Últimas indefectivações

segunda-feira, 3 de junho de 2019

O meu futebol «de porcaria»

"O futebol português respira a habitual paz podre entre épocas. Cheira ainda intensamente a naplam ou, caso prefiram imagem mais moderna, sente-se na boca pungente sabor a ferro, como se Chernobyl tivesse explodido à nossa frente (uau, que série!). O mesmo futebol de «porcaria» para um comentador brasileiro quando rejeita a aposta do Flamengo em Jorge Jesus. Será visão assim tão estranha?
Os nossos clubes pequenos são muito pequenos, os grandes menores quando comparados com os da Big Five. As partidas são pobres, bons jogadores não há assim tantos e, se surgir quem queira impor ideia mais complexa, tem aí o primeiro obstáculo. Algo como o tiki-taka seria impossível.
É o próprio futebol português que quer essa liga «de porcaria», Benfica, FC Porto e Sporting pretendem manter o status quo e depois discutir o título entre si. Nunca estão lado a lado ao mesmo tempo, e quando estão é para derrubar e não construir. Aos outros falta força.
Assistimos ao enxovalhamento continuo e total do produto, e vimos sair com perplexidade um ou dois castigos só para dizer «presente». É há muito altura de parar. E pensar!
O jogo é o bem maior. Essa é a maior revolução. Os clubes não devem regular-se a si próprios, mesmo que isso signifique o regresso das Ligas a uma federação que pouco tem feito para merecê-las. O VAR e o intangível conceito de verdade desportiva são apenas uma bandeira entre outras.
Castigos que realmente castiguem, precisam-se. Justiça célere. Formar dirigentes para que sejam melhores gestores, saibam mais do jogo e errem menos. Formar árbitros. Ligar os clubes profissionais à formação. Tantas cosias!
Primeiro, respeito! Calar quem se sente bem no meio da porcaria. O resto virá depois, assim que a terra volte a ser fértil."

Luís Mateus, in A Bola

Cadomblé do Vata (silly season, a arrancar...!!!)

"1. Soube-se ontem que o Canelas Gaia se deslocou para um jogo no autocarro da equipa da FPF... os gaienses deixaram de ser a "equipa dos Super Dragões" e passaram a ser a "equipa dos Ultra Portugal".
2. A viagem daquela que foi considerada a equipa mais violenta do Mundo deu origem a muita polémica, mas tudo não passou de uma experiência da FPF... quiseram ver se a viatura estava preparada para transportar o Pepe.
3. João Félix foi recebido com insultos na República Independente do Porto, mas demonstrando enorme maturidade, não respondeu aos impropérios, limitando-se a cruzar os braços perante os imbecis... novamente...
4. No FC Porto, depois de ter sido dado como garantido, Mangala não terá passado na inspecção médica... ao que consta, os exames revelaram que o francês sofre de síndrome de queroquemepaguemite mensal aguda.
5. Numa conferencia promovida pela RR, José Peseiro disse que o Benfica tem 60% dos adeptos em Portugal... com este discurso, não admira que na mesma conferência tenha dito que se sentiu duas vezes maltratado no Sporting."

Os homens do título: Gabriel, o falso flop

"Tal como para tantos outros jogadores que acabaram a época a festejar no Marquês, também há um pré e um pós-Bruno Lage para Gabriel, contratação sonante que nos primeiros meses no Benfica dava ares de flop. Mas quando o meio-campo se encheu do seu bom senso, logo se percebeu que apenas talvez estivesse mal aproveitado.

Nos primeiros meses da nova época, as hostes benfiquistas chegaram a temer que Gabriel, por quem o clube tanto havia lutado para contratar ao Leganés, poderia ser, na verdade, um flop.
Mas tal como para tantos outros jogadores que acabaram a época a festejar no Marquês, também há um pré e um pós-Bruno Lage para o brasileiro, que depois de alguns meses em que se dividiu entre o banco e o onze, mas sem nunca impressionar, tornou-se essencial para Lage, enchendo o meio-campo de decisões acertadas, colocando a bola onde bem queria com aquela precisão de passe, raramente apanhado fora do lugar, até uma lesão grave o deixar fora de jogo até ao final do ano.
Afinal, Gabriel não era flop. Só estaria a ser desperdiçado.
Em 17 jogos e 1253 minutos, Gabriel não marcou nos 17 remates que fez, mas deu uma assistência para golo e criou ainda mais três ocasiões flagrantes. Mas no meio-campo foi um monstro: contou 74 acções defensivas no primeiro terço, mais 56 no terço intermédio, conseguindo um total de 52 desarmes, 37 deles completos. Só intecepções foram 32 e bloqueios de passe 32.
A Goal Point contou ainda 29 alívios, quase todos dentro da área (24) e 16 dos quais de cabeça. Mais impressionante ainda é o número de recuperações de posses de bola: foram 106. Gabriel fez-se ainda valer do seu poder físico (tem 1,87m e 83kg) para ganhar 60 duelos aéreos defensivos.
Ao longo da temporada, em jogos para o campeonato, Gabriel foi ainda admoestado quatro vezes com cartão amarelo, aos quais se junta o duplo amarelo que recebeu no clássico frente ao FC Porto. 
Até sofrer uma lesão no ligamento lateral interno do joelho esquerdo no dérbi com o Sporting, Gabriel estava a ser um dos jogadores mais influentes e decisivos do Benfica de Bruno Lage. Na próxima temporada, e apesar do crescimento de Florentino, que o substituiu no onze, deverá voltar a ser um dos patrões do meio-campo encarnado."

Os homens do título: Ferro, o central da imperturbável calma

"O central passou a primeira parte da temporada na equipa B, mas mal teve a oportunidade de se mostrar entre os grandes, e logo num Benfica-Sporting, fez o suficiente para Bruno Lage não mais deixar de confiar nele. Aos 22 anos, Ferro é um central maduro, dono de uma tranquilidade de quem já anda aqui há anos e anos.

O infortúnio de uns pode muitas vezes mudar a vida de outros e Francisco Reis Ferreira, mais conhecido no mundo do futebol como Ferro, pode dizer uma ou duas coisas sobre o assunto. Porque muita coisa teve de acontecer para que naquele 6 de Fevereiro de 2019, em pleno Benfica-Sporting, o central natural de Oliveira de Azeméis vestisse pela primeira vez a camisola da equipa principal do Benfica.
Porque Jardel se lesionou à passagem da meia-hora de jogo. Porque Conti já há muito estava no estaleiro. Porque Lema havia sido rapidamente descartado. Mas, para sermos justos, também aconteceu porque Ferro era titular e capitão da equipa B dos encarnados. E porque tem muita qualidade.
Depois daqueles 53 minutos frente ao Sporting, Ferro não mais deixou de ser titular para Bruno Lage, que só não o utilizou frente ao Eintracht Frankfurt na Liga Europa. De resto, fora o encontro em que esteve suspenso, o defesa de 22 anos foi sempre titular e sempre importante na manobra defensiva da equipa, graças à sua técnica bem acima da média, à maturidade e à sua calma que parece imperturbável até nos grandes jogos, sem descurar a sua capacidade de passe e de subir lá ao alto, aproveitando da melhor forma o seu 1,91m (marcou três golos na temporada).
É, em linguagem destes tempos, um central moderno.
E os números estão cá para ajudar. Em apenas 13 jogos e 1142 minutos no campeonato, Ferro realizou 129 acções defensivas, 107 delas no primeiro terço do terreno. Fez ainda 32 desarmes, 24 deles completos, e 21 intercepções. Bloqueou três remates, três cruzamentos e cinco passes.
Alívios foram 65, 45 deles dentro da área e 34 de cabeça, provocando ainda nove foras de jogo a adversários. Ganhou 46 duelos aéreos defensivos e recuperou 64 posses de bola.
Em 13 jogos viu apenas um cartão amarelo, mas acabou expulso no encontro com o Desp. Aves, em que curiosamente também marcou - recebeu vermelho directo depois de travar em falta Derley, quando o brasileiro seguia isolado para a baliza."

Andebol 2018/2019 – Análise

"A época da equipa de andebol do Sport Lisboa e Benfica chegou ao fim, e aguardava esta época com expectativas. Na época passada, apesar de termos completado 10 anos sem ganhar o campeonato, o andebol de qualidade praticado pela equipa, que culminou com a conquista da Taça de Portugal, abria boas perspectivas para o futuro. No final, apesar do início prometedor, a época acabou por redundar num fracasso e levanta muitos pontos de interrogação nesta equipa.
Para esta temporada, os reforços anunciados foram o guarda-redes Borko Ristovski e o ponta-direita Carlos Martins, reforços para duas das posições onde a equipa estava mais carenciada. Quanto à posição de lateral-direito, tudo indicava que Carlos Resende iria dar uma nova oportunidade a Stefan Terzic, apesar deste continuar afastado por tempo indefinido. Já com o campeonato a decorrer, seria anunciado o francês Kévynn Nyokas, que regressava ao activo após ter estado retirado por uma temporada para tratar os seus problemas nos joelhos.
A pré-temporada iniciou com um jogo particular no pavilhão da Luz contra o HBC Nantes, que terminaria com uma vitória a favor da equipa francesa por 29-31. Apesar da derrota, a equipa encarnada tinha mostrado uma boa réplica face aos vice-campeões europeus. A pré-temporada viria a terminar com a equipa de Carlos Resende a conquistar o Torneio Internacional de Viseu.
No primeiro jogo oficial, a equipa viria a conquistar a Supertaça frente ao Sporting CP, com uma vitória categórica por 29-24, num jogo onde a dupla Seabra/Belone esteve imparável no ataque e o reforço mais sonante Borko Ristovski mostrou logo toda a sua qualidade. As expectativas iam ficando maiores, mas toda a gente sabia que numa prova de regularidade as coisas funcionavam de forma diferente.
O Benfica arrancou o campeonato sem grandes sobressaltos, vencendo os seis primeiros jogos, até que na sétima jornada estava agendada uma deslocação ao pavilhão João Rocha para defrontar os bicampeões nacionais. Num jogo em que a nossa equipa chegou a ter quatro golos de vantagem, a arbitragem polémica acabou por inverter o rumo dos acontecimentos, com os leões a venceram por 24-23. Algumas jornadas mais tarde, o Benfica viria a perder em casa do FC Porto por 28-24. A situação não era fácil, mas o campeonato estava longe de estar comprometido.
Pelo meio, a equipa também participou na Taça EHF. Depois de na segunda eliminatória a equipa ter eliminado os islandeses do FH sem grandes dificuldades, na terceira eliminatória acabámos por enfrentar os alemães do TSV Hannover, onde a equipa viria a perder por 41-36 na Alemanha. Seria necessário um Benfica a roçar a perfeição para conseguir a reviravolta na eliminatória, mas o empate que se verificou no final do jogo na Luz não correspondia às aspirações encarnadas. Pela segunda época consecutiva, o Benfica falhava o acesso à Fase de Grupos da Taça EHF.
Até ao final do ano, surgiram outras más notícias para o andebol encarnado. Fora anunciada a transferência do lateral-esquerdo Alexandre Cavalcanti para o HBC Nantes. E num jogo em casa do ISMAI em Dezembro, o central Pedro Seabra fracturou o braço e ficou afastado das quadras durante cerca de três meses.
Na segunda volta da Fase Regular, a equipa do Benfica continuava a correr atrás do prejuízo e seria nos últimos três jogos que poderiam dar uma cambalhota na classificação que podia ser decisiva. Porém, a equipa encarnada sucumbiu em casa contra o FC Porto por 24-26. Três dias depois, recebeu o Sporting CP no mesmo pavilhão e num jogo onde esteve em desvantagem durante grande parte do tempo, a equipa de Carlos Resende acabou por ter uma reacção notável, conseguindo dar a volta ao resultado e selando a vitória com Borko Ristovski a defender um livre de 9 metros cobrado por Carlos Ruesga ao cair do pano.
Esta vitória tinha tudo para ser o ponto de viragem na época de que a equipa precisava, mas no final não passou de sol de pouca dura. Depois da vitória do Sporting CP, a equipa empatou em casa do Belenenses na última jornada da Fase Regular e no jogo seguinte, é eliminado de forma humilhante da Taça de Portugal, ao perder por 23-18 contra um ABC que realizou a sua pior temporada da década.
Restava o campeonato pela frente, mas como uma desgraça nunca vem só, a equipa de Carlos Resende entrou na Fase de Apuramento de Campeão com o pé esquerdo, ao perder em casa do Sporting por 29-22. Depois de duas vitórias suadíssimas contra Belenenses e Águas Santas (ambas por um golo de diferença), o Benfica ficaria arredado do título com uma nova derrota caseira contra o FC Porto por 23-28. E, tão mau como o resultado, foram as declarações polémicas de Carlos Resende após o jogo.
Apesar da vitória contra o Sporting no jogo seguinte, o campeonato já estava feito. Apesar da Vitória no Dragão Caixa (31-34), a equipa do Benfica não foi além de terceiro lugar, terminando uma época que somou desilusão atrás de desilusão. O FC Porto foi um justo campeão. O técnico Magnus Andersson implementou novas ideias e novos métodos de trabalho na equipa azul e branca, o que se traduziu numa equipa com um colectivo forte e bastante trabalhado, superiorizando-se a um Sporting que possuía novamente um plantel de luxo, mas que não tinha um colectivo a altura.
Agora farei aqui uma análise individual a alguns jogadores e a alguns aspectos da equipa do Benfica: 
Borko Ristovski – foi a contratação mais sonante do andebol nacional no ano passado. O guarda-redes oriundo do FC Barcelona não tardou em mostrar as suas qualidades, fazendo a diferença desde o primeiro dia, ao realizar uma exibição monstruosa na Supertaça contra o Sporting. Um plantel a altura da dimensão do Benfica precisa de ter um guarda-redes estrangeiro de qualidade indiscutível. 
Alexandre Cavalcanti – o jogador mais completo da equipa encarnada. Jogador fundamental nos dois lados do campo, carregou a manobra ofensiva da equipa às costas em muitos jogos, até que uma fractura no pé o afastou da Fase de Apuramento de campeão. Na próxima temporada rá representar o HBC Nantes, um dos “Big 3” do andebol francês. Com apenas 22 anos e a qualidade que tem, era de esperar que mais ano menos ano, desse o salto para uma grande equipa europeia.
Kévynn Nyokas – foi uma contratação surpresa já depois do início da temporada, não estando presente na conquista da supertaça. No auge da sua carreira, este jogador foi titular da selecção francesa, tendo conquistado um Mundial e um Europeu. Porém, duas lesões graves nos joelhos fizeram com que estivesse temporariamente retirado da modalidade para se dedicar exclusivamente à sua recuperação. Regressando ao activo no Benfica, nos seus primeiros meses de águia ao peito rubricou exibições muito inconsistentes, sendo um jogador capaz do melhor e do pior. Alternava golos de belíssima execução, com erros infantis que resultavam em contra-ataques adversários. Já durante a Fase de Apuramento do Campeão seria anunciada a sua renovação de contrato por mais duas temporadas e desde então as suas exibições melhoraram. Daí para a frente, o lateral-direito mostrou que ainda tem muito para dar e verdade seja dita, isso é o mínimo exigível para um jogador do seu calibre nas próximas duas épocas.
Stefan Terzic – com muita pena minha, não vi este jogador ao seu melhor nível. Tinha tudo para ser o melhor jogador a jogar em Portugal. Aquele braço esquerdo podia fazer muitos estragos nas balizas adversárias, mas as lesões não o permitiram e a verdade, é a gestão com pinças que lhe era feita já não compensava.
Primeira linha e pivot – duas posições onde a falta de profundidade foi gritante. Na primeira linha estávamos excessivamente dependentes de Belone Moreira, Pedro Seabra, Cavalcanti e Nuno Grilo, fruto das lesões de Terzic, da inconsistência de Nyokas, sendo que João da Silva e Arthur Patrianova pouco contaram para o treinador depois de recuperarem de lesão. A pivot, Ales Silva sempre esteve longe de fazer a diferença para um estrangeiro, Ricardo Pesqueira é um jogador importante na defesa, mas é curto em termos ofensivos; o capitão Paulo Moreno é de longe o pivot que mais faz a diferença, mas contra um pivot de maior estampa física como um Tiago Rocha ou um Alexis Borges passa por dificuldades. É preciso mais.
Desequilíbrio físico – Pedro Seabra e Belone Moreira são dois dos principais jogadores da equipa. Quando estão inspirados fazem do Benfica uma equipa muito difícil de bater. Apesar disso, são jogadores que não reúnem plena consensualidade por parte dos adeptos, pelo facto de serem jogadores com uma estatura abaixo da média para jogadores da primeira linha. A meu ver, isso não é problema para eles, porque compensam a baixa estatura com uma inteligência e qualidade técnica acima da média que lhes permite definir e executar de forma rápida e eficaz. No entanto, a dimensão física não deixa de ser muito importante no andebol, e faltam jogadores que deem algum equilíbrio à equipa nesse aspecto, sendo que a nível físico a equipa sempre esteve muito dependente dos pivots e de Cavalcanti.
Irregularidade – esta foi a palavra-chave ao longo da temporada. Foram mais que muitos os jogos nesta temporada em que a equipa era capaz do oito e do oitenta. Em muitos jogos a equipa fazia boas exibições, praticava um andebol de qualidade, mas a uma certa altura tinha uma queda brutal no desempenho, queda essa que saía cara nos jogos grandes. Estas oscilações no desempenho da equipa podem dever-se à falta de profundidade do plantel e ao desequilíbrio físico, mas mesmo assim, este plantel podia e devia fazer melhor. Uma equipa que marca 34 golos em casa do campeão nacional tem de ter qualidade.
Carlos Resende – têm-se levantado muitos pontos de interrogação quanto a Carlos Resende. Há dois anos atrás, era público que a lenda viva do andebol nacional era pretendida pelos três grandes e que este acabou por optar pelo Benfica devido à qualidade da sua formação, de modo a liderar um projecto semelhante ao que realizou no ABC. Quando foi apresentado, Carlos Resende disse que só ia apostar em jogadores estrangeiros que fossem reais mais-valias e que se houvesse na mesma posição um estrangeiro e um português do mesmo nível, iria sempre apostar no português, mesmo que fosse da formação. Porém, Ales Silva foi aposta com Resende nestes dois anos. E no entanto, também se sabe que o próprio Resende já terá recusado a contratação de jogadores por considerar que estes não eram superiores por este considerar que não eram superiores aos que já tinha na mesma posição. As qualidades de Carlos Resende enquanto treinador são mais que firmadas, mas a sua teimosia em querer fazer omeletes sem ovos está a sair cara ao clube.
Carlos Resende e a estrutura do andebol do Benfica precisam de chegar a um consenso e definir aquilo que é necessário para levar o Benfica ao título: se irão apostar em jovens talentos não só nacionais mas também estrangeiros, ou se vão investir a sério para construir um plantel mais forte. As mexidas já confirmadas no plantel parecem seguir o segundo caminho.
Esta última temporada também ficaria marcada pela particularidade da haver contratações anunciadas ainda antes do término do campeonato. No último jogo em casa contra o Águas Santas, foram anunciadas as saídas de Hugo Figueira, Alexandre Cavalcanti, Ales Silva, Stefan Terzic, João da Silva e Arthur Patrianova.
A primeira aquisição a ser anunciada foi o dinamarquês René Toft Hansen, pivot que actua nos húngaros do Veszprem e que se sagrou campeão mundial pelo seu país neste ano, competição onde contraiu uma lesão grave da qual ainda está a recuperar. Mais tarde seria anunciado o espanhol Carlos Molina, lateral-esquerdo oriundo do Madeburg que se destaca por ser um especialista defensivo. Uns dias mais tarde foi anunciado o sérvio Petar Djordjic, lateral-esquerdo sérvio que vem do Meshkov Brest. Deverá ser ele a ocupar a vaga deixada por Cavalcanti.
Estas contratações mostram que a estrutura do andebol do Benfica está disposta a investir a sério na equipa. Mas estas mexidas já anunciadas não me parecem ser suficientes para ombrear com os rivais. Resta que Carlos Resende saiba encaixar as peças no sítio certo e que consiga trabalhar a equipa de modo a que esta jogue de forma mais focada e concentrada. Veremos o que este defeso nos reserva."

A eventual venda de João Félix

"Após o jogo com o Frankfurt, João Félix confirmou que era uma das próximas estrelas do futebol mundial no futuro. Não há clube no mundo que não tenha interesse nele, apesar de dar para contar com os dedos das duas mãos o número de clubes capazes de o contratar. Entretanto, o Benfica, na voz de Luís Filipe Vieira, Domingos Soares de Oliveira e Rui Costa tem-se mantido intransigente na cláusula de 120 milhões de euros. Mas ficámos a saber neste fim de semana que o clube tem nas mãos quatro propostas pelo jogador. Mais do que uma chega aos 120M (com algumas fatias por objectivos) e uma delas o jogador permanece na Luz por um ano. Umas notas sobre isto tudo.
1. O Benfica não precisa de vender. Tem sido algo que nós temos dito aqui e que DSO tem dito em várias entrevistas. O clube tem hoje uma saúde financeira invejável. Não precisa de vender para contratar, além do mais já fez 50M em vendas neste verão, tendo ainda a receber 20-30% da mais-valia de Jovic e a venda de Carrillo. Sem vender ninguém do plantel, podemos estar a falar de verão que vai encaixa 80-90M. É ponto assente que não precisamos de vender e esta condição é fundamental para os pontos que seguem.
2. A história de Renato Sanches. O Renato foi vendido por 80M, dos quais 35M eram imediatos e 45M eram por objectivos. Passaram-se três épocas e o Renato ainda não ganhou espaço no Bayern. Aquilo que outrora foi o jogador com maior potencial do mundo (Golden Boy 2016), não vai conseguir render praticamente nada nos objectivos definidos. Se já nos queimámos no passado com esta história dos objectivos e não precisamos de vender, porque é que vamos vender o João Félix abaixo do valor da cláusula com a eventualidade de se tudo correr pela perfeição, encaixarmos uns prémios? Não faz sentido.
3. Vendemos mas fica emprestado. Esta é outra ainda mais surreal. Porque raio é que haveríamos de vender um jogador e depois ficar com ele durante um ano? Porque é que não ficamos com ele um ano e depois é que vendemos, possivelmente a um valor mais alto?
4. Criação de Expectativas. Esta é a pior parte de todas. Não foi só um. Foram três dirigentes que em diversas entrevistas disseram que o Félix só saía pela cláusula. Todos eles criaram expectativas. E agora sai por 80+40 de objectivos? Não faz sentido. 90M pelo João Félix era um negócio histórico se não tivessem andado os últimos meses todos a dizer que não sairia abaixo da cláusula. Porque é que andaram a criar expectativas?
Eu normalmente não costumo acreditar muito nestas notícias, mas já começam a ser demasiados sinais. São os jornais todos as noticiar o mesmo. É o Record a manter a notícia que temos interesse no Dani Olmo (que faz a posição do Félix), mesmo depois do comunicado do Benfica a negar o interesse no jogador, como se não quisessem que se saiba que estamos a negociá-lo. É esta suposta ida de LFV a Londres. Espero que se venderem o Félix, pelo menos contratem quem têm que contratar antes. Pois depois de vender alguém por 80-120M, ninguém nos vai vender um jogador a um preço que não esteja super inflacionado."

A pirâmide dos campeonatos

"Terminaram este domingo os quartos-de-final da fase final do Campeonato de Portugal, onde foram eliminadas as equipas do Vizela, Fafe, Sp.Espinho e Lusitânia de Lourosa pelas equipas do Vilafranquense, Praiense, Casa Pia e U.Leiria, respectivamente.
Longe vão os tempos em que os primeiros classificados das Zonas Norte, Centro e Sul, subiam à 2ª Liga, sem fase final, ou seja, de forma directa, uma equipa que representa uma zona do país, que, ao contrário do que se passou ontem, está cada vez mais virado a norte...
Desengane-se aquele que pensa que estou a escrever estas linhas porque as equipas nortenhas foram todas eliminadas. A intenção deste desabafo vai no sentido da injustiça que é uma equipa chegar ao fim de 34 jornadas, terminar a sua série como líder e em dois jogos apenas, não conseguir a subida aos campeonatos profissionais, como foi o caso do Vizela ou do Sp. Espinho.
Este Campeonato de Portugal, é provavelmente o mais competitivo do nosso país pois entram em competição 72 equipas onde só apenas duas, conseguem a subida e 20 descem aos campeonatos distritais. Não seria mais justo os primeiros classificados subirem directamente, caro leitor?
Há uns tempos que venho imaginando qual seria a melhor solução para o nosso futebol no que concerne ao equilíbrio entre equipas do norte e sul do país nos campeonatos profissionais. Quando terminou a Liga NOS, "soaram alarmes" com uma imagem gráfica que circulou nas redes sociais, em que o futebol profissional no nosso país estava cada vez mais centrado a norte, mais propriamente nas associações do Porto e Braga com cinco representantes cada.
Tomei a liberdade de pegar num papel e caneta e tirar ideias do que seria o "organigrama" ideal para os Campeonatos em Portugal. A Liga NOS conta actualmente com um campeonato a 18 equipas, descendo duas (excepcionalmente desceram três este ano, devido ao caso Gil Vicente) em troca com outras duas que provêm da Ledman LigaPro. Até aqui, tudo bem, se bem que se poderia discutir um play-off entre o 16º classificado da Liga NOS e o 3º da Ledman LigaPro.
Depois a Ledman LigaPro, conta com 18 equipas, onde sobem os dois primeiros e descem o últimos dois (excepcionalmente desceram três este ano, devido ao caso Gil Vicente), por troca com os dois finalistas do Campeonato de Portugal.
Ora, a meu ver, o ideal seria o seguinte:
Liga NOS (1ª Liga)
- A Liga NOS com 18 equipas, disputada a duas voltas, contabilizando 34 jornadas. As duas ultimas classificadas, desceriam à Ledman LigaPro
Ledman LigaPro
- A Ledman LigaPro sugeria que fosse dividida em duas fases. A primeira fase teria duas zonas, Norte e Sul, onde geograficamente as 24 equipas se incluiriam. Cada zona teria 12 equipas onde teriam de fazer um campeonato a duas voltas, perfazendo um total de 22 jogos. A segunda fase seria dividida em três séries: subida, manutenção Norte e manutenção Sul.
- A fase de subida seria com os quatro primeiros de cada uma das zonas, onde fariam um campeonato a duas voltas, perfazendo mais 14 jornadas. Os dois primeiros subiriam à Liga NOS.
- Nas fases de manutenção, em cada zona, também fariam um campeonato a duas voltas, em 14 jornadas e os dois últimos classificados de cada zona, seriam relegados para o Campeonato de Portugal, perfazendo 4 despromovidos.
- De referir que, terminando a Ledman LigaPro, todas as equipas fariam um total de 36 jogos.
- A pensar: um play-off entre o terceiro classificado da fase de subida, com o 16º da Liga NOS. 
Campeonato de Portugal
- No Campeonato de Portugal, estariam incluídas 80 equipas, divididas por 4 séries: séries A, B, C e D, distribuídas geograficamente.
- Cada série estava contemplada com 20 equipas onde seria disputada a duas voltas, perfazendo 38 jornadas.
- Os campeões de cada série, subiam automaticamente à Ledman LigaPro e os cinco últimos classificados, seriam relegados aos campeonatos distritais, perfazendo o numero de 20 equipas despromovidas.
- Estas equipas seriam substituídas por 20 campeões distritais. (Nos Açores, as associações de Ponta Delgada, Horta e Angra do Heroísmo, teriam de definir o seu campeão).
Chamo a este sistema, um sistema em pirâmide e gostaria que fosse pelo menos pensado de forma a haver mais justiça quanto às subidas e descidas de divisão."

Cortem-lhes os braços!

"Não tenho dúvidas em afirmar que os penáltis por “bola na mão” são as faltas mais estúpidas do futebol.

A insólita final da Liga dos Campeões entre duas equipas inglesas apresentava-se como um grande espectáculo em perspectiva. Ambas praticavam um futebol aberto, leal, de ataque. Ambas tinham eliminado colossos do futebol. Seria previsivelmente um jogo com muitos golos.
O que ninguém pensou foi na “terceira equipa”, chefiada por um árbitro esloveno de quem eu nunca ouvira falar. E o senhor vinha com a ideia de inscrever o seu nome na história do jogo. Assim, logo aos 20 segundos (!) assinalou um penálti contra o Tottenham por suposta mão de um defesa.
Ora, a um árbitro não se pede só que saiba as leis - pede-se que tenha bom senso. É esse bom senso que leva muitos, por exemplo, a não mostrarem cartões amarelos nos primeiros minutos de jogo. Mas o senhor marcou mesmo um penálti a abrir a partida, numa mão que era tudo menos clara. A bola bateu no peito do jogador e depois escorregou-lhe pelo braço, que só estava ligeiramente aberto. Foi um lance acidental, numa jogada que não tinha perigo. Mas o senhor esloveno marcou penálti sem sequer ir ver as imagens. E com isso condicionou toda a história do jogo. Vou mesmo mais longe: estragou o jogo.
Uma final que se antevia espectacular foi uma chatice. Um jogo que se antevia com muitos golos só teve esse de penálti e outro já mesmo no fim. O Liverpool passou o jogo a defender o golo madrugador e o Tottenham só demasiado perto do fim se conseguiu encontrar.
Fala-se muito em “verdade desportiva”. Ora estas “mãos” duvidosas adulteram completamente essa verdade, porque transformam lances sem perigo em golos. E dizem que na próxima época ainda será pior: todas as bolas que forem à mão serão punidas. Mas querem matar o futebol? Querem que os jogos passem a decidir-se por penáltis?
As leis devem promover as boas jogadas, os golos de bola corrida, ou os jogos decididos por penáltis duvidosos?
Os braços fazem parte do corpo. E o corpo não é um conjunto de elementos desligados: é um todo harmónico em que os órgãos se movimentam de forma coordenada. Os atletas correm e saltam com as pernas, mas também com o movimento dos braços. Os bailarinos movem-se com constantes movimentos dos braços - e não só por razões estéticas.
Do mesmo modo, os futebolistas correm, rodopiam, saltam mexendo braços e pernas, até para se protegerem em caso de queda. Não se pode exigir-lhes que tenham sempre os braços agarrados ao corpo. Para isso, atem-lhes os braços ao tronco com ligaduras ou cortem-lhes os braços.
Não tenho dúvidas em afirmar que os penáltis por “bola na mão” são as faltas mais estúpidas do futebol. A lei, como era antigamente - em que para ser falta tinha de haver um movimento deliberado do braço ao encontro da bola -, era mil vezes mais justa. E não falseava a verdade desportiva."

Klopp e o capitalismo de rosto humano

"O dinheiro está a dar cabo do futebol, não é? As somas obscenas pagas aos jogadores, as contratações milionárias, o enriquecimento de figuras secundárias, tudo isto está a matar o desporto-rei, a afastar os adeptos que desconfiam da verdade das competições e, em consequência, se viram para os campeonatos distritais à procura da pureza perdida, da mística e do amor à camisola. Não é assim? Parece que não. Em 2019, a Liga dos Campeões, a maior competição de clubes do mundo, o símbolo do futebol moderno, atingiu um pináculo de qualidade dificilmente superável, ofereceu-nos jogos que ficarão para a história, reviravoltas inacreditáveis e ideias de jogo triunfantes cujo sucesso passa pelo dinheiro, mas não se reduz ao vil metal.
E que dizer da Premier League? É curioso que o campeonato mais rico do mundo, aquele que gera mais receitas e distribui os lucros de forma mais equitativa, em que algumas das equipas estão nas mãos de oligarcas russos, grupos asiáticos e xeques de fundos ilimitados, seja também o campeonato mais entusiasmante, mais competitivo, mais limpo, mais saudável. Nos anos 90, no mundo pré-Bosman, o futebol italiano, sustentado na mestria táctica dos seus treinadores, atraía os melhores jogadores e dominava a Europa. Com a Lei Bosman e sucessivos escândalos de corrupção e suspeitas de doping, o Calcio caiu num buraco de onde tarda em sair, sendo o destino do AC Milan o mais ilustrativo da sua contínua degenerescência, de que o domínio arrasador da Juventus nos últimos anos é outro sintoma.
Os adeptos podem não se cansar de vitórias, mas ganhar campeonatos como quem os compra num supermercado – para usar uma imagem de Sir Alex Ferguson – é mortal para uma competição e, verdade seja dita, faz com que os tiffosi vejam na conquista do campeonato mais uma obrigação do que uma proeza. Também a Bundesliga sofre com a macrocefalia representada pelo domínio insaciável do Bayern de Munique, que se comporta como um gigante canibal, devorando tudo e todos para manter o trono. Não é fácil perceber, a não ser por razões históricas e de força do próprio clube, como é que num campeonato teoricamente tão equilibrado o Bayern foi cavando um fosso gigantesco para os seus adversários, a ponto de a grande dúvida no início de cada época ser a data em que os bávaros hão de conquistar o título. Além disso, a Bundesliga também nunca conseguiu fabricar uma aura que ultrapassasse o regional, o que se vê perfeitamente nos jogadores que consegue captar, muitos deles oriundos de países vizinhos.
Quanto ao campeonato espanhol, o seu interesse reduz-se à disputa Real Madrid-Barcelona, com as ocasionais intromissões do Atlético a temperarem o prato. O resto, apesar do bom comportamento europeu e da competitividade dos clubes de segunda linha, pouco interessa. Com a partida de Cristiano Ronaldo para Itália, a narrativa do grande combate perdeu um dos seus eixos fundamentais. Sem o seu arquirrival, Messi ficou numa espécie de contrarrelógio. As suas qualidades estão lá, mas o povo gosta mesmo é dos confrontos directos em alta montanha. Os combates de boxe que entraram para a história não foram os combates entre as lendas e adversários de quinta categoria, mas aqueles em que as lendas enfrentaram outras lendas.
O que a Premier League tem sabido fazer é construir a sua própria lenda, com a consciência de que isso só é possível quando todos os competidores partilham uma mesma cultura desportiva. Essa cultura que permeia o jogo em Inglaterra tem atenuado os possíveis efeitos do doping financeiro de que beneficiam certos clubes (Chelsea e Manchester City, sobretudo) e obriga os investidores a respeitar essa cultura não só por razões líricas, mas também por razões pragmáticas de retorno financeiro.
É normal que os adeptos dos clubes rivais se queixem das injeções de petrodólares no City, como também se queixaram da liberalidade infinita de Abramovich no Chelsea, mas poucos serão incapazes de reconhecer mérito a uma equipa que reúne talentos viçosos como Bernardo Silva, Ederson, Kevin de Bruyne, Sané ou Sterling e os mistura com a experiência de Kompany, Fernandinho e Aguero. Construir uma equipa destas não sai barato, mas trata-se de um processo muito diferente da política galáctica de Florentino Pérez. Ali ninguém compra jogadores para vender camisolas, mas, lá está, para construir equipas. O muito dinheiro a circular é posto à disposição de ideias desportivas bem definidas e que, regra geral, são personificadas nos treinadores.
O problema do Manchester United, e que explica a relação difícil dos adeptos com os proprietários do clube, os norte-americanos Glazer, não é a falta de dinheiro, mas a falta de uma estratégia, de uma ideia, que a reforma de Sir Alex Ferguson veio pôr a nu. Os investidores do City, apesar de ganharem títulos com Mancini e Pellegrini, perceberam que era preciso uma nova estratégia, mais duradoura, e uma nova filosofia. Foi essa a razão, e não a obrigação de conquistar a Champions, para terem contratado Guardiola.
Depois de uma experiência fracassada com Brendan Rodgers, que, ainda assim, esteve perto de conquistar um título que foge há quase três décadas, os donos do Liverpool, a norte-americana Fenway Sports Group, apostaram num treinador para um projecto a longo prazo. Jürgen Klopp demorou quatro anos a conquistar o primeiro troféu no Liverpool, mas nesses quatro anos de seca a equipa melhorou sempre e os adeptos perceberam que havia ali qualquer coisa a ganhar força de uma forma sustentada. Foi o carisma do treinador alemão aliado às suas ideias, ao crescimento da equipa e à compreensão do espírito do clube que lhe concedeu o tempo necessário para chegar ao troféu que só não é o mais desejado porque há aquele pequeno problema de três décadas a ver navios.
Para não matarem a galinha dos ovos de ouro, as organizações devem esforçar-se para que os clubes compitam em igualdade de circunstâncias e com transparência. Isto não significa que os adeptos alguma vez darão mais importância a presidentes e investidores do que aos representantes da paixão que os move: os jogadores e os treinadores. O culto caudilhista dos presidentes providenciais funciona bem noutras paragens, mas a vantagem de o dinheiro não ter rosto é que a cara do futebol passa a ser a de treinadores e jogadores. É provável que certos investidores invistam no futebol por razões de vaidade, prestígio pessoal ou branqueamento político, mas aqueles que investem para ter retorno sabem que não podem hostilizar uma cultura que é precisamente a base do sucesso de um negócio como a Premier League, um negócio peculiar, como é o do futebol, em que o dinheiro conta, como em qualquer outro negócio, mas em que a paixão dos adeptos é o verdadeiro motor.
A aposta da FSG em Jürgen Klopp resultou não só pela sua “extraordinária liderança” no balneário, como referiu o presidente Tom Werner, mas pela sua relação com o espírito de Anfield e com o espírito do futebol inglês. E isso vê-se na forma como Klopp reage aos triunfos e às derrotas: com euforia no momento das vitórias e elevação na hora das derrotas, frustrado por não ter vencido o campeonato, mas satisfeito por ter feito tudo para o vencer. A reacção de Werner também se enquadra neste espírito de respeito pela competição e pelos adversários. Apesar das investigações ao Manchester City por uma eventual quebra das regras do fair-play financeiro, o presidente da FSG deu os parabéns ao adversário e separou os dois assuntos. Se há clubes que não cumprem as regras, devem ser punidos, mas isso não implica retirar o mérito a quem conquistou o título em campo.
O dinheiro é importante, sim, mas não é tudo. Ao ver os festejos eufóricos dos jogadores do Liverpool, numa alegria infantil, pensei: quantos jogadores não abdicariam de uma parte dos seus rendimentos para viver um momento assim? Algum dos adeptos do Liverpool que choravam e cantavam nas bancadas estava a pensar na FSG? Algum deles lamentou as fortunas investidas na contratação de Virgil Van Dijk e Alisson? Algum deles pensou que o melhor seria terem-se livrado de Klopp nos anos em que falhou a conquista de troféus?
O sucesso da Premier League, bem como o sucesso do Liverpool, é esta capacidade de dar um rosto humano a um desporto que movimenta milhões (de pessoas e de euros). Os adeptos não se importam de pagar por isso porque estão a seguir a sua paixão e, quando olham para o relvado, veem homens, profissionais, imbuídos do mesmo espírito, guiados pela mesma paixão. E, bem vistas as coisas, haverá dinheiro que pague a sensação de assistir ao momento em que o capitão Henderson levantou a “orelhuda”?"

Com a vontade e os sonhos lá dentro, esta era a vez deles

"A imagem apareceu enquanto os jogadores do Liverpool festejavam com os adeptos aquela reviravolta dos diabos frente ao Barcelona, do 0-3 fora para o 4-3 em casa. Uma tarja, plantada pendurada numa das bancadas de Anfield, onde se lia:
With the drive
And the dreams inside
This is my time
Eu, que já estava ligeiramente (ok, muito) emocionada com aquela 2.ª parte que tinha acabado de ver, com o “You’ll never walk alone” cantado pelas lágrimas de alegria de 50 mil almas, então é que me desmanchei.
Diz-se que “I won’t share you”, de onde esse pedaço de lírica que li na tarja foi retirada, é uma canção de ciúme, o ciúme que Morrissey sentiria de Johnny Marr e que também ajudou a que os The Smiths acabassem - “I won’t share you” é, curiosamente ou não, a derradeira canção do derradeiro álbum de originais da banda, “Strangeways, Here We Come”.
Mas lida assim, sem contexto, ou melhor, naquele contexto épico de 11-mais-3 homens a darem a volta a um 3-0 para chegarem à final da Liga dos Campeões, um par de dias depois de verem a última esperança de se tornarem campeões ingleses a desvanecer-se num remate do meio da rua do capitão do City, nesse contexto, a frase não é uma frase de ciúme, mas sim de força de vontade, de esperança, da ousadia de quem sonha e não acredita no que todos dizem ser impossível (e, não me venham com coisas, vocês também o disseram), mesmo depois de um esforço inglório.
Era o tempo deles, a vez deles, do Liverpool, só vice-campeão da Premier League mesmo com 97 pontos, de Jurgen Klopp e as suas seis finais perdidas, do futebol rock and roll e até de quem manda no clube, que teve a coragem de manter o alemão de óculos engraçados e sentido de humor impagável, mesmo com um 8.º lugar na primeira época e dois 4.º lugares nas que se seguiram. Mesmo com uma final da Taça da Liga perdida, uma final da Liga Europa perdida, mesmo com uma final da Champions perdida.
Os mesmos The Smiths cantaram que “it takes guts to be gentle and kind” e eu também acho que é preciso coragem para, nos dias de hoje, se manter um treinador que demora a ganhar, mesmo que tenha uma ideia de jogo verdadeiramente entusiasmante. E também foi por isso que no sábado torci pelo Liverpool, por Klopp, por Van Dijk e Salah e Mané e Alexander-Arnold e Milner, apesar de também ter muita simpatia pelo Tottenham, por Pochettino, por Eriksen e Alli e Son. Até porque muito do que se aplica ao Liverpool, também se aplica à equipa de Londres.
O jogo, diga-se, foi de uma pobreza franciscana. Achávamos todos que íamos ver um jogo eléctrico, de parada e resposta, com muitas transições, muitos remates e muitos golos, mas calhou-nos 90 minutos de passes falhados, chutão para a frente, ocasionais remates e um resultado desde logo marcado por uma grande penalidade quando ainda estávamos na fila para ir recolher a primeira cerveja da noite. Como se as duas meias-finais épicas que tinham levado Liverpool e Tottenham ao Wanda Metropolitano de Madrid tivessem sugado toda a energia e criatividade às duas equipas, como se o peso daquele título fosse demasiado, numa temporada boa para ambos, mas ainda desprovida de títulos - os títulos não têm per se de validar uma grande época, mas ajudam, sem dúvida.
Ganhou, portanto, o Liverpool, com um golo a abrir e outro a fechar, o primeiro de Salah, o outro de um Origi que ainda há um par de meses estava de malas feitas para um empréstimo triste ao Huddersfield. Klopp cantou, talked about six, foi o rei da festa empoleirado no autocarro que atravessou as ruas vermelhas de Liverpool, que por acaso nem é a cidade natal dos The Smiths, essa fica ali a 50 quilómetros, em Manchester, mas talvez não haja banda em Liverpool (nem sequer “a” banda) que cante as emoções vividas em Anfield como Morrissey e Marr um dia fizeram.
Esta era a vez deles.

O que se passou
Vou começar pelo que se vai passar. Quarta-feira, Portugal recebe a Suíça na final four da primeira edição da Liga das Nações, que terá ainda Inglaterra e Holanda. Os jogos realizam-se em Guimarães e no Porto e convém recordar a certas e determinadas pessoas que são jogos de Portugal e não do Benfica, Sporting, FC Porto, Arrentela ou do Freixo de Espada à Cinta. De Portugal.
De resto, passou-se que Jorge Jesus, depois de um curto mas intenso namoro, foi confirmado como treinador do Flamengo.
Passou-se ainda que a Selecção Nacional sub-20 foi inesperadamente eliminada na fase de grupos do Mundial da categoria, onde era uma das equipas favoritas à vitória.
Passou-se também que o estónio Ott Tanak (Toyota) foi o vencedor do Rali de Portugal e que Miguel Oliveira foi 16.º no GP Itália, mesmo com um dedo partido, após queda no warm up.
Mas a notícia mais trágica da semana foi a morte de José Antonio Reyes, antigo jogador do Benfica, Sevilha, Arsenal, Real Madrid e Atlético Madrid, vítima de um acidente de viação na sua Andaluzia natal. O extremo partiu cedo, com apenas 35 anos."

Está tudo na literatura e nas canções de amor - até o futebol

""[prefiro o homem] Que entende o triunfo da poesia sobre o futebol, mas que joga sua pelada todo domingo debaixo do sol" (Rodrigo Bittencourt, na voz de Thais Gulin)
Estamos em tempo de balanços: as épocas acabam, olha-se para trás, menciona-se os melhores e os piores protagonistas da temporada e depois vamos todos a banhos, entretidos com as movimentações de mercado, boatos, rumores, barulho, demasiado ruído. O que sobrou de uma época futebolística? Do que nos lembraremos daqui a vinte anos de 2018/2019? Conseguiremos daqui a umas décadas fazer retrospectivas e dizer o nome das linhas ofensivas dos vários clubes da Primeira Liga e também de equipas europeias que maravilharam ao longo da temporada? Ou estamos demasiado preocupados com polémicas e actores menores que se tornarão mais facilmente recordados no futuro, quando a demência nos atacar o cérebro?
Costuma dizer-se que está tudo na literatura. Recorro ao livro que está, por estes dias, na minha mesa de cabeceira, "Léxico Familiar" de Natalia Ginzburg, edição da Relógio D'Água, tradução de Miguel Serras Pereira. O livro narra a vida da família Levi e é uma das filhas, Natalia, que nos vai contando as peripécias familiares nas décadas de 30 a 50 do século XX, em Turim, num dos períodos mais conturbados da história recente de Itália. Natalia é, por isso, "testemunha dos momentos íntimos da família". Reparem neste excerto, pp.25-26:
"Somos cinco irmãos. Vivemos em cidades diferentes, alguns de nós no estrangeiro, e não nos escrevemos muitas vezes. Quando nos encontramos, podemos ser, uns para os outros, indiferentes ou distraídos. Mas basta, entre nós, uma palavra. Basta uma palavra, uma frase: uma dessas frases antigas, ouvidas e repetidas infinitas vezes, no tempo da nossa infância. (…) Uma dessas frases ou palavras faria com que nos reconhecêssemos mutuamente, como os irmãos que somos, na escuridão de uma gruta, entre milhões de pessoas. Essas frases são o nosso latim, os vocabulários dos nossos dias idos, são, como os hieróglifos dos egípcios ou dos assírio-babilónios, o testemunho de um núcleo vital que deixou de existir, mas que sobrevive nos seus textos, salvos da fúria das águas, da corrosão do tempo."
Imaginem o vosso grupo de amigos ou familiares com quem costumam ver e discutir futebol. Adicionem, na medida do possível, vinte ou trinta anos em cima de cada uma dessas pessoas e imaginem-se no futuro: se alguém soltar os nomes Bruno Fernandes, Rafa, Marega, Chiquinho, José Mota ou Vítor Oliveira, que enredo virá a seguir, que fio se soltará da meada mental nesse grupo de discussão?
Lembrei-me disto porque, após a atribuição do Prémio Camões a Chico Buarque fui rever pela enésima vez o documentário "Futebol", inserido na colecção de 12 DVDs lançados há mais de uma década sobre a vida do Chico. Desde já é preciso destacar o facto de um dos capítulos da vida deste artista ser dedicado em exclusivo ao futebol - a paixão do compositor brasileiro pelo jogo é imensa, basta dizer que é neste documentário que ele fala de forma mais descontraída, revelando uma quase infantilidade, seja quando recorda em pleno Maracanã os golos do Maracanazo de 1950 sofridos pelo goleiro Barbosa, seja quando está na mesma mesa de Ronaldinho Gaúcho e fica de olhos brilhantes perante o craque dos relvados, como se fosse uma criança a mirar o seu ídolo, ou ainda quando recorda de memória as equipas do São Paulo ou do Santos das décadas de 50 e 60.
Não é normal termos alguém a ganhar prémios literários ou artísticos com tanta importância como o prémio Camões que ao mesmo tempo tenha uma paixão enorme pelo futebol, algo muitas vezes renegado pelas elites culturais de vários países. O Chico tem inclusivamente um clube dele, o Politheama, e quando em digressão continua a não prescindir das suas peladas, seja em Paris, Belo Horizonte ou Lisboa. Para além disso, na música dele o futebol não é apenas algo que aparece de passagem. Tem um samba chamado "O futebol", ode ao desporto que nos faz vibrar como pouco coisa na vida, e são inúmeras as referências que Chico vai fazendo nas suas letras, seja em músicas de desgostos amorosos ("Com açúcar, com afecto"), ou mesmo em músicas políticas, como "Pelas tabelas" ou "Meu caro amigo". Mas gostaria de destacar outras três canções onde o futebol aparece para dar brilho à narrativa.
Em "Biscate", numa discussão entre um casal desavindo o Chico consegue meter futebol ao barulho da seguinte forma: Vives na gandaia e esperas que eu te respeite Quem que te mandou tomar conhaque Com o tíquete que te dei pro leite Quieta que eu quero ouvir Flamengo e River Plate A segunda, "Ilmo. Sr. Ciro Monteiro ou receita para virar casaca de neném" é uma deliciosa música sobre a rivalidade Fla/Flu. A última chama-se "Jogo de bola", do álbum mais recente "Caravanas" (2017), prova de que até com 75 anos o Chico não desistiu do futebol e está inclusivamente por dentro dos debates filosóficos dos nossos dias no que concerne ao mundo da bola. Isto tudo sem deixar de nos brindar com as suas famosas aliterações, nunca perdendo a noção que a poesia triunfará sempre sobre o futebol:
Salve o futebol, salve a filosofia
De botequim, salve o jogar bonito
O não ganhar no grito a simpatia
Quase amor
Da guria que antes do apito final
Vai sem aviso embora

Vivas a galera, vivas às marias-chuteira
Cujos corações incandescias
Outrora, quando em priscas eras
Um Puskás eras
A fera das feras da esfera, mas agora
Há que aplaudir o toque
O tique-taque, o pique, o breque, o lance
De craque do centroavante
E ver rolar a pelota nos pés de um moleque
É ver o próprio tempo num relance
E sorrir por dentro
Bem sei que a meio do tal documentário já referido o Chico diz algo bastante polémico: "gosto mais de futebol do que do Fluminense [clube por quem Chico torce]". A dicotomia pureza/clubite daria um outro longo texto, mas como já vos aborreci bastante celebremos alguém que consegue falar de futebol ao mesmo tempo que canta e escreve sobre a nossa vida. Eu tenho uma música do Chico para quase todas as situações da minha vida, sejam amorosas, políticas, sociais ou mesmo, lá está, situações do quotidiano como o futebol. É por isso que estranhei a total ausência de referências a esta faceta futebolística do Chico após a atribuição do prémio Camões na imprensa desportiva - peço desde já desculpa se algo muito evidente me escapou. Tínhamos aqui uma oportunidade para, neste final de época, nos esquecermos da espuma dos dias de mercado e celebrar alguém que consegue cantar sobre o Flamengo a propósito de uma discussão amorosa.
Bom Verão para todos porque "aqui na terra estão jogando futebol, tem muito samba, muito choro e rock and roll. Uns dias chove, noutros dias bate o sol. Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui está preta""

A educação pelo desporto: utopia ou realidade?

"A tese de Norbert Elias e Eric Dunning é conhecida: o desporto é fruto da civilização dos costumes, da aprendizagem das regras através da competição, que leva a uma canalização controlada da violência e das emoções e da interiorização das normas de comportamento.
O desporto, como se sabe, nasce na Inglaterra. Tem um período específico: o vitoriano, ou seja, do desenvolvimento industrial e de forte urbanização. Os jogos de exercícios (que não são ainda desporto) foram codificados e utilizados segundo uma solução pedagógica, respondendo a uma preocupação educativa: disciplinar a juventude, não pela vontade impositiva de uma autoridade superior, mas pela aceitação voluntária de regras comuns, que ultrapassam o quadro de um terreno de jogo para se aplicar na vida quotidiana, cultivar e canalizar o gosto pela acção, para forjar os homens de carácter, dotados de qualidades morais úteis para o país: espírito empreendedor, lealdade, perseverança, mentalidade de lutador e de vencedor. Foi este modelo de educação que os promotores da educação liberal quiseram depois importar para França, como foi o caso de Pierre de Coubertin.
A questão que podemos colocar é a seguinte: em que medida os valores educativos do desporto, herdados de Inglaterra vitoriana, são de actualidade?
O desenvolvimento das práticas desportivas, o seu lugar e o seu papel na sociedade oferecem imagens contrastadas para não dizer contraditórias. As relações que o desporto promove com a violência nos estádios e nas bancadas, com o dinheiro e a droga ou o doping, parecem negar toda a pretensão de o edificar a algo supremo. Os “advogados” do desporto puro e do desporto educativo pretendem ilustrar que ele foi desviado do seu objectivo inicial, tornando-se uma presa dos mercadores do templo, um lugar de lutas políticas, ideológicas e sociais. Pode ser verdade. Mas o número de praticantes não cessa de aumentar. Se o desporto não assumisse um valor educativo, os encarregados de educação não desejavam que as suas crianças praticassem uma ou mais modalidades desportivas e de as praticar eles mesmos.
Os atletas estão muito longe de ser virtuosos. Para ganhar, é preciso agressividade, é preciso “destruir” o adversário. Não é isso que se ouve nos balneários ou fora deles?
Não faltam instituições educativas que propõem a prática de um ou mais desportos. Entre elas, temos a Escola. Uns vão me dizer que eles não fazem desporto, mas sim educação física. Distingo subtil, mas incompreendido pelos alunos e pais, e que pede um “tratamento didáctico” sofisticado.
O desporto é um incontestável meio de educação. Ele favorece os comportamentos responsáveis, pacíficos e democráticos e contribui para o desenvolvimento positivo da personalidade. Mas os valores desportivos não devem ser considerados como objectivos ou condutas que podemos prever ou avaliar, mas como algo a construir, organizando as condutas de cada um."

Benfiquismo (MCXCIX)

Um dos nossos...

Juvenis - 6.ª jornada - Fase Final

Belenenses 1 - 3 Benfica


Mais um passo importante, ainda faltam 4 jornadas, mas os 5 pontos de vantagem dão-nos alguma margem de erro...

PS: Ontem não correu bem, mas hoje, o Fernando Pimenta, voltou a conquistar o Ouro, desta vez no K1 5000m! Desta vez, não foi 'atropelado'!!!
No K4 50m feminino, com as nossas Joana Vasconcelos e Teresa Portela, ficámos em 4.º lugar. No K4 500m masculino, com o João Ribeiro e o Messias Baptista ficaram em 6.º lugar.
A Joana Vasconcelos ainda fez a prova de K1 5000m e acabou em 18.º lugar.

Iniciados - 9.ª jornada - Fase Final

Tondela 0 - 5 Benfica
Marques, Bacai, Rocha, N. Félix, Quenda


Ainda falta uma jornada, matematicamente podemos chegar ao 2.º lugar, mas é improvável... mas podemos ter o ataque mais concretizador!

Mais uma goleada...

Amora 0 - 8 Benfica


Sem desacelerar...