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domingo, 22 de julho de 2018

Octocampeões Nacionais de Atletismo ao Ar Livre, Masculinos

Mais um título nacional, o 30.ª da nossa história, de uma das nossas secções mais 'seguras' do Benfica. No 1.º dia as coisas podiam ter corrido melhor (os 1500m por exemplo), mas acabámos por ganhar 'fácil', mesmo com algumas ausências por lesão...!!!
Destaco a vitória do Júnior Leandro Ramos no Dardo...

A 'não aposta' no feminino, deixa algum 'remorso'!!! O dinheiro não dá para tudo, o principal rival continua a apostar nas modalidades aparentemente sem qualquer limite financeiro, mas mesmo assim, com muitas Juniores, algumas Juvenis ficámos em 2.º...

A FPA continua o seu comportamento parcial, antes e durante as provas... parece que nada mudou!

Masculinos:
1º - Sport Lisboa e Benfica – 155 pontos
2º - Sporting Clube de Portugal – 145 pontos
3º - Sporting Clube de Braga – 104 pontos
4º - Juventude Vidigalense – 96 pontos
5º - Grupo Desportivo do Estreito – 73 pontos
6º - Clube de Atletismo de Seia – 68 pontos
7º - ACD Jardim da Serra – 64 pontos
8º - ACR Sra. do Desterro – 49 pontos

2.º lugar 100 m Diogo Antunes - 10,47s
1.º lugar 110 m bar (1,06) João Vítor Oliveira - 13,91s
2.º lugar 200 m Ricardo dos Santos - 21,06s
1.º lugar 400 m Ricardo dos Santos - 46,27s
2.º lugar 400 m bar (0,91) Diogo Mestre - 51,10s
3.º lugar 800 m João Fonseca - 1:56,97m
5.º lugar 1500 m José Carlos Pinto - 4:09, 17m
1.º lugar 3000 m Rui Pinto - 8:13,81m
1.º lugar 3000 m obstáculos André Pereira -9:02,11m
1.º lugar 5000 m Samuel Barata - 13:57,30m
2.º lugar 5000 m marcha Miguel Carvalho - 20:33,02m
2.º lugar 4x100 m SL Benfica - 40,78s
2.º lugar 4x400 m SL Benfica - 3:14, 75m

1.º lugar Peso (7,260kg) Tsanko Arnaudov - 20,03m
1.º lugar Disco (2kg) Francisco Belo - 56,54m
1.º lugar Martelo (7,260 kg) António Vital Silva - 70,95m
1.º lugar Dardo (800g) Leandro Ramos - 71,00m

2.º lugar Comprimento Ivo Tavares - 7,26m
1.º lugar Triplo Salto Pedro Pablo Pichardo - 17,21m
1.º lugar Altura Paulo Conceição - 2,15m
1.º lugar Vara Diogo Ferreira - 5,40m

Feminino:
1º - Sporting Clube de Portugal – 156 pontos
2º - Sport Lisboa e Benfica – 113 pontos
3º - Juventude Vidigalense – 113 pontos
4º - Sporting Clube de Braga – 96 pontos
5º - ACD Jardim da Serra – 84 pontos
6º - Grupo Desportivo do Estreito – 83 pontos
7º - Grecas – 58 pontos
8º - CS Marítimo – 48 pontos

2.º lugar 100 m Tamiris de Liz - 11,73s
2.º lugar 110 m bar (0,84) Marisa Vaz Carvalho - 14,07s
5.º lugar 200 m Erica Grangeia - 25,79s
2.º lugar 400 m Rivinilda Mentai - 54,43s
7.º lugar 400 m bar (0,76) Mariana Fernandes - 1:09,68m
3.º lugar 800 m Patrícia Silva - 2:09,12m
6.º lugar 1500 m Margarida Raimundo - 4:52,95
1.º lugar 3000 m Marta Pen - 8:10,29m
6.º lugar 3000 m obstáculos Matilde Rodrigues - 12:57,34m
2.º lugar 3000 m marcha Mara Ribeiro - 13:35,02m
2.º lugar 5000 m Silvana Dias - 16:40,84m
2.º lugar 4x100 m SL Benfica - 47,32s
3.º lugar 4x400 m SL Benfica - 3:58,38m

4.º lugar Peso (4 kg) Marisa Vaz Carvalho - 12,66m
3.º lugar Disco (1kg) Ivanilda Lopes - 40,72m
7.º lugar Martelo (4kg) Ivanilda Lopes - 31,85m
3.º lugar Dardo (600 g) Sara Firmino - 40,09m

4.º lugar Comprimento Patrícia Rodrigues - 5,66m
4.º lugar Triplo Salto Patrícia Rodrigues - 11,95m
7.º lugar Altura Beatriz Baptista - 1,40m
1.º lugar Vara Beatriz Baptista - 3,45m

Um jogo de futebol escondido é um bar aberto para o insulto e para a agressão. Pergunto: isto serve a alguém?

"O hábito tem décadas e é transversal. Acontece cá e em todo o lado.
Na preparação da nova época, as equipas procuram testar as suas soluções, realizando jogos-treino com adversários escolhidos para o efeito.
São ensaios importantes para a consolidação e sistematização das suas ideias e objectivos desportivos.
Nós conhecemo-los como "jogos amigáveis ou particulares".
Também para os árbitros essa é, habitualmente, uma oportunidade de ouro para se treinarem e limarem arestas, simulando situações de jogo e ajustando aspectos vários, como o foco, a comunicação ou condição física.
Tudo certo.
O problema é que, não raras vezes, algumas dessas partidas são férteis em ocorrências disciplinares graves, que a sua natureza oficiosa, muito mais leve e ligeira, tantas vezes potencia.
Como todos se recordarão, há não muitos anos, um jogador de futebol profissional não controlou as suas emoções e num gesto absolutamente irreflectido, agrediu um árbitro assistente, após discordar com uma decisão daquele. Foi sancionado durante meses, prejudicando a sua carreira e a sua equipa. 
Já esta época, ocorreram outros incidentes feios, evitáveis e desnecessários. Cá dentro e lá fora.
Na verdade, o que não faltam são histórias de conflitos entre jogadores e equipas técnicas, invasões de campo e respostas infelizes e ineficazes das equipas de arbitragem.
Para que o caro leitor perceba, os jogos particulares estão regulamentados.
Em teoria, sempre que uma equipa oficialize o encontro que quer disputar - como deve fazer, dando disso conhecimento à sua Associação de Futebol ou FPF - estas tomam, de imediato, as respectivas diligências.
Por exemplo, nomeiam uma equipa de arbitragem (oficial) e esta fica obrigada a efectuar relatório de jogo, depois enviado à entidade competente.
Regra geral, e em função da sua categoria, esses jogos obrigam à presença de policiamento, também solicitado pela via habitual.
Quer isto dizer que um jogo particular oficialmente preparado... tem custos.
Custos por vezes elevados face ao objectivo desportivo que se pretende e que, por regra, são suportados pela equipa organizadora/anfitriã.
Mas o maior encargo nem é o financeiro: é o da exposição ao risco disciplinar.
Qualquer atleta, técnico ou dirigente que seja advertido ou expulso será, em função da gravidade da sua infracção, punido em conformidade. Tal como aconteceu com o tal jogador e com a sua equipa. 
Para escapar a esse formalismo e evitar importantes constrangimentos competitivos, muitos clubes optam por organizar jogos particulares, sem disso dar conhecimento a quem de direito.
Marcam dia, local e hora, convidam o adversário e um árbitro local e realizam o jogo. Os processos são mais simples, fáceis de agilizar e até compreensíveis (evitam gastos desnecessários e mil e uma burocracias), sendo que, regra geral, quase sempre correm bem. O problema é que às vezes... não.
E quando assim é, assiste-se a uma espécie de "bar aberto".
Bar aberto para a briga, o insulto, a ameaça e a agressão, quer entre jogadores e adversários, quer para com a equipa de arbitragem convidada.
Nessas partidas ditas oficiosas, um dos hábitos que os juízes têm - até pela natureza marginal do encontro - é o de não exibirem cartões. Como se isso simulasse, fielmente, a competição para o qual todos se estão a preparar.
Quando há azar, interrompem o jogo, convidam o treinador a substituir o atleta que se portou mal e este tira-o de campo... ou não.
Só nesse momento, nesse preciso momento é que o árbitro aprende a lição.
Esta coisa de ser bom samaritano tem regras e momentos próprios. Muitas vezes, somos traídos pelo excesso de cordialidade.
Sei disso porque já cometi o mesmo erro. Já me pus a jeito e não correu bem.
Ao aceitarem expor-se ao risco de não ter policiamento e de não ter que registar as ocorrências da partida que dirigem, os árbitros perdem todos os seus direitos. O direito ao seguro, à protecção devida e até à sua remuneração.
Mais.
Infringem normas (que os obrigam a informar a sua associação do convite que lhes foi endereçado) e desvalorizam o seu nome e estatuto, expondo-se gratuitamente a agentes desportivos que, muitas vezes, os respeitarão menos. Para sua protecção, deviam no mínimo assegurar-se que existiam garantias e condições que zelassem pela sua integridade. Pela sua segurança.
Também os clubes deviam manter a opção que, inteligentemente, tantas vezes utilizam: se é para oficializar, que se faça "by the book". 
Se não é, que seja o treinador ou o adjunto a apitar a peladinha.
Ter o melhor dos dois mundos é que não.
Visto à distância e dando de barato que, regra geral, estes excessos ocorrem devido à boa-vontade de todos, percebe-se que está na altura de se olhar para esta coisa dos "particulares" de um maneira diferente.
Clubes, sector da arbitragem e entidades competentes devem procurar estabelecer regras e compromissos sérios e firmes, que regulem a natureza de todos os amistosos. Todos sem excepção. 
Enquanto isso não acontecer, continuamos a correr o risco de ver, aqui e ali, partidas terminadas a meio, jogadores de cabeça perdida, treinadores aos insultos entre si e árbitros empurrados ou até agredidos.
Pergunto: isso serve a alguém?"

Os três grandes e um Mundial de figurantes

"Eram os três personagens mais esperados do Mundial da Rússia. E, ainda que de formas diversas, todos falharam o compromisso. Refiro-me a Cristiano Ronaldo, Lionel Messi e Neymar. Os três jogadores mais mediáticos e celebrados do planeta, que no entanto continuam a não alcançar a coroação na maior manifestação futebolística. Aconteceu mais uma vez no Mundial encerrado há uma semana e desta vez a desilusão foi maior do que em ocasiões anteriores.
Analisemos rapidamente o comportamento dos três. Tudo somado, Cristiano Ronaldo foi quem menos desiludiu. Teve um início monstruoso, que o levou a marcar quatro golos nas primeiras duas partidas. E esse início iludiu toda a gente, sobretudo acerca das possibilidades de a selecção portuguesa vir a assumir um papel de protagonista no Mundial. Em vez disso, rapidamente se descobriu que a espectacular primeira partida contra a Espanha não tinha sido efeito do choque entre duas forças, mas sim a soma de várias debilidades. Duas selecções que com um 3-3 pleno de emoção mascararam os seus enormes limites.
Na verdade, os jogos seguintes mostraram como estavam as coisas e deixaram bem à mostra um Portugal que, ao contrário do que sucedera dois anos antes, no Europeu de França, estava demasiado dependente do seu fora-de-série. Quando Cristiano Ronaldo deixou de fazer a diferença (e até falhou um penalti), a selecção de Portugal mostrou que era uma equipa normal. E foi rapidamente eliminada.
Já quanto a Lionel Messi, o seu (falhado) impacto na sorte da selecção argentina arrisca tornar-se um caso clínico. De uma grande competição a outra (quer se trate de um Mundial ou de uma Copa América), o balanço vai sendo mais deficitário, a ponto de já se terem esgotado as reservas de paciência na pátria. Se depois sucede que, como no Mundial da Rússia, a equipa em torno dele se mostra menos do que medíocre, o drama completa-se. E isto faz emergir os limites de carácter do número 10 do FC Barcelona: quando a selecção precisa que ele a carregue às costas e a safe dos problemas (isto é, que faça de fora-de-série), ele desaparece. É o primeiro a deixar-se esmagar pelo peso da situação.
Na Rússia, vimos um Messi fatalista, nada influente, preocupado. Em alguns momentos, a realização televisiva fazia-o parecer até infeliz. Digo uma coisa que pode parecer radical, mas que me parece justa: talvez Leo Messi fizesse bem em encerrar mesmo a carreira com a selecção. Vestir aquela camisola provoca-lhe uma tensão que ele já não é capaz de gerir. Por vezes, reconhecer uma derrota é um sinal de grandeza extraordinária. E a história da relação de Messi com a selecção argentina é na história de uma derrota.
E depois há Neymar, que na minha opinião nem devia ser comparado aos outros dois. Não vale tanto como eles, não se aproxima sequer, nunca terá o talento ou o carisma deles. É sobretudo um fenómeno mediático e, na Europa, vestiu camisolas de equipas que teriam na mesma ganho tranquilamente (e perdido) sem ele. Mas os mistérios do marketing global impõem que o brasileiro seja emparelhado com o português e o argentino, pelo que devo pronunciar-me sobre ele. Sem que isto condicione o meu julgamento, porém.
E o meu julgamento sobre Neymar leva-me a dizer que foi claramente o pior dos três. Incómodo, supérfluo, nunca decisivo. Sobretudo com aquela ridícula tendência para exagerar as incorrecções dos adversários e para simular a dor pelas faltas sofridas. Um espectáculo tristíssimo, que nunca se esperaria de um jogador do seu nível comunicativo. Foi ele o grande derrotado do Rússia’2018.
Mas enfim, o que têm em comum os três grandes fenómenos futebolísticos de que vos falei? É o facto de serem a expressão máxima de um futebol que não apenas privilegia a dimensão dos clubes face às selecções, mas também a do indivíduo face à do colectivo. A super-estrela faz uma equipa por si mesma. E se o faz no clube, lá a coisa torna-se corriqueira através da gestão quotidiana das situações. Nas selecções nacionais, no entanto, torna-se ingerível, porque falta essa gestão quotidiana. E os resultados podem tornar-se muito negativos."

United Colors of France

"A expressão foi utilizada durante o França´98 para descrever a forte mistura cultural da selecção da casa. Os organizadores venceram a prova e as ruas encheram-se com franceses de várias proveniências. Zidane, filho de pais argelinos, viu a sua imagem projectada no Arco do Triunfo perante um grito que ecoou por toda a Paris: "Zizou a presidente."
Uma França unida pelo futebol e por aqueles 23 jogadores. Distante dos ódios raciais de Jean-Marie Le Pen e da violência que nascia nos guetos e na falta de oportunidades para muitos franceses de origem africana e árabe.
Os efeitos dessa união, porém, cedo se desvaneceram. No Mundial de 2006, já Le Pen dizia haver muitos jogadores negros na selecção e que alguns nem cantavam o hino. Lilian Thuram, um dos campeões de 98, tomou a voz do grupo frente ao líder de extrema-direita: "Não sou negro, sou francês."
Passaram 20 anos. E a França voltou a ser campeã do Mundo com uma equipa que representa todo esse caldeirão étnico. Mas as tensões sociais persistem. Até parecem mais graves. A diferença começou logo nas comemorações. Longe de serem tão bonitas e pacíficas como as de 1998. Violência, assaltos e até um morto.
Apesar de tudo, na noite da vitória, e no dia seguinte, com a chegada dos jogadores, também vimos imagens de festa. Com franceses de todas as raças e religiões. Juntos. Em celebração. E ficámos com a certeza de que ainda existe uma United Colors of France. A equipa de Deschamps, nesse aspecto, fez bem mais do que o seu trabalho. Era bom que o poder político seguisse o exemplo."

O fim das 'gajas boas'

"A FIFA recomendou que as transmissões televisivas no Mundial deixassem de mostrar mulheres bonitas de forma ostensiva e geraram-se ondas de choque. Puritanismo? Censura? Influências dos países muçulmanos, já que o próximo Mundial será no Qatar? A verdade é que a explicação é muito mais simples: dinheiro.
É verdade que estamos em 2018 e andar a mostrar ‘gajas boas’ como se fossem carne num talho, fazendo de um jogo de futebol um espectáculo à medida de homens do século passado, já não faz muito sentido. É isso que, ainda que indirectamente, incomoda quem manda na FIFA, já que a preocupação maior não é a moral e os bons costumes. É precisamente a necessidade de alargar a base de adeptos do desporto mais popular do Mundo, que se joga em praticamente todos os locais onde haja... homens.
A globalização, bem como os próprios movimentos migratórios, levou o futebol a locais onde antes tinha pouca tradição. Nesse aspecto, pouco mais a FIFA pode fazer além do que já faz – contribui para a criação de estrelas globais e tem diversificado organizações de Mundiais e outras provas... O grande desafio é tornar o fenómeno verdadeiramente universal também no género. Apesar da saudável evolução das últimas décadas, o futebol continua a ser um desporto cuja esmagadora maioria dos adeptos (e praticantes) são homens, pelo que há metade da população mundial (as mulheres) a quem o futebol diz pouco. Alargar o estereótipo, juntando um grande jogo a imagens de ‘gajas boas’ nas bancadas, é apenas fazer daquilo que o futebol sempre foi: uma coisa para homens (muitas vezes feios, porcos e maus). E, com isso, mesmo que de forma totalmente inconsciente, afasta-se o interesse da grande maior parte das mulheres.
Ao conseguir fazer de um jogo de futebol algo agradável e confortável para todos, a FIFA irá conseguir também fazer disparar o número de adeptos, chegando facilmente à ‘outra metade’. Com isso aumentará as audiências televisivas, os valores de publicidade e as receitas pelos direitos de TV. Resumindo em duas palavras: mais dinheiro. E isso é tudo o que interessa a uma organização com o cariz capitalista – para o mal e para o bem – como a que manda no futebol em todo o Mundo.
Um dos motivos que tornou o futebol no desporto mais popular do Mundo foi a sua universalidade. Não exige super-humanos, nem gigantes: qualquer um o pode jogar bem, seja alto ou baixo, seja forte ou fraco – e abundam os exemplos disso, mesmo ao mais alto nível. Por isso, não faz muito sentido que essa universalidade não se aplique também aos géneros e que o jogo se mantenha de uma maneira geral limitado a homens, tanto no relvado como nas bancadas."

Lógica contrariada por um veloz nórdico e os enigmáticos rostos fechados antes do descanso


"Magnus Cort ganhou a 15ª etapa contrariando a lógica de um sprint a três, obviamente por ser um finalizador mais rápido do que Ion Izaguirre e Bauke Mollema, pois deu-se ao luxo de fazer as derradeiras centenas de metros na frente do trio. É sabido que numa situação assim, a vantagem teórica pertence a quem vai a meio ou mesmo na terceira posição, por serem as que melhor permitem controlar qualquer movimentação nesse reduzido grupo a tempo de reagir.
A Astana, que perdeu o seu líder logo na segunda etapa deste Tour, o espanhol Luis León Sánchez, por queda, soube redesenhar objectivos, dando liberdade aos seus "lobos solitários" caça-etapas e foi quem melhor aproveitou as duas que se anunciavam como uma relativa "entente cordiale" entre os tubarões que discutem a geral. Venceu ambas: ontem, em Mende com Omar Fraile e, hoje, em Carcassone, com o dinamarquês que já tinha no palmarés duas etapas da Vuelta"2016, ambas ao sprint, a segunda delas no fecho da corrida, em Madrid.
Um dia depois de Dumoulin ter afirmado que, pelo que vira na chegada a Mende, no domingo, Geraint Thomas e Chris Froome podem virar-se um contra o outro (sinceridade, "mind games" ou derradeira esperança?), o grande grupo chegou junto à linha de meta 13 minutos após os fugitivos. Os rostos dos Sky, nomeadamente do camisola amarela, pareciam fechados, mas é um dado de difícil interpretação - é que amanhã cumpre-se o derradeiro dia de descanso que nem sempre tem os mesmos efeitos em todos os corredores (há que prefira não interromper o stress competitivo), e logo a seguir surgem três terríveis etapas pirenaicas em quatro dias, incluindo, na quarta-feira, os inéditos 65 quilómetros com duas montanhas de primeira categoria e final em categoria especial, a 2215 metros de altitude.
Também não é de excluir que o ambiente na equipa britânica esteja longe da harmonia militar de outros tempos. Com 1m39s de vantagem para Froome, Thomas começa a ver crescer no horizonte a hipótese de vencer o Tour, não obstante a hierarquia interna. Sucedeu noutras equipas ao longo dos tempos, sempre que o delfim ganha dimensão para ameaçar o chefe. Como na própria Sky, quando Froome foi mandado abrandar, no Tour"2012, pois era Wiggins o escolhido para vencer. Os próximos dias trarão novidades e serão uma boa oportunidade para aprofundar o tema."

“Com o primeiro dinheiro que ganhei fui direito ao Intendente. Tinha 16 aninhos. Perdi a virgindade com uma prostituta” Parte I

"Nascido no Algarve há 72 anos, no seio de uma família sportinguista, a primeira vez que teve hipótese de ir jogar para o Benfica, fugiu de casa. Mas acabou por ser na Luz que Manuel José iniciou a carreira de jogador, que o próprio considera medíocre, sobretudo, diz, por circunstâncias da vida, mas também por alguma culpa própria. Nesta primeira parte da entrevista (domingo será publicada a segunda parte), revela como o marcou a prisão do pai pela Pide, conta histórias da sua passagem pelo Benfica, União de Tomar, Farense e Sp. Espinho, entre outros, e revela como conheceu a sua mulher, com quem, dia 20 de Julho, completou 49 anos de vida em comum

Nasceu em Vila Real de Santo António (V.R.S.A)....
9 de Abril de 1946 D.C. (risos).

Como era a sua família?
O meu pai chamava-se Manuel José da Silva e pôs-me o mesmo nome. Tenho um irmão mais velho 6 anos, que se chama Emílio. A minha mãe era Maria de Jesus. Era doméstica. O meu pai era empregado da indústria conserveira. O meu pai era presidente do sindicato dos conserveiros de V.R.S.A., no tempo em que o pai da Maria José Ritta, a mulher do ex-presidente Jorge Sampaio, só ele tinha 52 barcos de pesca. Hoje não há um único barco de pesca em V.R.S.A. Atum Tenório, Ramirez, Bom Petisco são todos de V. R. Santo António. Agora não há fábricas, não há coisa nenhuma. O meu pai tinha a 3.ª classe, porque a vida o obrigou a começar a trabalhar com 10 anos, mas era inteligentíssimo e era um homem dos sete ofícios, sabia fazer tudo e mais alguma coisa.

Que mais ofícios tinha ele?
Lembro-me que todos os meses ia um afinador de máquinas de Lisboa para lá, fazer a manutenção das máquinas das latas de conserva, e o meu pai ficava a ajudá-lo. De tanto ver, aprendeu. Depois já não era preciso afinador, era ele que fazia. Mas um dia, tinha eu 4 anos e meio, a caminho de casa com uma prima minha, a Angélica, vi o meu pai com dois indivíduos, e ainda hoje vejo um deles claramente; o outro, se me concentrar, lembro-me da cara. Fato azul marinho, gravata azul, louro com uma grande popa. Vinham a sair de casa e o meu pai disse para a minha prima que era bem mais velha do que eu: "Diz à tua tia que eu vou com estes dois senhores para Lisboa".

Quem eram os dois senhores?
Eram da PIDE. Levaram-no para Caxias como comunista, que não era. Porquê? Porque ele era um homem determinado e eu herdei grande parte desse carácter dele. Mas por ser presidente do sindicato e reivindicar melhores condições de trabalho e salariais, acharam que era comunista. Naquela altura, no inverno, durante três meses os barcos não podiam ir pescar para a renovação das espécies, então muitos pescadores e barcos vinham para Matosinhos, principalmente porque lá podia-se pescar. Lá em baixo é que não; as fábricas trabalhavam três dias por semana durante esse tempo, porque não tinham peixe.
Voltando a Caxias, quanto tempo ficou preso o seu pai?
9 ou 10 meses. Fizeram-lhe tortura psicológica e meteram-no na escola de comunismo, que eram as cadeias. O meu pai quando saiu da cadeia já era comunista. Entrou sem ser, quando saiu já era.

Esses meses que viveu com a sua mãe e irmão, sem o pai, viveram de que rendimentos?
O meu irmão teve que ir trabalhar com 10 anos, a minha mãe também foi trabalhar para uma fábrica de conservas, para a mesma onde o meu pai trabalhava, que era do José Antonio Ritta. O meu irmão não sei o que foi fazer, se calhar foi limpar latas, que era um trabalho que davam aos miúdos, porque o trabalho infantil era mais que muito naquela época. Eu vivi há pouco tempo num país, o Egipto, em que mais de um terço da população vive com menos de um dólar/dia e em Portugal naquela altura era mais ou menos a mesma coisa. O Egipto tem 50% de analfabetos e, em 25 de Abril de 1974, Portugal tinha 44% de analfabetos; até as mulheres vestiam-se um pouco como as árabes, com um lenço na cabeça e saias até abaixo. Naquela altura fui viver para a casa de uma tia minha. Só via a minha mãe e o meu irmão ao fim de semana.

Devia sentir muitas saudades do seu pai também.
Lembro-me perfeitamente do dia em que ele chegou. Trouxe um ananás. Mas veja bem as incongruências. O meu pai era muito alto e tinha a alcunha de Manuel José Perna. Eles lá na cadeia tratavam-no por José Manuel Perna, e ele respondia eu não sou Jose Manuel Perna, o meu nome é José Manuel Silva. Mas eles mantinham a deles. Ele escrevia postais à minha mãe e ao quinto postal escreveu-lhe um código para ela ir falar com um dr. qualquer para o tirarem de lá. E, ele foi solto porque se chamava Manuel José da Silva, que era o verdadeiro nome. Tinha sido preso como José Manuel Perna. Isto serve para se perceber como era a organização que o Estado e a PIDE tinham naquela altura.

Mas ia relatar o dia em que ele chegou.
Lembro-me que comi ananás a primeira vez na vida e deram-me um bocadinho de cerveja com açúcar, tinha eu 5 anos e qualquer coisa (risos). Sei que largaram o meu pai em Lisboa, sem um centavo no bolso. Deve ter ido a pé por ali abaixo.

Nunca o foram visitar?
Não. Não havia autorização para isso. Nem nós tínhamos condições para ir. Lembro-me do meu pai contar que foi a um café, telefonou para um amigo, o Luis Vasquez, e ele é que lhe emprestou dinheiro para, no Barreiro, apanhar o comboio para V.R.S.A.

Depois de retomar o contacto com o seu pai, sentiu que vinha um homem diferente?
Lembro-me de irmos ao cinema, havia um balcão de banco corrido e em baixo as cadeiras que eram mais caras. Como éramos pobres a família toda ia lá para cima para o banco corrido. Passado um bocadinho de lá estarmos, o meu pai levantava-se e dizia: "Vou-me embora, vou para casa". Tinha eu uns 7,8 anos. Lembro-me da minha mãe dizer ao meu irmão: "Emílio fica quieto, deixa-o, deixa-o ir". Quando acabava o filme, íamos para casa e ele estava lá. A minha mãe e irmão perguntavam-lhe porque tinha vindo embora, ele respondia: "Porque ouvia uma voz a dizer-me para eu atirar-me lá para baixo". Lembro-me de às três, quatro da manhã acordar com o meu pai aos gritos, com um ataque de pânico. E a minha mãe dizia ao meu irmão: "Emílio vai buscar o Dr. Prazeres". O Dr. Prazeres nunca falhou, veio sempre, fossem as horas que fossem, mas assim que o meu pai ouvia a voz do médico à porta, a falar com o meu irmão, passava-lhe tudo, ficava bom. Isto durou muitos anos e com uma agravante.

Qual?
No plano social costumo dizer que nós parecíamos que éramos filhos de um leproso. Porque éramos filhos do comunista. Muitas vezes eu andei à pancada com miúdos da minha idade por causa de o meu pai ser comunista. Éramos a família do leproso. Mas aguentámos.
E a escola?
Gostava mais de jogar futebol, mas ia à escola. Morava a 100 metros da escola.

Qual é a primeira memória de futebol ou de uma bola?
A ideia que tenho de uma bola e de jogar futebol, é das traseiras de uma padaria, onde havia um portão largo, por onde entravam os sacos de farinha. O portão fazia de baliza. Ao lado havia uma fábrica de latas para as conservas e tinha também um portão enorme. Jogava ora num portão, ora noutro, naquele que estivesse mais iluminado ficava a jogar até à meia noite sem problema nenhum, com miúdos da minha idade.

Nessa altura torcia por quem?
Éramos todos do Sporting. O meu pai era sportinguista ferrenho, o meu irmão também.

Quem eram os seus ídolos?
É uma coisa muito curiosa. O Lusitano de V.R.S.A.esteve duas vezes na I divisão. A segunda vez acho que foi em 1952 ou 53. Eu tinha 6 ou 7 anos e o Sporting foi jogar a V.R.S.A contra o Lusitano. Lá fui eu com o meu pai e o meu irmão ver o jogo. A única imagem que tenho desse jogo é de um preto, ou negro, para mim só há uma raça que é a raça humana, grande, vestido à Sporting. Foi a primeira vez que vi um preto. E quem era ele? Mário Wilson. Lembro-me também de ouvir os relatos e o jogador que mais me empolgava era o Seminário, um peruano, que fez um grande sucesso no Sporting.

Quando era pequeno queria ser o quê?
Não me lembro de pensar coisa nenhuma. A vida era muito apertada. Fiz a escola primária. Fui para a escola industrial porque era o mais barato. Fiz o 3º ano das escolas industriais. Chumbei um ano. Sabe que na altura das ditaduras a igreja era outra ditadura, havia aulas de religião e moral. Noutra disciplina qualquer dávamos uma falta e tínhamos a faculdade de justificar a falta por escrito. Naquela não. Normalmente a aula de religião e moral era das 14h às 15h, e a primavera no Algarve a maior parte das vezes é o verão aqui no norte, lembro-me que o telhado da escola eram em lusalite e depois de almoço ir para aquela aula - não havia ar condicionado, nem ventoinhas, nem nada - dava-me o sono. Lembro-me de às tantas o padre dizer na aula: “Até o homem mais santos peca sete vezes ao dia”. Eu era super tímido, mas digo alto: “Oh sr. padre e se estiver a dormir?". "Se estiver a dormir...a dormir estás tu, rua". E perdi o ano.

Qual foi a reacção quando chegou a casa?
Já não me lembro, mas o meu pai nunca me tocou com um dedo, a minha mãe ainda me dava com a vassoura de vez em quando. Nessa altura tinha 13, 14 anos, tive de repetir o ano e passei. Eu estava sempre a jogar à bola e perto da escola industrial havia um campo de terra batida do Glória, o segundo clube de V. R. S. António, e nos intervalo íamos jogar à bola para lá. Em V.R.S.A no verão faziam uns torneios populares, que demorava os 3 meses de verão. O dono dessa equipa, tinha uma taberna e era doido pelo Belenenses. A equipa jogava à Belenenses com a Cruz de Cristo e um dia eles vão fazer um treino nesse campo, eu estava lá com outros miúdos a jogar à bola. O meu irmão, que tem 1,93m, é enorme, ia entrar pela primeira vez neste torneio como defesa central. Quando iam começar o treino de 11 contra 11, começaram a correr connosco dali para fora mas faltava um extremo esquerdo para o treino. Eu era ambidestro. O meu irmão disse ao treinador, o Ramiro, que eu tinha jeito. Ele mandou-me chamar. Fiz o treino com eles e fiquei.

Jogou o torneio?
Joguei. Portanto, a primeira camisola que vesti foi do Belenenses porque o equipamento era igual ao do Belenenses. Ganhámos esse torneio e fui o melhor marcador, com 15 anos. No ano seguinte, na escola industrial, resolveram fazer uma equipa de futebol para participar no torneio. O treinador, o mestre Nicolau, pôs-me a jogar voleibol, mas eu tinha mais jeito com os pés do que com as mãos. Andei também na Mocidade Portuguesa, o que deixou o meu pai furioso, mas era obrigatório. Lembro-me de fazer uma semana de acampamento no Montenegro...Mas estava dizer, montaram essa equipa de futebol na escola industrial que jogava de preto, como a Académica, e nesse ano ficámos em segundo e eu fui o segundo melhor marcador. Conclusão: um dia estou em casa, depois do torneio, e quando vou para abrir a porta ouvi a voz de um homem a dizer: "Pronto, amanhã as 9 da manhã está aqui um carro para levar o seu filho para o Benfica".

Mas não foi.
Fugi de casa, fui para casa de uma tia minha, a que me acolheu quando tinha 4,5 anos, Estive lá 8 dias e dizia-lhe: "Para o Benfica não vou nem morto". Já tinha 16 anos.

E o seu pai?
A casa da minha tia era mesmo junto à mata. Eu dizia-lhe: “Se o meu pai aparecer aí para me levar para o Benfica, eu fujo para a mata e durmo lá se for preciso”. E lembro que por duas vezes fugi para a mata e fiquei lá até a minha tia começar a gritar por mim. Até que ela um dia diz: "O teu pai disse para ficares tranquilo. Não queres ir para o Benfica não vais, assunto arrumado". Lá voltei para casa. Uma semana depois, estou em casa, aquela era a altura de se fazer testes nos clubes, e quando dei por mim estava num carro a caminho de Olhão. Apanhámos mais 2 em Olhão e apanhámos outro colega em Faro e dali vamos para Lisboa fazer testes no Benfica. Lembro-me que eram imensos miúdos. Como eles não prestavam, eu marquei 9 golos e fiquei (risos). Acabei por ficar no Benfica e o meu pai recebeu 60 contos (300€).
Quando vai para o Benfica onde fica a viver?
Era para ir para o lar do Benfica mas era miúdo, o lar estava cheio. Era lá que viviam os solteiros, Eusébios e companhia, mais tarde vivi lá com eles. Mas nessa altura puseram-me numa casa de família, um casal com um filho ou filha, a mim e mais 3: o Murraças que era de Peniche, o Pinto Moreira que era de Gaia e o Paz que era de Torres Novas. Ficamos na rua da Damaia. O Benfica pagava a essa família que nos acolheu e tinha de me pagar os estudos, que nunca me pagou, alimentação e dormida.

Como foi a adaptação?
Tinha uns primos que viviam em Benfica, a Teodora que ainda é viva e era enfermeira, o marido, o Júlio, que era dentista, e o irmão dele, o Lita, que depois foi viver para o Açores, no Pico, onde fui 10 anos seguidos para pesca já quando era treinador, porque sou doido por pesca. Foram eles que me deram apoio e ajudaram na integração. Mas foi duro. Só para dar um exemplo: quando cheguei ao Benfica já fumava meio maço de cigarros por dia. Comecei a fumar com 14 anos, na altura compravam-se 3 cigarros por 5 tostões. E passados três meses de estar no Benfica já fumava um maço inteiro. Tenho até uma história curiosa.

Conte.
O treinador era o Fernando Cabrita, algarvio como eu, era um homem austero em termos de disciplina. Um dia estava um calor tremendo, tudo de janelas abertas, eu acendo um cigarro e eu era o único que fumava. De repente o Moreira diz: "Vem aí o Sr. Fernando". Eu tinha acabado de dar duas passas no cigarro e pensei "não vou deitar o cigarro fora". Esmaguei a ponta, levantei o colchão, meti o cigarro nas tábuas, o colchão por cima e deitei-me. O Sr. Fernando assim que entra: "Cheira-me a tabaco. Estiveste a fumar". "Não estava nada, aqui ninguém fuma". Andou à procura, foi a casa de banho, foi à varanda, deu voltas, olhou para o chão. E de repente diz-me: "Levanta-te". Deu logo com o cigarro.

O que aconteceu a seguir?
Nós treinávamos no campo grande na antiga estância de madeiras. Eu ia da Damaia, apanhava o eléctrico até Sete Rios, depois o metro até ao campo grande e ia a pé até ao estádio. Havia um placar na parede, em cortiça, à entrada do balneário. E no outro dia de manhã, quando vou a entrar, começa tudo no gozo: "Manuel, vai ver o placar, vai ver o placar". Eu ganhava 1200 escudos/mês. Quando olho: "Manuel José 300 escudos de multa". Um maço de cigarros custava 3 escudos e 20 centavos naquela altura. Olhei para aquilo, agarrei no papel e rasguei-o todo. Era tímido, mas não tinha medo de nada. Quando o Fernando Cabrita veio, viu aqueles papéis no chão. “Quem rasgou isto?". "Fui eu". "Ai é, então espera aí". Voltou lá para dentro e quando veio pôs em vez dos 3000 pôs 600 escudos. "Então rasga outra vez a ver se és capaz". Estive mesmo para rasgar outra vez, mas eu tinha de mandar dinheiro para a família e aguentei-me. Mas tive a vingança.

Como assim?
Os empregados não gostavam muito do Cabrita e um dia um empregado que estava zangado com ele diz-me: "Manuel a gaveta dele está cheinha de maços de cigarros". Porque às vezes quando estávamos a treinar ele dizia ao capitão de equipa: "Fica aí a tomar conta que eu preciso de ir à casa de banho". E ia passar revista à nossa roupa para ver se tínhamos cigarros. Ele diz-me: "Temos de arranjar um estratagema, eu abro-te a porta e tu levas os cigarros todos". Não sei como foi, mas sei que roubei-lhe os cigarros todos.

Mas teve de pagar a multa.
A multa paguei. Mas ele nunca soube quem é que roubou os cigarros. Andei a fumar à conta dele durante um tempo (risos).
Tinha alguma alcunha?
Lembro-me que quando fui viver para o lar o Torres pôs-me a alcunha de “Bartolo”. Em V.R.S.A. chamávamos bartolo ao papo seco. Quando cheguei ao lar pedi à empregada um bartolo e ninguém sabia o que era (risos). Mas ele foi a única pessoa ao longo da vida que me chamou bartolo.

O que fez com o primeiro ordenado que ganhou?
Fui direito ao Intendente e...prostitutas. Tinha 16 aninhos. Perdi a minha virgindade com uma prostituta (risos).

Correu bem a experiência?
Foi muito rápido (risos). A emoção era altíssima.

Enquanto estava no Benfica prosseguiu os estudos?
Primeiro, fui para o colégio moderno no Campo Grande e depois fui para a Machado de Castro estudar à noite. Quando cheguei à Machado de Castro deram-me a lista dos livros e entreguei ao Benfica porque eram eles que me pagavam os estudos. O meu colega de carteira, o Machado, que era lateral esquerdo, já tinha os livros, então eu ia assistindo às aulas e estudando pelos livros dele porque em casa não podia, não tinha nem um livro. Na aula de português, um dia o padre pergunta-me: "Porque é que vens para aqui sem livros?". Respondi-lhe que já tinha levado a lista duas vezes ao Benfica, eles é que tinham de pagar os livros e enquanto não dão estudava com o Machado que não se importava. À quarta vez que me pergunta e dou a mesma resposta ele diz :"Se na próxima aula vieres sem livros, não vale a pena vires, é melhor ires embora". E eu lá fui a sede do Benfica, contei o que se estava a passar e ninguém quis saber daquilo para nada. Conclusão: fui à aula e o padre mandou-me para a rua. Quando cheguei à porta, virei-me para ele e disse :"O Sr é padre, se tem consciência vai ficar a saber, nunca mais estudo, vou-me embora desta aula e nunca mais cá ponho os pés nem para esta nem para as outras todas". E não voltei a estudar. A propósito de padres, tenho outra história engraçada.

Conte.
O meu pai contava a história de que quando o meu avô faleceu e ele foi à igreja falar com o padre - que mais tarde foi meu professor de português no Algarve e me deu muitas vezes com a chave da igreja nos nós dos dedos -, perguntou-lhe a que horas é que o padre queria que ele levasse o corpo do meu avô, no dia seguinte. Na altura era uma carrinha puxada por um homem que levava o caixão, isto nos anos 40. E o padre diz: "Amanhã às três horas, aqui. E são 20 escudos". O meu pai respondeu-lhe: "Sr. padre estamos no inverno, a trabalhar apenas 3 dias por semana, não ganhamos para comer, eu não tenho 20 escudos para pagar para o senhor acompanhar o meu pai ao cemitério". "Então se não tens, não há padre". O meu pai virou-se para ele: "Sr. padre amanhã às 3 horas da tarde o corpo do meu pai está aqui à porta da igreja. Se o senhor não vier vou-me embora para o cemitério e se me perguntarem porque é que não tem padre eu vou dizer que não tenho dinheiro". O meu pai contava que quando foi da minha avó, foi falar com o padre novamente e este disse-lhe logo: "Já sei que não tens dinheiro, mas às xis horas estás aqui" (risos). Curiosamente, este padre acabou por deixar a igreja e casar com uma filha do Ramirez, da fábrica do atum Ramirez. E gostava de futebol.

Voltando ao Benfica. Ficou no Benfica quanto tempo?
Fiz 2 anos de júnior, depois subi a sénior e fui viver para o lar do Benfica com o Eusébio, o Torres, o Pedras, o Calado, Arcanjo, o Luciano que faleceu na banheira do Benfica electrocutado.

Como é que isso aconteceu?
Apareceu lá um indivíduo com um aparelho que era ligado a electricidade, a água entrava por um lado e saia pelo outro contendo electricidade e aquilo fazia eletromassagem. Só que fizeram aquilo e não fizeram uma ligação à terra. Então o Luciano estava com o aparelho na mão, dentro de água, estavam vários jogadores dentro de água, aquilo teve um curto-circuito. Lembro-me que o Cavém ficou com uma perna dentro e outra fora, não conseguia sair. O Luciano caiu, o Malta da Silva foi dado como morto, e depois de fazerem todas as tentativas de reanimação do Luciano, que não conseguiram, é que repararam que o Malta da Silva ainda estava vivo. E lá recuperou.

Quem é que salvou a situação?
Nós tínhamos dois balneários. Um para os craques outro para os “minhocas”, que eram os suplentes. Só o Torres, que jogava, é que se equipava naquele balneário. Depois havia o corredor e tinha uma sala onde estava a sauna e o banho de imersão. O Jaime Graça ouviu aquela gritaria toda e foi ver quem é que estava a ser gozado. E foi ele que teve o discernimento de ir ao quadro desligar o quadro, senão tinham morrido todos. Eu não estava lá, ainda bem, porque só tinha pele e osso ficava-me logo, naquela altura pesava 68kg para um 1,84m.

Nessa altura o Manuel José era um “minhoca”.
Era.

Dos tempos do lar do Benfica do que mais se recorda?
Dávamo-nos todos bem, o mais tímido era eu. Aquilo tinha um regime duríssimo. Às 11 da noite tínhamos que estar no lar. No princípio da época treinávamos de manhã e à tarde, depois do primeiro terço do campeonato começamos a treinar só à tarde. Pouca gente tinha carro ainda. Ao fim de semana eu jogava nas reservas, ao sábado a tarde. naquela altura não havia suplentes, só de guarda-redes.

Quando subiu a sénior quem jogava na equipa principal?
José Augusto, Eusébio, Torres, Coluna e Simões, Costa Pereira, Germano, Ângelo, Cruz, Mário João... Andei três anos emprestado, primeiro ao Sporting da Covilhã, onde conheci a minha mulher. 

Quando soube que ia ser emprestado qual foi a sua reacção?
Foi péssima. Ainda por cima porque se portaram mal comigo mais uma vez. O Olhanense tinha subido à I divisão e veio falar comigo porque o Luciano e o Arcanjo eram de Olhão. Quando passei a viver no lar fazia as minhas viagens para o Algarve, ao domingo depois dos jogos, no carro de um deles. Íamos e vínhamos sempre os três. Muito por indicação deles e do treinador que me conhecia, o Olhanense veio falar comigo para eu falar com o Benfica. Eles também iam falar com o Benfica, para eu jogar no Olhanense na I Divisão. Tinha acabado de fazer 19 anos. Ficava ao pé de casa. Mas o Gastão Silva, do Benfica, disse-me: "Não. Vais para o Sporting da Covilhã (que era da II Divisão), e não peças muito dinheiro".

Porquê?
A influência foi do Fernando Cabrita, que tinha jogado no Sporting da Covilhã. O Cavém tinha jogado lá também, o Amílcar jogava lá, o Hélder também já tinha jogado lá. Ou seja, havia um historial de algarvios de V.R.S.A. no Sporting da Covilhã. Os clubes pequenos nessa altura pediam jogadores aos clubes grandes e não eram proibidos de jogar contra os clubes grandes, como essa imoralidade de agora que é suportada pela FPF e pela Liga, mas isso é outra conversa. E então lá fui eu, pior que estragado, para a Covilhã, um algarvio para o frio.

Foi viver para onde?
Fui viver mais uma vez para uma casa de família, eu e mais três. Cheguei lá com um calor terrível. À noite fui dar uma volta para ver a cidade, sozinho, de manga curta e calcinha branca, à pipi, mas aquilo tem uma amplitude térmica tremenda, apanhei uma gripe tive 5 dias de cama. Logo para começar (risos).
Conheceu a sua mulher como?
Estava com um amigo e via-a passar todos os dias, porque morávamos a 50 metros da casa dela. Ela tinha 14 anos, eu tinha 19. Um dia estava com um amigo Manuel Saraiva, num café onde parávamos a jogar snooker, via-a passar e disse para o Manuel "Eu vou casar com aquele miúda. Já a vi tantas vezes, vou casar com ela". E casei.

Como é que meteu conversa com ela?
Pelos vistos ela tinha alguma inclinação por mim também. Eu naqueles tempos armava-me em palerma, porque a população portuguesa era um bocadinho para o baixa e um fulano grande, ainda por cima de fato e gravata.

De fato e gravata?
Gostava de andar de fato e gravata sim, adquiri o gosto lá. Covilhã era o centro de têxteis em Portugal. As fábricas ofereciam cortes de fato e quem marcasse golos. Naquela época a jogar a médio marquei 16 golos. Eu ia às fábricas, aí a minha timidez já tinha desaparecido quase toda, e era um fato para mim, outro para o meu pai, e outro para o meu irmão. Cada vez que marcava um golo, na segunda e terça-feira, tinha 7, 8 ou 9 cortes de fatos em casa. Foi produtivo porque fiz uma época excelente. Acabámos por não subir de divisão, ficámos em 2º lugar. O pior foi o inverno, extremamente rigoroso. Só dois jogadores tinham carro então fazíamos fila para apanhar boleia, porque o campo era o Santos Pinto, que ficava longe da cidade. Às vezes juntavam-nos 4 e íamos de táxi, mas como o dinheiro era pouco chegamos a uma altura que tínhamos de ir a pé. Vento, chuva, neve, chegamos lá em cima completamente encharcados. Púnhamos a roupa a secar em cima da caldeira que aquece a água.

A sua mulher ainda estudava nessa altura.
Não, ela já trabalhava num ateliê de costura. Era o que faziam as raparigas daquela cidade.

A seguir foi emprestado ao Varzim, foi a sua estreia na I Divisão. Notou muita diferença?
Claro que notei. Apesar que na II Divisão aprendi os truques todos, tudo aquilo que não se deve fazer num jogo de futebol, de malandrice. A equipa do Sporting da Covilhã tinha uns 7, 8 jogadores balzaquianos, já com mais de 30 anos, e naquela altura não havia cá cartões, era expulsão directa e era muito perigoso jogar futebol. Eu jogava sem caneleiras e passei a jogar de caneleiras quando fui para a Covilhã. Tenho as pernas todas marcadas por causa disso. Lembro-me de ver jogadores a afiar os pitons de alumínio com uma lima, para irem jogar a seguir. Quando entrava, entrava até ao osso. Havia bolas divididas com jogadores que eu não punha lá os pés, porque já sabia que estava tramado, ia de maca logo. Havia gente muito maldosa a jogar. Muito perigosa. E eu fui aprendendo a defender-me. Lembro-me de entrar em alguns jogos em que já sabia quem eram os pistoleiros, como lhes chamávamos, porque alguns partiam pernas e vangloriavam-se disso. Aprendi a defender-me de um futebol violento, de marcação homem a homem em que valia tudo.

Alguma vez teve uma lesão grave?
Tive uma lesão num joelho por causa de uma pancada que me deram, e fiquei 3 semanas sem jogar. Mas lesão séria, fiz uma rotura muscular mas foi quando estava na tropa.

Quando e onde faz a tropa?
Faço a tropa com 21 anos, quando vim do Varzim para o Belenenses, emprestado pelo Benfica. Fiz a minha recruta na Serra da Carregueira, no quartel. E depois, no salve-se quem puder, é uma coisa de que não me orgulho, mas tive que o fazer, porque aquilo era tudo carne para canhão para irmos para a guerra, eu dei 3 contos a um capitão para me pôr na RAFA, em Queluz.

Porquê?
Porque era a artilharia antiaérea e na guerra de África os locais não usavam aviões. Puseram-me em Queluz; entretanto, o Belenenses e Benfica meteram uma cunha para eu poder ir treinar - já tinham metido quando eu estava na Carregueira. Na minha recruta eu dormia 3 dias no quartel e depois dormia em casa. Entrava às 10 e saía às 11. Era só encontrar o capitão para me assinar um papel. Acabei a especialidade em metralhadoras anti-aéreas. Estive 11 meses sem ir ao quartel. Eu só ia ao quartel para jogar futebol. Vários jogadores naquela altura estavam comigo. O Quaresma, defesa central, que é tio do Ricardo Quaresma, o Godinho, o Nelson e outros. Chegou a uma altura que eu era o mais velho lá na minha bateria e então precisávamos de um defesa central e arranjei maneira de chamarem o Freitas, que estava em Castelo Branco para vir para junto de nós. Havia os campeonatos militares.
Voltando ao Varzim e à estreia na I divisão, que mais diferenças notou?
A qualidade de jogo e dos relvados. As condições eram melhores. O ritmo competitivo e a qualidade eram maiores do que na II divisão. E lembro-me de um episódio, jogando no Sp. da Covilhã ainda, viemos jogar ao Bessa contra o Boavista, no jogo da 1ª volta, lá na Covilhã ganhamos 3-0 e aconteceu uma coisa...Há um canto a nosso favor, eles tinham um defesa central chamado Viriato que era bem mais alto do que eu e mais largo, parecia um armário, e já tinha 32, 33 anos. Alguém fez um alívio, eu estou fora da área, e quando vou para chutar a bola, ele vem chega primeiro e faz o alívio, e eu com medo da bolada, saltei, fiquei de costas, o meu pé ficou atravessado e na continuação do chuto dele, o joelho dele veio acertar no meu pé. Foi ele que me acertou. Caiu, uma gritaria, ficou logo com o joelho inchado. O Celestino, também já velhote, grande, deu-me um estalo enorme que fiquei sentado, o árbitro viu, foi expulso. E passado um bocado um outro que era avançado, vou a saltar à bola e ele vem por trás e deu-me um soco, o árbitro viu, rua, ficaram com 8. Estavam convencidos de que eu tinha feito de propósito, quando eu tive foi medo da bolada e que ele chocasse comigo, porque aquilo era um comboio a atropelar-me. Conclusão, vamos jogar na 2ª volta ao estádio do Bessa, o Boavista se perde, desce para a III divisão. O estádio do Bessa estava em obras, estava a chover, e quando entrei começa tudo: “É o 6, é o 6”. Eu é que era o mau da fita! (risos). Ao intervalo estava 0-0, vamos para a cabine e estão duas raparigas debaixo de um guarda-chuva, e quando eu passo, a que estava com o guarda-chuva fechado deu-me com ele na cabeça, partiu-me a cabeça. Toca a fazer penso no balneário. Segunda parte, entrei, tinha um extremo esquerdo, o Germano, que era senegalês, ele trabalhou 40 anos no Boavista, era uma óptima pessoa com quem tive sempre boa relação, eu era médio direito e numa disputa de bola quando ele vai para chutar, eu prensei a bola, ele bateu na bola e passou por cima do meu ombro. Veio tudo a correr, era murros, pontapés, o árbitro era pequenino, andava aos saltinhos e não via nada (risos). Canto a nosso favor, nenhum de nós foi ao canto, só foi um e nós aos gritos com ele, o Cunha "Sai daí, sai daí, se nós ganhamos o jogo eles matam-nos". Então não é que marcaram o canto ele estava contra alguns 5,6 jogadores do Boavista e marcou o golo de cabeça? Ganhamos 1-0.

O que aconteceu a seguir?
Saímos de lá às 2 da manhã, chegámos a estar 11 dentro da casa de banho, de porta fechada, porque eles partiram tudo, os vidros todos, até os do autocarro. Saímos às 2 da manhã do Bessa, no Inverno, com um nevoeiro cerrado. Íamos com cobertores mas passamos um frio de morrer e o autocarro volta e meia parava por causa da densidade do nevoeiro. Chegamos a Covilhã quase às 6 da manhã. E o Boavista desceu de divisão.

Quando vem para o Belenenses jogou sempre?
Sim. Mas depois aconteceu uma coisa curiosa. A mim aconteceram uma série de coisas pelo caminho que jogaram sempre contra mim. Estava a fazer uma época espectacular. O Benfica estava na Taça dos Campeões Europeus, que é agora a Liga dos Campeões, e ia jogar à Hungria com o Vasas de Budapeste, que era campeão húngaro. O Benfica tinha ganho em casa com um resultado magro, um golo de diferença, e naquela altura para se anteciparem os jogos, quem jogava em casa, tinha de pagar uma verba ao clube visitante e tinha de ter autorização do clube visitante. O Benfica pediu ao Belenenses para antecipar o jogo para sábado, porque os jogos da Liga dos Campeões eram à quarta-feira. Isto em 1968. O Belenenses disse que ou o Benfica dava-lhes 150 contos ou a minha carta. Naquela altura havia a famigerada lei de opção, nós terminamos o contrato, mas ficamos presos ao clube na mesma. Aquilo era escravidão. O Benfica ficou em brasa. Não aceitou. Jogamos ao domingo e quando chegamos ao estádio da Luz, o chefe de departamento de futebol do Benfica, Eng. Hélder Viegas, assim que saio para o campo diz logo "Diz a esses filhos da mãe que no final da época quando isto acabar não vais ficar nem mais um minuto aí no Belenenses". Conclusão, perdemos 7-0. Jogaram com uma raiva desgraçada. Agora repare a ideia brilhante do Belenenses. Manuel de Oliveira era o treinador, foi despedido, e puseram dois treinadores, o Peres Bandeira, meu amigo, que era treinador de juniores e o Carlos Silva, que tinha sido jogador do Belenenses, era treinador mas estava desempregado. Estávamos no último terço do campeonato. Vieram ter comigo, o célebre Acácio Rosa chefe de departamento de futebol, e disse-me que não jogava mais na 1ª categoria, era assim que se chamava, ia jogar os jogos das reservas “Para ver se eles se esquecem de ti”. Conclusão, não joguei nem mais um jogo na equipa principal (risos).

Voltou para o Benfica depois?
Voltei. Andei com um cheque de 360 contos do sr. Acácio Rosa, para comprar a minha carta ao Benfica. Andei com o cheque dele, no bolso, durante dois meses para comprar a minha carta para poder ir para o Belenenses, isto em 1968. Começou a época, o Otto Glória era o treinador, e eu não apareci. Chamaram-me à sede, que era no Jardim do Regedor, para renovar contrato. "Eu não quero ficar aqui, eu quero ir para o Belenenses". E eles: "Nem sonhes, vais ficar aqui". "Não não quero ficar, jogam sempre os mesmos, estes gajos nunca mais acabam, tenho 21 anos, estou aqui a fazer o quê?". E: “Não, não e não”. "Então não treino". "Tens de ir ao treino". " Não vou". E não fui. 3 dias depois nova reunião. Não cheguei a acordo novamente.
E então?
Antigamente havia a Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa, que era uma prova importante. Era sempre no Restelo, estádio cheio. O Benfica foi para uma digressão na América do Sul. Isto é outra história curiosa. Cheguei a acordo com o Benfica e começo a treinar 4 dias antes de começar a Taça de Honra, na qual estávamos nós, o Sporting, o Belenenses e o Atlético. O Eusébio tenha sido operado ao joelho. Não fez um único treino. Nós íamos treinar e o Eusébio vinha com o jornal "A Bola" debaixo do braço, punha uma toalha no chão, sentava-se, tirava a ligadura do joelho, estendia a perna para apanhar sol e ajudar a cicatrização. Nem um treino fez. O Benfica foi ganhar com o Eusébio 5000 contos naquela digressão. Se o Eusébio não fosse iam ganhar metade. E o Eusébio foi jogar assim, sem um único treino. Aquilo que fizeram ao Eusébio...Então eu vou jogar a Taça de Honra. Naquele ano subiram a seniores Humberto Coelho, que para além do talento que tinha foi um homem de sorte, porque magoaram-se os defesas centrais todos do Benfica e ele que tinha vindo dos juniores foi com o Benfica para essa digressão, o Calado jogou a central com ele e nunca mais saiu da equipa. Eu na brincadeira costumo dizer que há horas de sorte como dizem os cauteleiros e o Humberto teve a sua hora de sorte. Fomos jogar a taça de honra com os bebés do Benfica contra o Belenenses. Lembro-me de entrarmos na cabine para o jogo e tínhamos uma chupeta azul em cada cabide. Foram os fulanos do Belenenses para gozar connosco. Pensavam que nos iam ganhar, mas perderam e eu fui o melhor jogador em campo (risos), com 3 treinos. Na final fomos jogar contra o Sporting, do Peres, Alexandre Baptista, Carvalho, Hilário, Pedro Gomes, Marinho, eu sei lá. Ganhamos 3-1. O Benfica tinha chegado e do aeroporto foram diretos para o estádio ver a final. No fim o Otto Glória vem falar comigo e manda-me tirar o passaporte, que nunca tirei. Foi uma época para esquecer. Fui campeão nacional, joguei apenas contra a Académica 25 minutos e depois fui-me embora para o primeiro que apareceu.

Que foi o União de Tomar.
Sim. Deu-me um bom contrato.

Quando vai para Tomar, como é que estavam os namoros? Já era casado, não era?
No final dessa época no Benfica, no dia 20 de Julho 1969, casei. Antes de ir para Tomar. Eu era já demasiado vadio para andar sozinho.

Esteve quatro épocas no U. Tomar. Quais são as melhores recordações?
O nascimento do meu filho, Rui Manuel, a 29 Outubro 1970.

O que faz o seu filho?
É empresário de futebol.
Não há nada mais nada que recorda desses tempos de Tomar?
Fiz muitas amizades, ainda lá tenho um que é meu compadre, sou padrinho do filho dele, o Eduardo Fortes, chamam-me Totoi. É de Cabo Verde. Ficámos amigos desde essa altura. Foram 4 anos que me atrasaram um pouco.

Porquê?
Naquela época tive convites para ir para o Sporting, para o FCP, duas vezes.

Não foi porquê?
Por causa da chamada lei de opção. Pediam bateladas de dinheiro e não me deixavam sair. Eu só saí de Tomar, em 1973, para o Farense. Outra história que jogou contra mim.

Força.
Não sou fatalista, nem sequer sou religioso, mas a verdade é que muitas histórias fizeram mossa e de que maneira. Quando termino contrato com o U. Tomar o presidente do clube, que só lá ia à quarta-feira para a reunião de direcção porque era construtor civil e tinha outros negócios, chamou-me à sede para falar comigo. "Olha, vais para o Boavista. Já vendi a tua carta por 600 contos ao capitão - ele ainda era capitão - Valentim Loureiro. Vais ganhar 600 contos e 4 contos e 500 de salário e casa paga, mais prémios de jogos". Eu era capitão de equipa já há 3 anos, olhei para ele: "Nem morto eu vou para o Boavista". "Então, não é bom?". "Era melhor do que eu conseguia fazer, mas não vou". "Não vais porquê?". "Porque eu não sou uma coisa qualquer que você vende assim. Eu tenho cabeça para pensar e não me vende assim, como vende apartamentos ou prédios, sou um ser humano. Perguntou-me alguma coisa? O que é que eu pensava? Não perguntou, pois não? Então esqueça". Foi uma discussão desgraçada.

Quais consequências?
O Raúl Águas tinha estado na Académica, teve um problema no pé, aquilo não lhe correu bem, nós precisávamos de um ponta de lança e eu falei com o presidente do clube e sugiro irmos buscar o Raul Águas. Assim foi. O Raul Águas sai da Académica e vai para Tomar. Depois dessa discussão com o presidente eu ligo para o Raul Águas e digo-lhe: "Tu dás-te bem com o presidente da Académica?". "Dou". "Pergunta-lhe se ele está interessado que eu vá jogar para a Académica". Passado meia hora já me estavam a ligar e a perguntar que estudos tinha. "Tenho a frequência do 4º ano das antigas escolas industriais". E de lá dizem: "Nós pagamos a casa, damos 5 contos por mês, não há cá luvas nem coisa nenhuma, e ajudamos nos estudos, porque você tem de estudar minimamente, e pode tirar o curso de engenheiro técnico". E eu "Ok, mas fica condicionada a um clube que eu acho que me quer. Assim que eles me telefonarem, eu digo". Nem de propósito no dia a seguir liga-me o Osvaldo Silva, que era treinador dos juniores do Sporting, uma pessoa maravilhosa com que trabalhei mais tarde. "O Mário Lino vai ser o treinador do Sporting e ele quer à força que tu venhas para o Sporting. Impostas-te de vir a Lisboa para conversarmos, eu e tu?". Fui ter com ele ao Campo Grande. Ofereciam-me um contrato que eu nunca tinha tido. Liguei para a Académica e disse-lhes, “O clube é o Sporting, mas se eu não chegar a acordo com o U. Tomar, até vou para aí de borla. Jogo aí um ano ao abrigo da lei escolar e ele (U. Tomar) não recebe nem um cêntimo". Eu naquela altura já pensava direito (risos). 

Como foi a reacção do presidente do U. Tomar?
Contei-lhe tudo e conclui ou vou para o Sporting ou você não recebe nem um cêntimo. Foi um chinfrim. Só que 2 dias depois, o presidente do Sporting, demite-se. Eleições. Como agora. São uma série de coincidências e não passam disso, mas se eu fosse supersticioso já tinha dado em maluco. Cai a direcção, telefona-me o Osvaldo "Manuel agora temos de esperar pelo novo presidente". Passados 3, 4 dias telefona-me o meu irmão. "O presidente do Farense veio falar comigo e quer que venhas para cá. Dão-te um bom contrato, com esse dinheiro e com o que já ganhaste compras a quota do meu sócio (ele tinha uma oficina que tratava da parte elétrica dos automóveis), ficamos os dois com isto e pelo menos é uma enxada que tens aqui para o resto da vida, quando o futebol se acabar". Lá fui eu falar com o presidente da U. Tomar e pelos mesmos 600 contos, que ele tinha pedido ao Boavista ou que o Boavista lhe ofereceu, fui para Faro com a família.

E depois?
Antigamente havia, como já disse, a Taça de Honra das Associações. Em Lisboa e no Porto faziam um torneio e nas outras associações eram jogos individuais. Nós jogamos contra o Sambrasense que é de S. Brás de Alportel, da III Divisão. Ganhamos 5-0 e eu marquei 2 golos. Jogamos num sábado à noite. Na segunda de manhã, estou à porta da oficina do meu irmão a ver passar o pessoal e de repente para um Mercedes enorme à porta, sai o Armando Biscoito, que era do departamento de futebol do Sporting, sai um indivíduo que era o chefe de departamento de futebol do Sporting, e o Dr. Pereira da Silva, baixinho careca, que era amicíssimo do Joaquim Oliveira. Dizem-me para entrar no carro. Eu só conhecia o Biscoito. Entrei no carro. "Vimos aqui para o contratar. Temos aqui passagem de avião para o Brasil. O Sporting vai chegar amanhã da Grécia e vamos depois fazer uns jogos no Brasil. E damos-lhe isto, e isto, e isto...Sabemos que a sua carta custou 600 contos ao Farense, nós damos 1200 contos ao Farense para você ir para o Sporting". O presidente do Farense morava a 20m de minha casa. Arranco com eles e quando vou a meio do caminho, digo-lhes: "Voltem para trás. Não vale a pena." E eles: "Não vale a pena porquê?". "Joguei no sábado, o jogo era oficial portanto eu estou preso ao Farense, já não posso sair". E assim foi.
Como correu no Farense?
Fizemos a melhor época de sempre do Farense. Acaba a época, o Sporting que tinha ido buscar o Wagner, o brasileiro, que jogava na mesma posição que eu, foi campeão. Já estou de férias telefona-me o Monteiro da Costa, adjunto do Aymoré Moreira, que tinha sido o treinador do Boavista que me quis. Este Aymoré Moreira foi campeão do mundo pelo Brasil, como seleccionador. Ele sai do Boavista, vai para o FCP e quer levar-me para o FCP. Eu tinha feito uma época excelente esse ano. Fui falar com o presidente do Farense, José Francisco Custodio. Quando entro, quem é que está com ele? O Mário Lino. Diz-me "Olha, ainda bem que apareceste. Este é o novo treinador do Farense". Disse-lhe "Mister parabéns e felicidades, mas eu tenho de me ir embora, quero ir para o FCP. O ano passado foi o Sporting, você quis-me e não deu. Agora tenho de ir para o FCP. O Aymoré quer-me, tenho 28 anos, ou é agora e sou campeão nacional e chego à selecção ou então nunca mais na vida". E nunca mais me esqueço do que ele diz "Manelito, se tu não ficas eu também não fico". "Deixe-se de conversas mister. Tem de deixar-me ir". "Já disse que não". E não fui. Fiquei no Farense. No ano a seguir a mesma coisa. Não me deixaram ir, pediram uma batelada de dinheiro. E a seguir veio o 25 de Abril de 1974. Estive 9 meses sem receber no Farense. 9 meses.

Recorda-se onde estava e como é que soube da revolução?
Nós, Farense, fomos jogar a França, a 80 km de Paris, um jogo amistoso. Acho que foi nessa altura. Não sei se foi quando estávamos lá ou se foi quando chegamos que se deu o 25 de Abril.

A revolução e a política passavam-lhe ao lado?
Não, a política esteve sempre em casa a partir do momento em que o meu pai saiu da cadeia. Ele continuou a ser presidente do sindicato e continuou a ser do PCP. Só desistiu quatro anos antes de morrer, eu chateei-o tanto (risos), que ganhei por cansaço. Faleceu com 94 anos. E a minha mãe com 90. Havia um café em V.R.S.A, o “Janelas Verdes”, que era de um primo do meu pai, e quando havia aqueles discursos do Salazar, era café cheio até à porta e dois ou três polícias. O Salazar punha-se a discursar e ele levantava-se: "És um aldrabão, um mentiroso". E lá vinha a polícia pedir-lhe para calar a boca. A minha mãe e o meu irmão a puxá-lo. Passado um bocado ele não se aguentava, lá estava ele outra vez (risos). Quando aparecia algum político importante, o que era raro, a polícia ia bater à nossa porta: "Manuel José, vamos embora”. E ficava no posto até o político se ir embora. Era assim que as coisas funcionavam antigamente.

Então não tem nenhuma memória viva do 25 de Abril.
Tenho uma memória do 25 de Abril. Jogando no Farense. Fomos jogar ao norte e em Vila Franca, antes da ponte, no regresso, uns civis de espingarda mandaram parar o autocarro. Entraram pelo autocarro adentro, começaram a revolver aquilo. Comecei logo a chatear um deles: "Mas que diabo é isto? Isto é uma equipa de futebol, e vêm para aqui revistar, somos bandidos, terroristas ou quê?". Discutimos, chamaram-nos de fascistas. "Fascistas?! O meu pai até é comunista, foi preso como comunista. E se fosse fascista? Nós jogamos futebol, não andamos aí a matar ninguém, nem fizemos coisa nenhuma". E foram-se embora. Mas é a imagem mais viva que me ficou. A impunidade que havia, de entrarem ali, civis, não eram militares, de espingarda às costas a incomodarem e atemorizam toda a gente.

Depois vai para Aveiro.
Não tenho grande história. É curioso, em Faro, no final da época, nós descemos de divisão, 9 meses sem receber e fizeram-me uma proposta. Eu já tinha tirado o curso de treinadores, em 1975. Eu não queria tirar o curso, achava que não tinha jeito nenhum para treinador, mas o meu irmão é que me chateou tanto, que eles deram um mês para fazer as inscrições e eu não me inscrevi. Como era muita gente prorrogaram o prazo por mais 15 dias e o meu irmão convenceu-me e lá fui eu tirar o curso. E o Farense no final dessa época fez-me a proposta: pagavam-me o atrasado todo, davam-me o mesmo dinheiro que eu ganhava como jogador, para eu ser treinador-jogador. Eu estava tão magoado com eles que lhes disse "Nem morto eu fico aqui mais um minuto".

Acaba por se tornar treinador-jogador no Sp. Espinho.
Mas antes tive um convite do Beira Mar também para ser treinador. E não aceitei. Apesar de ter noção de que comecei a perceber de futebol depois daquele curso. Já discutia as coisas de outra maneira. Depois comecei a pensar a sério nas coisas. Quando vim para Espinho, eu já vinha para qualquer lado porque joguei 14 anos seguidos na I divisão e eu só queria era acabar na I divisão.

Mas como foi o processo de arrumar as botas, foi complicado?
Custou um bocado, porque eu tinha uma paixão tremenda por jogar. Vim para Espinho e desci de divisão também. Passado mês e meio de cá estar, à conta de algumas posições que tomei em defesa do grupo contra a parvoíce do treinador, Mário Morais, tornei-me capitão. O Gonçalves, que era o capitão de equipa, disse ao mister que não queria mais ser capitão de equipa e escolheram-me a mim. Fui capitão, fui fiel ao treinador, e ele não merecia, tanto que os dirigentes vinham ter reuniões comigo. Bastava eu dizer uma palavra e eles punham o treinador fora. Nunca fiz isso. Disse sempre “Vocês é que o contrataram para o bem e para o mal, agora vocês é que sabem”. Não o despediram, mantiveram até ao fim. Depois o Sr. Carlos Padrão, que foi na minha modesta opinião o melhor dirigente desportivo que encontrei em toda a minha carreira, grandes parte dos que apanhei intelectualmente não eram sérios, e ele era sério a toda a prova, fez-me uma proposta indecente. 

Como assim?
A ver se eu conto bem. Diz-me: "Quero-te contratar, ficas como treinador e jogador. Dou-te mais 4 contos e 500 do que aquilo que tu ganhas". "Como? Está a brincar. Então vai contratar um treinador por 4 contos e 500?". "Não, não. É o ordenado que tens, as luvas, e dou-te mais 4 contos e 500. Agora, se no dia do jogo, o treinador Manuel José põe o jogador Manuel José a jogar, o problema já é teu" (risos). Portanto o meu contrato foram 4 contos e 500 para ser treinador-jogador do Sp. Espinho. Só que eu marcava muito bem os livres. E naquela altura por mais uma razão. É que eu era jogador, era treinador, era preparador físico e era treinador de guarda redes. Trabalhava sozinho, sem adjunto nenhum. Acabava os treinos, tinha 3 guarda redes e tinha de treiná-los. Aqui em Portugal naquela época não havia um único livro sobre futebol, sobre treino. Eu ia a Madrid de propósito todos os anos comprar livros. Depois adaptava à minha realidade. Costuma-se dizer que imitar um é plágio, imitar muitos é pesquisa e foi aquilo que eu fiz. Sempre no sentido de ir adaptando. Portanto eu estava um bocadinho adiantado em relação aos outros. Eles contrataram-me para subir de divisão. Lembro-me que à 9ª jornada estávamos em antepenúltimo. Jogamos em casa contra os Aliados de Lordelo, jogava lá o Jaime Pacheco, com 18 anos era um menino, e eu com 32 anos. Livre a 8,9 minutos do fim à entrada da área, centro esquerda, se eu lhe pegasse era golo, ainda por cima estava com a pontaria aprimorada porque todos os dias batia bolas no treino dos guarda redes, portanto a técnica melhorou imenso. E o nosso ponta de lança, o Reis, estava ao meu lado, virei-me para ele e disse " Se eu não marcar golo hoje, na terça-feria tens um novo treinador". Aquilo era um momento decisivo para não perdermos o jogo e para mim era o início da minha carreira como treinador. O que é facto é que marquei o livre, a bola parecia um foguete, entrou e nem caiu, ficou presa nas malhas. Eles tiveram de tirar os dois autocarros que tinha posto lá atrás e marcamos o 2º golo. E depois ganhamos 17 jogo seguidos e subimos de divisão. Aquele golo é que fez de mim treinador, senão se calhar tinha acabado ali a minha carreira como treinador. Isto em 1978-79.

Disse numa entrevista que quando se torna treinador já tinha um modelo de jogo. Que modelo era esse?
Tinha uma ideia na cabeça de como queria que a equipa jogasse. Toda a gente sabe aquilo que fui como jogador e fiz uma carreira medíocre, pelas escolhas que fiz e por estas incidências todas ao longo da carreira como jogador e que estragaram tudo, não por culpa minha. Mas tinha grande qualidade, sem vaidade, posso dizer. Gostava de jogar um futebol atractivo. Uma equipa competitiva e que jogasse bem era o meu modelo. Para se ter um modelo de jogo é preciso arranjar jogadores com características para interpretarem esse modelo de jogo. Se não o conseguirmos temos de arranjar uma forma diferente de jogar.

Mas essa sua ideia de modelo de jogo consiste em quê?
Era um modelo ofensivo e de circulação de bola, de bola no pé, de pé para pé. Era o futebol à portuguesa de antigamente. O meu futebol era sempre para as pessoas mais pobres. Eles têm de gostar daquilo que nós fazemos. Porque alguns deles quando se levantam de manhã já estão a ser derrotados pela vida. A única bandeira que têm é a bandeira do clube e é para esses que trabalho. Temos de dar espectáculo. Sempre que pudermos, espectáculo.

É daqueles que prefere ganhar 4-2 do que 1-0?
Sempre. Marcamos um golo, vamos à procura do segundo, marcamos o segundo eles estão mais fragilizados mentalmente, vamos à procura do 3º e foi sempre assim.

Antes de entrarmos na sua carreira de treinador, diga-me qual foi o treinador que mais o marcou e porquê.
No Benfica praticamente não joguei, portanto, o meu desinteresse era quase total. Ia treinar porque tinha de ir treinar. Jogava jogos de reservas, o estímulo e a motivação não eram grande coisa. O que era estúpido porque eu tinha de demonstrar que era capaz de jogar e que tinha qualidade. De resto, tive treinadores medianos. No U. Tomar tive um treinador que era um espectáculo, o António Medeiros, que era super engraçado, era um homem que sabia muito de futebol, mas honestamente não era profissional, era um brincalhão, levava tudo na brincadeira, era demasiado condescendente com os jogadores. Às vezes havia quebras de disciplina que ele ultrapassava com facilidade. Mas curiosamente sabia muito de futebol. Só que era um bocadinho como o jogador de rua. Não era um treinador de academia, tinha vindo da rua também. a mim marcou-me pela amizade que fiquei com ele até ele morrer. O Manuel de Oliveira também foi um bom treinador, treinou-me em 3 clubes e nunca tive uma boa relação com ele, ele gostava mais de mim do que eu gostava dele. Em termos táticos era o melhor e mais rigoroso, embora muito defensivo, mas era um indivíduo irascível... Os brasileiros costuma dizer que dois bicudos (tucanos) não se beijam eu tenho este meu feitio e nunca deixei que alguém me humilhasse. Ele tinha atitudes com jogadores absolutamente incríveis, que nunca aceitei. Tive discussões com ele de “caixão à cova”, mas nunca me multou ou castigou porque gostava de mim. Aprendi bastantes coisas com ele, mas como pessoa foi um treinador que não gostei."