Últimas indefectivações

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Benfica Podcast #378 - Zivkovic Squared

Comunicado...


"Depois de assistir nos últimos dias a uma das campanhas mais hipócritas e demagógicas de que tenho memória, entendo ter chegado o momento de reagir.
Vivemos tempos em que a justiça passou a ser feita no Facebook, nas redes sociais e nos media. Tempos em que os juízes foram substituídos por jornalistas e comentadores que, num registo de excessos, sem conhecimento dos factos, mas com a cumplicidade de quem os vai parcialmente alimentando com o único objectivo de contaminar a percepção pública, vão minando o espaço mediático. Tempos em os jornais preanunciam condenações e em que líderes partidários e políticos mais populistas, propositadamente, esquecem um dos princípios básicos em que se assenta o nosso Estado de direito. Tempos em que falta seriedade e rigor. Tempos em que, quando a justiça finalmente chega, já não há justiça. Tempos em que o bom-nome e a reputação das pessoas se perdem na avalancha mediática que atropela qualquer presunção de inocência.
Nos últimos quatro dias, António Costa, Fernando Medina e muitos outros foram atacados de forma incompreensível e torpe, não pelo apoio que enquanto sócios do Sport Lisboa e Benfica entenderam dar-me, como já o tinham feito em 2012 e 2016 sem que se tenha assistido a qualquer tipo de alarido, mas, precisamente, pela percepção pública que, de forma concertada, os media foram ‘construindo’, deturpando e usando como catalisador de uma campanha populista de difamação.
Repito o que já disse, estou de consciência tranquila e, se for condenado, no futuro, em algum dos processos de que nestes dias tanto se fala, serei o primeiro a tomar a iniciativa, saindo pelo meu pé da presidência do Sport Lisboa e Benfica.
É tempo de os líderes partidários, e alguns dos políticos que mais se indignaram nestes dias, estarem mais preocupados em combater a tendência de transformar em sentença transitada a notícia de uma suspeita ou de uma acusação judicial.
A presença numa comissão de honra esgota-se aí, não se prolonga para lá da eleição. Foi assim no passado e seria também assim nesta janela eleitoral. Como é meu dever, tenho de agradecer a todos os benfiquistas que até agora decidiram manifestar-me o seu apoio, mas não posso permitir que instrumentalizem o Sport Lisboa e Benfica e a minha comissão de honra em lutas políticas que nada têm que ver com o Clube a que presido e a cuja presidência serei recandidato. Não posso tolerar que este clima difamatório se prolongue, nem que seja aproveitado para atacar de forma indevida o carácter e a seriedade de quem se limitou a expressar-me, enquanto sócio, o seu apoio.
Nesse sentido, e agradecendo a todos a disponibilidade manifestada, tomei a iniciativa de retirar da minha comissão de honra todos – todos – os titulares de cargos públicos, sejam autarcas, deputados ou membros do Governo. É triste que, 46 anos depois do 25 de Abril, se tenha de censurar quem livremente decidiu manifestar-me o seu apoio, mas o populismo e a demagogia dos dias de hoje obrigam-me a fazê-lo de forma a terminar com uma polémica injustificada e profundamente hipócrita."

Nota à comunicação social


"O Sport Lisboa e Benfica informa que a actividade das equipas seniores de basquetebol está suspensa desde o passado dia 10 de Setembro e assim continuará até indicação articulada com as autoridades de saúde locais e com o departamento médico do Clube, após terem sido registados casos de COVID-19.

Na sequência de suspeitas de infecção, o Sport Lisboa e Benfica suspendeu de imediato a realização de treinos na quinta-feira da semana passada das equipas de basquetebol (masculina, feminina e Sub-22) e accionou o seu plano de contingência para avaliação e controlo de infecção por COVID-19, sempre em estreita coordenação com as autoridades de saúde.
Todos os casos identificados estão a ser devidamente monitorizados, não apresentando à data qualquer critério de gravidade clínica. Os restantes elementos estão igualmente a ser acompanhados para o caso de ser necessário actuar. Face a esta situação, a edição deste ano do Torneio Internacional de Basquetebol masculino já não terá lugar.
Sublinhar que o Sport Lisboa e Benfica implementou desde a primeira hora todas as medidas preconizadas pelas autoridades de saúde, nomeadamente as normas e orientações da DGS nesta matéria, e conta com uma equipa multidisciplinar dedicada à prevenção e mitigação de risco de contágio por COVID-19, pelo que permitiu identificar e isolar prontamente todos os casos suspeitos."

A diferença de uma parte para a outra, e os equívocos – Taarabt, Vertonghen e momentos pressão / de fechar espaços


"No programa “Futebol Total” (#canal11futeboltotal no Twitter) no Canal 11, o Pedro Bouças analisou o jogo do Benfica em Salónica perante o PAOK.
Do equívoco sobre os momentos de pressão / fechar espaço da linha média, às dificuldades gritantes de Taarabt sem bola até ao erro de Vertonghen."

O Benfica chumbou. E agora?


""És presidente de um clube? A tua equipa de futebol está a passar um mau bocado? Nada temas! NovoCiclo2020 tem a solução ideal para ti, uma fórmula imbatível: vai buscar um treinador que já te deu resultados, compra um defesa central experiente, dois extremos brasileiros, um avançado uruguaio para os 20 minutos finais e...bom e é isso. Vais ver que resulta!".
Ah, se fosse assim tão simples. Só que conseguir bons resultados no futebol é bastante mais complexo. Tanto que Luís Filipe Vieira a esta hora deve estar a dizer aos seus botões "o que mais preciso de fazer? Fui buscar Jesus, gastei 80 milhões em reforços e a equipa nem passou da 3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões?" É como aquele estudante que chumbou no exame e fica surpreendido porque passou a noite inteira anterior a estudar. Esquece-se é que durante o semestre pouco se aplicou e fez os trabalhos todos em cima do joelho. É o que se passa no Benfica actual. Os erros acumularam-se nos últimos três anos e o virar do barco vai demorar tempo. Não há soluções milagrosas. Nem com um Jesus no comando.
O Benfica está num ciclo de tal forma negativo que é difícil saber por onde começar. As críticas são justas para todos: para os jogadores porque continua a ser difícil entender a falta de atitude e garra com que estão a enfrentar os encontros. Repare-se no 2º golo do PAOK: André Almeida recupera a passo lento, Vinícius não faz a falta para parar o contra-ataque, Taarabt marca com os olhos, Weigl está alheado, Grimaldo está mal posicionado e toda a defesa está descompensada. Isto num jogo que valia 40 milhões de euros para o clube. Recorde-se que no último jogo oficial tinham perdido um troféu importante jogando contra uma equipa em inferioridade numérica desde os 38 minutos.
Jorge Jesus também tem que arcar com responsabilidades neste vexame. Chegou com a soberba habitual a prometer uma equipa que ia arrasar e a jogar o triplo e após um mês de trabalho, poucas diferenças se notam. Voltou a insistir em jogadores que já há muito não deviam ser titulares do Benfica: falo de André Almeida (se Gilberto não lhe tira o lugar, porque foi contratado?) e Seferovic. É preciso dar-lhe tempo e a sua competência é indesmentível, mas falhou no primeiro e importantíssimo objectivo para o qual foi contratado.
E o que dizer de Vieira? Que depois de anos de desinvestimento em busca de contas no verde e para abrir espaço a vendas de jogadores formados localmente, fez uma inversão de 180º graus na política desportiva, num período de imensa instabilidade com a Covid-19, de perda de receitas brutal e em que nem a Liga dos Campeões era garantida? Quer-nos mesmo fazer crer que nada tem a ver com as eleições? Torna-se difícil de acreditar. Se no passado exercício, inflacionado com a venda de 126 milhões de João Félix, o Benfica apresentou um lucro de 40 milhões, como vai ser neste exercício, sem tal venda astronómica, com o dinheiro já gasto em reforços e sem as receitas da Champions (e por enquanto de bilheteira)? Ninguém duvida que esta equipa precisava de investimento, mas fazer num mês o que devia ter sido doseado em três anos e neste timing...
Por mais que Luís Filipe Vieira desejasse que este período fosse de bonança e de "no pasa nada", a realidade está-lhe a dar uma valente estalada e aproximam-se semanas de intenso debate eleitoral. Os Benfiquistas têm uma decisão a tomar que é absolutamente fulcral para o futuro do clube: eleger para um 5º mandato um presidente que tem óbvios méritos na recuperação material, financeira e desportiva do Glorioso desde o início do século, mas que se encontra envolto em processos de tribunal que estão a manchar o nome do clube (como este nunca foi manchado) e que por mais anos que passe nunca parece conseguir manter o clube no paraíso desportivamente desejado (e por isso a necessidade de anunciar constantemente "novos ciclos", que mais não são que novas tentativas). Ou então eleger um novo presidente, que provavelmente passará por João Noronha Lopes ou Rui Gomes da Silva. Dois candidatos bastante diferentes que nas últimas semanas têm aumentado as suas campanhas, apresentando ideias e tentando entrar nas luzes da ribalta, mas que precisarão de carregar mais a fundo no pedal, se querem ganhar as eleições. O Benfiquista, principalmente o Benfiquista com 50 votos, é muito conservador e o medo do desconhecido continua a assustá-lo. Até Vale e Azevedo teve 38% dos votos no seu último dia e ainda os estatutos do clube não estavam tão enviesados em favor do líder residente como nos dias de hoje.
Se dúvidas houvesse, o jogo de ontem voltou a reforçar que o Benfica está numa encruzilhada gigantesca da sua História e a decisão tem de ser tomada: os Benfiquistas querem mais do mesmo do que têm tido nos últimos 20 anos, com o que houve de bom e de mau, ou querem algo de novo? Que poderá ser melhor ou pior do que têm tido. Volto ao aluno que tem o exame pela frente e neste caso os alunos são os sócios: estudem. Perguntem. Reflictam. Informem-se. Apliquem-se. Saibam e entendam bem os rumos que o clube pode seguir daqui a um mês e votem em consciência. Não podemos falhar. Juntos temos que voltar a levar o Benfica ao topo. É a nossa obrigação como guardiões do maior clube Português."

Quando o mercado é uma boa notícia


"Liga importa bons nomes, e não é só nos grandes

Quaresma no V. Guimarães, Gaitán no Sp. Braga, Rami, Angel Gomes e Javi Garcia no Boavista, Daniel Fuzato no Gil Vicente, Jaume Grau no Tondela, Martín Calderón e Lucas Silva no P. Ferreira, Ryotaro Meshino no Rio Ave, enfim, o último mercado tem sido bem animado.
Os clubes portugueses, fora dos três grandes, têm aparentemente trabalhado bem e enchem-se de expectativas para a próxima temporada. A verdade é que há na Liga uma natural subida das exigências, o que se torna ainda mais fascinante num ano marcado pela crise pandémica.
O próximo campeonato promete valer a pena e os clubes mais pequenos, ou pelo menos os clubes que não os três grandes, fazem crescer as expectativas.
Tudo aponta que haja mesmo nos jogos pequenos cada vez mais motivos de interesse.
Numa altura em que as gerações mais novas crescem habituadas a ver verdadeiras dream-teams na Liga dos Campeões, é bom fazer notar que dentro de portas também vai havendo cada vez mais entusiasmo. Pelo menos é um bom sinal para o futuro do nosso campeonato.
Agora que role a bola."

João Mário e Jorge Jesus: O possível reencontro


"Num mercado onde o SL Benfica já investiu uma avultada quantia para reforçar o seu plantel, tendo em vista uma grande época 2020/2021, o nome de João Mário tem sido também constantemente associado ao clube encarnado.
Neste caso, seria o reencontro entre João Mário e Jorge Jesus, depois de terem coexistido na época de 2015/2016, representando o Sporting CP, numa temporada onde os leões conquistaram a Supertaça e bateram-se até à última jornada taco a taco com o eterno rival SL Benfica pela conquista da Primeira Liga.
A luta acabou por pender para o lado encarnado, mas nessa época João Mário foi um dos melhores jogadores do campeonato, o que acabaria por lhe valer uma ida, no início da época 2016/2017, para o FC Internazionale Milano pela verba recorde de 40 milhões de euros, a maior transferência de sempre dos leões na altura (apenas superada, há uns meses, pela venda de Bruno Fernandes ao Manchester United FC).
Naquela altura, víamos um João Mário que actuava preferencialmente partindo do corredor direito, variando o seu jogo pelo centro do terreno, em zonas mais interiores, onde fazia uso da sua excelente capacidade técnica, visão de jogo, passe e inteligência, sendo muito importante no esquema montado por Jorge Jesus, mas também em movimentos no lado direito, aproveitando a velocidade e cruzamentos para assistir os avançados leoninos, com destaque óbvio para Islam Slimani.
No final da época, o médio português fez parte da histórica campanha da selecção portuguesa, concluída com a vitória na final do Europeu de 2016 frente à França, onde foi titular e um elemento que garantiu sempre equilíbrio e confiança no modelo do técnico Fernando Santos.
A partir daí, teve uma enorme dificuldade em voltar a mostrar todo o seu futebol de forma permanente e regular como acontecera nessa fase. As passagens por FC Internazionale Milano, West Ham United FC e FK Lokomotiv (as duas últimas por empréstimo em 2017/2018 e 2019/2020, respectivamente) foram todas experiências falhadas e que nunca permitiram a evolução e afirmação do atleta, tal como se previa em idades mais jovens.
Algumas lesões pelo meio, durante os períodos mencionados, assim como a enorme instabilidade e incerteza quanto ao seu futuro a curto/médio prazo podem ainda ser apontados como outros factores que não potenciaram uma integração total e efectiva em novos clubes, com objectivos e sistemas diferentes nos respectivos países e campeonatos.
Com 27 anos, mais de 40 aparições na selecção nacional e um valor de mercado na ordem dos 13 milhões de euros (dados Transfermarkt), João Mário é visto com bons olhos por Jorge Jesus, ainda mais se olharmos ao pormenor para a posição de médio centro dentro das opções no plantel do SL Benfica: neste momento, Taarabt parece ser o único capaz de desempenhar as funções desejadas pelo exigente modelo de Jorge Jesus, contudo, o marroquino de 31 anos certamente não terá pedalada para uma época inteira.
Assim sendo, actualmente, Gabriel e Pizzi não demonstraram o suficiente para jogar naquela posição, isto analisando os jogos particulares disputados pelo clube da Luz.
Com João Mário, as águias ganhariam um jogador polivalente, com capacidade para jogar a médio centro, na direita e até como segundo avançado, se bem que, nas últimas duas posições, o SL Benfica conta nos seus quadros com jogadores como Rafa, Pizzi, Diogo Gonçalves ou o recém contratado Luca Waldschmidt, daí a carência não ser tanta como se verifica na posição 8.
Veremos se o regresso a Portugal e o reencontro com o técnico Jorge Jesus, treinador que conseguiu retirar o melhor rendimento e qualidade do médio português, realmente acontecerão."

O prejuízo de Salónica


"Se a Benfica SAD nada fizer até à data de fecho da janela de transferências de verão, pode registar resultados negativos históricos de, aproximadamente, -140M€! E enquanto isso, Jesus diz que lhe falta um avançado e Luís Filipe Vieira tem eleições de daqui a um mês…

O sucesso financeiro e desportivo de qualquer SAD, e do controlo de gestão do Benfica em particular, tem por base a estrutura de receitas e despesas do ano anterior, os objectivos da época futura e as contingências expectáveis do meio envolvente. Se gerir é (também) antecipar cenários (financeiros) futuros, então também nós podemos reflectir sobre o que aí vem.
Em 19/20 o Benfica registou um resultado líquido positivo de 41M€, suportado por 145M€ de rendimentos com transacção de jogadores e 140M€ de receita operacional (UEFA + TV + Bilhética + Marketing). Em destaque para os excelentes resultados financeiros da época passada estiveram a receita com a venda de João Félix ao Atlético de Madrid (91.4M€), e a participação na UEFA Champions League (49M€). Pois bem, 20/21 ainda agora começou e já se percebeu que vai ser um exercício muito difícil…
No que concerne à receita operacional, aos 140M€ têm de ser já deduzidos 35% da não participação na UEFA Champions League (-49M€) e 1M€, aproximadamente, por cada jogo não realizado em casa (em virtude da pandemia COVID-19). Uma excelente campanha na Liga Europa (1/4° ou 1/2ª finais) pode permitir cerca de 15M€ de receita. Relativamente às transferências de jogadores, o investimento em Darwin Nuñez (24M€), Ewerton (20M€), Pedrinho (18M€), Luca Waldschmidt (15M€) e a ausência de vendas faz com que, actualmente, o saldo seja -78M. Comparado com o saldo de 19/20 de +126M€, a diferença para o ano transacto é de 204M€. Se considerarmos que a mudança de paradigma do futebol do Benfica, assente anteriormente na aposta na formação e actualmente na contratação de jogadores estrangeiros, comporta um aumento da folha salarial, prevê-se que os 86M€ de 19/20 venham a aumentar substancialmente em 20/21.
Ou seja, à presente data, entre compras de jogadores, não participação na Liga dos Campeões e aumento da folha salarial da Benfica SAD, é possível estimar que receita anual venha a descer dos 285M€ para os 105M€, e a despesa anual venha a aumentar de 191M€ para 243M€. A dúvida que emerge é como irá o Benfica garantir os pressupostos do fair-play financeiro em 20/21 relativos (i) ao limite máximo de 60% da folha salarial vs. receita operacional e (ii) ao limite mínimo de resultado anual de -15M€?
Se vender jogadores já era obrigatório antes da tragédia grega de Salónica, hoje então importa fazê-lo sem contratar ninguém para os seus lugares. Pois só assim se poderá equilibrar o saldo de transferências, estancar o aumento da folha salarial, e mitigar o estrago da receita não angariada na Liga dos Campeões. Isto poderá levar a nova aposta na formação substituindo, por exemplo, Rúben Dias, Gabriel e Vinicius por Ferro, Florentino e Gonçalo Ramos.
O all-in desta época desportiva pode vir a ter consequências dramáticas. Se a Benfica SAD nada fizer até à data de fecho da janela de transferências de verão, pode registar resultados negativos históricos de, aproximadamente, -140M€! E enquanto isso, Jesus diz que lhe falta um avançado e Luís Filipe Vieira tem eleições daqui a um mês…"

Devemos confiar nos hackers?


"Num estado democrático de direito, a investigação de irregularidades é uma actividade exclusiva de pessoas devidamente autorizadas, que respondem perante entidades reconhecíveis e competentes e em cumprimento da legislação vigente

Vivemos tempos socialmente conturbados em que, cada vez mais, uma parte substancial dos cidadãos desconfiam da capacidade e da independência das autoridades para fazer cumprir a lei e para penalizar os inerentes incumprimentos, em especial no que respeita aos poderosos líderes dos mais diversos sectores.
Neste âmbito, têm surgido vários hackers que se autodenominam de whistleblowers e que se procuram revestir do papel de vigilantes, como que super-homens dos tempos modernos, procurando justificar o hacking com a alegada necessidade de agir ilicitamente para tornar públicas as mais diversas suspeitas de fraude ou corrupção. Mas será isto verdade? Será isto ético?
Antes de mais, importa perceber o que é um hacker. Um hacker é um indivíduo que possui capacidades informáticas muito acima da média do comum dos cidadãos e que as utiliza para ultrapassar as barreiras de segurança implementadas para indevidamente aceder a servidores e, desta forma, entre outras coisas, obter acesso ilegítimo à informação que qualquer pessoa / entidade aí armazena, podendo a informação ter natureza pessoal, confidencial, ou ser sujeita a algum tipo de sigilo legal.
Adicionalmente, importa olharmos para as possíveis motivações de um hacker, uma vez que, tradicionalmente, este tipo de actividade tem como único objectivo o aproveitamento financeiro da pessoa/ entidade hackeada. Assim, o hacker exige receber valores (frequentemente em forma de criptomoeda não rastreável) em troca de manter o acesso dos hackeados à própria informação ou darespetiva não destruição ou não divulgação.
Ainda assim, o hacker vigilante alega que faz a actividade de hacking como forma de serviço público, procurando divulgar informação alegadamente comprometedora contra pessoas/ entidades, através da comunicação social, de modo a que as autoridades se sintam obrigadas a realizar a inerente investigação/ acusação que, de outra forma, não fariam. Para tal, exigem ser tratados como whistleblowers, tendo protecção legal contra ameaças de terceiros e contra o sancionamento das actividades ilegais que realizaram. 
Qual será a verdade? Analisemos os dados que temos disponíveis…
Antes de mais, e independentemente da origem das suspeitas identificadas, parece-me natural que as autoridades investiguem de forma imparcial e cabal todas as situações, de modo a separar os falsos testemunhos das reais irregularidades.Logo, sendo um hacker sancionado ou não, o fruto do seu “trabalho” deve ser utilizado para que as situações sejam devidamente investigadas e julgadas pelas autoridades competentes, antes de serem consideradas verdadeiras pela comunicação social e pela sociedade.
No que respeita à existência de hackers vigilantes, sou da opinião que, tal como não devem existir super-heróis tipo super-homem a agredir fisicamente pessoas suspeitas de terem cometido crimes, muito menos antes de serem julgados, não devem existir pessoas que sejam autorizadas ou desculpadas após terem vasculhado informações às quais não têm direito de acesso, mesmo que com alegadas motivações altruístas.
Adicionalmente, nada nos garante que estas motivações altruístas sejam verídicas, uma vez que a divulgação de informação privada sempre foi uma das armas que um hacker tem ao seu dispor quando os hackeados não cumprem as suas exigências. Nada nos garante que uma pessoa que queira ter o estatuto de whistleblower não tenha, no passado, procurado chantagear uma ou mais pessoas/ entidades hackeadas.
Sobre a atribuição do estatuto de whistleblower a um hacker também me parece completamente injustificado, já que este estatuto visaproteger denunciantes de situações irregulares com que se depararam de forma involuntária e no decorrer das normais actividades do seu dia-a-dia (sem cometer qualquer crime). Logo, um hacker que deliberadamente procura vasculhar informação alheia (muitas vezes durante largos anos), com motivações desconhecidas, deve ser tratado de uma forma diferenciada.
De igual modo, considerando a sensibilidade de uma investigação de irregularidades, o acesso a dados sensíveis deve ser uma actividade exclusiva de pessoas devidamente autorizadas, que respondam perante entidades competentes e actuem em cumprimento da legislação vigente (o hacking não é uma opção para as autoridades).
Por fim, o argumento mais relevante para que a actividade de um hacker seja devidamente penalizada é a não criação de antecedentes legais que motivem o aparecimento de outros hackers ou a divulgação de informação privada indevidamente obtida quando as pessoas/ entidades hackeadas não cumprem exigências financeiras.
Importa realçar que, mesmo que um hacker tenha acedido a informação que, numa situação específica, lhe pareça relevante para a sociedade, importa realçar que a informação a ser hackeada amanhã pode ser a sua informação pessoal, com a qual pode vir a ser chantageado. Se tiver a percepção de que as autoridades não dispõem de capacidade e/ ou independência para fazer cumprir as leis a que todos estamos sujeitos, deve procurar exigir ao estado que esta situação seja alterada de imediato, o que promove a segurança de todos.Os alegados fins altruístas não justificam a utilização de quaisquer meios, em especial num estado democrático de direito."