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quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Curriculum...

"É bem provável que muita gente já se tenha esquecido, incluindo o próprio, mas Manuel José, para além de jogador, foi também treinador do Benfica. Diz-me o zerozero.pt que o algarvio tem no currículo um total de 29 jogos a orientar o Maior do Mundo, com um somatório global de 13 vitórias que nem chegam a metade dos jogos dirigidos. Pior que isto, são as 11 derrotas que nos infligiram no reinado do petulante treinador, sendo 8 delas nos últimos 12 jogos.
Haverá certamente quem diga que o indivíduo que actualmente não perde uma oportunidade para rebaixar o Benfica e todos os que trabalham no futebol profissional d'O Clube, teve azar porque entrou a meio de uma temporada que estava perdida e que tanto esta como a que iniciou posteriormente foram na Idade Medieval do Glorioso. Aceito o argumento para a primeira, recuso para a segunda. Manuel José foi o último treinador antes da hecatombe vale-e-azevediana e teve à disposição reforços que vale a pena recordar: o internacional russo Ovchinnikov, o internacional paraguaio Gamarra (escrevi internacional? Erro meu, queria dizer "craque"), Scott Minto, o internacional holandês Taument acabado de sair de Mundial e Europeu pela Laranja Mecânica, o internacional boliviano Sanchez e Nuno Gomes pedidos expressamente por ele e o internacional brasileiro Paulo Nunes que tinha acabado de vencer a Copa América pela canarinha. Luxo em tempos de torneira pinga-pinga.
Durante os Anos do Terror muitos se puderam queixar da falta de qualidade dos plantéis que tinham em mãos. O Manel, que uns bons anos antes de vir mandar bocas foleiras às participações europeias do Benfica, foi eliminado da Taça UEFA pelo fantástico Bastia de França, será dos que menos pode utilizar tal desculpa. Acrescentando apenas Kandaurov, Karel Poborsky e Brian Deane, um tijolo táctico escocês ficou em 2º lugar no campeonato a 9 pontos da liderança, sendo que destes, 8 foram perdidos em 4 jornadas no consulado de D. Manuel, Rei dos Bancos de Suplentes de Portugal e dos Algarves, com currículo repleto de conquistas... no Egipto."

“O Benfica é uma religião, sim, para os benfiquistas. Era, é e será assim. Há crianças que nascem com a camisola do Benfica”

"Chegou a Portugal para jogar no Benfica, ganhou uma Taça UEFA e uma Champions no FC Porto de Mourinho e ainda voltou ao nosso país (do qual tem muitas saudades) em 2008 para dar uma perninha no Belenenses. Jankauskas é o mais português dos lituanos, que um dia foi criticado por trocar a Luz pelo Dragão com uma declaração religiosa pelo meio, e conhece muito bem os dois lados que esta quinta-feira se vão defrontar no Estádio do Algarve (19h45, RTP1). E mesmo que ache altamente improvável a vitória da Lituânia, onde, diz-nos o próprio, o futebol foi completamente esquecido, deixa um alerta a Portugal: cuidado com as bolas paradas

Olá, Edgaras, ou, devo dizer, o mais português dos lituanos.
Ahahaha, talvez, sim. Um dos poucos, pelo menos. Por acaso, na Lituânia conheço algumas pessoas que estão ligadas a Portugal, por o marido ou a esposa serem portugueses. Fiquei muito ligado a Portugal, tenho muito amor pelo país. Para mim Portugal é uma segunda pátria, posso dizer isso. Tenho muitos amigos aí, muitos contactos. Infelizmente não falo diariamente com eles e depois fico com dificuldades para me lembrar da língua...

Mas falas muito bem português.
Custa-me um pouco, mas estou a tentar!

Como é que vais treinando o português?
O melhor treino que tenho é falar com amigos portugueses e às vezes também consigo ler jornais, leio os desportivos. Mas tenho de fazer mais para me lembrar. Se passar duas ou três horas a falar português a língua volta. Agora estou a aprender francês, de forma intensiva.

Ai sim?
Como já falo português, espanhol, inglês, russo, agora falta-me o francês. Falo umas cinco ou seis línguas. Quer dizer, como vocês dizem aí, desenrasco-me!

Vamos agora para o Portugal - Lituânia. Em Vilnius, a Lituânia ainda conseguiu empatar. Em algum momento acreditaste que era possível uma surpresa?
Bom, as surpresas podem sempre acontecer, mas eu sabia que a 2.ª parte ia ser outra música porque Portugal precisava de pontos e empatar com uma equipa com o nível da Lituânia era como se fosse uma derrota. Por isso, eu sabia que iam aumentar a velocidade e o desempenho. Chegou a um momento em que a Lituânia já não aguentou o ritmo e a capacidade técnica e física de Portugal. 

Estavas dividido nesse jogo?
Sim, um pouco. O futebol é um desporto, para mim não há guerras, quem ganha é o melhor. Não fiquei triste porque é normal, Portugal no futebol é muito melhor. Nós só podemos ganhar a Portugal no basquetebol [risos]! No futebol é impossível. Eu sei que havia gente que acreditava, e eu também acredito, mas... é impossível. Quando tens jogadores como o Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva, é outro mundo. É claro que nós tentámos, demos tudo e acho que até foi um bom jogo da Lituânia, especialmente na 1.ª parte, quando empatámos e estivemos ali uns 10 minutos quase no mesmo nível. Acho que Portugal foi surpreendido e depois no intervalo tirou conclusões e aumentou um pouco a velocidade. Foi aí que quebrou tudo.

E agora neste jogo de quinta-feira, o que te parece que vai acontecer? Portugal está pressionado.
Sim, está. Eu acho que vai ganhar, mas não vai ser fácil, porque nós também sabemos jogar futebol e a Lituânia vai tentar trazer dificuldades para Portugal. Sei que vão lutar por cada bola. Não vai ser fácil e no futebol as surpresas são possíveis. Mas o favorito é claro e qualquer outro resultado que não seja a vitória de Portugal seria uma surpresa para toda a gente.

Em que aspecto é que a Lituânia pode dificultar a vida a Portugal?
Acho que aqui em Vilnius foi o único jogo em que Portugal sofreu um golo de bola parada, porque os jogadores da Lituânia são altos, físicos e têm agressividade. Por isso acho que Portugal tem de estar atento a isso, às bolas paradas. Porque, tirando isso não somos melhores, nem na técnica nem na tática. Mas nas bolas paradas às vezes tudo depende do carácter, da garra, da paixão.

A Lituânia nunca foi uma potência no futebol, mas agora parece estar mesmo numa grande crise de qualidade. Sendo tu um antigo seleccionador nacional, porque é que achas que não há uma evolução no vosso futebol?
Não estamos a fazer o suficiente para que o futebol cresça. Aqui não há condições boas para crescer: não há um campeonato bom, não há nada, nada. Isto não vai mudar e vai por aí abaixo e já há uns oito anos que é assim. Nos meus tempos de jogador tínhamos muitos jogadores nos campeonatos mais fortes e quando me tornei seleccionador tinha de chamar, sei lá, 16 jogadores do campeonato da Lituânia. Nos meus tempos, quanto muito havia um jogador do campeonato local. E isso faz diferença.

O que é que gostarias de fazer mais pelo futebol da Lituânia?
Eu há 10 anos que falo disto e já estou cansado porque aqui nada muda. O nosso futebol precisa de ajuda do governo, precisa de investimento para melhorar as condições para os miúdos. Vocês viram quando jogaram cá como é o nosso Estádio Nacional. Eu tenho vergonha daquilo. Nada a acrescentar mais: isto é uma vergonha. Não somos capazes de construir um estádio. Eu vi com os meus olhos: o Estádio do Dragão foi construído em 10 meses. E nós, que somos independentes há quase 30 anos, ainda não conseguimos construir um estádio. Temos não sei quantas arenas de basquetebol para 15 mil pessoas e não somos capazes de construir um estádio? É como se este país não precisasse de futebol e isso deixa-me envergonhado cada vez que recebemos uma selecção cá. Mas para o governo é normal, não está nada mal. Eu vi como funciona o mundo do futebol, toda a sua organização, e aqui estamos muito longe.

Ainda vais acabar como presidente da federação...
O presidente da federação é meu amigo [risos]! Jogámos juntos. Ele sabe dos problemas, mas não tem poder suficiente para mudar. Quer dizer, aqui já nem chega mudar, é preciso fazer uma revolução. Destruir tudo e construir de novo, é melhor assim.

Para lá do jogo aí na Lituânia, tens acompanhado a qualificação de Portugal?
Sim, sim. Esta campanha talvez não tenha sido tão feliz, porque a Ucrânia já passou e Portugal precisa agora de ganhar, porque a Sérvia está a apenas a um ponto. Mas Portugal tem uma boa seleção, bons jogadores e tem futuro. É uma seleção muito jovem, mas tem futuro, porque há jogadores de grande nível. E quando ainda tens o melhor jogador da Europa, ou do Mundo até, na equipa, isso dá-te mais confiança.

Quando jogaste em Portugal ainda chegaste a apanhar o Cristiano Ronaldo no Sporting?
Sim, quando joguei no FC Porto lembro-me dele fazer um jogo no Dragão, nós ganhámos. Vi-o a começar, sim. Ele e o Quaresma. Nós falávamos muito sobre eles, porque eram duas grandes esperanças.

E vais acompanhando o campeonato português?
Sim, sem dúvida. Já disse antes, mas Portugal para mim, pá... eu tenho saudades da comida, das cidades, das pessoas, do clima. E tenho muitos amigos e sempre que volto aí, mesmo no estádio do Benfica, sou bem recebido.

Ainda te chateiam por teres saído do Benfica para o FC Porto? E por teres dito que o Benfica era uma religião?
Bem, essas palavras foram um bocado torcidas porque eu disse que o Benfica era uma religião para os benfiquistas. E era assim, é assim e vai ser assim. Há crianças que nascem com a camisola do Benfica! É claro que quando sais do Benfica para o FC Porto muita gente te trata como um traidor e na altura fui tratado mal, fui assobiado, mas é normal. Ser assobiado por 60 mil pessoas não dá prazer a ninguém, nem ouvires certas palavras na rua, mas não estou zangado com ninguém [risos]! O que passou, passou. Quando estive a última vez no Estádio da Luz ninguém me insultou, porque, pá, a gente sabe que isto é futebol. Eu acabei o empréstimo com o Benfica e eles não activaram a opção de compra, até porque o Benfica na altura não era o que é hoje em dia. Estava em transição, não era tão bem estruturado como hoje, um antigo presidente [Vale e Azevedo] até tinha ido para a prisão. Agora é outra coisa, mas na altura o FC Porto era muito mais bem organizado.

O certo é que apanhas se calhar a melhor fase de sempre do FC Porto.
Sim, é provável que sim. Surpreendemos toda a gente. A equipa era recém-construída, com um novo treinador e muitos jogadores sem nome. Não tínhamos nenhuma estrela mundial tirando o Deco, talvez. Ninguém conhecia a equipa e no primeiro ano ganhámos campeonato, Taça UEFA, Taça de Portugal.

E Mourinho, era um treinador diferente?
Sim, era jovem, era humilde, estava muito perto de nós e nunca sentimos que fosse arrogante. Ele não era só o nosso treinador, era também um grande amigo. E essa relação deu frutos, porque nós tínhamos confiança nele, ele dava-nos muita confiança.

Fazes parte das equipas que ganham a Taça UEFA e Champions, mas acabas por falhar as duas finais, primeiro por lesão, depois por opção. Sentes alguma frustração por isso?
É claro que eu queria jogar, mas sempre fui um jogador do colectivo. Só por ganharmos as taças já me sentia feliz. Eu queria jogar, mas o que é que podia fazer? Não podia entrar em campo, tirar o Benni [McCarthy] ou dizer ao José [Mourinho] 'olha, deixa-me entrar'. Infelizmente só onze ou 14 no final do jogo é que podem jogar. Mas eu tentava sempre: não importava se jogava 30 minutos, se jogava cinco minutos, eu tentava sempre qualquer coisa positiva. Ainda conseguia criar uma oportunidade ou até marcar um golo. Dava sempre o máximo e é por isso que sempre tive uma boa relação com adeptos e treinadores. Nenhum dos meus treinadores se queixou do meu empenho, do meu trabalho nos treinos ou comportamento fora de campo. Sempre fui um jogador do colectivo.

Em 2003/04 ainda te cruzaste por alguns meses com o Sérgio Conceição. Tens acompanhado o trabalho dele no FC Porto?
Sim, sentávamos-nos sempre perto um do outro até. Lembro-me bem do Sérgio. Chegou como uma figura, porque tinha tido uma excelente carreira em Itália. Esse ano não foi o melhor da carreira dele, mas acrescentou à equipa. Como treinador, a personalidade dele vê-se na equipa. Ele sempre foi assim, um jogador com muita paixão.

Quando Portugal jogou na Lituânia disseste que o FC Porto era candidato a vencer a Liga Europa. Um par de meses depois, as coisas não estão a correr assim tão bem. Ainda acreditas nesse cenário? 
O FC Porto joga sempre para ganhar. Já o disse muitas vezes, é um clube que foi construído para ganhar. Lembro-me bem de quando o Pinto da Costa entrava no balneário no início da época e dizia que era para ganhar tudo, só falava de vitórias. Nem sempre as coisas saem como queremos, mas sei que o FC Porto vai lutar até onde for possível."

Cérebro e corpo

"Voltou o mito físico. As equipas portuguesas não ganham na Europa? Há um problema de intensidade. Os jogadores mais criativos não garantem vitórias em todos os jogos? Troque-se por robustos, para ganhar duelos. E é ver tantos dos narradores televisivos - até dos muito bons que têm surgido – a sublinhar com entusiasmo e a cada transmissão o “andamento” de uma equipa ou a “potência” de um jogador, como se algum dia Matuidi pudesse valer mais que Pjanic. Leio até que é necessária uma “revolução física” em Portugal e espanto-me, tão longe já estamos do tempo em que o futebol se trabalhava por fatias e como se não fosse verdade o que nos ensina Damásio, que “cérebro e corpo são ingredientes da mesma sopa”. Num certo tempo era a estatura, que os futebolistas cá do rectângulo olhavam alemães e ingleses como se do Gulliver se tratasse. Já não sucede. Depois era a preparação física, com métodos importados que faziam correr mais. Já não há segredos a esse nível e se há coisa que os portugueses exportam é precisamente o saber do treino. Um dos problemas estará mesmo aí, que os melhores treinadores portugueses trabalham quase todos fora do país e a elite, seja qual for a actividade, não passa de uma primeira camada. E sim, há a questão orçamental, que impede maior equilíbrio na Liga, somada a vícios antigos - algum anti-jogo próprio dos latinos ou os concertos de apito próprios dos nossos árbitros - que levam a um tempo útil de jogo que envergonha. Se o problema fosse só de “andamento”, como poderia o Braga ganhar no campo do Wolverhampton ou o Vitória de Guimarães olhar nos olhos o Arsenal e por duas vezes? A questão é bem mais de qualidade que de intensidade.
Para começar, nenhum dos chamados grandes tem sido garantia de espectáculos interessantes. O Benfica foi dominador e rigoroso defensivamente nos Açores? Globalmente sim, como tem sido por regra, no tal registo defensivo que é um paradoxo, quase uma charada: tem uma das melhores defesas da Europa porque não sofre golos em Portugal, mesmo se sofre sempre golos quando joga na Europa. Confuso o suficiente, de facto. Falta intensidade, dizem uns quantos. Acontece que a diferença individual do ano passado para o momento actual tem essencialmente três nomes - Félix, Rafa e (ainda um pouco de) Jonas - e nenhum deles é o protótipo do monstro físico. O FC Porto no Bessa foi intenso e combativo? Foi, como é também quase sempre, mas, nesse como noutros jogos, com futebol mais seguro que formoso, mais competente que criativo, mais rigoroso que inspirador. E não é seguramente por falta de jogadores potentes ou rápidos que a qualidade de jogo portista não tem sido melhor. Aliás, é ver como um jogador do perfil de Nakajima, como de Óliver antes, tenta ir ao encontro de uma ideia de jogo que claramente não caminha ao encontro dele. E o pouco que joga o Sporting não pode ser creditado à fragilidade morfológica de Eduardo e Doumbia nem à falta de robustez dos seus centrais e laterais. Pelo contrário, o melhor que apresenta garante-se na leveza com que a bola circula pelos pés de Bruno Fernandes e Vietto, sendo que nenhum chega a 1,80m, nem provocam juntos qualquer sobrecarga num elevador.
Enquanto isso, talentos óbvios mas sem “arcaboiço” - e esta palavra antiga do futebol ilustra uma certa visão arcaica - como Daniel Bragança, Tiago Dantas ou Fábio Vieira (Vítor Ferreira também serve), esperam que alguém repare definitivamente que lhe sobra em cérebro o que falta no corpo. Outros há que tiveram de esperar menos, em qualquer dos ditos grandes, meteoros que a robustez fez subir depressa mas descer rápido também, pouco depois. O que está a faltar ao campeonato português não se mede em quilos e centímetros. Aliás, simplesmente não se mede, que qualidade será sempre diferente de quantidade. 

Nota colectiva: O Liverpool é talvez a melhor equipa de que me recordo em situações de contra-ataque. Na sombra dos fabulosos Salah e Mané e do coriáceo Van Dijk, a tendência é normalizar os demais. Acontece que também entre os “potentes” reinam os “inteligentes”: há dois laterais de qualidade mas Alexander-Arnold é mesmo extraordinário, porventura o melhor do mundo hoje; e num meio campo que parece de cromos repetidos sobressai uma raridade chamada Wijnaldum, à vez médio defensivo ou ofensivo, a jogar por dentro ou por fora, segundo avançado ou falso 9, o melhor actor secundário que existe num relvado.

Nota individual: Paulo Dybala independentemente do desagrado de Ronaldo, e da dificuldade em conjugá-los que Sarri honestamente assume, ver de novo o melhor Dybala é uma grande notícia para o futebol. Ele faz num palmo o que a tantos custa fazer em metros. E a facilidade com que passa bolas à baliza define os eleitos. Tem Golo? Não, tem muito mais que isso. Tem um talento incrível, também a finalizar."

Jornalismo ‘‘desportivo’’

"O Jornalismo é uma actividade muito importante, com um papel social relevante, em Democracia, porque exige Rigor, Verdade, Independência, Ética

Sempre pensámos que o Curso de Comunicação Social devia ter, obviamente, uma “especialização” para aqueles Licenciados que vão trabalhar nas redacções de jornais, ou mesmo na “TV”, no sector das actividades desportivas, enquanto que para aqueles que optam pelo sector a que alguns chamam “Desporto”, deviam ter , não uma especialização, mas sim uma formação sólida, alargada e profundamente enraizada, no fenómeno da Pedagogia Educativa através do Movimento com a Análise Sociológica do Fenómeno Desportivo, que o explica e divide em dois sectores distintos: o primeiro é o Desporto Educação(Escola) e o Desporto Federado Amador, o segundo sector é o Desporto Profissional, que por ser 100% espectáculo público, remunerado, ou seja, é o ganha-pão desses profissionais, deve depender da Inspecção Dos Espectáculos, e não do Ministério da Educação.
Vem isto a propósito de um “sonho” que tivemos, no “Ano Novo”: tínhamos sido convidados para “ajudar” a “Escola de Jornalismo Desportivo” ( que ainda não existe), a pensar adequadamente sobre esta temática, sobre tudo, no tocante a uma Terminologia, apoiada numa Metodologia Própria e Especializada, de modo a não desinformar quer os leitores de jornais, quer os espectadores, dos vários canais de “TV”, como o fazem, quando chamam Desporto ao “Futebol Profissional”.
Ficámos contentes porque, finalmente, ao fim de uma luta de 60 Anos, Portugal estaria alinhado com os Países “civilizados”. Afinal era apenas um “sonho”...!
Aprendemos, desde muito cedo a respeitar a terminologia e o valor das palavras, e, acima de tudo, o seu significado correcto, já que qualquer confusão de terminologia pode custar a vida a muitas pessoas.
Temos para nós que o Jornalismo é uma actividade muito importante, com um papel social relevante, em Democracia, porque exige Rigor, Verdade, Independência, Ética, Princípios e uma enorme Deontologia Profissional.
Compreendemos que em Portugal, será mais difícil conservar este “registo”, já que, hoje, está “conotado” como um dos Países mais Corruptos na Escala Mundial. Por isso mesmo, pensamos, que era urgente alterar a Formação dos Jornalistas .
Seria oportuno que órgãos oficiais, de comunicação, controlados pelo Governo, não desinformassem a população, e, sobre tudo, não a induzissem num erro crasso que é chamar “Desporto” ao Espectáculo Desportivo Profissional do Futebol, que é hoje uma Indústria.
É evidente que devia ser o Ministério da Educação a liderar este processo, para já não referir, a demissão absoluta, neste aspecto, (como em outros), da Secretaria de Estado do Desporto, que se sente confortável com o Futebol Profissional, na sua tutela.
A título de curiosidade lembramos que a “Universidade Moderna” chegou a leccionar uma disciplina de opção de “Análise Sociológica do Desporto”, durante sete anos, ao curso de “Investigação Social Aplicada, aonde eram debatidas todas estas questões que, Continuam Por Resolver, e que o Poder Político ignora.
E já lá vão trinta anos ...! ."

A grande mentira de Ronaldo

"O mundo seria um sítio muito mais recomendável se as pessoas tivessem um coração bom e uma cabeça viva. Infelizmente não têm nem um nem outra.
As pessoas têm maus sentimentos. Angústias. Inseguranças. Invejas e ganâncias. Ciúmes.
Adoram cometer embustes, praticar fraudes e dizer falsidades. As pessoas são naturalmente impostoras, intrujonas e caluniosas. Basta olhar para as coisas que um ser humano é capaz de escrever no recato do anonimato concedido por um perfil falso e um teclado do computador. 
Verdadeiras injúrias.
As piores declarações são as clandestinas. Declarações que não comprometem quem as faz, que se baseiam em provas incapazes de serem apresentadas em tribunal e que fazem corar as testemunhas. 
Nos últimos tempos, por exemplo, tornou-se comum dizer que o talento de Cristiano Ronaldo foi trabalhado no ginásio. Um pouco para confrontar o jogo mais físico do português com o jogo mais artístico de Lionel Messi. Que se diz, em oposição, ter sido trabalhado nas ruas.
Ou seja, Ronaldo é fruto do trabalho obstinado e Messi é fruto do talento inato, diz-se por aí.
Ora em três palavras, que são o ponto onde eu queria chegar desde o início, nada mais falso.
Falso, falso, falso.
É verdadeiramente impossível um ginásio, por muito bom que seja, fabricar um jogador como Cristiano Ronaldo. Pode eventualmente potenciar certas capacidades. Mas não as cria.
O que Ronaldo faz num relvado de futebol é em noventa por cento talento. A velocidade que atinge é inata, a relação com o espaço é inata, a capacidade de finalizar em espaços curtos é inata.
Pode em tudo isso haver uma pequena percentagem que tenha sido intensificada pela dedicação do português ao trabalho, mas é apenas isso: uma pequena percentagem.
Tudo o resto é naturalmente o resultado de um homem que nasceu para jogar futebol: um homem com um talento especial para se relacionar com a bola, com o bailado próprio do futebol e com a técnica delicada, elegante e cortês da finalização.
A carreira de Ronaldo está cheia de instantes de pura classe, golos do mais fino recorte técnico. Estou a lembrar-me, por exemplo, do golo da época passada ao Manchester United: um tratado de velocidade, percepção do tempo e talento de finalização. Um golaço num remate de primeira.
E isso, meus caros, nenhum de nós seria capaz de adquirir nem que passasse uma eternidade no ginásio. Nem sequer se vivesse entre o relvado mais bonito e o melhor ginásio do mundo.
Mas lá está, no anonimato de um ecrã as pessoas são capazes de dizer as maiores barbaridades. Sobretudo quando são movidas a inveja e ciúme.
O talento de Ronaldo não nasceu em nenhum outro lado que não a barriga da Dona Dolores. Por isso não me venham com mentiras: com enormes e muito gordas mentiras."

Cristiano Ronaldo sim, mister: qual é o problema?

"A propósito da irritação de Fernando Santos

Fernando Santos irritou-se com as perguntas sobre Cristiano Ronaldo.
O seleccionador começou a mostrar algum desconforto com o tema logo na primeira pergunta, quando o nome do capitão foi mencionado. Ouviu o resto da questão, sim, mas não evitou um sorriso irónico, acompanhado por um abanar da cabeça em sinal de reprovação.
Pouco depois, quando um jornalista espanhol insistiu, Fernando Santos interrompeu-o para dizer que não falava mais de Ronaldo. E até desafiou o repórter a fazer uma pergunta sobre o jogo.
Esta irritação do seleccionador é de todo incompreensível. Ou antes, só há uma explicação possível: um enorme mal-estar em relação à possibilidade de ferir alguma qualquer susceptibilidade.
Seja como for, não chega. É demasiado curto.
O mito em torno de Cristiano Ronaldo, vale a pena recordá-lo, tem sido em grande parte alimentado pelo seleccionador e pela própria Federação. Porque lhes dá jeito. Dá-lhes naturalmente jeito ter um o jogador mais mediático do mundo e arrecadar muito dividendos (e largos milhões de euros) com os contratos de publicidade, patrocínio e jogos particulares que isso significa.
Foi aliás o próprio Fernando Santos que repetiu vezes sem conta que Ronaldo é o melhor jogador do mundo e que é o único atleta da selecção com lugar garantido no onze.
A partir daí não pode irritar-se tão facilmente.
Não pode, no fundo, usar a bandeira que é Ronaldo quando lhe dá jeito e defender que o capitão é um jogador exactamente igual aos outros quando já não lhe dá jeito que seja de outra forma.
Numa altura em que, pela primeira vez, um treinador olha para Cristiano como um jogador que pode não jogar sempre os noventa minutos, tirando-o de campo com o jogo a decorrer, é natural que haja uma curiosidade dos jornalistas em explorar esse facto. Que é completamente novo.
Mas disso a imprensa não tem culpa. Nem disso nem do facto de Fernando Santos ter receio de entrar em confronto com Maurizio Sarri ou com Ronaldo. Os jornalistas só fazem o trabalho deles: exactamente na mesma dimensão em que o fizeram nos milhares de vezes que elogiaram Cristiano. 
Por isso aquela irritação do seleccionador só lhe fica mal. A impressão que deu é que é mais fácil para Fernando Santos entrar em confronto com um jornalista: é mais fácil para ele entrar em confronto com o elo mais fraco, portanto.
Saiu muito mal na fotografia."

Liverpool-Manchester City

"1 – Assisti ao jogo Liverpool–Manchester City, mesmo pela televisão é um must e vale a pena. A rivalidade outrora José Mourinho/ Pep Guardiola, actualmente é Jürgen Klopp/ Pep Guardiola.
Quem gosta de futebol não perde um confronto destes e com um recorde de audiência em todo o Mundo. Como adepto é difícil ver uma partida de futebol que ofereça mais, estava em jogo a possibilidade de marcar terreno para vencer o campeonato inglês. O Manchester City atrasou-se, de novo, mas no futebol inglês, nove ponto de atraso é significativo, mas não é irresolúvel.
Klopp levou a melhor e na 1.ª parte arrumou com o jogo com dois golos seguidos que deixou atordoado o Manchester City. Claudio Bravo não merecia sofrer logo dois golos, um fantástico guarda-redes, especialista em parar penáltis, mas quis o destino teve que substituir Ederson, logo num jogo de altíssima intensiva e risco.
A profecia de Mourinho mantém-se ao terceiro ano é difícil como treinador manter o nível de resultados e exigência. O Manchester City é bicampeão em Inglaterra, só lhe falta vencer uma Champions.
2 – Depois descansei um pouco e próximo das 20h vi o Juventus -Milan. O Milan vem pode chamar Ibrahimovich para dar uma sacudidela num clube triste, cinzento e sem chama. A Juventus não anda melhor a arrasta-se com um jogo muito lateralizado e sem profundidade à espera de Ronaldo, que segundo Sarri joga condicionado. A jogar assim a Juventus pode vencer a nível interno, mas na Champions não vai longe.
O que se passou com Ronaldo na Juventus ainda não está claro. Sarri alega mazelas de Ronaldo, mas Ronaldo joga pela selecção sem limitações. Allegri é um treinador que procurou adaptar a equipa à forma de jogar de Ronaldo. Sarri gosta de inventar e de impor. Ronaldo na sua idade e com o seu estatuto só deve jogar onde se sinta bem.
3 – A espaços vi o Boavista-Porto e depois da festa da mulher do Uribe, em sua casa, o Porto deu uma resposta cabal e venceu. Um jogador fazer uma festa em sua casa até às 24h não vem mal nenhum ao mundo! Um jogador é um ser humano que aprecia afecto e carinho, tem sentimentos e emoções. Os regulamentos são para se cumprir, os jogadores têm obrigações, mas também, têm direitos. O Sérgio Conceição, por vezes, tem comportamentos reprováveis e inadmissíveis, também deveria ser chamado à razão. O Porto já não é o que era, mas Pinto da Costa ainda não precisa que lhe digam o que se deve fazer.
O Porto castigou os jogadores, como exemplo, mas agora deve integrá-los no plantel que é reduzido e estão a fazer falta.
Há muitos treinadores que na sua forma de controlar os jogadores, o faziam sem excesso de severidade dando alguma autonomia responsável, no passado Pedroto, actualmente, Ancelloti com muito bons resultados."

O trinta-e-um do líder autocrático

"Para além da experiência e do conhecimento, todo e qualquer gestor tem um estilo de liderança que será sempre marcado pela sua personalidade, a sua instrução e a sua cultura num amplo espectro ético-moral de soluções entre:
(1º) Um estilo de liderança democrático caracterizada por uma gestão partilhada, pessoalizada na partilha do poder, promotora de transparência, de envolvimento e de uma cultura de competência e progresso. Regra geral, gera sucesso pessoal e desenvolvimento social;
(2º) Um estilo de liderança autocrática caracterizada por uma gestão tirânica, pessoalizada no quero, posso e mando, promotora de opacidade, de autoritarismo e de uma cultura de amiguismo e corrupção. Eventualmente, pode gerar sucesso pessoal à custa de subdesenvolvimento social.
A partir do exemplo de Pierre de Coubertin, que imbuiu no Movimento Olímpico (MO) internacional de um espírito democrático, a generalidade das organizações desportivas, sobretudo durante os primeiros três quarteis do século passado, funcionavam numa lógica missionária em que os praticantes, os técnicos e os dirigentes, por vezes assumindo duas ou, até, as três funções, num ambiente hierárquico, corporativo e democrático, dedicavam-se à causa desportiva exclusivamente por amor ao desporto.
Entretanto, a partir dos Jogos Olímpicos de Roma (1960), o dinheiro começou a aparecer, em quantidades cada vez maiores, por via das transmissões televisivas que escancararam as portas aos patrocínios desportivos. Posteriormente, a compressão espácio-temporal provocada pelas novas tecnologias da informação e comunicação, bem como o extraordinário progresso das vias de comunicação, proporcionou ao mundo do desporto fluxos monetários até então inimagináveis. E, Antonio Samaranch, o catalão franquista presidente do Comité Olímpico Internacional (COI) (de 1980 a 2001), perante a facilidade com que volumes inimagináveis de dinheiro, das mais variadas proveniências, estava a chegar ao COI, proclamou a metáfora “yes to commercialization” que havia de, definitivamente, institucionalizar no desporto uma cultura de negócios, em muitas circunstâncias, de características ético-morais mais do que duvidosas. Quando se altera a lógica económica de uma dada actividade, altera-se a essência da sua própria natureza, bem como a natureza daqueles que a administram. Por isso, bem vistas as coisas, o que Samaranch, com o seu “yes to commercialization”, fez foi matar o espírito de Coubertin desencadeando a mudança de paradigma de um MO gerido de acordo com a lógica pedagógica e humanista de uma economia social, para um MO gerido na lógica comercial e racional de uma economia dos negócios. Ao fazê-lo, abriu o MO a uma dinâmica neomercantilista que, com diferentes consequências, passou a presidir ao desenvolvimento do desporto ao serviço da geoestratégia económica dos países. Por exemplo, hoje, Cristiano Ronaldo é importante não porque, eventualmente, possa ser um exemplo de comportamento desportivo e social para os jovens portugueses. Ele é importante porque faz Portugal ser conhecido lá fora, o que facilita a vida aos empresários, anima e diverte as relações dos políticos e, até, permite ao Presidente da República referir-se ao futebolista a fim de explicar a existência de Portugal a Donald Trump.
O problema é que, se o poder é afrodisíaco, o poder com dinheiro fácil e a rodos, quer directa, quer indirectamente, proveniente dos bolsos dos contribuintes, é muito mais. E, tomando a nuvem por Juno, acometidos por uma esquizofrénica tentação totalitária de concentração de poder e dinheiro, muitos dirigentes, confundindo aquilo que foi a obra-prima do mestre que foi Coubertin com a prima do mestre-de-obras, começaram a gerir as organizações de que eram responsáveis como autênticos oligarcas sem sentirem necessidade de darem satisfações a ninguém. Em consequência, o mundo do desporto assistiu à passagem de um tradicional estilo de liderança sadio e democrático legado por Coubertin, para um estilo autocrático e doentio que, por incompetência das autoridades políticas, está a transmutar o desporto, dos valores do estádio grego, para a selvageria do circo romano. Tratou-se da passagem do lado transparente da gestão para o lado negro da mesma. Max Weber, no livro Ensaios de Sociologia, de uma forma simples, clara e breve descreveu a referida passagem da seguinte maneira: “Em democracia as pessoas escolhem um líder em que confiam. Depois, o líder escolhido diz ‘calem-se e obedeçam-me’ e, a partir daí, as pessoas deixam de ter liberdade para intervir nos assuntos que lhes dizem respeito”. Ora, perante o apelo do poder do dinheiro e de todas as mordomias que dele decorrem em sistemas sem mecanismos de monitoragem e controlo credíveis, muitos dirigentes desportivos, sem qualquer pudor e perante a abulia do poder político, passaram a gerir as organizações como se fossem donos delas. Muitas vezes, são os próprios estatutos a criar as condições para que o surgimento de um Salto Autocrático possa acontecer, assim que o líder se aborreça com um qualquer constrangimento inerente ao processo de gestão democrática em curso. Então, a gestão deixa de ser um instrumento de organização, planeamento, controlo e progresso e passa a ser um instrumento de exercício e consolidação de um poder de características absolutistas. E, assim, surge o dirigente autocrático no seu máximo esplendor. Infelizmente, hoje, o desporto, nos mais diversos países do mundo e nas mais variadas organizações nacionais e internacionais, está transformado num espaço onde prima a mais completa ausência de democracia uma vez que, muitos dos dirigentes, depois de serem eleitos através de processos de democraticidade, pelo menos, questionável, por motivos de uma profunda incultura e carência de educação democrática, deslumbrados com o poder e o dinheiro disponível, passam a exercer as suas funções impondo as suas ideias, forçando as suas decisões e obrigando ao cumprimento dos procedimentos que mais lhes interessam para a eficácia do exercício do seu poder. E, assim, a liderança desenvolvimentista, de características democráticas promotora de esperança e de futuro legada por Coubertin, deu origem a uma liderança oportunista, instrumentalista, de inútil burocracia, de desilusão e sem quaisquer perspectivas de futuro.
Ora bem, não existe ninguém mais pernicioso para o normal desenvolvimento de uma instituição do que a existência de um líder que, carente de valores democráticos, desejoso de mando absoluto e autoconvencido de uma importância que não tem, depois de desencadear um Salto Autocrático, passa a considerar-se portador de um Desígnio Providencial ao qual, do Presidente da República ao mais simples cidadão, todos têm de se sujeitar. Eles presentam as seguintes características:
1. Vivem subjugados por um fanatismo psicótico de mando. Por isso, vão mudando o seu posicionamento de acordo com o lado de onde sopra o vento construindo a realidade à medida dos seus próprios interesses;
2. Exercem um controlo esquizofrénico sobre a informação instituindo um silêncio sepulcral na organização que chefiam;
3. Afirmam a sua incontida vaidade através de uma pseudo visão estratégica que arvoram em desígnio nacional;
4. Determinam o desígnio nacional (solução final) enquanto pensamento único do rebanho que pretendem apascentar;
5. Arrebanham aqueles que lideram construindo um Círculo de Mediocridade que lhes permite perpetuarem-se agarrado ao poder;
6. Negam-se a aceitar as críticas como um desafio a fim de melhorarem os seus próprios procedimentos;
7. Recusam o confronto com aqueles que consideram inimigos pois temem a comparação directa de ideias, de conhecimentos e de projectos;
8. Negam-se a entrar num sadio confronto de ideias a menos que estejam num ambiente que lhe garanta um estatuto de superior vantagem competitiva;
9. Vivem obcecado pelo facto de o seu brilho poder ser ofuscado por aqueles que lhe estão próximos; 
10. Limitam-se a uma gestão por impulsos no domínio da logística, em alternativa aos riscos de um projeto de desenvolvimento a partir das pessoas;
11. Defendem a liberdade de expressão desde que as opiniões não os incomodem, não os perturbem, não os prejudiquem nem agitem a zona de conforto em que vivem instalados;
12. Desencadeiam violência sobre aqueles que imaginam poderem empardecê-los;
13. Processam uma estratégia persecutória sobre aqueles que ousam questionar a sua vontade, as suas decisões e as suas acções;
14. Servem-se da assimetria do poder de que usufruem para, covardemente, sem qualquer emoção e com a máxima frieza, anular aqueles que consideram inimigos;
15. Utilizam o seu poder institucional a fim de perseguirem e prejudicarem os que os criticam; 
16. Transformam os críticos numa espécie de Josef K. que, um dia, ao acordar, deu por si acusado de crimes sem substância, sem verdade, sem lógica, sem nexo e sem humanidade;
17. Declaram as críticas que, relativamente à sua gestão, lhes fazem, em graves ofensas institucionais;
18. Servem-se dos Tribunais como se, no século XXI, os Tribunais fossem os sucedâneos das câmaras de tortura da idade média;
19. Movem-se por simples maldade: Na sua ânsia de desforra, acabam por atingir as próprias famílias de quem se atrevem a criticá-los;
20. Afastam todos aqueles que se atrevem a expressar qualquer sugestão com criatividade e competência;
21. Armam-se em vítimas utilizando os argumentos daqueles que os criticam acusando-os de lhes estarem a fazer o mal que eles próprio exercem sobre terceiros;
22. Escondem a sua incompetência na sombra do prestígio da instituição que chefiam;
23. Utilizam um estilo fascistoide adquirido nos manuais de iniciação dos grandes homens da política mundial como foi, por exemplo, Mao Tsé-tung;
24. Descomprometem-se de qualquer causa a não ser a deles próprios. Não tomam partido, não se aventuram em causas alheias;
25. Alimentam uma corte de seguidores à custa do dinheiro dos contribuintes;
26. Despromovem o desenvolvimento dos recursos humanos da instituição limitando-se a convidar inúteis entidades da socialite a fim de lhes abrilhantarem o ego nas conferências públicas que proferem;
27. Apostam em temas fraturantes com o objectivo de desviar a atenção dos verdadeiros problemas que afectam o desporto;
28. Ignoram que o seu sucesso só é verdadeiramente conseguido se for sustentado no sucesso daqueles que lideram;
29. Entendem que o exercício do temor é o seu melhor instrumento de liderança;
30. Atiçam, contra os que consideram inimigos, autênticos “rottweilers” que o defenderão enquanto forem bem alimentados;
31. Demonstram uma superior habilidade na arte de iludir os basbaques.
Cuidem-se, pois, os ingénuos porque aquele que sempre viveu dos enganos acabará sempre por encontrar quem queira deixar-se enganar. Mas atenção, o líder autocrata tem a mentalidade de um escorpião. O tal escorpião que pediu a uma inocente e ingénua rã para o transportar para o outro lado do rio. Depois, no final da viagem, quando já se sentia seguro na outra margem, não resistiu à sua maldosa natureza e ferrou a rã. Conta a estória que a última rã a ser ferroada se chamava..."

Valores Olímpicos

"O Sport Lisboa e Benfica é ecléctico desde os primeiros anos de fundação. Praticar o lema olímpico — mais rápido, mais alto, mais forte — é, também, inerente à visão de um Clube que há muito potencia o talento na alta competição.
"O apuramento Olímpico começou no ano passado. Vão as 18 melhores do mundo e eu estou entre as 14 primeiras. Mas o meu objectivo é ser cabeça de série e, para isso, tenho de estar entre as oito primeiras." Estas afirmações têm poucos dias e são de Telma Monteiro, maior valor olímpico da actualidade, única medalha portuguesa no Rio'2016. A judoca benfiquista é, hoje, referência entre as principais "modalidades individuais" que se praticam na Luz. Mas não a única. Fernando Pimenta e Pedro Pichardo estarão igualmente entre o rol de grandes atletas em quem, dentro de oito meses, os portugueses depositam boa parte das maiores esperanças na conquista de medalhas.
À margem do anúncio de um acordo de parceria com a Kelly Services, que se destaca na gestão de Recursos Humanos e que está ligada ao Benfica há vários anos, a ambição renovada da judoca mereceu destaque natural na comunicação social e o próprio director geral da empresa justificou que o aspecto que mais valoriza é o impacto social que os melhores atletas têm no mercado de trabalho. 
As empresas buscam, em várias ocasiões, nos grandes valores do desporto nacional o melhor que querem mostrar aos colaboradores, por isso os convidam para palestras e acções de formação. Quando alcançam o topo a nível competitivo e mediático nos Jogos Olímpicos, aqueles que honram a camisola do SL Benfica são já expoentes de resiliência, trabalho e motivação para a nação, após anos de esforço e investimento nas suas capacidades atléticas.
Telma Monteiro quer regressar às oito melhores. Fernando Pimenta já experimentou a pista olímpica em que, na canoagem, competirá no Japão, como é seu timbre, a lutar pelos lugares do pódio. No triplo salto, Pedro Pichardo promete estar, já em março, na plenitude das capacidades no Campeonato do Mundo de Pista Coberta, evento que marca o arranque da nova temporada que naturalmente terá ponto alto nos Jogos.
Com estes e outros nomes do Judo, da Canoagem, do Atletismo, do Triatlo, da Natação, etc., o Benfica estará também fortemente "representado" em Tóquio 2020. Acreditamos firmemente, e com orgulho benfiquista, no trabalho destes atletas e com eles caminhamos dia-a-dia e não apenas de quatro em quatro anos.

P.S.: A Golden League é a Liga dos Campeões do Judo. É já neste sábado, dia 16, em Odivelas, que o SL Benfica participa pela primeira vez com uma equipa e com a ambição bem elevada. O Clube está 100% com o convite expressado por Telma Monteiro: "É um grande orgulho e motivação competir pelo nosso Benfica... Há uns anos era eu sozinha no judo. Entretanto, fomos construindo uma equipa e um projecto sólido: temos duas atletas de elite mundial, que são a Rochele Nunes e a Bárbara Timo, e vamos contar ainda com a italiana Odette Giuffrida, vice-campeã Olímpica, e com a holandesa Jull Fransen. Venham apoiar-nos: sábado queremos encher de benfiquistas o Multiusos de Odivelas!”

Lanças... Ferreira, Antunes & Abreu Rocha

Benfiquismo (MCCCLIII)

Esta foi nossa...

Sete...

Benfica 7 - 0 Leões de Porto Salvo

Jogo com pouca história, com o Benfica a não dar hipóteses...

No Sábado temos jogo em Viseu... o ano passado ganhámos mesmo no fim!!!

Derrota na Holanda...

Leiden 84 - 68 Benfica
15-18, 21-14, 26-19, 22-17

Sem o Micah, sem o Hollis (sem o Barroso), com o Murry a fazer somente 17 minutos, com o McGhee a fazer cerca de 6 minutos, o resultado acaba por ser expectável... Mesmo assim, com um bocadinho mais de acerto até podíamos ter discutido o resultado...

Para a qualificação, só temos que ganhar mais um jogo, mas não é a mesma coisa ficar em 1.º ou ficar em 2.º, pois os adversários na próxima fase serão diferentes...

Já borbulhava o ovo da serpente

"Primeiro atleta do Benfica a disputar uma maratona olímpica, Manuel Dias esteve em Berlim, em 1936, nos Jogos que Hitler declarou abertos erguendo o braço na infame saudação nazi. E chegou a andar no comando da prova.

Um espanto! A tocha olímpica viera de Atenas. A pé! De Atenas até Berlim. Adolf Hitler declarava abertos os Jogos Olímpicos de 1936. O grande canalha fizera a saudação nazi, e, precisamente às 17h30, o portador do facho entrou no estádio monumental.
Havia por entre o público gente incrédula.
E comentava-se a forma como os representantes ingleses tinham passado pela tribuna de honra agitando chapéus de palha, evitando o gesto infame.
Portugal vinha entre a Polónia e a Roménia. 31 atletas, comandados pelo esgrimista João Sasseti. Entre eles, Manuel Dias, do Benfica,  homem da maratona.
É dele que quero falar.
O presidente do Comité Organizador, o dr. Lewald, estava orgulhoso: 'Este portador da chama olímpica é o último de mais de três mil jovens de sete nações que, na maior corrida de estafetas que o mundo já viu, percorreram milhares de quilómetros desde o altar do templo de Zeus, em Olímpia, através de toda a Helada, da Bulgária, da Jugoslávia, da Hungria, da Áustria, da Checoslováquia e da Alemanha, por montanhas e ravinas, por entradas duras e negras, por vezes poeirentas ou alagadas pelas chuvas, e ligaram com o espiritual laço de fogo o santuário grego fundado há quase quatro mil anos e a nossa pátria alemã'.
Ah! Mal sabia a Europa o que o esperava.
Não faltaria muito para que esse percurso se pudesse fazer por inteiro nas fronteiras do III Reich, aquele que fora erguido para durar mil anos.
Não. Não durou!

Na frente enquanto pôde!
No dia 9 de Agosto, às três horas da tarde, cinquenta e seis homens, assim por extenso, partiram para a prova mais violenta dos Jogos: a maratona. Ainda estava muito longe a hora de as mulheres poderem imitá-los.
No Estádio Olímpico, havia 100 mil pessoas à espera dois heróis.
Manuel Dias lançou-se para a frente com uma vontade férrea.
'O grande campeão argentino, Zabala, tomou a dianteira destacando-se dos outros. Só Manuel Dias, pletórico de energia, conseguiu suportar um andamento tão rápido e, aos cinco quilómetros, encontrava-se em segundo lugar', escreveu um dos cronistas da época.
Vale a pena chafurdar em jornais antigos para recuperar a história das grandes personagens do desporto português e mundial.
Manuel Dias foi um deles. Não tenham dúvidas.
Zabala teve receio do corredor do Benfica. Assumiu esse receio apertando o ritmo da passada.
Aos oito quilómetros, Manuel Dias tinha um atraso de 43 segundos para o comandante.
Mas foi ao fundo da alma buscar forças.
Um arreganho notável. Dois quilómetros decorridos, o português e o argentino estavam ombro a ombro.
Impressionante!
Estava um dia lindo em Berlim, nesse dia de Agosto.
Um céu azul que prometia algo de bonito. E, no entanto, o ovo fermentava no ventre da serpente. A guerra já se acumulava no horizonte.
Zabala e Dias continuavam irmanados.
O tempo passada. Os quilómetros eram engolidos a galope. Dez, doze...
Quem seria o primeiro a ceder?
De súbito, surge o japonês Son Kitei. Vindo de trás, recuperou espaço. Aos 15 quilómetros assumia a liderança da prova, de forma surpreendente.
E agora?
Zabala quebra. Como? O grande Zabala?! Sim. Já não tem força para aguentar a dianteira. Son aumenta a velocidade, está decidido a atacar corajosamente num espírito kamikaze. Manuel Dias não perde o ar nos pulmões, não deixa que o sangue pare de alimentar o seu coração que bate como o de um cavalo.
Ernest Harper, da Grã-Bretanha, é o novo candidato.
São três na luta.
Virão mais. Outro japonês, Nan Shoryu, e dois finlandeses: Erkki Tamila e Vaino Muinonen.
São muitos para um português sozinho. A despeito de toda a sua valentia e do seu peito enfunado como vela de galeão.
Quilómetros sobre quilómetros sobre quilómetros.
Os primeiros 10 tinham sido percorridos em 32 minutos e 30 segundos.
O passar do quilómetro 30 foi decisivo. Son lançou um ataque falta. Os finlandeses disparam na sua peugada. Manuel Dias já não foi capaz de os acompanhar. 'O representante português havia lutado sem tréguas por uma das primeiras classificações'.
A vitória coube a Son Kitey: 2 horas, 29 minutos e 19 segundos.
Depois Harper; depois Shoryu.
Manuel Dias esgotou-se nos 2 quilómetros derradeiros.
Assegurou o 17. lugar. A 19 minutos do vencedor.
Os jornais portugueses punham-no nos píncaros: 'Manuel Dias bateu-se brilhantemente! Deixou atrás de si muitos campeões de fama mundial!'
Ele, tímido, limitava-se a sorrir. Dera tudo o que tinha até ao fundo da sua alma de campeão."

Afonso de Melo, in O Benfica

O orquestrador da reviravolta

"Após enfrentar uma época com várias lesões, regressou a tempo da comandar a equipa rumo ao título

Em 1991/92, a cumprir a 11.ª época ao serviço do basquetebol do Benfica, havia quem duvidasse das capacidades de Henrique Vieira, por 'muita gente insistir em considerá-lo velho'. A certa altura da temporada, parecia haver alguma razão nessas críticas, com o basquetebolista a 'ter muitos problemas físicos (...), ele queria fazer as coisas, mas não conseguia e, quando recuperava a forma, logo lhe aparecia novo problema físico'. Todavia, Henrique Vieira viria a demonstrar que para os grandes jogadores as adversidades são apenas etapas para o sucesso!
Regressou na meia-final do Campeonato Nacional, frente ao Illiabum, contribuindo de forma significativa para o apuramento para a final. As suas exibições mereceram elogios por parte da imprensa: 'Henrique Vieira foi fundamental no melhor momento da equipa'. Apesar da idade e das lesões, o basquetebolista provava que as suas qualidades continuavam intactas.
Com 21 vitórias consecutivas na competição, entre fase regular e playoff, os 'encarnados' eram considerados favoritos a conquistar o título. Porém, tudo seria posto em causa com as derrotas nos dois primeiros jogos da final, frente à Ovarense. O Benfica passou a ter a difícil missão de, para empatar a eliminatória, ter de vencer os dois jogos em Ovar.
A Ovarense, a uma vitória do título, recebeu os benfiquistas em ambiente de festa antecipada, com 'os jogadores vareiros a distribuírem presentes pelo público antes de se iniciar o jogo'. Contudo, os 'encarnados' não se deixarem intimidar e venceram a partida por 69-75. A intensidade do encontro foi tal que 'o jogo foi interrompido por o árbitro José Nina ter sentido problemas físicos (cãibras)'. Henrique Vieira foi o melhor marcador da partida com 23 pontos.
A vitória deu alento à equipa, que viria a ganhar os dois jogos seguintes, sagrando-se campeã nacional. Para treinador, jogadores e adeptos, Henrique Vieira tinha sido peça vital para a conquista, ao considerarem que a sua prestação não era 'surpreendente se tivermos em conta o que tem acontecido nos últimos anos: o melhor Henrique Vieira aparece sempre no «playoff»', por ser um 'um jogador muito especial. Um líder natural, com uma importante influência nos colegas. Um grande líder nos momentos decisivos'.
Após esta conquista, o basquetebolista terminou uma carreira recheada de títulos ao serviço do Clube. Saiba mais na área 3 - Orgulho Eclético do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

Mi(ni)stérios do Benfica


"Não podemos ter um só pé na Europa por ter dois pés em Portugal. Devemos ter dois pés na Europa e em Portugal.

Administração interna
1. Indiscutivelmente brilhante, o registo do Benfica de Bruno Lage, a nível das competições nacionais. Na Liga, entre a estreia com o Rio Ave, que antecedeu a ida aos Açores há 10 meses, e o regresso a São Miguel no sábado distaram 30 jornadas. Os resultados são categóricos: 28 vitórias (93,3%), com 100% de sucesso nos jogos fora de casa (14). Nesta época, num total de 14 jogos (11 no campeonato), teve 13 vitórias (93%), com somente 4 golos sofridos em apenas 3 partidas (uma media de 0,3 golos/jogo). O Benfica é a equipa que marca mais golos e sofre menos.
Assim se estão a pulverizar todos os recordes, mesmo que, nos últimos tempos, com exibições menos conseguidas e apesar da onda de lesões que atingiu jogadores fundamentais. E não esquecendo saídas cruciais no plantel. A eficácia passava muito por desequilibradores, como, cada qual do seu modo, foram João Félix, Jonas e mesmo Salvio. O plantel desta temporada é bom, mas menos valioso. Passámos de excesso de extremos para a sua escassez, sem que se perceba porquê. Dos jogadores que entraram, Chiquinho nunca deveria ter saído, Vinícius dá músculo à equipa, mas Raul de Tomas é um enigma e Caio Lucas é um brinca-na-areia. Voltei agora a ler o aparente interesse no recrutamento de mais um guarda-redes no mercado de Janeiro, o que julgo bastante injusto face ao desempenho imaculado de Vlachodimos.
Mas, tudo considerado, Bruno Lage continua a ser, para mim, o treinador certo para o SLB. Na praça de opiniões, estranho a intensidade (e ingratidão, por parte de alguns benfiquistas) com que se analisam acidamente as suas decisões ou palavras. Basta comparar com a bondade com que se escrutina o trabalho e as palavras de Sérgio Conceição. O que, em Lage, dizem ser equívoco, em Conceição é golpe de vista, o que em Lage dizem ser rotação insensata, em Conceição é rotação musculada, o que em Lage dizem ser defeito, em Conceição é feitio.

Negócios estrangeiros
2. Porém, fora de Portugal, não há como fugir ao assunto. O Benfica tem tido, nos últimos anos, uma fraca prestação europeia. Como benfiquista de sempre, cresci e vivi com a sua dimensão extramuros que lhe deu uma dimensão invejável a nível mundial. Duas vezes campeão europeu, cinco vezes finalista vencido, quase sempre em circunstâncias dramáticas (prolongamentos, penáltis, com um jogador de campo a substituir o guarda-redes, jogando duas finais nos países dos adversários), três vezes finalista da Liga Europa (antes, Taça UEFA), também perdendo por penáltis e golos em instantes finais. Tudo isto na década de 60, na década de 80, na década que estamos agora a concluir. As noites europeias eram momentos fascinantes onde se concentravam todas as energias e competências.
E o que temos visto, em especial, nas mais recentes temporadas? Um Benfica quase literalmente de trazer por casa, incapaz de ultrapassar obstáculos tantas vezes apenas mediamos, sem rastro memorial, quase sempre encolhido e aparentemente secundarizando o cenário em que qualquer atleta almeja estar e participar.
No futebol é cada vez mais imperativo encontrar caminhos, não de maximização de um objectivo face a outros, mas de combinação eficaz entre vários propósitos estratégicos. De um modo mais claro, se é crucial haver uma política de formação consistente, rendível e retributiva - e isso tem acontecido com indesmentível dimensão - importa perceber que há dimensões competitivas que exigem atletas experimentados, maduros e diferenciadores. Assim como é decisivo criar condições financeiras e operacionais para se ser um clube avançado e líder - e isso tem acontecido com inegável eficácia e resultados - há que ter em conta que a condição primeira para a sustentabilidade patrimonial está nos resultados desportivos. Em suma - e como está bem expresso no Relatório e Contas da SAD - a entrada e trajecto na Champions é a melhor chave (embora não a única) para contas superavitárias. E, como tal, será preferível apostar num bom desempenho europeu como modo de aumentar a probabilidade de continuar a hegemonia interna. Não podemos ter um só pé na Europa por ter dois pés em Portugal. Devemos ter dois pés na Europa e em Portugal, sob pena de prolongar formas frustrantes de benfiqeuxit...
É bom ter sempre presente quão significa, em toda a sua extensão, o multiplicador europeu ou, usando uma linguagem mais expressiva, o elevador europeu. Elevador que tanto sobe como desce... Nos tempos de hoje, competir na Champions não é apenas assegurar a presença e tentar ganhar alguns jogos. As suas consequências - positivas ou negativas - fazem parte do tal elevador. Seja na apetência de patrocinadores (por exemplo, gostará a Emirates que a camisola do Benfica perca jogos sobre jogos no palco mais significativo?), seja na bolsa de valores dos jogadores, seja nas assistências e nos direitos televisivos, seja no nome e prestígio, a que agora se chama marca, seja no ranking que é importante não só para os sorteios, como agora significativamente para o prémio financeiro da fase de grupos da Liga dos Campeões, seja na atractividade de craques que, não raro, escolhem em função não tanto dos campeonatos internos, mas mais do desempenho externo, seja, enfim, na capacidade de reter mais tempo jogadores nucleares.
E o que então deveremos ter em consideração? Uma equipa que não se limite a ser favorita nas competições domésticas, mas que se apresente cá e lá fora com capacidade competitiva indiscutível. Sem devaneios de poder ser, nos tempos mais próximos, campeão europeu, mas com a obrigação de fazer percursos positivos com retorno desportivo, institucional e financeiro. Percebi e aplaudo a constatação de Bruno Lage, após a derrota em Lyon: «A dimensão europeia constrói-se com muito trabalho. Dando oportunidade à equipa de ir crescendo. Temos de ir ao encontro de perceber até que ponto a equipa pode crescer. Com o que temos em casa e olhando para o mercado de forma a aumentar a competência e competitividade da equipa, para fazermos face à dimensão do clube». Ou seja, não chega o Seixal, por melhor que o Seixal esteja a ser. Não é Seixal ou..., mas Seixal e...

Ambiente
3. O Benfica - e não só - sofre as consequências de as competições nacionais serem pobres, vistas do ponto de vista do mercado global e do ponto de vista competitivo. A escala da intensidade com que se jogo aqui nada tem a ver com a que é imprescindível fora do país. E isso é cada vez mais notório. Na Champions, em 4 encontros, 1 vitória (25%), 9 (2,25 golos/jogo) golos sofridos. O Benfica só está a defrontar um campeão do seu próprio país. Refiro-me ao russo Zenit, de um campeonato de um país que vamos ultrapassar no ranking da UEFA. E se o Leipzig é uma equipa segura, sobretudo por ser alemã, o Lyon é apenas o 15.º classificado da desinteressante liga francesa.
Também o FC Porto evidencia a mesma moléstia do Benfica, a nível europeu, agravada pela prematura eliminação da Champions por um quase ignoto clube do Mar Cáspio, de nome Krasnodar. Mesmo agora jogando com equipas da segunda divisão europeia, tem sido um desempenho medíocre. Vejamos: Por cá, 13 jogos (dos quais 11 para o campeonato), 11 vitórias no total (85%), 5 golos sofridos (0,4 golos/jogo). Na Europa, 6 encontros, 2 vitórias (33%), 9 golos sofridos (1,5 golos/jogo).
O ambiente em torno do nosso futebol também favorece as condições para a mediocridade e para a autofagia. Um futebol manhoso, negativo, de pára-arranca, em que são mais estimulados os minutos parados do que os minutos a correr. As arbitragens são, corporativamente, defensivas ou matreiras. Basta comparar como um mesmo juiz português arbitra por cá e lá fora, que diferença!
E, mediaticamente, o que mais parece contar é o jogo falado. Horas e horas intermináveis de discussões, sobretudo nas horas e nos dias que se seguem às jornadas, onde em certos programas (não todos, porém), às horas mais prime, há espectáculo assegurado por artistas especializados em artificiosas e burlescas contendas, nada recomendáveis. Deveria haver, aliás, uma bolinha de uma cor tétrica no canto do ecrã para esses espaços televisivos que, na ânsia da acefalia das audiências, vão dando cabo do nosso futebol. Fala-se exiguamente do jogo, fala-se alarvemente dos bastidores, dos contratos, das transferências, das arbitragens, das claques, das misérias, dos impropérios, do circo montado todos os dias por uma qualquer parvoíce alcandorada a questão quase soberana. Compare-se o modo como se escalpeliza qualquer arbitragem aqui (dos grandes, claro...) em horas sobre horas intermináveis, com o seu contrário nos jogos europeus, apesar de, obviamente, também nestes haver erros (e alguns bem graves). Logo aqui se percebe que, tal como nos almoços, também aqui não há escrutínios grátis (ou desinteressados). Para bom entendedor..."

Bagão Félix, in A Bola