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terça-feira, 11 de setembro de 2018

Noite de magia negra na cidade das luzes


"Benfica e Bayern de Munique - que vai ser adversário dos lisboetas nesta Liga dos Campeões que se aproxima - defrontaram-se pela primeira vez em Paris, no Estádio de Columbes, num desafio amigável, no dia 2 de Abril de 1972. Vitória benfiquista (2-1) antes de uma eliminatória europeia frente ao Ajax. Coincidências...

Paris é uma cidade muito portuguesa. Nem vale a pena carregar de novo na tecla dos emigrantes que há muitos, muitos anos demandam a capital da França. Há nela uma espécie de chamado. Ou um encanto, se quiserem. E foi também um local que marcou a história do Benfica.
No dia 2 de Abril de 1972, os encarnados estavam em Paris. Veja-se como o destino marca determinadas horas da nossa existência: no Estádio de Colombes, o Benfica defrontava o Bayern de Munique, num desafio particular, com a cabeça virada para a eliminatória próxima frente ao Ajax para a Taça dos Campeões Europeus. Curiosa coincidência, não acham?
O público acorreu, numeroso. Havia um ambiente festivo.
Nunca os dois clubes haviam estado frente a frente.
E, acrescente-se, a primeira meia hora de jogo foi absolutamente sensacional: ao primeiro toque, sem arrebiques desnecessários, uma vertigem absoluta do golo.
Na véspera, os jornais franceses duvidavam do sucesso do empreendimento levado a cabo por um português. Porque, como já dissemos, o Benfica estava à beira de uma eliminatória de exigência máxima frente aos holandeses do Ajax, porque o Bayern viera a Paris apenas para cumprir contrato.
Previsões arrasadas logo ao minuto número dois: Nené já tinha dado o mote quando Adolfo fez o 1-0. Nove minutos mais tarde foi a vez de o jovem Jordão assinar um remate violento à barra de Sepp Maier - na recarga, Vítor Baptista fez o 2-0.
Parecia que vinha aí uma goleada. Os alemães queixar-se-iam, depois, que o facto de terem aterrado em Paris apenas umas horas antes do inicio da partida não lhes permitira estar nas suas melhores condições. Udo Lattek, treinador dos bávaros, lamentava-se: 'Não queríamos vir aqui jogar, mas ao compromisso estava assinado há bastante tempo. Tivemos de defrontar o Benfica e o resultado foi este. Há que dizer que o Benfica jogou muito bem, mas este não é o verdadeiro Bayern. Os golos que sofremos foram muito consentidos, Jordão é muito bom e Eusébio continua um perigo, embora já sem a velocidade de outros tempos.
Jimmy Hagan, o treinador do Benfica, podia ter um confronto decisivo daí a três dias, em Amesterdão, mas não brincou em serviço. Alinhou com os mais fortes: José Henrique; Artur, Humberto Coelho, Zeca e Adolfo; Jaime Graça, Eusébio e Vítor Marques; Nené, Vítor Baptista e Jordão. Entrariam no segundo tempo Messias, Toni, Diamantino e Artur Jorge.
Do outro lado, havia nomes sonantes como Beckenbauer, Breitner, Schwarzenbeck, Roth ou Muller. Um luxo!

A arte de Jordão e Eusébio...
Humberto Coelho emulava o capitão do Bayern, Beckenbauer: a sua exibição foi perfeita! Não se limitou a ser central, foi também médio e avançado. 'Cedo descobri que Muller tentava rodar sempre pela esquerda e não fui na fita dele', diria no final. Os minutos iniciais do Benfica foram avassaladores e mais golos poderiam ter surgido. Em seguida, os alemães responderam, segurando-se naquele orgulho arrogante próprio dos Nibelungos.
Jordão enchia os olhos aos espectadores: as suas arrancadas, mudanças de velocidade, os seus dribles e as suas tabelinhas com Eusébio, que jogava solto por todo e campo, encantaram toda a gente a atiraram-no para o paroxismo dos aplausos sentidos.
Também Muller, o Bombardeiro, se lamentava: 'Não costumo falhar golos como os que falhei. Mas jogámos cansados e desinteressados. Já não muitos desafios consecutivos'.
Roth, aos 40 minutos, fixaria o resultado final.
Nada que abalasse a firme vitória benfiquista.
O Miroir du Foot faria a sua primeira página com Jordão: 'Um jovem mágico que segue na peugada de Eusébio! Aquilo que ambos fizeram ontem no relvado de Colombes é digno do melhor futebol que alguma vez Paris já viu'.
Os pontos de exclamação eram mais do que merecidos.
Pela primeira vez, Benfica e Bayern tinham estado em frente a frente a todo o comprimento e largura de um relvado. Dois clubes enormes com jogadores enormes.
No dia seguinte, os encarnados partiram para Haia, onde começaram a preparar a eliminatória frente ao campeão da Holanda. Seguir-se-ia outro confronto de gigantes.
O grande futebol exige a excelência. Quem a não tem tomba no precipício do olvido..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Primeiro digressão do basquetebol encestou em cheio

"Viagem no sudoeste de França trouxe para Portugal uma gloriosa conquista pela equipa de basquetebol.

Em 1947, a equipa de basquetebol do Benfica partiu 12 dias em digressão ao sudoeste de França, a convite da Federação Francesa.
No dia de despedida, a equipa encontrava-se ansiosa por aquela que seria a primeira digressão a França, mas não deixaram de agradecer o apoio dos sócios e dirigentes que foram até a estação do Rossio, em Lisboa, para se despedirem e dar apoio.
O primeiro jogo realizou-se na Praça de Touros de Dax frente à selecção Dacquoise, tendo sido uma partida dividida em três partes de 15 minutos em que a equipa saiu sempre a ganhar, tornando-se a primeira vitória do Clube neste torneio.
De 26 de Outubro a 6 de Novembro, o Benfica saiu vitorioso ainda frente às equipas Union Sportive Pomarezienne, Lot-et-Garonne e às selecções de Orthezien, Landes, Oloron e Paloise. O melhor resultado do torneio para a equipa benfiquista foi frente à selecção Avenir Aturin por 79-26, terminando com oito vitórias em oito jogos.
A excelente prestação da equipa deveu-se aos jogadores Joaquim Trindade, Homero Reis, Júlio Morais, Júlio Montalvão Silva, Leonel Lacerda, Sebastião Ferreira, Manuel Campos, Jaime João da Silva e ao treinador Rogério Paula Bastos.
Não podemos deixar de destacar Homero Reis, que nesta digressão marcou 108 pontos pela equipa do Benfica. Uma referência no basquetebol da sua época, conquistou os títulos mais importantes do seu tempo Começou a jogar desde muito novo ainda no liceu, estreando-se na equipa A de infantis, com apenas 14 anos.
Além de jogador, também foi treinador em três épocas (1948/49 - 1950/51), capitão da equipa por cinco e dirigente do Clube oito anos (vogal em 1964 e 1969, secretário em 1970 e secretário-geral 1971 e 1976).
A época 1947/48, com a digressão a França, começou da melhor maneira para a equipa benfiquista, que marcou 435 pontos contra os 253 sofridos. No regresso teve uma calorosa recepção, com um 'Porto de Honra', um brinde com um cálice de vinho do Porto, na Direcção-Geral de Desporto, sendo louvada oficialmente por este organismo.
Poderá encontrar a história das vitórias das equipas de basquetebol do Benfica no Museu Benfica - Cosme Damião, na área 3 - Orgulho Ecléctico."

Cláudia Paiva, in O Benfica

A gestão desportiva do futebol face aos acontecimentos actuais - que futuro depois das eleições?

"O que uma equipa desportiva ou organização desportiva representa para um fan, um comum adepto ou somente um curioso do fenómeno desportivo varia de pessoa para pessoa.
Quem deu a conhecer um determinado clube ou equipa pela primeira vez à pessoa, em que fase da sua vida, as memórias criadas na infância, as rivalidades históricas, o desafio mental de ser adepto dessa equipa, são factores que trazem a lealdade pessoal e emocional a um clube ou equipa.
Um dos momentos mais desafiantes que um fan pode ter é estar ou ver aquele jogo em que tudo parece perdido, mas algo aparentemente impossível aconteceu. Ganhámos!!! Como foi possível? Com que frequência uma equipa vence em determinadas circunstâncias? Em que modalidades? Qual a sensação que isso traz ao fan? Será que podemos captar novos fans por causa deste tipo de momento que proporcionamos? Estão os fans disponíveis para seguir este tipo de equipa e organização desportiva?
Ora, todos estes momentos criam grandes memórias, sensações e atitudes em nós como seres humanos despertando momentos únicos e que o departamento de marketing e comunicação devem aproveitar com objectivos claros de conseguir o comprometimento dos fans e adeptos.
O que é que isto tem a haver com as eleições do Sporting Clube de Portugal (SCP) e com a série de textos que escrevemos previamente?
Depois de ver, ouvir e ler, isto é, consumir horas intermináveis de informação sobre as eleições do SCP, dei por mim a pensar o porquê que desde o início os diversos candidatos não deram relevo à cultura organizacional do SCP?
Se no futebol podemos considerar o SCP uma organização perdedora (os dados estatísticos assim o dizem e os candidatos assim o referiram) devido ao número de títulos que conquistou nos últimos quarenta anos, já nas modalidades tal já não acontece. As equipas do SCP das diversas modalidades foram campeãs nacionais.
Assim podemos questionar o porquê.
Será que o foram porque têm orçamentos maiores que os outros clubes? Será que têm melhores atletas? Será que têm melhores treinadores? Será que os dirigentes são melhores? Será que conseguiram construir um grupo mais forte e coeso que as outras equipas? Será que no contexto da modalidade a vitória é mais fácil? Terão melhor organização interna? Outras condicionantes?
Ao longo das entrevistas e debates, diversos foram os temas abordados, nomeadamente os financeiros, que desde o primeiro dia foram marcando o discurso ou debate dos diversos candidatos. 
Para mim, fiquei com a expectativa que os candidatos à presidência do SCP (o mesmo se aplica a qualquer que seja a organização desportiva) trouxessem para a discussão a activação da marca Sporting e a aceitação de que o clube tem de ser gerido como uma marca, inserido na indústria da sua área de negócio (indústria desportiva). Como qualquer marca, possui sinais identitários, uma missão, visão e valores que a diferenciam das restantes organizações.
E é a forma como construímos a marca e os seus produtos que poderá determinar que seja uma organização ganhadora ou perdedora. Indo de encontro às pessoas (fans, adeptos, simpatizantes), atraindo parceiros comerciais e investindo no futuro do jogo (recursos humanos-jogadores e treinadores, tecnológicos), no fundo construindo um relacionamento com os diversos stakeholders. 
Para isso é fundamental a operacionalização de diversos departamentos, tais como o departamento de marketing e comunicação, que deverão implementar um plano estratégico quer de marketing quer de comunicação que vá de encontro às necessidades do clube e das expectativas dos fans, adeptos e simpatizantes (de acordo com o seu grau de envolvimento), dos seus patrocinadores e um departamento de recursos humanos que deverá saber recrutar os melhores profissionais através de um processo de recrutamento que identifique os colaboradores que comunguem da mesma cultura, de forma a acrescentar valor e ter um impacto imediato, para depois saber retê-los. Trabalhar numa cultura de vitória é por certo um factor que encoraja as pessoas a trabalhar e permanecer em organizações de sucesso.
O acto de eleger uma nova direcção seja de um clube, ou de um outro tipo de organização desportiva, não deve ser visto como um ato final em si, mas sim o princípio de uma gestão do desporto baseado numa estratégia que conduza ao sucesso e ao saber gerir as expectativas dos consumidores de um qualquer espectáculo desportivo, o que nem sempre é fácil, devido à paixão que o desporto causa em todos nós, mas tirar o fan ou o simples adepto do sofá e conseguir que ele vá ver o jogo ao vivo é hoje um dos maiores desafios que uma organização desportiva pode ter.
Só com uma grande paixão, visão e uma equipa de pessoas competentes e profissionais se poderá construir uma organização de sucesso assente numa cultura de vitória."

Fim do conto de fadas (mais uma vez...)!!!

Brunão, a melhor série de sempre

"Terminou com estrondo a quinta temporada da série Brunão, considerada por alguns como a obra maior da ficção televisiva portuguesa. Depois de quatro temporadas sempre em crescendo de qualidade e emoção, Brunão terá alcançado com autoridade, neste quinto capítulo, o patamar no qual habitam somente clássicos de culto como The Wire, Sopranos e Breaking Bad.

Se inicialmente a crítica temesse que Brunão se viesse a revelar uma série de consumo fácil para um público ávido de polémicas no futebol, os seus criadores foram surpreendendo episódio a episódio, edificando, com mãos de artesão, um verdadeiro marco no modo português de contar histórias. Totalmente fictícia e sem nenhuma ligação com factos reais, Brunão não perde pelo arrojo - alguns dirão falta de verosimilhança - da sucessão de plot twists absolutamente inebriantes que impõe aos seus espectadores, forçosamente boquiabertos a cada cena. Antes pelo contrário, é na falta de plausibilidade que reside o seu principal encanto.


Desde o despedimento de Marco Silva, à contratação de Jesusão, passando pelas polémicas publicações no Facebook contra todo o tipo de alvos, é verdade que as primeiras quatro temporadas não foram pobres em surpresas narrativas, mas foi efectivamente nesta última que a série alcançou a sua definitiva maturação. O (spoiler alert) episódio do Ataque dos 50 foi absolutamente arrebatador, desafiou todas as convenções formais e será estranho se não for estudado, num futuro próximo, como exemplo de como se escreve um guião irrepreensível para televisão.
As comparações com House of Cards são manifestamente lisonjeiras para com a produção americana, uma vez que, no caso da série que deixou de contar com Kevin Spacey, a realidade já ultrapassa, não raras vezes, a ficção. Brunão nunca deixa de ser interessante e empolgante. Todo o rol de acções autodestrutivas do seu protagonista pode muito bem ter sido a razão pela qual os gregos inventaram o conceito de húbris.
A construção de personagem em Brunão é primorosa, fazendo o espectador acreditar que pode mesmo (numa realidade alternativa, convenhamos) existir um dirigente desportivo tão descomedido, indelicado e incendiário como o protagonista. É notável o que se faz em ficção nos dias de hoje. E ficamos todos a pensar de como seria se isto tudo fosse verdade."

Chama Imensa... Selecção... e o lamaçal...

Benfiquismo (CMXLVI)

Está quase...

Está quase: Krovi...