"Começo por uma declaração de interesses: Sá Pinto é meu amigo. Nestas linhas já o defendi como poucos e, como muitos, desejo-lhe imensas felicidades. Posto isto, e como integrei a lista de Godinho Lopes ao Conselho Leonino, afirmo sem receio: se hoje este projeto fosse a sufrágio, o meu nome não constaria entre os elegíveis, e não votaria no atual presidente do Sporting.
Acreditei num projeto, numa atitude sustentada, ponderada em ideias, e com tempo para a execução das mesmas. Ao invés, constato uma série de incoerências, atos precipitados, indefensáveis do ponto de vista da concordância entre o que se afirma e o que se pratica.
Durante largos meses fui um dos que tentou convencer Carlos Barbosa, recente ex-dirigente leonino e tremendo gestor do maior clube português em número de sócios o ACP, a encabeçar um ideal há largos anos ambicionado por alguns sportinguistas, descontentes pelo caminho traçado pelos ilustres do costume.
A sua saída precoce alertou-me para o que mais receava. Um descalabro que se antevia com os “gritos” de alerta de Domingos. Os erros do treinador, também ele falível, não justificavam a sua saída porque, a julgar pelas palavras de agradecimento do Sporting, Domingos conseguiu em seis meses chegar à final da Taça de Portugal, o que há anos ninguém obtinha, e ainda pela frente estava para jogar meio campeonato. Conforme afirmou Luís Duque, este ERA um projeto que necessitava de tempo.
Mas onde mora a credibilidade de quem ainda dirige o clube? Fotografias autorizadas no túnel dos balneários, que nunca o foram, incêndio no Estádio da Luz sem um mero pedido de desculpa, e uma declaração de Godinho Lopes com juras de amor ao treinador, alicerce essencial para prossecução do tal ideário, desmentida em menos de 24 horas pelo próprio, quando pela frente estava uma jornada europeia importantíssima.
Ao clube não falta amor dos seus adeptos, é a indiferença e a resignação em que cai desamparado que cava a sua sepultura. Quem se resigna uma vez às claques, demite o seu poder à força das mesmas para sempre.
Como se não bastasse tanta, crassa, insensibilidade para a gestão do futebol sénior, ainda dão azo a prosseguir um braço-de-ferro inconsequente com o eterno rival. O próximo Sporting-Benfica, em juniores, estará vedado ao público, e só quem for sócio verde e branco é que pode assistir ao jogo.
Mais um atentado às liberdades e garantias de qualquer cidadão português, e pior, mantendo uma fogueira onde não há incólumes. Em Alcochete há também muitos chamuscados.
Hoje, concluo com um suave sorriso. Como eu compreendo o silêncio de Paulo Bento quando lhe perguntaram uma opinião sobre a promoção de Sá Pinto. Aliás, sorrio eu, e o “Coração de Leão”. Ironias do destino. Boa sorte amigo, boa sorte Sporting."