pelo menos estou a referir-me mais ao meu tempo e àquelas alturas em que fomos ao Estádio Nacional muitas vezes, eu ganhei cinco Taças de Portugal. Naquela altura o Benfica em cinco finais da Taça ganhava quatro, às vezes mesmo as cinco. Essa coisa do sentir-se bem aqui ou acolá, normalmente associo isso ao valor da equipa. A equipa era melhor, jogava melhor que os outros, normalmente ganhava mais vezes. Associo a isso não só o saber jogar no Estádio Nacional. Por exemplo, estou a recordar-me de 82/83, em que a Federação Portuguesa de Futebol resolveu fazer a final da Taça de Portugal no Estádio das Antas, contra o Porto.

Que acabou por ser em Agosto não foi? O Eriksson mandou-vos de férias e depois só se jogou em Agosto?
Sim e nós fomos lá ganhar 1-0. Por isso, tem que ver com a qualidade da equipa e não com o campo onde se joga. Agora, se perguntarem a todos os jogadores desse tempo, nós associávamos ao ambiente, à festa. O jogar lá, para mim, continua a ser o jogo mais bonito da época. Aquele Estádio Nacional como está, tenha condições ou não. Nós jogadores gostávamos muito, os do Sporting também e os do Porto só depois é que começaram a criar uma certa aversão ao Estádio Nacional, mas mais por estratégia do que por outra coisa, eu compreendo.

Como jogador, como é que viveste a chegada de Sven-Goran Eriksson e o que ele trouxe ao clube?
Tenho um sabor agridoce em relação ao Eriksson. A vinda dele para o Benfica revolucionou todo o futebol português. Não foi só o Benfica, foi todo o futebol português e isso percebeu-se na evolução que o nosso futebol teve em termos tácticos e de mentalidade. Nós vamos à final com o Anderlecht, depois o Porto vai à Taça das Taças e é campeão europeu…

Revolução a que nível?
Foi uma revolução em termos de treino. O Eriksson trouxe uma nova metodologia e passamos de um treino convencional para um treino mais específico. Deixámos de correr nas matas, de fazer treinos de conjunto durante duas horas, de andar a correr à volta do campo, subir bancadas. Começámos a fazer um treino que era específico para o futebol e deixámos de fazer o trabalho de força do atletismo. Depois revolucionou em termos mentais. Por exemplo, nós jogávamos em Roma, como jogámos e ganhámos, como se jogássemos em casa contra uma equipa mais acessível do nosso campeonato. Em termos técnicos nós éramos muito bons, só faltava encarar todos os adversários da mesma maneira, sabendo que ganharíamos a maioria dos jogos. E foi o que aconteceu, tanto em Portugal como na Europa.

Esse trabalho de mentalidade era antes do jogo ou ao longo da semana?
Durante a semana. Nós percebíamos logo à 3ª-feira quem jogava ao domingo. Antes de ele chegar, nós sabíamos os 11 que iam jogar dentro da cabine, uma hora e meia antes do jogo. Com aquele tipo de treino, durante a semana nós percebíamos quem ia jogar porque havia o treino por sectores e ele preparava os quatro defesas que iam jogar, os médios e os avançados. Aquilo que ele realmente mudou, e que hoje em dia se chama com aqueles “palavrões” das pressões altas, diagonais interiores e exteriores, nós treinávamos isso já naquela altura. Depois muitos aproveitaram essa metodologia de treino que o Eriksson implementou, até hoje. Em termos de Benfica, outra revolução do Eriksson foi passarmos a ter um jogo muito mais vertical.

E isso trouxe mudanças nas funções dos jogadores em campo?
Deixámos de ter aqueles médios, e o Alves foi um dos sacrificados nessa altura, ele tinha uma técnica de passe excepcional, metia a bola a 40 metros mas o que o Eriksson queria era médios que fizessem o passe e, no tempo em que a bola demorasse a fazer o percurso até ao avançado recepcionar a bola, chegassem lá para dar o apoio frontal ao avançado. O Alves era fabuloso nas bolas longas, metia a bola onde queria, tinha uma visão de jogo espectacular mas depois faltava-lhe isso.

É nessa óptica que começam a chegar os jogadores nórdicos ao Benfica?
É, o Eriksson optou por um sueco chamado Stromberg, que não tinha nada a ver em termos técnicos com o Alves. Mas para aquilo que o Eriksson queria, era um jogador muito mais útil que o Alves. E era este tipo de futebol que ele queria, a pressão alta, o criar zonas de pressão.

Com resultados satisfatórios?
Foi por isso que o Benfica, além de ter uma grande equipa, os resultados quando o Eriksson chegou eram oito ao Guimarães, sete ao Braga, oito ao Penafiel, nove ao Marítimo e por aí fora. O Eriksson deve ter sido o primeiro treinador em Portugal a usar vídeos. Havia cassetes de VHS e acho que era o Prof. Jorge Castelo que filmava os jogos e depois tirava 10 minutos do jogo do adversário, das jogadas padrão, das movimentações, das características individuais de cada jogador. Nós já víamos isso em ’82 e depois era o Toni que normalmente falava 2/3 minutos sobre a equipa adversária, porque era ele que tinha o conhecimento, o Eriksson não sabia nada de Portugal.

Como eram as palestras dele antes dos jogos?
Era só “Joguem aquilo que treinámos, divirtam-se”. E pronto. Mas nós treinávamos era muito especificamente, coisa que os outros ainda não faziam, bolas paradas, aqueles movimentos sem bola que hoje em dia se treina, desde a bola a sair do guarda-redes. Aquilo que se chama hoje o jogo de posição, nós já fazíamos isso, não tinha era esses nomes. Nós sabíamos quando a bola estava no Pietra, qual era a movimentação que o médio direito tinha que fazer para o médio centro entrar nas costas do extremo que baixava. Eram dois pontas-de-lança, um deles deslocava-se para o corredor da bola e o outro ia para receber na frente, porque se a bola fosse mais alta ele estava lá para receber e o outro rodava para fazer o apoio frontal. Tudo isso já nós fazíamos nessa altura e o Eriksson foi o grande implementador dessa filosofia e dessa metodologia de treino.

Porque falavas então em agridoce?
Porque depois ele volta em 1990, a seguir à minha lesão, eu faço um ano e saio no ano a seguir, já não fiz o segundo ano com ele. Ele marcou muito a minha geração e teve muito a ver com a evolução que o futebol português teve nessa altura em termos europeus. Basta dizer que depois Portugal vai ao seu primeiro Europeu em ’84 e vai ao Mundial em ’86.

Qual foi o jogo com o melhor ambiente no Estádio da Luz?
Aquele jogo que marca mais é a meia-final com o Steaua de Bucareste [1988], onde se fala entre 120 a 140.000 pessoas, na altura ainda não havia cadeiras. Esse foi o jogo que me marcou mais em termos emocionais porque dava acesso a uma final, final que afinal eu acabei por não jogar (risos). Mas correu-nos muito bem, foi um grande jogo.

Que memórias tens desse jogo?
Havia sempre o ritual do capitão vir primeiro, espreitar no cimo do túnel o ambiente do estádio e gritar lá para baixo para o pessoal. E eu lembro-me de vir cá acima, meter assim a cabeça para espreitar e comecei a chorar. Gritei para a malta subir, nós fazíamos o percurso do estádio ao lado do terceiro anel para cumprimentar o Presidente. Atravessávamos o campo até à linha lateral do lado contrário, que era onde ficava o camarote presidencial, e íamos aí fazer a vénia. Eu lembro-me de percorrer esses 65 metros, nós sprintávamos e lembro-me de começar a chorar desde o túnel até ao lado de lá, fazer a vénia a chorar e só parei de chorar quando foi aquele ritual da moeda ao ar.

Emocionaste-te com o ambiente que estava no estádio?
Só quem vive aquele jogo, e lá em baixo no campo, é que percebe o que aquilo é. Não tem nada a ver com o estar na bancada, aquilo era um barulho, uma festa e eu não me aguentei.

O Nuno Gomes há pouco tempo disse que havia muitos jogos que o Benfica começava a ganhar no túnel.
Era tudo. Por exemplo, um jogo normal naquela altura, com o Salgueiros ou com o Rio Ave, que hoje até tem mais expressão do que naquela altura, tinha 40 ou 50.000 pessoas. Hoje há esses números porque têm os lugares cativos, levam os carros para dentro do estádio e tal, naquela altura não. Naquela altura iam a pé desde o Jardim Zoológico até ao estádio, era muito mais difícil. E as pessoas iam, fosse contra quem fosse, porque já sabiam que normalmente o Benfica ia ganhar, só não sabiam era por quantos. Então, era mais difícil cativar as pessoas para irem ao estádio. Sobre o ganhar antes, era um bocado verdade nessa altura, porque eu lembro-me muitas vezes de as equipas estarem perfiladas e os adversários começavam a olhar para as nossas pernas, para as botas, as caneleiras (risos). E logo aí percebíamos o terror que era para eles jogarem no Estádio da Luz. Havia jogadores que quebravam quando lá entravam, jogadores com valor. Ainda hoje falamos disso e eles recordam esses tempos “Epá, aquilo era uma coisa… Nós queríamos mas as pernas não davam, ficavam presas ao chão”. E era verdade.

Em 2007 treinavas o Varzim na 2ª Liga e eliminaste o Benfica da Taça de Portugal, na Póvoa. Como motivaste os jogadores para este jogo?
Eu cheguei ao Varzim nessa semana na 3ª-feira e o jogo era no sábado. O Varzim tinha 14 ou 15 jogadores só, porque tinham jogado em Guimarães e tinham sido dois expulsos, para além de ter três ou quatro lesionados. E tinha dois dos jogadores mais conhecidos, o Alexandre, que era aquele capitão de cabelo comprido, e um angolano que esteve no Belenenses e no E. Amadora, o Mendonça…

Lembro-me bem, o Mendonça marcou o golo da vitória.
Exactamente. Eles não jogavam há muitos meses e eu apostei neles. Vou buscar também um rapaz que era contabilista, pertencia ao plantel mais porque ajudava o clube na contabilidade, o Yazalde, que depois jogou no Rio Ave e o Neto, que agora está no Sporting, também foi para o banco nesse dia.

Como é que preparaste a equipa?
Fizemos apenas 5/6 treinos de adaptação às posições. A única coisa que eu disse foi a um jogador que era o Tito, fortíssimo e razoável tecnicamente, era aquele típico jogador daquela zona de pescadores, rude e forte. Eu disse-lhe “O Rui Costa não pode tocar na bola”. Lembro-me que o Benfica não perdia há 13 jogos e nós fizemos uma exibição muito boa, mesmo com o Benfica a jogar com a equipa completa, foi uma vitória merecida. Claro que se o Benfica tivesse no seu melhor ganharia com certeza. Eu joguei um pouco com isso, com a experiência que tinha destes jogos. Muitas vezes pode-se ser bom treinador mas, não tendo estas experiências, não consegues transmiti-las aos jogadores.

Por exemplo?
Olha, dei-lhes um exemplo de um jogo meu enquanto jogador. Tínhamos ido jogar ao Cartaxo para a Taça de Portugal, era um campo pelado, pequeno, difícil. Mas o Cartaxo era da 3ª Divisão e nós éramos o Benfica que tinha vindo de finais europeias. Mas para eliminar o Cartaxo tivemos que jogar um segundo jogo em casa porque empatámos 0-0 lá. E a mensagem que eu quis passar foi que o 0-0 no Cartaxo aconteceu porque fomos lá jogar demasiado descontraídos, a dar como garantida a vitória. Quando demos por nós, íamos sendo eliminados pelo Cartaxo. Por isso eu disse-lhes que de certeza que o Benfica está a vir aqui cheio de moral porque não perde há 13 jogos e nós vamos aproveitar isso.

Qual foi o sentimento de eliminares o Benfica?
Igual àquele que tive quando não joguei aquela final (risos). São jogos, podia ser o Sporting, o Porto, o Tondela, indiferente. Agora, para qualquer treinador profissional, aquilo que mais satisfaz é, sem as armas dos outros, conseguires ganhar. Era um jogo de futebol, sou profissional e queria ganhar o jogo. Não foi um sentimento especial. Aliás, no Vitória de Setúbal ganhei ao Benfica duas vezes, uma como jogador e outra como treinador-adjunto.

– O miúdo educado mas reguila que teve Cruyff como referência –
Oriundo de Sarilhos Pequenos, perdoa-me o trocadilho fácil, mas eras de te meter em sarilhos quando eras pequeno?
Era, era. Educado mas reguila, principalmente de língua. Tive sempre o coração ao pé da boca. São características que nós temos que só depois a idade é que nos vai moldando. Mas mesmo como jogador tive sempre a sensação de alguma liberdade de pensamento e se era naquela altura que me apetecia dizer aquilo e, se eu achava que devia dizer, dizia. Eu normalmente dava uma entrevista por ano a cada jornal. Não era de andar sempre nos jornais mas quando dava uma entrevista achava que era sempre muito lida porque depois também era sempre muito debatida e comentada [Diamantino ri-se a bom rir]. Havia coisas que eu dizia que iam um bocado contra os padrões da altura de comportamentos e pensamentos, mas eu sempre fui assim, pensar por mim mas respeitar os outros. Algumas dessas arranjaram-me dissabores mas não me arrependo de absolutamente nada.

Quem foram os teus ídolos em miúdo?
É assim, eu nunca fui muito de ídolos…

[Rio-me a bom rir porque Diamantino volta a trocar-me as voltas]
… eu tinha era alguns jogadores que adorava ver jogar.

Quem?
O jogador que mais me fascinava era o Cruyff. A maneira como ele jogava, a simplicidade, a beleza, a leveza com que ele jogava era uma coisa impressionante.

Fizeste a formação em que posição?
Joguei sempre como extremo na formação. Entrei nos iniciados do Vitória de Setúbal, fiz um ano e depois subi logo para os juniores, saltei os juvenis. Depois subi logo para sénior, com 16 anos. A maioria dos seniores tinha 34/35 anos, tinham idade para ser meus pais.

Quem eram eles?
Jaime Graça, JJ [Jacinto João], Carlos Cardoso, que depois foi treinador, Tomé, que depois jogou no Sporting, Wágner.

No Benfica como é que passas de extremo para médio ofensivo?
Creio que é em ’87, quando o Toni fica com a equipa e o Jesualdo Ferreira é adjunto. Eu tinha 26/27 anos, já era um jogador maduro e eles acharam por bem que a equipa ficaria melhor comigo a jogar como organizador de jogo, porque eu era um jogador com uma técnica muito razoável…

Estás a ser muito modesto…
… Não, sabes que eu às vezes fico surpreendido comigo quando digo isto. Por exemplo, ontem estava a dar um jogo da selecção portuguesa do Europeu de ’84, contra a Roménia. Eu nem sequer me lembrava que tinha jogado esse jogo e fiquei a ver, já tinha começado a segunda parte. Eu entrei logo aos 10 minutos porque o Chalana se lesionou. Estive a ver um bocado do jogo e fiquei surpreendido, eu realmente fiz algumas coisas que nem me lembrava que tinha feito e que era capaz de fazer. Eu tenho jogadas neste jogo de passar por três e quatro adversários em velocidade, as tais diagonais, e eles a fazerem-me carrinhos por trás para me acertar nas pernas mas não conseguiam. E eu a pensar “Fogo, mas eu jogava isto tudo?” [Diamantino ri-se com gosto]. Até eu fiquei surpreendido com as coisas que fazia.

Ainda sobre a mudança de posição, onde é que achas que rendias mais?
Acho que a médio ofensivo. Mas eu era muito produtivo nos corredores, eu fazia muitas assistências, além de marcar alguns golos. Depois quando passei para o centro tinha um espaço maior para poder usar as minhas capacidades, a leitura de jogo, o passe, a condução com a bola no pé a queimar linhas e o chegar perto dos pontas-de-lança para dar apoio. Mas por exemplo, uma vez com o Eriksson joguei a ponta-de-lança.

Quando?
Foi num jogo da Taça de Portugal em Paços de Ferreira, ganhámos 5-1, mas o jogo estava difícil. Eu estava no banco e o Eriksson pôs-me no lugar do ponta-de-lança. Eu acabei por marcar dois golos e no final do jogo o Eriksson agarrou-me pelo braço, ele falava ainda mal português, e disse [Diamantino imita o sotaque de Eriksson] “Eh Diamantino, é como o Paolo Rossi!” Tinha acabado há pouco tempo o Mundial de Espanha, onde o Rossi tinha dado muito nas vistas. A verdade é que ele fica com aquilo na cabeça e no ano seguinte põe-me a ponta-de-lança vários jogos. E eu nesse ano fico a dois golos da Bola de Prata.

Ehehe,que maravilha.
E só não ganho a Bola de Prata porque nos últimos sete jogos do campeonato ele resolve meter o Nené como ponta-de-lança, ao lado do Filipovic, e fez-me recuar para médio. Nessa altura eu estava na frente com quatro ou cinco golos de avanço mas o Nené acabou por me passar, porque ele era um marcador de golos exímio. O Gomes também me ultrapassa e ganha ele a Bota de Prata com 21 golos e eu com 18 ou 19.

O que fizeste com o primeiro ordenado?
Não faço a mínima ideia. Posso é dizer-te que numa semana tive um convite de um clube que me dava 65 contos, agora são 300 e tal euros. E eu não assinei com esse clube porque as coisas não estavam a ser bem feitas.

Isso foi quando estavas no Benfica?
Não, não, quando saí do Setúbal. Estás-me a falar do primeiro ordenado e eu vou-te contar a história do primeiro ordenado [sai mais uma gargalhada de Diamantino]. A história é que eu podia ter ido ganhar mais 20 contos por mês para aquele clube, e naquela altura era muito dinheiro. E eu fui ganhar menos 20 contos para o Benfica, fui ganhar 45 contos.

Qual era o outro clube?
Era o Sporting. As coisas não estavam a ser feitas como eu achava que deveriam ser e o meu Pai também não achou bem na altura. Na semana a seguir aparece o Benfica, que tratou primeiro das coisas com o Vitória de Setúbal, tudo normal, e eu acabo por ir para o Benfica ganhar menos 20 contos. Fui para o Benfica com 17 anos, não tinha carta, nem eu, nem o Chalana, nem o Zé Luís. Viajávamos de comboio, barco, autocarro, depois é que começámos a ir com o Bento na carrinha do peixe. Mas ainda andámos ali dois ou três anos a fazer a viagem de comboio da Moita, barco do Barreiro até Lisboa, a pé do Terreiro do Paço para o Rossio e depois metro até Sete Rios. Por fim, autocarro até onde são as torres da Vodafone, na 2ª Circular, e saíamos aí por esses prédios, que atrás tinham quintas e nós atravessávamos as quintas para chegar ao Estádio da Luz. Ou seja, demorávamos três horas para chegar lá.

Repito: o que fizeste com o primeiro ordenado?
Talvez o primeiro ordenado tenha dado para passar ali na Baixa depois do treino, na Rua Augusta havia muitas lojas, mercearias, e a minha mulher é que me lembrou “E quando tu ainda fazias o percurso a pé para o estádio, passavas na Baixa e trazias sempre sacos de pinhões? Mas daqueles descascados!” [Diamantino farta-se de rir].

Qual a melhor lição que o futebol te deu?
Há más pessoas em todo o lado mas a melhor lição foi ensinar-me a ser uma pessoa de grupo. Não ser individualista, não olhar só para o meu umbigo, ser solidário com os colegas. Embora seja difícil, porque todos procuramos o mesmo: ganhar um lugar na equipa. Ganhar um estatuto e uma visibilidade melhor que o dos outros, para fazermos melhores contratos, isso está sempre presente. Mas sempre com o melhor espírito e sempre com respeito por todos.

– A Selecção onde se viravam cadeiras para os jogadores dos rivais não se sentarem –
Lembras-te onde estavas quando foste chamado pela primeira vez à Selecção?
Não me recordo, mas ao contrário do que muita gente pode pensar, a primeira vez que sou internacional A é a jogar pelo Boavista e não pelo Benfica. O que faz com que eu me sinta mais orgulhoso, porque naquela altura era dificílimo ser internacional A com 20 ou 21 anos, perante tantos bons jogadores que havia, e ainda por cima vindo do Boavista.

Nessa altura sentiam-se as rivalidades dos clubes na selecção?
[Diamantino hesita antes de responder] Sentiam-se. Ainda não tanto como depois em meados da década de 80, daí por diante essa má rivalidade veio a agravar-se. A partir de ’84, mais ou menos, agravou-se porque as estratégias dos clubes começaram a não ser as melhores. Principalmente o Porto, começa a usar uma estratégia de confronto, sobretudo com o Benfica. Houve ali alguma separação. Mesmo as amizades no Europeu em França, que até acaba por correr bem em termos de resultados [Portugal chega às meias-finais], ao contrário daquilo que se passou em Saltillo, por exemplo. No México foi realmente muito mau. Mas no Europeu ficámos em 3º lugar e podíamos ter sido campeões, podíamos ter lá chegado mas não teve nada a ver com o que passou depois no México. Aí sim realmente era uma verdadeira seleção, embora se tivesse passado só dois anos.

O que se passou exactamente?
Alguns dirigentes seguiram um caminho de confronto com outros clubes que eu nunca concordei. A rivalidade sempre existiu. Por exemplo, a grande rivalidade, ainda hoje, para mim e para as pessoas do meu tempo, é o Sporting, não é o Porto. Para as gerações mais novas passa a ser o Porto mas já é uma rivalidade pouco saudável. Naquela altura, tanto para nós como para os jogadores do Sporting, a semana do derby era uma semana de festa. Nós queríamos ganhar e eles também mas depois à noite até nos encontrávamos em Lisboa depois do jogo. Lembro-me de jogadores do Sporting irem à cabine do Benfica dar os parabéns à equipa que tinha sido campeã e beber um champanhe connosco. Isso hoje em dia é impensável acontecer. Havia essa realidade boa mas infelizmente as coisas descambaram por caminhos que eu não concordo, embora reconheça que o dinheiro que está hoje envolvido no futebol faça com que não se opte pelos melhores caminhos. Está assim infelizmente mas o futebol é muito melhor que isso.

Estiveste no Europeu de ’84 e no Mundial ’86. Como é que vês desempenhos tão díspares em competições separadas por apenas dois anos?
Está relacionado com o que nós muitas vezes achamos do futebol e conhecemos, que é a lógica. E não há lógica nem nos resultados e muito menos em campeonatos. Os jogadores eram quase os mesmos, é verdade que depois houve aqueles problemas de Saltillo mas que não influíram em absolutamente nada. Porque se estamos a falar em termos de que os bons ambientes ganham jogos, nesse Campeonato do Mundo devíamos ter ido à final. Jogadores do Benfica, do Porto, do Sporting, dormíamos nos mesmos quartos, dávamo-nos bastante bem, fazíamos grandes festas, uma amizade e uma camaradagem enormíssima nos treinos. Coisa que não se tinha passado em França, onde viravam as cadeiras ao contrário para os jogadores do Benfica não se sentarem. Os jogadores do Benfica não falavam com os do Porto. Quando chegávamos às mesas, um sentava-se e virava logo sete ou oito cadeiras para ninguém se sentar, só os da sua equipa.

No México já não foi assim?
Não, foi totalmente ao contrário, todos os jogadores se davam muito bem. Deixou-se essas rivalidades de parte e acabámos por fazer os resultados que fizemos. E no Europeu acabámos por fazer um brilharete. Mas o que explica a diferença entre estes dois anos, a equipa era a mesma e os jogadores até tinham mais dois anos de experiência, acho que tem a ver com o jogo de futebol, que não se sabe o que poderá acontecer, e também com alguma confusão que houve em relação ao recato de uma selecção que estava a jogar um Mundial. A Federação não tinha o recato e a organização que deveria ter, era completamente amadora. Na altura as coisas já estavam muito evoluídas noutros países, nós éramos uma Federação completamente amadora e pagámos o preço desse amadorismo mas também do nosso amadorismo. Éramos melhores que Marrocos? Quase de certeza absoluta que sim, mas perdemos 3-1. Éramos melhores que a Polónia? Quase de certeza que sim, mas perdemos 2-1. Nós tínhamos acabado de ganhar à Inglaterra, pela primeira vez na nossa história. O que é que era mais previsível, não era depois ganharmos à Polónia e a Marrocos?

Claro, era fazer o pleno.
É, mas não ganhámos. Só ganhámos o jogo mais difícil.

Porque é que não voltas a ser chamado à selecção?
Porque eu e os outros 21 jogadores assinámos um documento ainda no México em como não voltaríamos a jogar pela selecção enquanto algumas situações não fossem resolvidas. Desses 22 jogadores, ao chegar a Lisboa houve um que disse logo que não tinha nada a ver com isso e tinha sido coagido pelos colegas para assinar porque não queria.

Quem é que foi esse jogador?
Foi o Álvaro Magalhães. Os outros 21 ficaram indisponíveis durante alguns meses mas depois de conversações começaram a regressar à selecção. Os únicos dois que mantiveram a palavra, ainda hoje não sei se bem ou mal, fui eu e o Carlos Manuel, que dissemos que não voltávamos à selecção enquanto o presidente se mantivesse. Achámos que tinha sido muito grave aquilo que se passou e não voltámos. Portanto, a partir dos 26 anos não voltei a jogar na selecção.

Hoje em dia seria impensável passar-se o que se passou na altura.
Sim. Nem eu se calhar tomaria aquela atitude porque havia outras formas de demonstrar o nosso ponto de vista em relação àquilo que deveria ser uma Federação e o trato com jogadores profissionais. Se calhar não foi a melhor atitude mas foi a que tomámos em consciência e não me arrependo absolutamente nada. Agora, há uma coisa que tenho a certeza absoluta, o futebol português a partir daí nunca mais foi o mesmo em termos de selecção. A partir daí a Federação começa a perceber que tem de se deixar de amadorismos e que alguns lugares têm que ser preenchidos com profissionais, não com funcionários públicos. E tinha que ter um Presidente autoritário. A partir daí a Federação passou a ser outra e o futebol português ganhou. Quando a Federação abre os horizontes, em ’89 é campeã do mundo de juniores, em ’91 também, portanto três anos depois do México. Pagámos nós por isso, mas nestas coisas das revoluções há sempre sacrificados. Ehehe.

– Regresso do futebol e os milhões da Liga dos Campeões –
Sentes que se está a menosprezar a condição de saúde de jogadores e treinadores ao querer forçar este reatamento do futebol em Portugal? Sentes que o dinheiro está a falar mais alto?
Sim, sinto um bocadinho isso. Sinto que se os clubes portugueses tivessem uma saúde financeira diferente, se calhar poder-se-ia retomar o campeonato mas se calhar de uma forma mais segura. Por outro lado, se a retoma do campeonato vai ser só por pressão dos clubes e porque têm algum interesse político começar o campeonato, claro que não concordo. Não vou entrar aqui na fácil demagogia da maior parte dos adeptos do futebol, que é falar no dinheiro que os jogadores ganham, mas há uma coisa que temos que reconhecer. Se quem ganha muito pouco tem que correr riscos para exercer a sua profissão, quem ganha muito dinheiro tem a responsabilidade de dar ao público a alegria de voltar a ter o melhor espectáculo do mundo.

Achas que os jogadores correm mais ou menos riscos que um “cidadão normal”?
Acho que correm menores riscos do que o trabalhador comum porque têm tudo aquilo que o trabalhador comum não tem: podem estar em academias fechadas, com testes todos os dias, equipas médicas ao seu redor, com tudo e mais alguma coisa, também não me parecia bem os jogadores e os treinadores defraudarem o povo, que está sedento por futebol. Concordo quando dizem que os jogadores estão a ser “carne para canhão”. Agora, também não concordaria que os jogadores e os treinadores se pusessem de parte numa fase tão difícil, tipo “Nós somos uma espécie completamente diferente daquela que anda nos transportes públicos, restaurante, numa farmácia ou num supermercado”. Não são e por isso têm que correr alguns riscos, riscos muito menores que um cidadão comum corre. Acho que o campeonato deve ser retomado dentro desses parâmetros. Se se chegar à conclusão que é arriscado demais, porque começa a haver mais infecções, não há nada a fazer, é acabar.

Na tua opinião, o campeonato mesmo sendo retomado já está desvirtuado, porque as equipas não estão nas melhores circunstâncias e não têm as mesmas condições face a uma situação que é excepcional?
Sim, mesmo com esta retoma as equipas não estão em pé de igualdade. Não é igual para todos, não acredito que o Tondela tenha uma academia onde os jogadores são confinados nos seus quartos que vão ser desinfectados, vão ter um staff médico como têm os três grandes. Agora quanto ao risco, não concordo com aquele alemão que disse que se deve tratar uma infecção como uma lesão. Não é igual. Se for só um ou dois jogadores de uma equipa infectados, muitas vezes há equipas que têm sete lesionados ao mesmo tempo. Agora, se isso vai pôr em risco todos os colegas e todos os que trabalham no campo, aí não concordo. Começa-se a desvirtuar porque são sete, oito ou nove com infecções, vão para isolamento e o clube tem que jogar com os que sobrarem. Acho que aí há um grande desvirtuamento.

E o que pensas sobre as escolhas dos estádios para os jogos?
Uma situação excepcional, por exemplo, é o caso do Marítimo. O Santa Clara concordou vir para Lisboa porque está no meio da tabela, não chegará às competições europeias mas também não irá descer de divisão. O Marítimo acha, e bem na minha opinião, que é prejudicado por não poder jogar no seu campo. Assim como eu acho que o Benfica, por exemplo, tem maiores problemas de fazer vários jogos no Estádio do Dragão neste momento. Se estivéssemos num ambiente saudável, das rivalidades saudáveis, tudo bem. O problema é que o ambiente que se vive no futebol não é esse e portanto não concordo absolutamente nada, acho que há um grande desvirtuamento da competição se o Benfica tiver que fazer mais jogos no Estádio do Dragão sem ser contra o Porto. São situações excepcionais por isso pedem medidas excepcionais. Agora, as medidas excepcionais não podem é beneficiar uns e prejudicar outros.

No caso de não se completar as jornadas que estão por jogar, achas que é justo atribuir um título de campeão?
Não, não acho justo, porque não sabemos aquilo que se iria passar nos jogos. Dá-me a sensação que a única coisa que está em jogo é, no caso de ser campeão, os 40 e tal milhões da Liga dos Campeões. Acho que a Federação, a Liga Portuguesa e depois o Benfica e o Porto, se isso vier a acontecer, deviam chegar ao consenso: ninguém é campeão e dividem os 40 milhões entre os dois. Claro que todos sabemos as dificuldades que o Porto atravessa neste momento e, ao contrário, a saúde financeira que o Benfica apresenta e a forma como pode enfrentar esta dificuldade mesmo sem esse dinheiro. O Porto já não tenho tanta certeza, segundo se vai ouvindo falar e for verdade, parece que terá grandes problemas se não conseguir mais uma vez os 40 e tal milhões da Liga dos Campeões. Daí também me custar aceitar aquela frase do Pinto da Costa a dizer “Bem, se tiver que acabar, quem vai à frente ganha.” [Volta a gargalhada de Diamantino].

É natural quem vai à frente achar isso…
Sim, é entendível mas acho que todos os jogadores e todos os treinadores querem é jogar e ganhar dentro do campo, os dirigentes é outra coisa. Os jogadores e treinadores do Porto ou do Benfica, se lhes for atribuído o título sem jogar, acredito que não terá sabor nenhum. É bom para o clube, é bom para alguns adeptos, não para todos, para aqueles que gostam de futebol também não é bom porque esses gostam de ganhar no campo e de ver os jogos. Não sei qual será a solução mas acho que a pior solução será entregar o campeonato a quem não o ganhou.

– Passes curtos –
Qual é para ti o melhor momento da tua carreira?
A primeira vez que fui internacional.

Um estádio?
Estádio da Luz.

Qual foi o melhor jogador com quem jogaste?
Fácil: Chalana. O maior elogio que lhe posso fazer é que, quando eu estava à rasca, dava a bola ao Chalana.

Um guarda-redes?
De longe, o Bento.

Um defesa?
O melhor defesa central que eu vi na minha carreira foi o Mozer. Nunca tinha visto um jogador com todas as valências que um defesa central deve ter e até mais que isso. Eram um jogador soberbo, nunca vi um jogador como ele.

Um médio?
Mais defensivo Shéu e mais ofensivo Carlos Manuel.

Um avançado?
Nené. Era um finalizador nato.

Um golo?
O segundo golo ao Sporting na Taça de Portugal. Mas também o golo ao Liverpool em Anfield, driblo o jogador quase na linha de fundo, depois ameaço que vou cruzar com o pé esquerdo, o Grobbelaar sai da baliza e eu meto a bola direta na baliza. Ainda por cima foi do lado da Kop."

Os 5 melhores guarda-redes do SL Benfica no século XXI

"No século em que vivemos o SL Benfica pode gabar-se de ter tido dos melhores guarda-redes da sua história, figurando inclusive grandes nomes do Futebol Internacional actual ou do passado recente. Por muitos treinadores considerada como a posição fulcral de qualquer equipa, pela estabilidade, confiança e segurança que transmitem, apresentamos o top 5 da baliza encarnada.

1. Jan OblakBastaram-lhe apenas 26 jogos na equipa principal dos encarnados para se afirmar como um extraordinário guarda-redes, mesmo podendo ser considerado o menos exuberante desta lista. Um pedaço de gelo, eficaz em quase todas as suas acções, com uma quantidade de erros insignificante por temporada, aliados a um posicionamento e reflexos extraordinários. Potenciou de tal modo todas as suas valências que, actualmente, é considerado por muitos o melhor do mundo.

2. Robert Enke Sem dúvida o mais espectacular que me lembro de ver na baliza encarnada. Com três temporadas de águia ao peito, exibia-se com uma agilidade e reflexos tremendos. É com extrema saudade, que ao recuar duas décadas, e olhando para o estilo das suas manchas, encontro o que caracteriza actualmente a grande escola de guarda-redes alemã, provando uma intemporalidade que a poucos conseguimos reconhecer.

3. Ederson Estreou-se num derby em Alvalade e logo aí se percebia que tinha nervos de aço e que o SL Benfica tinha encontrado novo valor seguro para a sua baliza. Em época e meia conseguiu demonstrar uma qualidade no jogo de pés extremamente invulgar para um guarda-redes, aliado a uma eficácia estrondosa e destemida nas saídas da baliza, levando a que seja uma das transferências mais caras de guarda-redes no Futebol Internacional.

4. Júlio César Campeão Europeu pelo FC Inter Milão, chegou a Lisboa numa fase já descendente da carreira, sobretudo pelas inúmeras lesões que o vinham importunando. Contabilizou três épocas na equipa encarnada, e embora começando a perder parte da agilidade que o caracterizava, conseguiu em largos momentos demonstrar toda a sua qualidade entre os postes.

5. Odysseas Vlachodimos Atravessa a segunda temporada na Luz, numa evolução tremenda em relação à primeira. Não tremeu aquando da possível chegada de um concorrente directo, tendo aliás elevado o seu nível exibicional e os seus índices de confiança, capaz de o tornar indiscutível e de fazer repensar a Direcção do SL Benfica da estratégia para o mercado."

5 reforços interessantes para o SL Benfica

"Mesmo com a incerteza que esta época ainda provoca, o mercado de transferências (se nada se alterar) está aí à porta. O SL Benfica tem várias posições carenciadas no plantel, como tal decidi elaborar esta lista de reforços. Nem todos os jogadores apresentados são “oficiosamente” pretendidos pelos encarnados. São apenas jogadores que poderiam preencher estas lacunas e estão ao alcance financeiro do SL Benfica (não temos ainda noção como será a situação financeira pós covid-19). 
Procurei que todos os jogadores apresentados tivessem qualidade para ser titulares e que preenchessem lacunas no 11 encarnado, portanto não há nenhum guarda-redes nesta lista.
A lista não está em nenhuma ordem particular.

Robin Koch
- Defesa Central
- SC Freiburg
- Alemão
- 23 anos
- Pé Direito
- 1,90m
Valor de mercado: 14,5M €
Robin Koch é já um namoro antigo do SL Benfica. A posição de defesa central é uma das mais necessitadas do plantel e Koch seria o homem ideal. A capacidade de construção (84% passes acertados) e a sua excelente leitura de jogo são algumas das suas melhores características. O alemão parece pensar o jogo à frente de todos os outros.
Defensivamente é um jogador forte na tomada de decisão (65% de eficácia de desarme) e raramente é encontrado fora de posição. Podia desempenhar, na perfeição, a função normalmente atribuída a Ferro. O negócio não será fácil face à forte concorrência vinda do estrangeiro, mas o SC Freiburg já definiu o preço exigido pelo internacional alemão: 10 milhões de euros.

Moahmmed Salisu
- Defesa Central
- Real Vallodolid CF
- Ganês
- 21 anos
- Pé esquerdo
- 1,91m
- Valor de Mercado: 11M€
Continuamos na posição de defesa central. Mohammed Salisu foi uma das grandes revelações desta temporada na La Liga. Salisu é um jogador muito forte fisicamente e quase intransponível (0,3 dribles sofridos por jogo). Mesmo ainda cometendo alguns erros, a sua capacidade defensiva está muito acima da média. A tranquilidade que dá ao setor defensivo é algo muito raro de observar num jogador tão jovem.
Ofensivamente o seu jogo é bastante promissor e tem demonstrado melhorias significativas ao longo da época (sobretudo no passe longo). O central ganês tem já vários tubarões bem atentos ao seu rendimento – nomeadamente o Manchester United FC. Salisu tem, alegadamente, uma cláusula de rescisão de 12 milhões de euros. Seria o substituto perfeito caso Rúben Dias decida sair de Portugal. 

Joakim Mæhle
- Defesa direito
- KRC Genk
- Dinamarquês
- 22 anos
- Pé Direito
- 1,85m
- Valor de Mercado: 8M€
A lateral direita da defesa é outro dos pontos fracos do plantel encarnado. Joakim Mæhle tem sido uma das muitas agradáveis surpresas na equipa do KRC Genk. O jovem lateral dinamarquês tem impressionado com as suas boas exibições, fazendo-se valer da sua velocidade e resistência sobretudo no momento ofensivo.
Defensivamente é igualmente competente, muito por culpa da sua elevada estatura e boa noção de posicionamento (tanto espacial como posicionamento dos apoios). O jovem dinamarquês traz sempre muita energia ao jogo. Mæhle conta já com alguma experiência de Liga dos Campeões, o que pode vir a ser muito importante. O Southampton FC e a Atalanta BC estão já de olho no internacional sub21 pela Dinamarca.

Adam Hlozek
- Segundo Avançado/Extremo
- AC Sparta Prague
- Checo
- 17 anos
- Pé Direito
- 1,87m
- Valor de Mercado 6,7M€
Adam Hlozek é uma autêntica pérola “perdida” no campeonato checo. Hlozek brilha sobretudo atrás do ponta de lança. O jovem é muito forte fisicamente e faz da sua capacidade associativa uma das suas melhores qualidades. É excelente a ligar o jogo.
Em frente à baliza Hlozek é letal. A sua capacidade de remate é invejável e o seu posicionamento ofensivo não fica nada atrás. Fisicamente é um jogador imponente, muito forte no jogo aéreo, mas é (surpreendentemente) móvel e técnico. Um jogador que poderia ser perfeito para desempenhar a função de segundo avançado no modelo de Bruno Lage. Até agora os tubarões europeus parecem estar desatentos, mas irão certamente aparecer muitos pretendentes para adquirir o passe do checo. 

Sebástian Córdova
- Médio Ofensivo/Extremo
- Club de Fútbol América
- Mexicano
- 22 anos
- Pé Esquerdo (Ambidestro)
- 1,73m
- Valor de Mercado: 2,4M€
Sebástian Córdova é outro candidato para ocupar o lugar de segundo avançado/médio ofensivo. O jovem mexicano tem impressionado e já chegou, na minha opinião, ao patamar dos melhores jogadores da Liga MX (México). Córdova é um jogador com uma qualidade técnica muito acima da média. No 1×1 é fortíssimo. O seu controlo de bola excelente, tornando quase impossível a tarefa de lhe retirar o esférico.
Córdova destaca-se muito pela qualidade que tem com ambos os pés (é praticamente ambidestro), tanto no passe como no remate. É mais um jogador de ligação do que propriamente o goleador, mas pode desempenhar a função de João Félix na perfeição."

Corrupção no desporto: Nada mais prático que uma boa teoria

"Não podemos, nunca, distanciarmo-nos do reconhecimento do desporto enquanto competição justa e igualitária, norteado por um conjunto de práticas inolvidavelmente éticas. 

O Problema
Ingenuamente poderá parecer que os “pequenos” ilícitos que gravitam nas diversas modalidades desportivas não terão relevância suficiente para gerar preocupações num quadro europeu, ou mesmo global.
Mas, em boa verdade, organizações líderes das modalidades desportivas têm manifestado preocupação com o envolvimento de actividades criminosas e, em particular, pelo crime da manipulação dos resultados na competição, com a agravante de todas estas situações apresentarem uma natureza transnacional. A corrupção e o branqueamento de capitais assumem também uma grande relevância neste contexto.
Todas estas preocupações e a procura de soluções para lhes fazer face têm sido evidenciadas nos textos de convenções fundamentais, como a Convenção para a Protecção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais, a Convenção Antidopagem, a Convenção de Direito Penal sobre corrupção, e a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, entre outras.

A Teoria
Aos 18 de Setembro de 2014 foi assinada a Convenção do Conselho da Europa sobre a Manipulação de Competições Desportivas em Macolin – Suíça, razão pela qual é igualmente conhecida por “Convenção Macolin”.
A Convenção Macolin é um instrumento jurídico inovador e vinculativo sobre a cooperação internacional no combate à manipulação de competições desportivas. Até à data o único documento do direito internacional neste âmbito. Aborda uma panóplia de ilícitos, nomeadamente apostas ilegais, conflito de interesses e manipulação de resultados.
Diversos países, inclusivamente Portugal, participaram na ratificação deste documento jurídico, que vigora desde o dia 1 de Setembro de 2019.

A Prática
Menos ingenuamente, é perceptível que todos os países e todas as práticas desportivas estão fragilizadas perante este fenómeno, neste sentido a resposta deverá ser acompanhada de forma global.
E essa resposta, que vemos reflectida nos principais objectivos da referida Convenção, assume a preocupação de “impedir, detectar e sancionar a manipulação desportiva nacional ou transnacional…” e de “promover a cooperação internacional, entre as organizações públicas envolvidas, contra a manipulação das competições desportivas…”
Não podemos, nunca, distanciarmo-nos do reconhecimento do desporto enquanto competição justa e igualitária, norteado por um conjunto de práticas inolvidavelmente éticas. Comportamentos que contrariem este fio de conduta deverão ser banidos.
Para que este combate seja eficaz, cada modalidade deverá proceder a diversas medidas, como por exemplo a adopção de códigos de conduta, a dinamização de acções de formação e sensibilização e campanhas de fiscalização de controlo, entre outros procedimentos.
Cada federação deverá analisar as fragilidades inerentes a cada modalidade. É lógico perceber que um desporto individual (e.g. Ténis) está mais sujeita aos resultados combinados que uma modalidade colectiva.
Em território nacional, mais concretamente, pela voz do Comité Olímpico de Portugal foi lançado um programa de integridade, que, a par da directiva europeia, procura combater o fenómeno da corrupção desportiva nas suas diversas componentes.
Neste âmbito a colaboração de instituições com preocupações no âmbito da fraude e da corrupção, como o OBEGEF – Observatório de economia e Gestão de Fraude – poderá ser pertinente e útil no reforço e divulgação de aviso e alertas e na procura de soluções potencialmente mais adequadas.
É urgente uma abordagem mais científica e mais quantificável sobre estes fenómenos."

E se houvesse um registo de episódios mais escabrosos? E um dicionário com todos os impropérios? (..) pede mais abertura no futebol

"Está mais do que provado. Uma das formas mais eficazes de mostrar clareza de processos é abrir o jogo.
Na arbitragem, eternamente sob brasas, isso só se faz com mais e melhor comunicação para o exterior.
"Ninguém desconfia do que conhece, mas todos suspeitam do que não conhecem". Esta é uma verdade eterna, intrínseca à nossa natureza. À natureza humana.
Vem isto a propósito da imagem negativa dos árbitros. Esse carimbo não nasceu hoje mas no dia em que se decidiu que o futebol precisava de regras e de alguém que zelasse por elas.
Até ao seu aparecimento, a bola rolava com liberdade. Sem restrições. Não havia cartões nem protestos. Quando um jogador gritava "falta", todos os outros paravam (mesmo os que tinham nervos a mais ou oxigénio a menos).
Era um pouco como acontece hoje, quando meia dúzia de vizinhos se juntam para jogar à bola ou quando os miúdos aproveitam o intervalo para improvisar uma peladinha.
Mas o crescimento do jogo foi rápido e, a determinada altura, o mero "falta, pára tudo" deixou de ser eficaz. Não se ouvia. Não se respeitava.
Está fácil de perceber porque é que os primeiros árbitros foram apelidados de desmancha-prazeres. Eles caíram de paraquedas e "estragaram" a pureza selvagem do jogo. Arruinaram a essência das jogatanas duras, para homens de barba rija, onde a perna só acabava no pescoço.
Daí a malandros, ladrões e corruptos foi um saltinho.
O respeito inicial (sol de pouca dura) deu lugar à contestação e, depois, ao empurrão e à agressão. 
Nota pessoal: o Governo devia aprovar um decreto-lei que obrigasse à criação de um registo com a descrição dos episódios mais escabrosos que os árbitros passaram em campo. E devia aprovar outro que impusesse a redacção de um dicionário onde estivessem compilados todos os impropérios de que são alvo.
Seria um espólio de valor (gramaticalmente) incalculável. Acreditem.
Entretanto, o espectáculo agigantou-se, industrializou-se, despertou interesses maiores. Os meios de escrutínio cresceram tanto que hoje é mais fácil um adepto encontrar uma agulha num palheiro do que um árbitro um penálti numa área.
Perante este cenário e sem perspectivas de melhoria à vista - o povo ainda acha que a beleza do futebol está na polémica que o rodeia e não no brilho que produz em campo - a única forma de minimizar danos é mostrar a quem está cá fora que não há nada a esconder. Porque, de facto, não há. 
A arbitragem é uma classe imprescindível porque sem árbitros não há jogos.
Tudo o que a compõe, rodeia e faz mover obedece a critérios, regulamentos e códigos deontológicos bem definidos.
Se tanta gente põe em causa nomeações, avaliações e decisões, porque não desmontar tudo isso, mostrando-lhes que por trás de cada opção há uma razão? Porque não desmistificar o erro, explicar a regra, reconhecer a falha, valorizar o acerto?
Estes são tempos diferentes. São os tempos dos tweets do Trump, das selfies do "Marcelo" e das stories do Papa. A coisa está de tal modo avançada que até o Vaticano criou o E-Terço. Sim, leram bem: o E-Terço!
A opção mais sensata de quem é sensato é apanhar o comboio e seguir o mesmo caminho.
Saber comunicar para fora é uma arma poderosa quando bem utilizada, porque desfaz equívocos, dilui suspeitas e esclarece dúvidas.
Não apagará as críticas à competência nem domesticará os acéfalos com um só neurónio, mas aumentará a tolerância de muitos e diminuirá os ataques à idoneidade de quem está lá dentro.
A ideia, obviamente, não é pôr os árbitros nas flash interview, em conferências de imprensa ou a dar entrevistas diariamente. É encontrar formas inteligentes, planeadas e consistentes de mostrar o que pode e deve ser mostrado para quem está deste lado.
Os adeptos, a imprensa e até os agentes desportivos gostam de ouvir, perceber e ver o que desconhecem com os próprios olhos. Isso conforta-os, acalma-os, devolve-lhes crença e confiança.
Se é disso que precisamos para dar um passo em frente... estamos à espera de quê?"

O futebol como um filme de Dreyer

"Para mim, o Signal Iduna Park sempre se chamou Westfalenstadion, desde os tempos do Paulo Sousa e do Lars Ricken, mas para mim o futebol também sempre teve adeptos, não ter adeptos era sinal de castigo, mas como a covid-19 nos castigou a todos sem excepção, dos bem aos mal-comportados, se calhar está na hora de começar a falar do Westfalenstadion como Signal Iduna Park, até porque o Westfalenstadion costumava ser um dos mais barulhentos estádios da Europa e no sábado foi um sítio de silêncios, ou se não silêncios pelo menos de sons aleatórios que estamos habituados a ver e não a ouvir.
Como o som seco do pé a bater numa bola, o insulto que escapa e que antes só liamos nos lábios, como o grito do treinador a corrigir um posicionamento defeituoso. São estes os novos tempos. 
Normalmente, nada disso se ouve porque para lá do rectângulo há milhares e milhares de alminhas a cantar e saltar e sem elas o futebol é um conjunto de silêncios pintalgados por sons desconexos, vazios. E ver o Borussia Dortmund - Schalke 04, um dos mais assanhados dérbis da Alemanha, sem aquela parede de som em tons de amarelo que dantes vinha do topo sul do Westfalenstadion foi desconcertante, no pior dos sentidos possíveis. Sem conseguir abstrair-me daqueles barulhos randómicos, fortuitos, que fazem parte do jogo mas não são o jogo, desliguei-me do dérbi, vagueei à procura de no meu cérebro reunir os pedaços em que se tornou a experiência pós-moderna de ver um jogo de futebol. O futebol está de regresso, dois meses depois, e eu, que nem sou de andar de punho fechado a bater no peito a dizer que sem adeptos isto não vale a pena, estava disposta a desistir. 
Acontece que é sempre possível dar a volta a este novo normal. A conselho do meu amigo Diogo Santos, que além de melómano também escreve desempoeiradamente, como eu gosto (e podem comprová-lo aqui e aqui), liguei a coluna e dei uma banda sonora ao jogo. Foi rock, talvez pudesse ser outra coisa, o certo é que cumpriu o propósito, encheu aquilo que era incongruente, deu volume a um estádio cheio de vácuo. E assim voltei a concentrar-me no futebol.
Cada um dá o sentido que pode àquilo que, aparentemente, parece não ter sentido algum.
Há um filme que gosto muito, quase tanto ou mais que dos meus jogos de futebol preferidos. Chama-se "A Paixão de Joana d'Arc" e ainda é do tempo em que o cinema só se fazia de gestos e olhares. Ao longo de todos estes anos, muita gente tentou musicá-lo, Richard Einhorn, Will Gregory e Adrian Utley, a pianista japonesa Mie Yanashita. Nunca vi qualquer uma dessas versões, só a totalmente muda, no breu do cinema, embora reze a lenda que, em 1928, Carl Theodor Dreyer terá imaginado aquelas quase duas horas de martírio da heroína francesa como uma experiência sonora e que só não o fez por falta de dinheiro. Talvez a música tornasse ainda mais agónica aquela viagem, revolucionasse ainda mais as nossas entranhas.
Não sei se o filme de Dreyer precisa de som. Até este fim de semana acreditava que não, que estava tudo nos close-ups e nos olhos de Maria Falconetti, mas talvez a Bundesliga me tenha alertado que todas as experiências podem ser melhoradas, mesmo que na cara de Erling Braut Haaland, nórdico como Dreyer, marcador do primeiro golo do pós-pandemia, haja um nada quase tão grande quanto o silêncio dos estádios.
Ele fez o primeiro de quatro golos com que o Borussia derrotou o Schalke 04 no dérbi do aço e do carvão e festejou ao longe, com uma estranha dança e os colegas à distância. Em outros jogos rapidamente se esqueceram as recomendações, houve abraços e até beijos e, por muito que isso nos preocupe, o jogador é humano e essas são as únicas partes que não precisam de música, porque nos lembram da verdadeira normalidade, aquela de que queremos gozar o mais rapidamente possível. Naqueles abraços há tanta alegria quanto há sofrimento nos olhos de Falconetti e não existe guitarra ou orquestra que hiperbolize ainda mais tal coisa.
Mas, para já, é esta a realidade. Continuarei a dar uma banda sonora ao futebol, para tornar mais suportável o seu silêncio. Nas tão prosaicas quanto pragmáticas palavras de Lewis Hamilton, que também se vê na iminência de tentar um sétimo título mundial na Fórmula 1 sem ninguém nas bancadas a ver, olhem, "é melhor do que nada"."

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