Últimas indefectivações

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Na liderança!

"Nestas alturas, a famigerada lei de Murphy é sempre evocada. Parece bruxedo. No único lance de perigo do Vitória de Setúbal, só existente porque um dos nossos jogadores escorregou, a bola entrou na nossa baliza. Teria sido um excelente golo, não fosse ter sido contra o Benfica. De golo em golo falhado, até que nem oportunidades do mesmo fossem criadas, lá surgiu o árbitro a dar prova de vida nesta sucessão de machadadas na vantagem adquirida e entretanto perdida.
De há uns jogos para cá, parece ter-se instalado na nossa equipa um certo fatalismo que a inibe de ultrapassar as contrariedades. A ineficácia da equipa mais concretizadora do campeonato veio ao de cima, o que não deixa de ser paradoxal. Tanto quanto, agora que o Benfica, pela qualidade do seu jogo, não tem sido capaz de minimizar os estragos dos homens do apito, a incompetência generalizada na arbitragem portuguesa ter-se tornado aceitável. Já agora, assim como a vista de elementos da claque portista ao centro de treinos dos árbitros... Por pura coincidência, claro está, parece ter resultado em favor dos prevaricadores, e ninguém, na comunicação social, parece interessado em analisar a situação... E o videoárbitro - lembram-se? - voltou à sua insignificância até que um dia ressurja a necessidade de a ele recorrer... Estranho equipamento... Não apoia a decisão no momento, mas condiciona-a no futuro.
Bom, caso não tenham reparado, continuamos na liderança do campeonato. Já tivemos crises piores. Aliás, já tivemos verdadeiras crises. Não é o caso presente.
PS - Desde que a outra encomenda foi de patins, os erros técnicos transitaram de lado na Segunda Circular... Boa vitória frente ao Sporting!"

João Tomaz, in O Benfica

Qual crise?

"Sim, no SL Benfica não estamos - nem nunca iremos estar - habituados a perder duas vezes seguidas. Neste Clube entra-se em todos os jogos, de todos as modalidades, de todos os escalões e géneros, sempre para ganhar. Às vezes, por um alinhamento errado dos planetas, por um pontapé falhado, por uma má decisão de quem treina, por uma defesa impossível do adversário ou por uma desprezível cobardia de um árbitro, tal não acontece. É nesses momentos que não pode haver a mínima dúvida: há que continuar a apoiar.
O mais fácil é apontar os erros, realçar as falhas, encontrar um bode expiatório e sentar-se no trono das redes sociais a ditar sentenças. O mais visceral é ir buscar avisos feitos no passado, teorias da conspiração saídas de mentes perversas e disparar insultos básicos em todas as direcções. Isso é o mais fácil, não necessariamente aquilo de que o SL Benfica precisa.
Aquilo de que o tricampeão nacional de futebol precisa é de mais de 60 mil nas bancadas nesse fim de semana, a apoiar de forma incondicional a equipa que lidera o campeonato, que tem o melhor ataque e que está a poucos dias de mais um jogo decisivo da montra da Champions.
Sim, as duas derrotas preocupam-me, mas estar a pôr em causa o trabalho deste grupo e duvidar da sua qualidade por duas noites mal conseguidas não faz parte da minha forma de ser benfiquista. Além do mais, continuamos na posição que todos os outros invejam. E ninguém disse que o Tetra ia ser fácil. No SL Benfica, ninguém nos oferece nada: nem aconselhamento matrimonial, nem férias pagas no Brasil, nem boleia para o centro de treinos dos árbitros. Aqui trabalha-se e aprende-se com os erros."

Ricardo Santos, in O Benfica

Olhar para a frente

"1. Neste Campeonato, o Benfica perdeu pontos em cinco jogos. Em quatro deles foi claramente prejudicado pela arbitragem. Deixemos de parte a ainda precoce segunda jornada. Todas as outras, Marítimo, Boavista e V.Setúbal – podíamos acrescentar também a eliminação da Taça da Liga -, ocorreram na sequência de uma inusitada gritaria lançada pelos rivais, à qual respondemos com silêncio. Silêncio facilmente confundido com cumplicidade. Em linguagem popular: deixámos enfiar a carapuça. Pode entender-se, e até louvar-se, a bondade da estratégia, mas está claro, neste momento, que se tratou de um erro. Que nos sirva de lição.
Jamais nos poderemos deixar colar aos árbitros (ou às instâncias de arbitragem), pela simples razão de que eles também não podem, nem querem, colar-se a nós. Nem nós queremos que o façam. O que temos é de garantir que a pressão de outros quadrantes não surta efeitos, e não condicione comportamentos. Não podemos permitir que o embuste e a mentira vinguem.
Grande parte das decisões dos árbitros são tomadas instintivamente. Ouvindo barulho só de um lado, é humano que se defendam. Daí, na dúvida, não irão marcar penáltis aos 95 minutos, sabendo que contam com o silêncio dos eventuais lesados.
2. Pode argumentar-se que as últimas exibições não estiveram ao nível a que nos temos habituado. Mas quem, em Portugal, tem jogado melhor futebol do que o Benfica? Estamos na frente. As horas difíceis são para os verdadeiros Adeptos. Aqueles que choram. Aqueles que sentem cada derrota como uma facada na alma. É desses que a equipa precisa agora. É esse o nosso desafio."

Luis Fialho, in O Benfica

Vai Benfica!

Para ganhar, o Benfica tem de matar a alegria e sentir-se miserável

" “For alarmingly large chunks of an average day, I am a moron.” - Nick Hornby, Fever Pitch

Tenho vergonha de confessar isso, mas adormeço sempre bem, excepto quando o Benfica perde. A minha mulher goza-me, fica espantada com a minha capacidade de demorar dez segundos do beijo de boa noite ao ressonar, mas sou assim. Excepto quando o Benfica não ganha. Aí, deito-me irritado, fico a olhar para o tecto a rever jogadas mentalmente, a imaginar outras combinações, a sonhar acordado com jogadas que dariam golo.
Para irritação da pessoa que dorme comigo, adormeço bem mesmo se o meu filho não tem a roupa pronta para amanhã ou se não há fruta para a sobremesa dele. Mas quando o Benfica não ganha, fico a analisar os erros, os movimentos, as saídas de bola que não correm bem, a péssima forma física do Pizzi, o desastre que é o Lindelöf com cabelo e a central esquerdo, o ridículo de não termos comprado um número 8 desde a saída do Renato.
Depois, adormeço e acordo a meio da noite, com a vã esperança de que tudo foi um sonho e que hoje é madrugada de domingo para segunda e o Benfica só joga à noite – até perceber que são mesmo 4 da manhã de segunda-feira, o meu filho está a chorar e eu estou irritado porque o Benfica não ganhou. 
Peço desculpa, não me apresentei. O meu nome é Manuel Neves e sou adepto do Benfica. Não tenho nenhuma função no clube, para além do meu lugar anual, e vivo obcecado com que o Benfica ganhe. Todo o tempo em que a minha cabeça não tem que estar a pensar nos mínimos olímpicos para a manutenção da minha vida profissional e familiar, estou a pensar no meu clube. Sem parar. E em dias como o de segunda-feira, depois do Benfica perder contra o Setúbal, toma conta de mim um vazio, porque percebo que o mundo e a vida não fazem sentido quando o Benfica não ganha, e porque tenho a vaga impressão que no meu clube nem toda a gente pensa e vive obcecada em ganhar como eu. E isso é uma coisa que me transtorna mais do que a eleição de Trump. E não há nada pior para um paranóico como eu do que ser efectivamente perseguido.

"Tristeza não tem fim, felicidade sim" - Tom Jobim
O meu problema com o Benfica, confesso, é a sua felicidade. O meu clube é o clube da alegria. O nosso cântico mais famoso é um grito acelerado das nossas sílabas, sem espaços, até ficarmos sem fôlego: “SLB! SLB! SLB! SLB! SLB!” seguido de um “GLORIOSO!”, que é uma exclamação sem mais, porque não há necessidade de explicar de quem é a glória, de tão óbvio que é.
O Benfica é uma alucinação contínua de vermelho, de pessoas que viveram convencidas que Nuno Gomes era sequer comparável a Jardel, de adeptos que só agora percebeu que Akwa não foi o novo Eusébio, e que é provável que Makukula também já lá não chegue.
Ser do Benfica é ter acreditado que íamos ganhar ao Porto com Ronaldo, Paulo Madeira ou com Rojas e Sérgio Nunes (eu era um deles). Quando entramos na Luz, há pessoas que sem nos conhecerem de lado nenhum gritam: "É O BENFICA!". Mas é o Benfica o quê? E é este o clube que eu, um adepto com alma de treinador, que vive pessimista e a achar que tudo vai correr tão mal como no outro dia, amo profundamente e para sempre.
É esta a minha cruz: acho sempre que vai correr tudo mal a um clube cuja idiossincrasia é acreditar piamente que vai ganhar sempre, não importando se temos Bossio na baliza ou Celis no meio-campo. Somos o Benfica, portanto é suposto que no fim corra bem, vá-se lá saber porquê.
Apesar do meu ateísmo, a matriz judaico-cristã inculcou em mim este complexo de culpa: eu atribuo as culpas de todos os nossos desaires a esta felicidade. Há algo dentro de mim que acredita que se todos os benfiquistas fossem duros e meticulosos nas análises como eu, este clube seria mais exigente e iria mais longe. Mesmo com sete pontos de avanço para o Porto (na altura menos para o Sporting), era fácil intuir que nos faltava um número 8 (comprámos Rafa, Cervi e Zivkovic – todos excelentes – para colmatar a saída de Gaitan e para o centro nada), dado que em 2014/2015 Pizzi chegou para as encomendas por muito pouco.
Mesmo com a equipa em primeiro e a ganhar duas vezes em Guimarães, os métodos defensivos que Rui Vitória herdou de Jesus pareciam-me cada vez piores - e não me deixei convencer pelos elogios de Pep Guardiola, comparando-nos a Sacchi. Aliás, acho uma heresia comparar o mestre Arrigo a um treinador que tem de beber água antes de cada canto contra nós porque acredita que isso é que vai tirar dali a bola.
É como comparar um doutorado em meteorologia com um gajo que leva sempre guarda-chuva porque a Tia Amélia lhe disse que tinha dores nas artroses.
Rui Vitória é um tipo simpático a quem, de facto, foi dado um Ferrari e que pode ser campeão ainda este ano porque está a correr contra Fiats em terceira mão. Mas isso não lhe dá particular mérito. E se nós, Benfiquistas, não estivéssemos sempre felizes, talvez víssemos que falta uma peça ao Ferrari (um número 8 à Enzo ou Renato) e que o condutor até pode chegar ao fim em primeiro, mas com um a sério estávamos a dar voltas de avanço.
Ainda por cima, este ano não podemos contar com os discursos motivacionais de Jorge Jesus (que está ocupado a culpar Adrien e William pelos resultados da equipa) para colmatar as óbvias deficiências tácticas que já tínhamos e que as vitórias esconderam.
Mas se num clube normal ir em primeiro ilude, no Benfica cega. Achou-se que tudo estava controlado e que o tetra ia ser um passeio. Cachecóis ao vento e bazófia do tamanho do terceiro anel. De repente, temos só um ponto de avanço, Pizzi e Jonas estão com a forma física de Cavaco Silva, Grimaldo lesionou-se há tanto tempo que não me lembro se era o nosso defesa-esquerdo titular ou se era suplente do Veloso e finalmente acenderam-se os alarmes. Hate to say "I told you so", but... I told you so.

"In "Confessions of a Winning Poker Player," Jack King said, "Few players recall big pots they have won, strange as it seems, but every player can remember with remarkable accuracy the outstanding tough beats of his career."
Matt Damon, em Rounders
No mundo em que eu quero viver, o Benfica era campeão todos os anos. Às vezes ponho-me a sonhar e penso: “Fazíamos o tetra, ficávamos com 36 depois o Porto ganhava um, ficava com 28 e nós logo um tri e íamos para 39 e...” e uma voz grita-me: “Porra, um título do Porto? Que é que correu mal?!” e imagino os Aliados cheios e o Carlos Abreu Amorim a falar e reformulo. “Fazemos o penta, ficamos com 37 depois o Sporting ganha um e fica com 19, mas nas cabeças deles até pode ser mais, e nós fazemos um tetra e...” - e vem a voz. “Um dos lagartos? Mas assim só faziam 16 anos sem ganhar! Queremos as bodas de prata sem campeonatos!”.
Até que a minha cabeça lá cede e pensa: “Yaaa, ganhávamos TODOS os anos. TODOS.” E sorrio.
O mundo seria, finalmente, perfeito.
É possível que eu exagere no meu grau de loucura e exigência, mas era isto que eu queria. E para isso acontecer, acredito piamente que tínhamos que matar esta alegria intrínseca de ser Benfiquista.
O Benfica tem que ser a máquina de guerra que foi no 3-1 para a Taça em 2013/2014 contra o Porto e durante toda a segunda volta da época passada contra o Sporting.
Ganhar tem que ser uma urgência, uma necessidade tão importante como respirar. Ganhar devia ser, para as pessoas que trabalham no Benfica, uma obsessão que os deixasse sem dormir. Sonho com um clube hiperprofissional, preocupado com a minha felicidade e bem estar mental (porque é isso que está em jogo) e que não me enfiasse o Filipe Augusto Mendes pela goela abaixo dia 31 de Janeiro. 
Preciso de um treinador que acredite que o melhor método defensivo para um canto não é beber uma garrafa - quero Sarri, o treinador do Nápoles, com aqueles olhos de quem só vê futebol e com aquela ponta de cigarrilha no casaco, de quem fuma sempre que um avançado falha um golo fácil.
Quero um clube em que, volta e meia, toda a gente seja obrigada a ver o golo do Kelvin para nos lembrarmos do que é estar na lama para não querer lá voltar.
Imaginar que alguém no Benfica baixa a guarda durante um dia que seja é, para mim, como imaginar um cirurgião a operar sem luvas só uma vez porque “o que é que pode correr mal?”.
“Creo que está claro que hemos ganado un punto”
Luis Enrique, treinador do Barcelona, após empatar com o Betis, tendo tido um golo escandalosamente não invalidado e depois de uma exibição horrível.
“Forçámos de todas as maneiras e feitios”
Arnaldo Teixeira, treinador adjunto do Benfica, referindo-se a qualquer coisa que não o processo ofensivo do meu clube, suponho.
"Só a verdade é revolucionária"
António Gramsci
É deprimente para mim fazer este papel, o de tipo que só aparece nas derrotas, como se as desejasse, mas não é esse o objectivo.
Não tenho amarguras contra ninguém e devo a Rui Vitória, um treinador que não consigo respeitar e que me parece uma pessoa que à noite vê novelas da TVI em vez de estar a estudar futebol, o título mais saboroso de sempre.
O meu problema é que vejo no Benfica uma daquelas crianças que come demasiados doces e está sempre feliz e a brincar sem cuidado nenhum, aos pulos entre sofás, a fazer equilibrismo numa cadeira só com um pé (“Olha só pai, agora só com um pé! Agora sem médios centro! Agora a ter como plano B mandar um central para a área nos dois últimos minutos de desconto e passando o Jonas para o meio-campo!”) e eu sou aquele pai que passa a vida a dizer “tem cuidado”, “está quieto”, “olha que partes a cabeça”.
Quando se ganha um campeonato com uma sorte impressionante (revejam o lance do nosso golo ao Boavista o ano passado, a carambola que nos dá a vitória em Vila do Conde, lembrem-se de Arnold a falhar o 2-2 na Luz pelo Setúbal e - pausa, pausa - uma ronda de aplausos para o eterno Bryan Ruiz e o seu lance espectacular e admitam-no nem que seja para vocês), ninguém nos ouve.
É como se a criança tivesse nascido para ginasta e está tudo na sala a bater palmas e ninguém ouve o pai (“Está calado, pá! Que chato! Dá-lhe, puto! CARREGA BENFICA!”). Mas quando a criança bate com a cabeça no canto da mesa, ninguém nos olha na cara porque não nos querem dar razão.
O Benfica tinha problemas mesmo quando foi campeão (sobretudo nas duas últimas épocas), e falar disso não nos faz menos Benfiquistas e é essa a cultura que eu quero.
Para chegarmos ao tetra e não vermos o Mal vencer, importa, de uma vez por todas, matar a bazófia, escrutinar cada erro e tomar conta do Benfica como se fosse um filho que já esteve nas drogas ou, pior, em Maio de 2013, e não como um mimado que acha que tem direito a tudo, quanto mais a fazer equilibrismo com um só pé na cadeira.
Há que exigir, exigir e exigir. Uma oportunidade histórica para o tetra não pode morrer aos braços da bazófia, do acreditar que um treinador que só diz banalidades e repete várias vezes “a família benfiquista” é suficiente.
O diagnóstico, para mim, é esse: temos que matar a alegria.
A alegria, as festas e os gritos devem vir lá para Abril ou maio e aí sim, devem ser completos, com loucura, gente a abraçar-se na rua, a cantar e a dançar, celebrando esta magia que é ser do Benfica. E aí sim, eu dormirei bem."

Não lavemos daí as nossas mãos

"O Estado não pode olhar para a corrupção desportiva como matéria cíclica.

"Em Maio de 2016, fomos surpreendidos com uma operação da Unidade de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária que levou à detenção de jogadores de futebol, dirigentes e outros agentes desportivos pela prática de crimes relacionados com a manipulação de competições desportivas.
A Operação Jogo Duplo teve o mérito de despertar muitas consciências para a existência real de manipulações de competições desportivas, comportamento criminoso que afecta a verdade, a lealdade e a correcção da actividade desportiva.
O papel crescente que o desporto assume na sociedade portuguesa levou, desde os anos 90 do século passado, o legislador a reprimir os comportamentos e os agentes lesivos da verdade desportiva.
Na últimas décadas temos assistido a uma evolução da legislação existente sobre esta matéria, encontrando-se actualmente em discussão na Assembleia da República três projectos de lei de alteração à legislação em vigor, apresentados por três partidos diferentes e todos aprovados por unanimidade, no seguimento de uma proposta oportunamente formulada pela Federação Portuguesa de Futebol.
Pela minha qualidade actual de Deputado à Assembleia da República, mas também em virtude de ter ocupado a pasta de Secretário de Estado do Desporto e Juventude na última legislatura, acho importante dar nota da perspectiva política do tema.
A violação dos princípios ético-jurídicos do desporto exige um combate firme e uno por parte de todos mas, de forma incontornável, por parte dos agentes políticos com responsabilidade na matéria.
Na passada semana fui confrontado com declarações do actual Secretário de Estado da Juventude e do Desporto afirmando, a propósito da operação policial referida e do papel que deve ser desempenhado pelo Estado neste combate, que «o Governo não se imiscui nas matérias de uma determinada modalidade a quem o Estado atribuiu a gestão dessa própria modalidade», e que «é assim que acho que devemos estar, sobretudo quando estamos a falar de matérias que, sem qualquer hipocrisia, é preciso afirmá-lo, são mais ou menos cíclicas».
Ouvindo estas palavras, recordei o episódio bíblico onde Pôncio Pilatos, fugindo às suas responsabilidades, lavou as mãos...
O actual Governo acha que pode demitir-se das suas responsabilidades políticas e, pasme-se, assumir nada fazer!
Devia e pelos vistos não o fez:
A) Chamar as autoridades de investigação, não para indagar sobre os factos que à justiça compete, mas para aferir da dimensão do problema e como pode ajudar com os meios necessários para a eficácia deste combate;
B) Reunir com os responsáveis federativos para mobilizá-los à agilização da justiça desportiva para a punição exemplar, também a esse nível, dos infractores;
C) Promover uma campanha pública pedagógica e preventiva da defesa dos valores éticos e de repúdio sem reservas de qualquer tipo de corrupção das competições e dos resultados desportivos.
A verdade desportiva é uma questão de todos. Ninguém pode ficar alheio a esta questão, muito menos quem tem responsabilidades legalmente previstas neste âmbito.
Não pode, nem deve, ser assacada toda a responsabilidade pelo combate e este fenómeno às federações desportivas que em muitos casos, aliás, têm feito um trabalho muito meritório a este respeito e, porventura até, acima do que são as suas obrigações.
O Estado pode, e deve, imiscuir-se em questões que, além de serem da sua responsabilidade, assumem interesse público. O Estado não pode, nem deve, olhar para a corrupção desportiva como uma matéria cíclica, a cargo em exclusivo das federações desportivas e sem repercussões de outra natureza.
Não lavamos daí as nossas mãos."

Emídio Guerreiro, in A Bola

Benfiquismo (CCCLXVIII)

Para encher...!!!

Aquecimento... para ganhar !!!