Últimas indefectivações

domingo, 17 de maio de 2020

Jesus, Vitória e o Tetra !!!

Nico...

Rodrigo...

Luisão e o Tetra !!!

Nelsinho, Renato, Gonçalo e o Tetra !!!

Shéu & Rui Costa

Regresso à normalidade

"Que ingenuidade, a de Marcelo Rebelo de Sousa, ao deixar-se instrumentalizar por uma personagem maior do lado pantanoso do futebol... Por mera 'coincidência', os capitães do FC Porto, pouco antes de audiência de Marcelo a Pinto da Costa sobre o Porto Canal, insurgiram-se publicamente contra o que consideram ser um atentado à sua liberdade enquanto cidadãos. Lá falaram de coisas, e, garantido o palco no final da reunião, o presidente portista debitou outras, incluindo considerações sobre a retoma das competições até que, finalmente, disse o que lhe interessava: não havendo jogos, o FC Porto deve ser o campeão, confundindo ao evocar o precedente da II Liga e do Campeonato de Portugal, pois, como todos sabemos, mesmo havendo subidas e descidas, não há campeões. O objectivo parece-me evidente: se ganharem na secretaria, ficarão felizes (afinal, na secretaria ou em reuniões na Rua da Madalena, tanto faz), mas o que é mesmo essencial é assegurar a receita da presença na fase de grupos da Liga dos Campeões, não vá surgir pela frente um qualquer Krasnodar. E o famigerado 'centralismo'... Na boca de Pinto da Costa, regionalização soa sempre a regionalismo bacoco, assim como descentralização, um mero veículo para a obtenção de mais benefícios. A descentralização que sempre lhe interessou já há muitos anos que está solidificada: veja-se onde está a Liga e quem a lidera, de onde veio o presidente da Federação e quem de facto sempre tem mandado no Conselho de Arbitragem, para além dos sempre úteis parceria com as autarquias amigas, que os custos de fazer um estádio, montar um canal de televisão ou usufruir de um centro de estádio são, fina ironia, demasiado elevados para que os paga."

João Tomaz, in O Benfica

Medo

"Não sou médico. Nem cientista. Nem profissional de futebol, treinador, dirigente, nada. Sou adepto e cidadão. Faço parte do grupo de pessoas que se confinaram antes do estado de emergência e que tomam todos os cuidados necessários antes, durante e depois de sair de casa. Vejo uma pandemia que se aproxima dos 4,5 milhões de casos em todo o mundo e que já provocou a morte a perto de 300 mil pessoas, 1200 delas (aproximadamente) em Portugal. É claro que tenho medo. Por mim, pelos outros, pelos mais velhos, pelos mais novos. Por quem não pôde estar em quarentena, por quem esteve sempre a trabalhar para que nós, os outros, pudéssemos continuar a ter uma vida relativamente normal. E agradeço-lhe por isso. O carácter democrático deste vírus é assustador. Tanto ataca um ser humano que vive na rua como ataca o dono de uma mansão, um primeiro-ministro, um professor ou um enfermeiro. Por mais cuidados que se tenham, há sempre um risco, e é com ele que vamos ter de viver daqui em diante, chame-se covid-19, covid-20 ou tenha outra denominação qualquer. É por isso que também receio pelos jogadores que vão reatar a principal divisão do futebol português, e respectivos técnicos e staff. Porque são gente como nós, como família, com futuro. Obviamente que, no caso do Sport Lisboa e Benfica, estou seguro quanto aos procedimentos tomados, mas mesmo assim o contágio é possível. Já há casos confirmados no futebol português no momento em que vos escrevo. E parece-me que não vai ficar por aqui. Estes tempos têm dois pontos em comum com o futebol português das décadas de 1980 e 1990. O primeiro é: o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira. O segundo tem que ver com a guerra suja e o querer ganhar sempre de onde vem. Está e sempre esteve à vista."

Ricardo Santos, in O Benfica

A Luz ao fundo do túnel

"Aproxime-se aqui de mim, amigo leitor. Calma, então? Assim tão perto não pode ser. Mantenha por favor a distância de segurança. Olhe bem naquela direcção. Consegue avistar o mesmo que eu lá ao fundo? Exactamente. É a Luz ao fundo do túnel. Parece que o campeonato vai mesmo ser retomado, e poderemos finalmente festejar os golos do Vinícius, vibrar com os desarmes do Rúben Dias e venerar todas as acções do Taarabt. Admito que a decisão possa gerar alguma apreensão, a saúde é um bem maior que deve sempre ser salvaguardado. Ainda assim, havendo o aval da DGS, só posso acreditar que serão criadas as condições necessárias para que tudo decorra sem colocar em perigo a segurança de qualquer interveniente. Alguns jogadores do FCP e do SCP manifestaram publicamente o desagrado com o código de conduta proposto pela autoridade de saúde. Eu compreendo. No Porto, os atletas sabem que em caso de contágio serão tratados pelo mesmo departamento clínico que tratou do joelho do Aboubakar. No Sporting, os jogadores também não conseguem esconder o receio, uma vez que antes de haver dinheiro para ventiladores tem de haver dinheiro para pagar o Rúben Amorim. Este cenário de desconfiança e preocupação requer uma solução para que se passa retomar a competição com tranquilidade, e eu tenho uma ideia. De certeza que o Benfica, clube do povo e do altruísmo, se comprometo a prestar todos os cuidados médicos a atletas que não se sintam confortáveis em ser assistidos pelo próprio clube. Se fizer um pedido de desculpas pelo 3-3 no Besiktas-Benfica de 2016, então também podemos dar um jeito no joelho do Aboubakar."

Pedro Soares, in O Benfica

Que lástima

"Enquanto o futebol profissional prepara o possível regresso, para as restantes modalidades a época está terminada.
O motivo, todos os sabemos, é forte. E seria de facto difícil imaginar um modelo em que várias modalidades de pavilhão treinassem e jogassem em recintos fechados, partilhassem balneários e viajassem pelo país, mantendo simultaneamente os princípios de segurança sanitária e de protecção dos atletas. Assim, hóquei, futsal, básquete, andebol e vólei, masculinos e femininos, viram as respectivas temporadas canceladas, e o esforço de meses ingloriamente deitado ao lixo. Tal como, diga-se, o futebol feminino e o de formação.
No caso do Benfica, lamenta-se duplamente, pois estou em crer que esta situação - volto a dizer, compreensível e até mesmo inevitável - nos retirou do caminho vários títulos. Por exemplo, o de voleibol, onde mostráramos ter claramente a melhor equipa. Também o de hóquei em patins, cujo campeonato liderávamos isolados. E quem sabe os de basquetebol ou de futsal, a decidir em playoffs? O Benfica estava também em prova em quase todas as Taças de Portugal, e na Europa do hóquei.
No sector feminino, hóquei e futsal eram 'dobradinhas' cantadas. Em também as meninas do futebol iriam certamente festejar o seu primeiro campeonato, juntando-lhe a segunda Taça. No campo do futebol de formação, o título de juniores anunciava-se, e os de juvenis e iniciados permaneciam em aberto. Não haverá no país clube desportivamente mais penalizado com a pandemia. Resta-nos o consolo de sabemos que seguíamos no bom caminho, e partir para a próxima época com as ambições em alta."

Luís Fialho, in O Benfica

Credibilidade

"A mensagem do presidente do Sport Lisboa e Benfica não podia ser mais clara - ninguém está acima desta bandeira. Luís Filipe Vieira convidou-nos todos a encarar o futuro com confiança, deixando um desafio que devemos considerar sempre - a união. O Presidente fez questão de esclarecer que há um campeonato que temos que conquistar, o da credibilidade. Quem honra todos os compromissos, como tem acontecido desde Novembro de 2003, tem legitimidade para dizer o que disse e da forma que disse. Luís Filipe Vieira revelou a ambição de voltar a vencer e escolheu o Benfica Campus para gravar a mensagem para a BTV. Não foi por acaso que o fez. O presidente pôs as fichas todas na nossa academia, e os resultados estão à vista. Pegou num clube falido, sem ponta de credibilidade, e transformou-o num caso de sucesso. Um verdadeiro modelo de gestão que permitiu apresentar lucro nos últimos seis exercícios da SAD.
O presidente e a  sua competente equipa de gestores não se contentam com os resultados alcançados do ponto de vista desportivo, económico, financeiro e patrimonial.
Partiram para uma inovadora OPA que iria revolucionar a gestão das SAD em Portugal, visando, sobretudo, reforçar a posição accionista do clube. Além disso, ambicionavam consolidar a política ed recuperação encetada desde 2009 e que nos permitiu alcançar a hegemonia do futebol português, com a conquista de 18 títulos, entre Março de 2010 e Agosto de 2019. A ambição de continuar esta política e de evitar eventuais investidas hostis sobre a nossa apetecível SAD era outra dos objectivos. Infelizmente, a CMVM chumbou a OPA com uma interpretação errada da lei. Esta derrota deve dar-nos ainda mais força, pois é nas contrariedades que se vê a fibra dos lutadores e a garra dos campeões."

Pedro Guerra, in O Benfica

Juntos cuidamos de si

"É o que vai escrito nas caixas de cartão que os agentes da Guarda Nacional Republicano entregam aos cerca de 3000 idosos isolados e empobrecidos de todo o país.
É o que leem todos ao abrir as ditas com um generoso e reconfortante recheio oferecido pela Fundação Benfica. Assim já se valem numa falta na despensa parca e podem preservar-se mais um pouco ao perigoso contacto social. É quase irónico que a protecção de um mal que não entendem passe pelo resguardo da solidão, porque esse entendem-no bem e é o que mais lhes dói na alma. Pois se nem casas se avistam ao longe, nem telefones por ali tocam em tantos casos, só os animais trazem companhia dos vivos e cortam a noites da solidão. Em cima disto, sabem-se vítimas de enganos e abusos, por isso delas se defendem com nãos e cadeados. Neste mundo solitário, a GNR tornou-se numa voz presente e amiga, mas há que confirmar bem se é autêntico quem se assoma...
Ao bater da porta, depois do medo, vem a recompensa. Afinal, é a Guarda, que acarinha e protege, que ajuda. E logo se cobram os dias contados da última visita, se contam as mágoas e as vidas, se chora e saudade dos filhos na estranja, que não há jeitos de cá virem com este vírus: 'Eu já me contentava em Julho', solta a D. Maria, suspirando o seu velho coração de benfiquista, que não tem vizinho nem vivalma num raio de meia légua. 'Se não tem morrido, a minha sobrinha tinha um quarto preparadinho para mim...', sorri a D. Rosa, que construiu a própria casa no cume da viuvez. 'Não era preciso nada, para que foram gastar dinheiro?', agradece tímido o Sr. António trocando olhares de cumplicidade familiar com o velho burro que lhe puxa a carroça da erva e lhe torna mais leve a carroça da vida.
São de betão estas mulheres franzinas e estes homens solitários que habitam aos milhares no Portugal profundo. Temerários e resilientes, desconfiados e fechados em si mesmo, por engenho de protecção, logo se transformam e abrem num momento de alegria que não engana quem assiste. Os agentes da Guarda são mais do que bem-vindos, esperados!
Sabe bem saber que, mesmo na velhice e na solidão, sobretudo na velhice e na solidão, há quem pense e cuide de nós. A GNR fá-lo de alma e coração e o Benfica, esse imenso universo solidário, não podia passar-lhe ao lado afinal se é do Povo que se trata, é esse o nosso lugar!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Usar a 'máscara'

"Esta semana ficou marcada para a pequena história do futebol à moda de Contimul pela súbita eclosão de uma campanha de desesperados esforços empreendidos com total frenesi pela rapaziada (e pela velhada) de um clube lá no norte... E, se já há bastante tempo não se via disto na praça pública, dadas as circunstâncias, tudo indicia que o 'malhão' terá voltado, mesmo, para ficar, como velho modelo do 'novo normal' que eles tencionarão impor novamente no desespero de tentarem resolver as contradições e o profundo desastre a que hoje, por suas exclusivas opções próprias anteriores, se encontrarão inapelavelmente condenados. Depois de haverem simulado, na cimeira em São Bento, a proverbial 'santidade dos infernos' a que costumam recorrer como máscara, logo trataram de se verem recebidos e acolhidos depois, com não menor impunidade dos hospitaleiros, em diversas frentes comunicacionais, sociais, futebolísticas e até políticas, junto de quem espantosamente encontraram extenso pasto para se rebolar em festins dos dias seguintes.
Tudo e tanto, porquê, afinal?
Ora, para condicionarem, como sempre foi costume!
Para intimidarem quem tem de julgar e decidir.
Essa tem sido, consabidamente, de há décadas, a única 'modalidade' que eles sabem jogar. Sempre.
E, assim, depois de aparentemente cordatos com o processo da retoma das competições, vai de pôr em causa tudo e mais alguma coisa e, designadamente, as opções cientificas e técnicas das autoridades da Saúde, do Futebol e do Governo do país, as cautelosas disposições da Federação e as prudências dos sindicatos, associações e Liga, na regulação do regresso às competições. A verdade é que, na presente conjuntura, o 'país' do futebol está a desempenhar uma missão social da vanguarda no contexto nacional, testando, mais do que as próprias amostras de prova laboratorial, a prudencial aplicação de novos procedimentos e soluções, sempre consensualizados e cuidadosamente geridos à medida do avanço de novos dados obtidos. É este princípio de acção conjuntiva e responsável generalizadamente aceite e em uso no Futebol, que os agentes do tal clube de repente se puseram a contestar na praça pública, tentando misturar-lhe, com a força da baderna mediática (e o carinho de políticos que se fazem de ingénuos), acepções interesseiras e não consensuais, inventando pseudossoluções antes do tempo e criando entropias que pretendem gerar desconfiança. Contudo, desta vez, já não é só questão de 'estilo'.
Recorro a duas letais definições genialmente propostas por dois amigos meus, Leonor Pinhão e Jaime Antunes, para reconhecer ao clube lá de cima adicionais razões imponderáveis que lhe caracterizam a periclitante circunstância - procedem assim só porque, além de tudo o que lhes aconteceu na última década, agora em campanha eleitoral, estão com mais 'medo' ainda; e com muita, muita, 'fomeca'..."

José Nuno Martins, in O Benfica

Jogo do Tri (anúncio)

Obrigado Bundesliga

"Entrei no futebol internacional pela porta de um pequeno clube alemão. Nesse ano chegámos à final da DFB-Pokal (Taça da Alemanha) e, no seguinte, à Taça UEFA, onde encontrámos o AZ Alkmaar de Co Adriaanse. Como português senti-me vingado passados alguns meses pelo Sporting de José Peseiro. Salvaguardadas as devidas distâncias, tal como para o Sporting de 2005, também para o Alemannia Aachen a glória foi coisa vã. Embalados no entusiasmo, meteram-se a construir aquele que é ao dia de hoje o melhor estádio das ligas regionais da Alemanha. As dívidas contraídas com um luxo de 32.000 lugares aquecidos e totalmente cobertos empurraram para a inocuidade um emblema com 120 anos de existência.
Mais tarde 'transferi-me' para um clube deprimido: tinham escapado à despromoção por 1 ponto e o luto por Robert Enke era omnipresente. O presidente, apesar de ser um dos homens mais ricos da Alemanha, farto de 'meter do dele', fez um corte de 30% no orçamento do clube e remodelou a 100% as equipas de gestão, de prospecção e de recrutamento. Nos 2 anos seguintes fomos à Liga Europa, e numa performance singular na história do Hannover 96, com o português Sérgio Pinto a capitão, ainda sonhámos com a final... não fosse um tal de Atlético de Diego Simeone que haveria de levantar o troféu.
Com o sucesso veio a cobiça de clubes mais poderosos, peça a peça, dentro e fora de campo, a máquina foi sendo desmantelada até que chegou a minha vez. Tive abordagens de Borussia Dortmund, Bayer Leverkusen e até Man. United... e escolhi o FC Köln!
O clube do sobredotado Lucas Podolski e, antes dele, dos meus ídolos de infância: Littbarski, o pequeno genial do Reno, e Harald 'Tony' Schumacher, o carrasco de Battiston em 82 mas amigo do nosso grande Carlos Manuel. O Colónia, mais do que um gigante adormecido, estava a afundar. Mas o director desportivo que me queria era alguém a quem ainda hoje devo grande parte do meu conhecimento, e sabia que com ele eu não seria apenas mais um. Em três anos renovámos toda a equipa. Tivemos por base a formação do clube, e fizemos uma aposta fortíssima no reforço dos quadros técnicos do clube alterando os paradigmas do recrutamento. Grandes nomes, como o internacional português Maniche, foram dispensados, e os que vieram foram seleccionados com base na evidência. Fomos buscar jogadores que ninguém conhecia, alguns até amadores (o campeão do Mundo Jonas Hector é um exemplo), e fomos campeões na 2.ª Bundesliga. O clube salvou-se de uma gigantesca crise financeira e duplicou o orçamento inicial de 60 milhões de euros apenas com recurso às receitas próprias. Acabámos em pleno Emirates a ganhar ao Arsenal de Unay Emery.
Este ano espero festejar um novo título de campeão e nova subida, desta feita com o clássico Arminia Bielefeld e à frente de equipas com quatro vezes o nosso orçamento!
Por todas estas histórias de futebol e viagens da vida não me venham dizer que no futebol o que importa é ter 'estrelinha'!
O recrutamento e a gestão desportiva são as bases do sucesso que, mais cedo que tarde, nos baterá à porta quando temos condições e tempo para trabalhar.
Esta é a lição pela qual estarei para sempre grato ao futebol alemão.
E este final de semana, como profissional do futebol, ficarei duplamente e novamente agradecido à Bundesliga.
O retomar da Bundesliga faz prova que nós, profissionais que dependem do jogo para viver, temos mais condições e igual direito ao trabalho do que quaisquer outros cidadãos em qualquer outro ramo de actividade económica. É um direito tão meu como é o de um qualquer operário.
Uma coisa vos garanto: na Alemanha, como por cá, o futebol vai reerguer-se sozinho, pelo mérito dos seus profissionais e pela paixão dos seus adeptos, mas a sobrevivência de grandes elefantes brancos como são a Lufthansa ou a TAP vai ser paga com o esforço de todos nós."

«O futebol no banco dos réus»

"«O futebol no banco dos réus» – é o título do livro de P. Murphy, J. Williams e E. Dunning, publicado pela Celta Editora, em 1994. Procura-se identificar os elementos que identificavam a “situação inglesa”, procurando situar o futebol, e os seus problemas, a nível internacional.
Os textos, apesar de datados, são muito interessantes. Alguns deles são desafiadores e provocantes. Os autores, através dos vários ensaios que compõem a obra, reflectem sobre uma prática desportiva apreciada por milhões de pessoas. “O futebol é, sem sombra de dúvida, o desporto mais popular em todo o mundo” (p. 5). Ele não se limita apenas aos praticantes. Estende-se também aos espectadores. 
Como refere Jorge Valdano (A Bola, 16/05/2020), “o futebol pertence-nos a todos” e “uma paixão que afecta milhares de milhões de pessoas, atravessando diferentes idiomas, raças e culturas, não pode ter dono”. A atracção do futebol no mundo moderno decorre de ser acessível. Pode-se jogar com mais ou menos jogadores, o equipamento necessário para a prática é reduzido, na falta de um campo oficial, pode ser praticado num baldio. Se não existe uma bola normalizada, faz-se uma de trapos. Se não houver rede, as balizas podem ser marcadas com uns paus ou com umas pedras. 
Segundo os autores, a “imutabilidade” das regras do futebol, conferiu-lhe uma grande “estabilidade” e “continuidade”. “Como jogo, a sua estrutura permite a contínua e renovada geração de níveis de tensão-excitação, muito apreciados tanto pelos jogadores como pelos espectadores” (p. 8). Colocam-se à prova as emoções. O futebol nasceu em 1863, quando foi fundada a Federação Inglesa de Futebol. No entanto, já no século XIV, havia jogos chamados de “futebol”.
Com a expansão desta prática desportiva, institucionalizaram-se as figuras do árbitro e dos fiscais de linha. Surgem as regras de aplicação das penalidades (penálti). Vão surgindo depois os presidentes, os treinadores, os funcionários dos clubes, etc. Imprime-se a dinâmica burocrática e comercial. A identificação com os clubes tem um papel fundamental. As pessoas que vão a um jogo de futebol, sobretudo ao de alta competição, sentem uma ligação ou identificam-se com uma das equipas intervenientes. Em tempos de covid-19, e com os jogos a disputarem-se à porta fechada, somos poupados da violência dos estádios."

A crise do conhecimento cientifico

"Não me filio em qualquer uma das correntes irracionalistas, com um fio condutor a ordená-las: condenar a ciência moderna que proclama o perfeito acordo entre o real e o racional, senhora de uma técnica que quase se ocupa tão-só do domínio e manipulação dos fenómenos, incluindo os fenómenos naturais, e que de tanto cultuar a razão não tem o mínimo apreço pelo desejo, pelas emoções, pelos sentimentos.
Depois de Copérnico, Kepler e Galileu; depois do Iluminismo e do Positivismo; depois da Origem das espécies (1859) de Darwin: foram, gradualmente, excluídas as explicações sobrenaturais (e muito bem) para as epidemias, os vulcões, as tempestades, as colheitas. Enfim, tudo o que o ser humano faz e tudo o que resulta da práxis humana – tudo tem uma razão científica, racional, objectiva. La Mettrie, o médico mais célebre dos iluministas, descrevia o Homem como uma simples máquina. E, em finais do século XIX e princípios do século XX, já nas várias comunidades científicas se ensinava que a ciência físico-química “forma, hoje, um conjunto perfeitamente harmonioso e praticamente acabado”. Na década de 60 do século passado, Jacques Monod escreveu O acaso e a necessidade, onde refere que o homem não passa de um ser perdido, na imensidão infinita do universo, onde nasceu por mero acaso. Resta-lhe o desespero! “Por isso, por detrás dessa decepção, reaparece a velha nostalgia: pleitear contra a verdade dos dogmas religiosos, em favor da verdade dos dogmas da ciência (Hilton Japiassu, A Crise da Razão e do Saber Objectivo, Letras & Letras, São Paulo, 1996, pp. 9/10). O Homem não dispensa dogmas que a razão implanta na ciência e também na política e no direito e em tudo o mais: como esquecer a substituição do Estado confessional pelo Estado Laico? E folheio, de novo, o citado livro do HIlton Japiassu: “Claro que os homens actuais precisam tomar consciência da responsabilidade que têm em relação ao meio ambiente, pois a natureza corre o risco de ser torturada e ameaçada de asfixia”. Mas sem esquecer-se que “o contrato natural” está subordinado ao “contrato social”, ou seja que a ecologia não se transforme em ecologismo. Em poucas palavras: que brilhe em tudo o que se problematiza e legisla o princípio do Primado da Eminente Dignidade da Pessoa Humana sobre as coisas e as mercadorias.
O paradigma da filosofia iluminista e até a ciência da filosofia kantiana é a física de Newton. O Tratado de Metafísica de Voltaire, o “Discurso Preliminar” da Enciclopédia de d’Alembert e as Pesquisas sobre a clareza dos princípios da teologia e da moral, de Kant vivem dos mesmos conceitos, têm a mesma linguagem. É neste contexto que se impõe o poder da Razão, a qual nos ensina a movimentar, com o máximo de segurança possível, no mundo empírico. Segundo afirmação célebre de Foucault, em Les mots et les choses (1966), “o homem é uma invenção recente”. Permito-me acrescentar: Cabe também à Ginástica, ao Desporto, ao Jogo Desportivo, à Gestão do Desporto, à Dança, à Ergonomia, à Reabilitação (as valências da Motricidade Humana, afinal) recriá-lo para que aprenda a “viver” e não só a “durar”. Adolfo Yáñez Casal observa no seu Para uma Epistemologia do Discurso e da Prática Antropológica (Edições Cosmos, Lisboa, 1996):”Significação, interesse e valor, eis as três componentes a ter em conta, na delicada operação com que se deve iniciar o processo do conhecimento científico das ciências sociais (…). O objecto e objectivo de análise das ciências sociais será, pois, identificar, compreender e explicar o sentido que os indivíduos atribuem às suas acções e descobrir os motivos pelos quais os indivíduos as executam, em determinado momento histórico” (pp. 29/30). A Ciência da Motricidade Humana (CMH) só como ciência social e humana (ou hermenêutico-humana) poderá estudar-se. E, assim, os seus professores e treinadores não deverão mostrar-se indiferentes, ou neutrais, diante dos factos sociais e políticos, dado que, como o afirma, repetidas vezes, Edgar Morin: “Ciência sem Consciência e Consciência sem Ciência são mutuladas e mutilantes”. Demais, é muito mais importante educar uma alma do que instruir uma inteligência. Tanto o professor, como o treinador, como o técnico, cumprem uma tarefa de formação integral pois que são sujeitos humanos os seus atletas. São sujeitos humanos e não robôs e computadores (que usufruem tão-só uma “inteligência artificial”). E, com inteligência artificial, sem autocrítica e sem amor, podemos ver alçado ao poder um “mundo sem alma”, mas onde, mesmo rotulado de desportivo, o desporto não cabe.
Max Weber, como se sabe, identifica modernização e racionalização. De facto, durante a Idade Moderna, a Razão imperou… indiscutível! Ora, não pode aceitar-se uma ciência que não se questiona sobre os seus próprios fins. “No domínio social, o primado concedido à racionalidade tecnocientífica tem a seguinte consequência: promove os experts que, para suas tomadas de decisão, nos vários domínios da vida social fazem exclusivamente apelo aos conhecimentos científicos e técnicos. A partir do século XVIII (o século da Revolução Francesa) a Medicina constitui-se como uma ciência que “observa” e “experimenta”, isto é, uma ciência objectiva, em que a fisiologia é o seu radical fundante. Michel Foucault, em Naissance de la Clinique – une archéologie du regard médicale (PUF, Paris) tenta provar que a medicina surge, como científica, ou seja, como um estudo de um corpo que pode manipular-se, a partir do século XVIII. Sofrendo de um declarado reducionismp biológico? Mas só assim a Medicina podia apresentar o valor de Verdade, que o saber empírico, então, usufruía. Não foi por acaso que a expressão “Educação Física” surgiu e começou a disseminar-se, no século XVIII – surgiu e começou a disseminar-se, quando a Medicina era “física”, unicamente “física”. E, porque “física”, instrumento da Razão. E, porque instrumento da Razão, com a principal característica de uma verdadeira ciência. E é com velada tristeza que lastimo a inexistência de estudos epistemológicos, nos cursos superiores de Educação Física e Desporto, para que as novas gerações de licenciados entendam :
1. Porque devem fundamentar o seu trabalho profissional numa ciência autónoma hermenêutico-humana.
2. Porque a expressão “Educação Física” não “diz” a riqueza intelectual e moral da sua profissão.
3. Porque numa acção humana é impossível fazer ciência, pondo de parte a “face oculta e interna” de todas as acções humanas, quero eu dizer: qualquer acção humana se constitui de uma mistura inextrincável de factos da consciência e de situações objectivas. Daí, a necessidade do “método compreensivo”, no seu estudo. E não só do “método explicativo”, típico das ciências da natureza. 
Esta totalização, com o predomínio da Razão, transformou-se em terreno fértil para semear utopias. Muitos foram até os doutrinários que vertebraram a convicção de que o Racionalismo, com o seu inveterado mecanicismo e o seu dualismo antropológico cartesiano e o seu saber científico indutivo, positivo e experimental conduziria forçosamente a um novo Paraíso Terreal. Afinal, as grandes revoluções da Idade Moderna e da Idade Contemporânea (a Revolução Inglesa de 1688, a Norte-Americana de 1776, a Francesa de 1789, a Soviética de 1917, a Chinesa de 1949, a Cubana de 1959 e as Revoluções dos povos africanos colonizados) nem sempre resultaram compatibilizadas com o sonho inicial de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Na minha vida, que se escoa como areia, já acompanhei, com actualidade, algumas destas revoluções e do seu universo complexo e diversificado emergiram, tantas vezes!, ditadores no lugar de democratas e velhos vícios em vez de novas virtudes. Tudo me parece física e matematicamente inconsistente, sem a existência e orientação de um Espírito donde se divise o mistério do universo e da vida. “Sente-se a urgência de um novo ethos civilizacional que nos permitirá dar um salto de qualidade, na direcção de formas mais cooperativas de convivência, de uma renovada veneração pelo Mistério que perpassa e que sustenta o processo evolutivo “ (Leonardo Boff, Saber Cuidar, Editora Vozes, Rio de Janeiro, 2000, p. 26). Não deverá esquecer-se que o processo da “racionalização” se encontra intimamente relacionado com a “modernização”. Por isso, são muitos e de todos os estratos sociais e das mais distintas formações académicas (Max Weber está entre eles) os que, na modernização, anseiam pela tecnociência e desprezam a consciência, preferem a quantidade e olvidam a qualidade, idolatram a inteligência e desconhecem os sentimentos. Ciência não pode significar cientismo, porque todo o progresso deverá apresentar-se, sob três dimensões: a objectividade tecnocientífica, a legitimidade ética e a significação estética. Eu quero dizer afinal que é pelo dever e não mais pelo poder que o ser humano deverá realizar-se…"

Benfiquismo (MDXXVIII)

Intercontinental...