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sábado, 31 de julho de 2021

Yaremchuk


Esta novela foi rápida... Roman Yaremchuk é jogador do Benfica!
Recordo-me de estar a ver um dos jogos da Ucrânia no último Europeu, e dizer aos meus companheiros que 'este (Roman) encaixava bem no Benfica... e enchíamos a Luz com Ucranianos'!!! Foi uma daquelas larachas meio a brincar, meio a sério... mas acabou 'estranhamente' por se concretizar!
Avançado poderoso, forte, alto, rápido, bom tecnicamente, chuta com os dois pés e sabe jogar de cabeça... sabe jogar de costas para a baliza... Pessoalmente, acho que lhe falta alguma ratice de área, mas com a habitual carga ofensiva do Benfica no Tugão, tem todas as condições para ser um dos melhores marcadores...


Roman Yaremchuk, nascido para matar


"A Portugal, contra a Alemanha, Holanda, Sérvia, na Liga Belga ou no Europeu. Yaremchuk marca a todos de todas as maneiras.
Invulgarmente ágil no momento de finalizar para quem tem 191, no ar, de pé esquerdo ou direito, em momento de finalização o ponta de lança da seleção da Ucrânia é absolutamente temível.
A potência do seu remate com ambos os pés, a destreza do seu cabeceamento, a velocidade com que sai dos movimentos de ruptura que lhe permitem ser mais do que um homem de área, mas também um avançado capaz de jogar em 40 metros, fazem aguçar o apetite para a chegada à Liga BWIN de um jogador que vem experimentando uma ascensão sensacional nas últimas temporadas.
Dêem-lhe bola pelo ar ou pelo chão, e esperem pelo resultado."

A dúvida do benefício


"Leio que os adeptos da Roma estão felizes perante o primeiro impacto de Mourinho e entendo-os, porque há um espírito de grupo que o carisma do português pode reforçar, somado à intenção de estabelecer “cultura de vitória”, historicamente coisa estranha no clube. Um jornal até escreveu que o expoente da alegria dos tifossi giallorossi foi o lance da confusão no Algarve entre Pepe e Mkytharian, visto como sintoma de uma grande união no plantel. Sem desvalorizar os laços emocionais, não acredito que garantam sucesso se o modo como se joga não for o primeiro alicerce. O que vi da Roma diante do F.C. Porto – demasiadas unidades para defender, linhas recuadas, exagero no recurso ao jogo direto para Dzeko – não foi nada entusiasmante, pelo contrário. Claro que Mourinho precisa de mais tempo para melhorar o processo, sobretudo o ofensivo e se for essa a sua intenção, e de reforços que façam verdadeiramente a diferença, mas vale a pena lembrar, sob pena de se repetirem desilusões anteriores, que o benefício da dúvida tem prazo de validade e que a crença coletiva ajuda a colocar um grupo na rota certa mas também se esvai depressa se os primeiros resultados fizerem com que os homens desconfiem do caminho escolhido.
No futebol português há tradicionalmente uma grande dificuldade em falar da qualidade, seja de jogo ou jogadores, como se ideias e atletas fossem apenas diferentes e não, necessariamente, uns melhores que outros, como em todas as atividades e funções. Nestes dias de mercado aberto, com transferências dissecadas em longas horas televisivas, o que mais há é teoria sobre “características” ou “ perfis” que “encaixam” melhor ou pior. O problema é que não há só perfis, há mesmo uns jogadores melhores que os outros, que dão mais às equipas e as fazem diferentes. O Real Madrid bem pode procurar alguém de perfil diverso, que encontrar melhor que Benzema ou Modric é tarefa hercúlea até para o mais tarimbado scout. O problema de Jorginho com Lampard no Chelsea também era bem mais que de perfil ou adequação a uma ideia, era não perceber que colocava demasiadas vezes o melhor a suplente. E como diz um amigo meu do futebol, experiente e sabedor, um treinador já é muito bom se conseguir sempre colocar os melhores em campo. Sérgio Conceição bem pode procurar laterias sempre rápidos, incansáveis maratonistas de corredor, mas quando aparece este João Mário, com a qualidade que acrescenta desde já, duas conclusões devem tirar-se: que o treinador fisgou bem a alternativa que estava em casa mas também que nunca Manafá ou Nanu terão qualidade idêntica, por úteis que sejam. Com o mesmo nome de batismo surge o homem que, de repente, todos anunciam como novo profeta do meio campo do Benfica. Curiosamente quando quase todos reclamavam antes outras “características” de futebolista para o setor, com mais músculo e andamento (ou intensidade), que é precisamente João Mário está mais longe de garantir. Já qualidade sim, acrescenta sempre, seja onde for, e só o tempo deixará perceber a falta que fará ao campeão Sporting. Vejo nele uma capacidade de dar critério e de acrescentar a pausa de racionalidade ao jogo corrido dos leões que Matheus Nunes não tem (nem Tabata, por maioria de razões) e que Ugarte também não garante, pelo menos no imediato. Para Rúben Amorim, aparentemente, não fará tanta falta assim e o treinador leonino tem um duplo argumento a seu favor: o ter ganho, e ganho com mérito, logo no primeiro ano e quando poucos esperavam e de poucas vezes ter falhado nas escolhas dos jogadores e na adequação ao seu modelo. Obviamente, o benefício da dúvida é todo dele. Eu mantenho, todavia, a dúvida do benefício. Não me parece que o Sporting vá ser melhor sem o craque que agora é rival.
Sérgio Conceição bem pode procurar laterias sempre rápidos, incansáveis maratonistas de corredor, mas quando aparece este João Mário, com a qualidade que acrescenta desde já, duas conclusões devem tirar-se: que o treinador fisgou bem a alternativa que estava em casa mas também que nunca Manafá ou Nanu terão qualidade idêntica, por úteis que sejam. Com o mesmo nome de batismo surge o homem que, de repente, todos anunciam como novo profeta do meio campo do Benfica. Curiosamente quando quase todos reclamavam antes outras “características” de futebolista para o setor, com mais músculo e andamento (ou intensidade), que é precisamente João Mário está mais longe de garantir. Já qualidade sim, acrescenta sempre, seja onde for, e só o tempo deixará perceber a falta que fará ao campeão Sporting. Vejo nele uma capacidade de dar critério e de acrescentar a pausa de racionalidade ao jogo corrido dos leões que Matheus Nunes não tem (nem Tabata, por maioria de razões) e que Ugarte também não garante, pelo menos no imediato. Para Rúben Amorim, aparentemente, não fará tanta falta assim e o treinador leonino tem um duplo argumento a seu favor: o ter ganho, e ganho com mérito, logo no primeiro ano e quando poucos esperavam e de poucas vezes ter falhado nas escolhas dos jogadores e na adequação ao seu modelo. Obviamente, o benefício da dúvida é todo dele. Eu mantenho, todavia, a dúvida do benefício. Não me parece que o Sporting vá ser melhor sem o craqueque agora é rival."

Telma e os luíses


"Quando entrei para a escola primária, em 2000, o Nuno Delgado tinha acabado de se tornar no primeiro português a vencer uma medalha olímpica de judo e eu tinha acabado de me tornar no primeiro aluno a fraturar a tíbia no ano lectivo. Delgado foi à minha escola para que os miúdos tivessem a oportunidade de o vitoriar e eu, porque tinha de estar imobilizado e não tinha capacidades para ir para o recreio, fiquei atrás dele sentado num banco, de muletas, enquanto o atleta exibia a medalha de bronze conquistada em Sydney.
O triunfo do judoca fez com que muitos miúdos da minha escola começassem a interessar-se pela arte marcial, que a escola oferecia como actividade extracurricular. Eu próprio me inscrevi nas aulas, mas nunca tive jeitinho nenhum, apesar do professor ser nada mais nada menos do que o antigo seleccionador nacional e treinador de Telma Monteiro, Rui Rosa. Fui a um único "torneio", organizado numa outra escola, em que perdi na primeira ronda contra um adversário que, recorda acintosamente o meu pai, tinha metade do meu tamanho. Foi, para mim, o fim da utilização de kimonos e de cintos que não sirvam para sustentar calças.
Poucos anos mais tarde, fui convencido a ter aulas de natação. O ensino em casa (ou na praia) dessa competência essencial à sobrevivência num país com mil quilómetros de costa não estava a resultar em mais do que numa boa imitação de um golden retriever a chapinhar, pelo que não barafustei no momento da inscrição. Ainda hoje, recordo com nenhuma saudade o cheiro a cloro, a humidade permanente, o chiar dos chinelos, os gritos dos instrutores, os espirros ao sair do pavilhão. O professor de natação chamava-me Luís, o que, uma vez que eu prefiro que me tratem por Manuel, desinteressava-me ainda da atividade. Assim que obtive os conhecimentos suficientes para poder evitar ser uma pessoa que tem de dizer, numa qualquer festa de piscina, "não sei nadar", fiz birra até que me deixassem sair.
A partir daí, não tive aulas de mais nenhum desporto. Como muitos portugueses, a minha formação desportiva passou sobretudo por jogar à bola no recreio, ir às aulas de educação física, onde se jogava sobretudo à bola, e ir para a sala de jogos jogar matraquilhos (sala essa que tinha sempre os três jornais desportivos, que falavam, imagine-se, de jogos de futebol).
Nesse sentido, a minha cultura desportiva é muito fraca e não me sinto legitimado a tecer considerações derrotistas sobre prestações de atletas olímpicos. Suspeito que muitos dos que criticam Telma Monteiro pela eliminação precoce nos Jogos também fazem parte desta cultura desportivamente monotemática, irritam-se quando as televisões transmitem notícias do hóquei em vez de um debate de uma hora sobre um rumor de uma transferência e terão sido também luíses na sua infância, sem qualquer interesse por aquilo que se passa em complexos desportivos, excluindo o edifício do bar.
Vinte anos depois de Sydney, ainda nos falta muito que não seja indispensável ganhar medalhas para se conseguir convencer um miúdo da primária a inscrever-se nas aulas de judo. Mesmo que seja para perder com um puto de metade do tamanho dele."

A valentia de Simone Biles: ela, acima dos interesses do COI


"Esperava-se que Simone Biles marcasse estes Jogos em Tóquio. Está de facto a fazê-lo, ainda que sem ser na competição, mas pela atitude.

São cerca de 11 mil os atletas em Tóquio para os Jogos Olímpicos. Todos com aspiração de superarem o melhor de que são capazes. Todos, pelo menos por alguns momentos, sob os focos do entretenimento global do espetáculo olímpico. Apenas alguns com capacidade para atingirem o pódio.
Simone Biles, aos 24 anos, a mais brilhante ginasta do nosso tempo, chegou a estes Jogos precedida pela fama de estar destinada a ser a deusa de todas as competições da capital do Japão.
Ela representa o ideal de atleta. Junta a perfeição no trabalho físico com a capacidade para ir sempre mais longe nas piruetas e acrobacias da ginástica moderna. O percurso dela, incluído o desempenho nos campeonatos dos EUA, há dois meses em Indianapolis, apontava-a para o recorde de seis medalhas olímpicas nestes Jogos. Porque o seu tempo é precioso.
A rede americana de televisão NBC pagou milhões pelos direitos de transmissão dos Jogos. Com Simone Biles como cabeça de cartaz.
A pressão sobre Biles tornou-se altíssima. O Comité Olímpico Internacional e várias marcas parceiras entraram em euforia com a expectativa de estar ativada uma máquina de fazer dinheiro. Acreditavam que a ginasta se lançaria às medalhas de ouro, custasse o que custasse. As medalhas como prioridade absoluta.
Todos sabiam que Simone Biles é uma supercampeã que sabe sempre definir novas fronteiras. Sempre valente, sempre grande, incluindo quando teve de ter força interior para se expor ao peso da denúncia de ter sido alvo de tentativas de abusos sexuais por parte do médico que acompanha os ginastas na federação desta modalidade nos EUA.
Como ela sabe definir os limites, quando se esperava que ela chegasse ao Olimpo, ela decidiu parar.
Em vez de se lançar às seis medalhas de ouro escolheu, no momento de máxima expectativa, retirar-se.
Simone Biles deixa uma lição que é também uma herança para os atletas do futuro: mais importante do que o Comité Olímpico Internacional e as marcas parceiras, é a pessoa que está envolvida como atleta.
De facto, por mais engenhosa que seja a organização do COI, o talento que toda a gente quer apreciar é o dos atletas.
Biles preparou-se para estes Jogos mas não estava satisfeita. Retirou-se, para já das primeiras provas a que correspondiam duas medalhas. Não sabemos ainda se vai aparecer em alguma das quatro especialidades em competição nos próximos dias.
Ela mostrou valentia de campeã ao decidir parar antes de rebentar. Teve a coragem de assumir que estava em sobrecarga física.
Ela é uma supercampeã e também um ser humano que sabe que essa condição tem limites. Há quem esteja a acusá-la de fraquejar. Mas o que ela está a mostrar é a força para escolher parar, independentemente das pressões. Mostrou que sabe recusar ficar escrava da engrenagem.
Esperava-se que Simone Biles marcasse estes Jogos em Tóquio. Está de facto a fazê-lo, ainda que sem ser na competição, mas pela atitude."

Campeões olímpicos e campeões da gelatina


"Um dos passatempos que me dão mais gozo no verão, e que normalmente coincide com o período de férias, é, de quatro em quatro anos (ou cinco, desta vez) assistir aos Jogos Olímpicos (JO).

Dentro das modalidades olímpicas, gosto particularmente dos saltos para a água e da ginástica, mas acompanho de perto todos os atletas portugueses. Nos últimos cem anos, nunca os JO interromperam a sua frequência quadrienal, à exceção do período das duas guerras mundiais. Com um ano de atraso, por força da pandemia, os JO voltam finalmente a animar o verão, num cenário ainda atípico, sem o entusiasmo e o calor do público que habitualmente dão alma ao ambiente desportivo e de união dos povos, tão característico desta competição.
Para os atletas, a participação nos JO representa a consagração da excelência, do trabalho, da dedicação e do sacrifício que investem, todos os dias, na preparação, para depois brilharem com a sua técnica num espírito de contínua superação. Só os melhores chegam ao palco maior do desporto. Muitas vezes, o sacrifício que a excelência impõe não é gratuito para os atletas. E também não é possível ganhar sempre. No entanto, em Portugal, gostamos de cobrar sempre o máximo aos nossos atletas, esquecendo muitas vezes todo os constrangimentos que cada um deles enfrenta. Achamos quase sempre que os nossos atletas nunca fazem o suficiente, nunca são suficientemente bons. Uma exigência que, infelizmente, não colocamos sempre e nas diversas áreas de atuação.
Na verdade, parece que colocamos uma exigência quase divinal sobre os nossos atletas, mas depois ficamos numa apatia face às lideranças políticas e sociais do país. Gostamos de nos queixar, mas não promovemos de facto a mudança.
Queremos medalhas, mas não nos indignamos com sermos um país pobre; temos uma escola pública cada vez mais depauperada; 60% dos portugueses vivem, com menos de 800 euros por mês; em matéria de pobreza energética, Portugal é dos piores países da UE; temos os combustíveis mais caros da Europa; o investimento das empresas portuguesas em inovação não chega sequer a metade da média europeia; o Governo anuncia sucessivamente falsos investimentos na ferrovia, quando nem comboios nem maquinistas há para os poucos e maltratados comboios que temos; o país vive num pântano económico há 20 anos. Queremos medalhas e excelência, mas o ministro Cabrita - baluarte de reconhecida incompetência! - ainda é ministro. Queremos tudo mas adiamos reformas. Gastamos dinheiro, mas não investimos no futuro.
E o grave de tudo isto é o país aceitar placidamente a sua circunstância. Preferimos a queixa, à mudança. Não se confia nos políticos, mas também não se lhes exige mais. O queixume generalizado acaba com o povo a votar em massa no PS que promove (e vive) deste Estado gelatinoso, parece que mexe, mas não sai do sítio.
Termino este texto com um agradecimento aos atletas portugueses por todo o trabalho e empenho, e pelo orgulho imenso que nos dão representando sempre o país ao mais alto nível. Obrigada."

A extrema exigência emocional dos Jogos de Tóquio 2020



"Cerca de 1800 dias se passaram desde o último evento, mais 365 dias do que o expectável, o imaginado... e o desejável.
Os 92 atletas que se encontram a representar Portugal terão, muito possivelmente, vivenciado mais de 10 000 horas de treino, centenas de sessões de fisioterapia, dezenas de consultas das mais variadas especialidades, muitas alegrias e também frustrações (por vezes demasiadas), muitas lesões que precisaram ser recuperadas e objetivos renegociados (desportivos e pessoais – um casamento, o projeto de um filho ou um curso que se adiam).
Esta é não só a realidade individual de cada um dos atletas que representa Portugal, mas de tantos outros que acabaram por não ver os seus esforços recompensados e que, possivelmente ao dia de hoje, preparam-se já para Paris 2024 – afinal, há pouco tempo a perder, até porque o próximo ciclo terá somente 3 anos.

Conjuntura Emocional
Nunca antes se terá experimentado uma conjuntura semelhante, talvez alguma proximidade com a vivida nos jogos pós-guerra, dada a extrema exigência emocional que as duas últimas épocas desportivas trouxeram.
Mas os desafios não se esgotam por aí, senão vejamos:
· Atletas que se estreiam (mais de metade) e anseiam pela sua primeira experiência olímpica, carregados de sonhos e expectativas que planeiam fazer cumprir nos próximos dias;
· Atletas que, antagonicamente, imaginaram poderem ser estes os Jogos que selariam a sua carreira e que, inesperadamente, tiveram que estender os seus esforços (a resiliência de um corpo já muito “castigado”) por mais 12 meses, relegando para segundo plano os projetos pessoais que ansiavam iniciar no Verão de 2020 (como, por exemplo, o sonho muitas vezes adiado de iniciar uma família);
· A clara noção de que a experiência vivenciada pelos seus predecessores, no que respeita ao maior festival multidisciplinar do desporto (onde nos mesmos espaços se cruzaram os melhores de todas as nações e de diferentes modalidades), agora mais se assemelha a uma espécie de “gaiola dourada”, onde todos os passos são monitorizados e a disciplina é a competência mais solicitada no cumprimento estrito de todas as recomendações especificamente criadas para o controlo do Covid 19;
· E, entre muitas outras que poderiam destacar, a incerteza de como o País (e o povo) e a organização anfitriã conseguirá, de facto, fazer com que a sensação de segurança e de acolhimento, supere (e perdure perante) o medo e receio instalados pela contínua constatação de novos casos, muito frequentemente assinalados em equipas com quem dividem o mesmo edifício residencial. 

Superação e Resiliência
Mas estão a ser, sem dúvida, também os Jogos que validam, acima de tudo, a (quase infinita) capacidade de superação e resiliência do ser humano.
Do plano mais micro (a vivência do próprio atleta), ao papel de treinadores, clubes, federações e do próprio Comité Olímpico de Portugal, todos (sem exceção – sendo claramente de destacar o papel das famílias de todos aqueles que integram a Missão de Portugal, enorme pilar de suporte emocional) foram “desafiados” a romper com o anteriormente estabelecido e encontrar formas de manter o propósito de representar Portugal naquele que ainda é o evento mais desejado e esperado por todos.
As barreiras e dificuldades foram avaliadas e novos planos (novas formas!) se traçaram – esta é, de resto, a “história” e desafio do desporto ao mais alto nível e, por essa mesma razão, um enorme exemplo para toda a sociedade:
“Como posso hoje, independentemente da adversidade que me rodeia, evoluir um pouco mais em relação ao dia de ontem? Onde devo colocar a minha atenção, os meus esforços e a minha ação?”
Indubitavelmente, na única coisa que controlamos, que são as nossas escolhas que se traduzem no comportamento que exibimos a cada momento – e este é o principal foco de toda a Missão:
“Como podemos, a cada momento, reinventar o nosso esforço, o nosso foco, dotando as nossas ações com uma cada vez maior força e determinação?”
Os 92 atletas que escolheram durante mais de 1800 dias (uma vida, na verdade...) representar Portugal, dedicando a sua existência a uma busca incessante de excelência (e todos aqueles que, fazendo-o, precisaram redirecionar os seus esforços para Paris 2024), merecem por isso o maior destaque e respeito de uma nação que, independentemente dos resultados que alcançarem, os deve parabenizar não só pelo esforço, mas acima de tudo pelo exemplo que transportam para o quotidiano de todos os portugueses."

Muito bem, Benfica!


"Foi com enorme satisfação que soube da notícia do sucesso do empréstimo obrigacionista emitido pela Benfica, SAD. Era referido no prospecto que a finalidade da oferta passava pela 'diversificação das fontes de financiamento, reforço da liquidez e desenvolvimento da actividade corrente', pelo que está justificada a minha satisfação com o sucesso verificado. Mas há mais.
Num plano sério, o sucesso é sinal de confiança dos mercados na Benfica, SAD numa altura em que, devido à pandemia, predomina a incerteza no negócio do futebol e se  verifica abrandamento da actividade económica em geral. Acresceu, enquanto vigorava a oferta pública de subscrição, o abalo institucional com a detenção de Luís Filipe Vieira e subsequente pedido de demissão. Nada disto impediu que a procura superasse a oferta. E é justo que assim seja: a Benfica SAD, no passado, cumpriu atempadamente todos os reembolsos e pagamentos a que se comprometeu neste tipo de operações e goza de uma saúde económica e financeira invejável, não obstante os efeitos da pandemia e a ausência da fase de grupos da Liga dos Campeões na época passada.
Houve certamente benfiquismo a influir na decisão de investimento, mas os investidores não são mecenas ou patrocinadores de uma obra de caridade. Querem o retorno do seu investimento nos prazos programados. Aliás, como a Benfica, SAD sempre os habituou.
E, num plano menos sério, serviu também para ler e ouvir alguns sportinguistas e portistas regozijarem-se com o facto de a procura pouco ter superado a oferta. Isto da parte de adeptos de clubes cujas SAD, tecnicamente falidas, já adiaram pagamentos e não conseguiram captar os valores pretendidos em empréstimos obrigacionistas. Caricato!"

João Tomaz, in O Benfica

Querem medalhas? Paguem por elas


"Sempre que chegam os Jogos Olímpicos, lá vem a conversa das medalhas. Como se fosse obrigação dos atletas portugueses voltar a casa sempre banhados a ouro, prata ou bronze. Podemos apontar a falta de cultura desportiva como mãe de todos os males, mas não só.
É certo que a comunicação social tem tendência a acompanhar os feitos das modalidades apenas no momento das vitórias, mas mesmo aí continuam a existir demasiadas falhas que importa corrigir. No dia em que se iniciavam os Jogos de Tóquio, o tema principal da capa dos três jornais desportivos portugueses foi o autor de um golo num jogo particular do SL Benfica. Até entendo que o Glorioso é quem vende jornais, mas o princípio reinante é que esta errado.
Não basta, de quatro em quatro anos (mais um em 2021), lembrarmo-nos dos atletas olímpicos. È preciso um Estado forte que os apoie, com estratégia a longo prazo, garantia de estabilidade financeira e de uma carreira na alta competição. Os clubes não podem fazer tudo sozinhos. E mais nenhum se compara ao SL Benfica neste apoio. Nem as federações, mas essa é outra conversa.
Não me venham falar de que somos um país pequeno. Podemos sê-lo em termos geográficos, mas não em qualidade. E não somos os únicos. Temos cerca de 10,2 milhões de habitantes e 24  medalhas olímpicas conquistadas (4 de ouro, 8 de prata, 12 de bronze). Sabem quantos habitantes tem a Suécia? Praticamente os mesmos que Portugal e 652 medalhas olímpicas, sendo que 202 são de ouro. Sim, os Jogos de Inverno também entram nestas constas, mas há mais números para nos fazer pensar: Suíça, 8,7 milhões de habitantes e 345 medalhas; Cuba, 11,3 milhões de pessoas para 226 medalhas. E o que dizer da Letónia? Com uma população de 1,8 milhões de 28 medalhas nos Jogos Olímpicos, 4 de ouro, como Portugal. Vamos lá ver se desempatamos isto. E se apoiamos os olímpicos como eles merecem."

Ricardo Santos, in O Benfica

Tóquio 2020, venha daí uma medalhinha


"Os Jogos Olímpicos são um dos eventos que mais me apaixonam desde sempre. A prata de Obikwelu em Atenas 2004, quando descobrimos que nem todas as recordações gregas seriam sinónimo de infelicidade naquele ano. O ouro de Nélson Évora em Pequim 2008, numa altura em que o monstro do triplo salto ainda tinha um gosto para os equipamentos que vestia durante o ano muito aprumado. A prata de Emanuel Silva e Fernando Pimenta em Londres 2012, quando o orgulho em ser português se alargou ao orgulho em ser de Braga. O bronze de Telma Monteiro no Rio 2016, onde a judoca provou ao mundo que a Padeira de Aljubarrota não era a única mulher portuguesa a saber lutar.
Tóquio 2020 tem sido muito interessante, sobretudo porque às 3h da manhã habitualmente estou a dormir profundamente. No entanto, se estamos a falar dos Jogos Olímpicos, então eu quero assistir às provas de atletismo, à ginástica artística e ao jogo do sério. É possível que durante o dia entre em modo zombie, mas pelo menos não corro o risco de perder momentos históricos em directo. Por enquanto, as histórias portuguesas lá pelo Japão não têm sido muito animadoras, o que significa que o carinho pelos nipónicos que o Doraemon despertou em mim ao longo da minha infância está neste momento em cheque. Estamos todos a torcer por medalhas até porque o Governo bem precisa de que alguém traga ouro para Portugal a ver se isto dá para baixar o imposto dos combustíveis. Apesar das excelentes prestações portuguesas até agora, ainda não foi possível chegar ao pódio. Não conheço o plano de nutrição dos atletas, mas pareceu-me que está na altura de incluir Dorayakis."

Pedro Soares, in O Benfica