Últimas indefectivações

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Vertigem de contratações

"Nos últimos dias, os nomes falados nos mais diversos media, como possíveis contratações pelo Benfica para a próxima época, dariam para constituir quase três equipas.
Não querendo individualizar neste espaço qualquer caso, a inexistência de critérios leva até a indicar nomes de jogadores perfeitamente incomportáveis para a realidade do país e do mercado e em que um mínimo de conhecimento da realidade e dos valores em causa levaria a ter-se bom senso e não correr atrás da mera especulação, do boato e da notícia falsa.
Nesta última semana então, são vários os exemplos que poderíamos dar.
Apesar dos vários desmentidos, existe quem teime em continuar a falar dessas possibilidades, os mesmos que depois até terão, eventualmente, coragem de, perante a óbvia não concretização desses negócios, falar em eventuais desaires dessas tentativas e interesses que nunca existiram, nem poderiam racionalmente existir.
Temos noção de que sempre, nestas fases das épocas, em que os mercados de transferências se abrem, é normal surgirem os mais variados tipos de notícias provenientes das mais diversas fontes sobre eventuais contratações.
E percebemos também que a preocupação em procurar a novidade e uma cacha reforce todo o tipo de especulações.
Ainda mais num clube como o nosso, pela dimensão, prestígio granjeado e reconhecimento da solidez do projecto, o que leva a que, naturalmente, seja um dos clubes mais visados por este tipo de bombásticas e hipotéticas contratações nas mais variadas latitudes.
Queremos deixar uma garantia: a próxima época está a ser preparada com todo o rigor, critério, exigência e ambição, tão bem simbolizados na já conhecida escolha do treinador para um projecto de futuro e ganhador, que é o que todos desejamos para o nosso Sport Lisboa e Benfica.

P.S.: O Sport Lisboa e Benfica, representado pelo vice-presidente João Varandas Fernandes, receberá hoje, às 12h45, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria, Peter Szijjártó, acompanhado do embaixador da Hungria em Portugal, Miklós Halmai. A entrada será realizada pela porta 18, onde será feita uma homenagem a Béla Guttmann e a Miklós Fehér, seguida de reunião e visita ao Estádio."

O desafio com a chegada de Jorge Jesus

"Jorge Jesus é o novo treinador do Benfica. É um tema pouco consensual no Benfica porque todos os adeptos já conhecem os pontos fortes e os pontos fracos de Jorge Jesus, havendo ainda a controvérsia toda após ter saído do clube que só contribui ainda mais para a divisão de opiniões. É o nosso novo treinador quer se goste ou não. Pondo de parte toda a história por de trás da sua saída, onde quer ele, quer a nossa Direcção não ficaram muito bem na fotografia, acho que é importante que os adeptos se lembrem do quão bem a equipa jogava, dos títulos, da progressão dos jogadores e das finais europeias. Mas também é importante relembrar porque é que Jorge Jesus saiu e como evitar que esses problemas regressem.
No verão de 2015 o Benfica começava a ver os resultados da aposta no Seixal. A primeira grande geração do Seixal (1994 - Bernardo Silva, João Cancelo, Hélder Costa, Fábio Cardoso) estava a terminar o seu segundo ano de sénior. Bernardo Silva já era titularíssimo num Monaco muito competitivo. João Cancelo começava a aparecer no Valência. Luís Filipe Vieira sabia que essa geração, 1994, era só a primeira de muitas. Nesse ano, nos juniores já havia Gonçalo Guedes, Renato Sanches, Rúben Dias, Ferro, João Carvalho, Pêpê e Diogo Gonçalves. Nos juvenis Jota, Florentino, Gedson e Zé Gomes começavam a aparecer. Parecia então haver a certeza que Jorge Jesus não seria capaz de aproveitar todo este talento e avançou-se para o treinador que na altura parecia estar a aproveitar melhor as sobras da formação do Benfica (Cafu e Bruno Gaspar era muito utilizados em Guimarães) e com resultados - a vitória na Taça de Portugal, por exemplo.
Desde então é verdade que Jorge Jesus conseguiu transformar alguns jogadores da formação em jogadores de qualidade internacional. Mesmo no Benfica isso aconteceu com o André Gomes. No Sporting o maior exemplo foi Gelson Martins e de maneira não tão significativa o Daniel Podence (que na verdade só "explode" no Olympiakos). No Flamengo lançou Reinier que rapidamente foi transferido para o Real Madrid. A grande dúvida agora é o que é será capaz de retirar do Benfica. Porque esta que geração que vem aí é das gerações mais dominantes que houve no Benfica. Ontem já ficou evidente pelo jogo do Gonçalo Ramos. Mas Gonçalo Ramos é só o primeiro. Há ainda Tiago Dantas, Rafael Brito, Morato, Ronaldo Camará, Paulo Bernardo e Úmaro Embaló, só para citar alguns.
A solução para este problema é muito simples. Se para cada posição houver três jogadores, nunca haverá espaço para os jovens aparecerem. Vai se sentar um internacional A suíço que recebe um milhão de euros por ano para jogar o Gonçalo Ramos? Claro que não. Nem este ano isso aconteceu, quanto mais com Jorge Jesus. Se o plantel tiver 23-24 elementos, vai haver espaço para os jovens da formação lutarem por um lugar. Se o plantel tiver 28-30 jogadores, que é o tamanho normal dos plantéis de Jesus, a história do Bernardo Silva e do João Cancelo arrisca-se a repetir."

Meirinices !!!

"Mais uma vez o ponta-de-lança ao serviço do #PortoaoColo a "brilhar" bem alto na disciplina, aproveitando os seus últimos tempos no cargo para demonstrar toda a sua mesquinhez.
Depois de ter sido completamente desacreditado, humilhado e intitulado de incompetente para julgar sobre este assunto pelo TAD, eis que o "boneco" Meirim decide uma vez mais aplicar interdição ao Estádio da Luz alegando os mesmos motivos que provocaram a decisão de anulação por parte do TAD em casos anteriores.
Com mais esta triste demonstração, Meirim vem mais uma vez demonstrar que é uma pessoa totalmente anti-Benfiquista e ressabiada. Um triste de espírito sem qualquer tipo de competência, credibilidade e isenção para um cargo desta responsabilidade. Um sujeito abjecto, sem qualquer tipo de vergonha na cara."

Desporto Feminino no SL Benfica

"Atletismo Feminino, que futuro?
Quando se aproxima o apuramento para a final do Campeonato de Clubes de pista ao ar livre, no próximo fim de semana, o que esperar da equipa feminina de atletismo do SL Benfica?
No passado mês de Fevereiro, no que diz respeito à modalidade feminina de Pista Coberta, decidimos simplesmente “abdicar” da nossa participação. Na altura, Ana Oliveira justificou a ausência do SL Benfica das finais do campeonato nacional feminino com o pretexto de que estaria a ser elaborado um «projecto competitivo a nível nacional e europeu».
Mas onde está o projecto?
Quando se fala constantemente na aposta do desporto feminino no SL Benfica, o atletismo feminino tem ficado completamente esquecido. Falamos da principal modalidade olímpica e provavelmente da modalidade na vertente feminina mais “popular” a nível mundial. Basta perguntar, no nosso país, quem foi Fernanda Ribeiro ou Rosa Mota, e praticamente toda a gente saberá responder.
O SL Benfica tem feito um forte investimento no que ao desporto feminino diz respeito e tem colhido os merecidos frutos dessa aposta.
No futsal feminino é tricampeão nacional e no hóquei feminino domina a seu bel-prazer, sendo heptacampeão nacional.
Criou o voleibol e o andebol feminino, começando pelas divisões inferiores, e neste momento o andebol já compete na 1ª divisão e o voleibol disputará a liguilha de acesso à 1ª divisão, no início da presente época desportiva.
Quanto ao basquetebol feminino, ganhou o seu primeiro título oficial na época passada e este ano a aposta recai no treinador campeão nacional, Eugénio Rodrigues, um treinador de grande renome no panorama nacional.
Em relação ao futebol feminino, temos um projecto liderado por Fernando Tavares que conta já com títulos em todas as provas disputadas nas camadas seniores da formação.
Ainda na vertente feminina, no polo aquático e no judo, somos também campeões nacionais, com aposta clara na Taça dos Clubes Campeões Europeus.
Por tudo isto, apraz-nos perguntar quais são as reais ambições e onde se situa o atletismo feminino no ecletismo benfiquista?
O SL Benfica, no atletismo feminino, tem no seu palmarés 14 títulos de Campeão Nacional de Pista Ar Livre, 1 título de Campeão Nacional de Pista Coberta, 8 títulos de Campeão Nacional de Corta Mato Longo e 4 títulos de Campeão Nacional de Estrada.
É uma modalidade com História e tradição no Clube e que parece estar a ficar esquecida em prol de outras, levantando a suspeita de que poderá estar a ser equacionada a sua extinção. Esperamos que tal não aconteça e que sejam respeitados os princípios e valores ecléticos do Sport Lisboa e Benfica.
Em Novembro deste ano irá reabrir o mercado de transferências. O SL Benfica, por uma questão de respeito próprio, deveria responder de forma peremptória aos ataques que foi alvo em 2016 pelo então presidente do Sporting CP, Bruno de Carvalho. O qual, recorde-se, destruiu a equipa de estrada e cross feminino do SL Benfica e que era amplamente vencedora.
Infelizmente, o pacto acordado entre os presidentes do SL Benfica e Sporting CP proíbe a circulação de atletas directos entre os clubes. Uma decisão que, além de desvalorizar o atleta e diminuir as oportunidades de carreira profissional, também em nada beneficia a competitividade do atletismo nacional.
Esperamos que no próximo sábado, dia 25 de Julho, a equipa feminina do SL Benfica possa marcar presença no Estádio Universitário e, consequentemente, garantir a qualificação para a final do campeonato nacional, marcado para dia 15 de Agosto.
Por fim, terminamos com a seguinte frase:
«Mais vale a lágrima da derrota do que a vergonha de não ter lutado»."

Jorge Jesus | O mister está de volta

"Recentemente, foi anunciado o retorno de Jorge Jesus ao futebol português, neste caso, para representar novamente o SL Benfica. Após um trajecto curto, mas de enorme sucesso, ao serviço do Flamengo, o técnico português regressa a uma casa onde conquistou dez títulos e praticou um futebol que deixou saudades na maioria dos adeptos encarnados.
Apesar da sua saída para o rival Sporting CP, em 2015, provocando uma acesa disputa, troca de palavras e acusações durante uma época inteira, parecia desde há uns tempos evidente o interesse de Luís Filipe Vieira em trazer o técnico português novamente para o comando das águias.
Na primeira passagem, Jorge Jesus praticou um futebol ofensivo, de pressão alta, com muita organização e detalhe nos vários momentos de jogo, além de ser visto também como um treinador de excelência nos processos de treino.
Conquistou três campeonatos e perdeu outros três, ainda que, sejamos francos, para um FC Porto com plantéis de qualidade muito superior aos de hoje em dia (com nomes como Falcao, Hulk, James, Moutinho, Helton, Otamedi, Alex Sandro ou Danilo).
Além disso, conduziu o Benfica a duas finais europeias, algo que merece realce tendo em conta que o Benfica se encontrava há 23 anos arredado destes palcos. Na Liga dos Campeões, atingiu por uma vez os quartos de final da prova, porém, em cinco edições conseguiu apenas por essa vez passar uma fase de grupos, algo que, certamente, pretenderá mudar e melhorar nesta nova passagem. 
Concomitantemente, valorizou bastante alguns jogadores, o que permitiu avultados ganhos em transferências para o clube da Luz (David Luiz, Fábio Coentrão, Javi Garcia, Matic, Witsel, Enzo, Di Maria, Rodrigo, entre outros).
Com eleições em Outubro, a aposta em Jorge Jesus fica patente como um ato de “all in” por parte do presidente Luís Filipe Vieira, sobretudo depois de, em 2015, ter prescindido do treinador para iniciar um projecto com moldes diferentes, essencialmente com a aposta em jovens da formação, dando a entender, actualmente, que errou ao mudar a política.
Ainda assim, parece-me que Jorge Jesus deverá ter aprendido com erros do passado (por exemplo, os casos de João Cancelo e Bernardo Silva), podendo olhar agora de uma forma distinta para alguns jovens de enorme potencial nos quadros do clube e enquadrá-los na equipa a curto/médio prazo, caso entenda que estes reúnem as qualidades e funções exigidas para o seu modelo de jogo muito específico e rigoroso (Tiago Dantas, Gonçalo Ramos, Paulo Bernardo, Úmaro Embaló, entre outros). 
No entanto, com a vinda do técnico, é previsível um investimento forte do SL Benfica no próximo mercado de transferências, certamente com muitas entradas e saídas no plantel encarnado, como já tem sido ultimamente noticiado, de forma a criar um impacto e mudanças imediatas. Com o elevado investimento em vista, o objectivo poderá, finalmente, passar pelo tal “Benfica Europeu” muito falado nos últimos tempos, mas que, na prática, não se concretizou.
Pelas reacções dos últimos dias, a conclusão que se retira é uma certa divisão nos adeptos relativamente a esta contratação. Alguns, muito felizes com o regresso e convictos de que será o homem certo para elevar a qualidade de jogo da equipa, assim como para exigir um plantel mais forte e profundo. Outros, não esquecendo todos os episódios com o eterno rival Sporting, após a sua saída, estão contra esta contratação, por considerarem uma afronta aos valores e identidade do clube e, ainda, com receio de que a história de sucesso não se repita desta vez.
Em suma, creio que será uma contratação e um regresso que elevará a qualidade de jogo do Benfica e, consequentemente, do futebol português. O tempo dirá se foi uma boa ou má escolha, mas a expectativa para perceber qual será o futuro do Benfica, se a águia voltará a voar bem alto, é muito grande nas hostes encarnadas, e não só."

Então, mesmo goleados, os jogadores do Aves venceram a própria SAD

"Não fossem os salários em atraso ao plantel e à equipa técnica desde Março, as notícias sobre investigações a contratos lesivos e empréstimos encapotados e uma série de histórias de bastidores contadas em surdina pelos protagonistas e o Aves ter-nos-ia apanhado de surpresa.
Mesmo assim, não deixámos de franzir o sobrolho, no dia 17 de Julho, com a original intenção da SAD em faltar ao derradeiro jogo da Liga, frente ao Portimonense, sob o pretexto de «salvaguardar a verdade desportiva». Dois dias depois, novo anúncio: a ameaça de faltar também ao jogo contra o Benfica.
Para além dos salários, os seguros também não estavam em dia e a equipa não podia competir.
Ora, faltando a um jogo das últimas três jornadas, o Aves arrisca ser excluído das competições profissionais de seis a dez anos.
Estranhamente, não houve sinal de alerta, mas conformismo da parte da SAD, detida pela empresa Galaxy Believers de Wei Zhao e gerida por Estrela Costa. Até que, no início desta semana, os episódios foram-se sucedendo, fazendo-nos abrir progressivamente a boca de espanto.
Então, mais um jogador, o oitavo, rescindiu contrato por salários em atraso – o nono rescindiu ontem.
Então, o presidente do clube, tentando apresentar soluções para a cada problema novo que surgia, abriu as portas do pavilhão para os jogadores fazerem testes à covid, denunciando que «a SAD tudo está a fazer para o Aves não disputar os últimos jogos».
Então, a equipa médica, foi despedida pela SAD, num telefonema, por ter cumprido o seu dever de realizar testes à covid aos profissionais que iam participar no jogo.
Então, no dia da recepção ao Benfica, as chaves do autocarro desapareceram e os jogadores tiveram de ir para o jogo em viaturas próprias ou a pé.
Então, em cima da hora, duas salas necessárias para a organização da partida estavam fechadas, obrigando à intervenção de um juiz e da GNR.
Então, desapareceu das instalações do clube a Taça de Portugal, conquistada em 2018.
E então, depois de tantos sinais no mesmo sentido, até o observador menos atento suspeitaria que a própria equipa estaria a ser alvo de sabotagem interna.
Perante isto, surgem as dúvidas: qual o motivo para a cada solução surgir um novo obstáculo a competir? A quem aproveita a falta de comparência da equipa? Quem beneficia de um cenário em que o clube cai directamente para os Distritais, em vez de disputar a II Liga na próxima época?
A única resposta cabal foi dada pela equipa, que entrou em campo e depois de um protesto no primeiro minuto se bateu da melhor forma que pôde, e pelo seu treinador, Nuno Manta, que à falta de assessor se apresentou a si próprio, tentando no fim do jogo encontrar uma centelha de humor no meio de um drama.
E então, mesmo goleada por 4-0 pelo Benfica, a equipa do Aves venceu. E por isso mesmo os adeptos esperaram fora do estádio, agradecendo-lhe o esforço perante condições inaceitáveis para qualquer trabalhador em nome da salvação do clube.
Terça-feira à noite, os jogadores do Aves aprenderam que, mesmo perdendo, podem alcançar vitórias inimagináveis. Que sejam eles, com as forças que lhes restam, a destruir o lado mais pérfido do futebol."

O Brinco do Baptista #48 - Maracanazo: 70 anos depois

Benfica After 90 - Aves...

Benfica After 90 - Rui Gomes da Silva...

O(s) valore(s) dos atletas fora do campo

"O impacto da pandemia de COVID-19 no desporto a nível mundial chamou a atenção, entre muitas outras coisas, para o papel social dos diversos actores do ecossistema desportivo. Desde acções institucionais por parte de clubes e ligas, passando por grupos de adeptos, treinadores ou atletas, foram muitos os exemplos de contributos directos ou indirectos no combate à pandemia. Por ora, centremos a atenção nos atletas dado que são o elemento central do ecossistema desportivo e nem sempre recebem a atenção que seria de esperar.
Independentemente das formas de apoio e motivações, os atletas profissionais têm vindo a envolver-se cada vez mais em causas sociais, sendo o movimento More than an athlete bem ilustrativo da importância que podem ter fora do contexto desportivo. Nos últimos meses, em resposta à pandemia, multiplicaram-se as iniciativas de atletas que fizeram uso do seu capital social e/ou financeiro para doar dinheiro, tempo e bens a pessoas e instituições. Por exemplo, Kevin Love, basquetebolista dos Cleveland Cavaliers, foi um dos primeiros atletas a ajudar os trabalhadores do pavilhão onde joga a sua equipa que ficaram sem emprego quando a NBA suspendeu o campeonato, doando US$100.000. Por sua vez, Anthony Davis (Los Angeles Lakers) fez uma parceria com a Lineage Logistics para ajudar os funcionários do Staples Center a encontrar trabalho durante a paragem da NBA, conseguindo angariar US$250.000 para ajudar uma organização que compra comida em restaurantes locais e depois faz as entregas a trabalhadores de hospitais locais.
Noutro exemplo, a iniciativa #WeKickCorona, lançada por dois futebolistas do Bayern de Munique (Leon Goretzka e Joshua Kimmich) tem sido um excelente exemplo de solidariedade social, angariando dinheiro e outros apoios para inúmeras pessoas e instituições em dificuldades neste período de crise. De forma semelhante, a carta aberta escrita no Twitter por Marcus Rashford, futebolista do Manchester United, foi partilhada por mais de 160.000 pessoas e ajudou a persuadir o governo britânico a prolongar o esquema de distribuição de refeições escolares gratuitas a crianças de famílias desfavorecidas. Também em Portugal foram vários os atletas que ajudaram no combate à pandemia, sendo a doação de 50% do prémio de qualificação do campeonato da Europa por parte dos atletas da seleção nacional de futebol talvez o caso mais mediático.
Obviamente que nem todos os atletas têm a capacidade de influenciar decisores políticos ou doar dinheiro, mas muitas outras formas de apoio têm sido usadas para ajudar no combate à pandemia. Doar dinheiro para comprar material médico ou refeições para as pessoas em dificuldade não terá, provavelmente, o mesmo impacto que escrever nas redes sociais a pedir aos cidadãos que sigam as recomendações das entidades médicas. No entanto, apesar do capital simbólico dos atletas variar, os diversos contributos têm sido importantes para ajudar no combate à pandemia e estabelecer exemplos positivos para o futuro. Maxime Mbanda, jogador de râguebi do Zebre e da seleção italiana foi motorista voluntário de uma ambulância durante o período mais crítico em Parma e exemplifica bem o crescente envolvimento dos atletas em causas sociais. Por cá, as atletas Marta Onofre (salto à vara), Francisca Laia (canoagem), João Diogo (râguebi), Diogo Lima (Judo), Francisco Belo (lançamento do peso), Leila Marques (natação adaptada), Ana Francisco (natação), Ana Rente (trampolins) e Mário Soares (andebol) foram também destacados no jornal A Bola por integrarem a linha da frente no combate à COVID-19.
Todos estes exemplos mostram que os atletas podem ter um papel social que vai além da performance desportiva, sendo que muitas outras iniciativas foram reportadas na comunicação social e outras tantas terão passado despercebidas. Os atletas têm hoje uma melhor compreensão do potencial que lhes confere a sua notoriedade local, nacional ou internacional. Este protagonismo, parcialmente potenciado pelas redes sociais, permite-lhes influenciar milhares de pessoas e dar um contributo que se estende muito para além das suas modalidades desportivas. Naturalmente que este envolvimento social é uma escolha voluntária, porquanto permaneça alguma controvérsia sobre se têm ou não mais responsabilidade de agir do que qualquer outra pessoa. O que é consensual é que frequentemente beneficiam duma plataforma que lhes permite atuar com impacto social, influenciando o comportamento de seguidores e até governos, e que esse impacto é de alguma forma proporcional à sua popularidade. Quando agem, o seu contributo é habitualmente visto como uma forma de retribuir à sociedade pelo estatuto social que auferem, se bem que os atletas têm geralmente carreiras curtas e uma elevada percentagem enfrenta, infelizmente, dificuldades na transição para o pós-carreira desportiva.
Controvérsias à parte, o que creio confirmar-se pelos vários exemplos dos atletas mencionados e tantos outros similares é que, ainda que distintos em valor financeiro e impacto, estes atletas partilham valores que enriquecem o seu papel social, muito para além do ecossistema desportivo."

O mundo encarnado

"Não vale tudo e os fins justicialistas não podem tornar eticamente bons meios reprováveis e contra a lei de um Estado de direito

1. Está praticamente terminado o campeonato acoplado. Nesta fase II, meios de comunicação social aproveitaram todas as ocasiões, umas certas, outras erradas, umas oportunas, outras fora do tempo, umas frias, outras requentadas, umas sérias, outras desonestas, umas em slow motion, outra em replay fastidioso, para desancar no Benfica. Está na moda. Excita certas audiências. É barato. E até falsamente popular. Ao invés, toda a glória e encómios para o novo campeão FC Porto e para o habitual 3.º classificado, o Sporting CP. Para eles, a santidade, a exemplaridade, a bonomia, a respeitabilidade, a alvura de processos, o prodígio das escolas de formação de craques. E até as suas contas ficaram miraculosamente ungidas, pois, por exemplo, isso de não pagar aos credores obrigacionistas que importância tem?
Na semana passada, e para não variar, mais um caso a envolver alegadamente o Benfica. Que teve honras de manchete neste jornal. É claro que me sinto muito incomodado com todas as notícias - reais, verdadeiras, falsas, imaginadas, empoladas - em momentos cirurgicamente escolhidos para darem à estampa. Desde logo, porque vou acusando a fadiga da sucessão de casos e não casos. Não nego que há muito de censurável no modo como certos assuntos e acções foram tratados no meu clube, independentemente do resultado em sede de Justiça. Certas práticas reveladas - que, todavia, não deverão ser muito diferentes do que suponho sejam também as de outros enclaves - não devem ser admissíveis em instituições que têm de honrar a sua história e prestigiar os pergaminhos da transparência e do rigor, seja a que nível for.
Contudo, em todas as notícias está presente, em todo o seu esplendor demagógico, a confusão entre ser arguido, ser acusado e ser condenado. Não por ignorância de quem o escreve ou diz, mas por, ao menos por omissão, ter o gérmen de fazer confundir as pessoas menos avisadas. Entre ser arguido e ser condenado, ainda que sub-repticiamente, os media bem sabem que deixam passar a ideia de que são praticamente a mesma coisa. Simultaneamente e grão a grão, ao não mais falarem de tantas práticas ilegais e ilegítimas que, porventura, terão estado na base de processos abertos, desmemoriam muitas mentes mais distraídas. Não vale tudo e os fins justicialistas não podem tornar eticamente bons meios reprováveis e contra a lei de um Estado de direito. Pormenor que, no fim de contas, muita gente esquece ou negligencia, a não ser que a situação em concreto aconteça em caso próprio...
Há, em Portugal, uma tendência irreprimível e quase compulsiva para transformar arguidos em condenados, em diferentes áreas e situações, para gáudio e conversa pretensamente moral de mentes atormentadas pela rotina de vida. Mesmo se, para descargo de consciência, venha acompanhada da muleta linguística de «alegadamente». Tal generalização é amplificada pela primeira condenação do arguido, que é a do longo tempo que demora até qualquer sentença transitar em julgado. Nessa altura, se inocentado, há tudo foi consumado e na memória futura fica apenas a do condenado, sem apelo, nem agravo, no pelourinho público, não raro, proporcionado por uma qualquer fuga de informação, mais lesta nuns casos do que também não alinho em situações opostas, ou seja, a do inocentar, sem pestanejar, situações que, por alguma razão, são encetadas pelo sistema judiciário.
Entre a pureza da bondade de quem se apressa a menorizar práticas pelo menos criticáveis ou duvidosas e a maldade da impureza de quem identifica crimes e criminosos ao virar da esquina no Benfica, prefiro não fazer juízos definitivos e esperar que se concretize a justeza da frase que todo o mundo gosta de papaguear, qual seja a de que «confiamos e acreditamos na justiça».
O certo é que, depois de tanta notícia, análise, condenação prévia, e tudo fazendo correr toneladas de tinta, e até agora, as decisões definitivas das diferentes instituições de justiça têm sido o contrário do que nos impingiram sem freio em certos órgãos de comunicação social, para já nem citar a horda bárbara que ulula em redes sociais. Mas, está claro, se as decisões terminam em absolvição, tudo é quase silenciado nas televisões e tem quando muito o espaço liliputiano de um qualquer rodapé nos jornais, se comparado com a algazarra de notícia que antes detonara um «hediondo crime».
Assim foi, nessa coisa pavorosa de um ministro das Finanças ter sido convidado para a tribuna principal do estádio da Luz, logo se levantando labirínticas relações de causa e efeito. Já em Alvalade e sobretudo no Dragão, isso é frequente, sem que tal - e bem - tenha levantado alguma vez qualquer tipo de inquérito judicial e amplo noticiário. Assim foi, com o processo e-toupeira, em que a Benfica SAD e seus administradores foram ilibados, por decisão de primeira instância, depois confirmada pelo Tribunal da Relação. Assim foi com os vouchers que terminaram em nada e devidamente arquivados, como era de prever. Neste mesmo tempo, e ainda que não transitados em julgado, houve processos que condenaram o FCP e pessoas a ele ligadas pela divulgação de emails do ou sobre o Benfica.
Há poucos dias, houve duas decisões de tribunais favoráveis ao SL Benfica, no domínio da justiça desportiva. Uma, relativa à interdição de cinco jogos na Luz, devido a alegado apoio a grupos organizados de adeptos, foi agora revogada pelo Tribunal Arbitral do Desporto. A outra, do Tribunal da Relação de Lisboa, em que se considerou improcedente o recurso do Ministério Público da decisão que, em primeira instância, já absolvera o Benfica do castigo de um jogo à porta fechada (e multa) decidido administrativamente pelo Instituto Português do Desporto e da Juventude, por alegado apoio ilegal a grupos organizados de adeptos. E, perante isto, um silêncio ensurdecedor da parte de alguns jornalistas e opinadores amestrados!
Por fim, de um jeito particularmente obsessivo, há uma atenção implacável quando é sorteado um juiz para julgar o SLB, com imediatos pressupostos de enviesamento e não capacidade de isenção. Já noutros processos fora da capital tudo é linear, tudo é completamente independente dos arguidos, não havendo sequer necessidade de qualquer magistrado sentir necessidade de solicitar a sua dispensa (o que, porém, sucedeu com juízes que, designadamente no caso do SLB, tomaram essa iniciativa).

2. Chegou ao fim o suspense do regresso de Jorge Jesus ao Benfica. Haverá gente a favor e gente contra, com argumentos certamente respeitáveis. Considerando as diversas alternativas em cima da mesa, não tenho dúvidas que foi concretizada a melhor opção. Bem sei que o treinador se excedeu nos primeiros tempos em que treinou o rival lisboeta e que, para quem tem boa memória, há coisas que, mesmo ditas há anos, custam a engolir, sabendo-se que foi o SLB que verdadeiramente catapultou Jesus para o estrelato. Como bem sei que foi o Benfica que o empurrou para fora do clube, sem qualquer justificação plausível.
De um ponto tenho a certeza: Jorge Jesus que ingressou no SLB em 2009 não é o Jorge Jesus que vai reentrar em 2020. Vai fazê-lo com mais experiência, mais sabedoria global, mais mundividência, mais prestígio, mais capacidade de potenciar jogadores e - the last but not the least - manifestamente com mais poder. Jorge Jesus saberá todos os segredos de fabrico do Benfica. Não precisa sequer de um minuto vestibular. Trata-se de um investimento, cujo custo é elevadíssimo, o que torna o próximo apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões como decisivo, pois que, além do aspecto desportivo, será uma oportunidade para amortizar tão elevado encargo. Que tenha sorte e nos dê sorte, é o meu desejo, numa dupla quase profética de Jesus (Jorge) e Deus (João de)!
Já se ouvem os tambores de milhentas hipóteses de entrada de novos jogadores ou de dispensa de uns outros. Tudo porque, entre outras razões, se tem de admitir sem dificuldade que o plantel que Jorge Jesus encontrou e reabilitou em 2009 era francamente superior ao que herda, formado por um excesso de potenciais bons jogadores vindos da formação e pela exiguidade de atletas maduros e líderes nas diferentes posição-chave.
Uma nota final, para assinalar, com tristeza, a expressão de um sensacionalista e repugnante jornalismo sobre a vida pessoal de Jorge Jesus, pretensamente ligado a este seu regresso à Luz. Mesmo na tabloidização, descer mais baixo já não é possível. Só faltou dizer-se que o SLB estava por detrás dessa fantochada infamente."

Bagão Félix, in A Bola