Últimas indefectivações

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Nunca digas nunca

"Recordo-me de passar férias no México, em Cancún, e ao entrar num bar ser interpelado por um indivíduo que, ao ver-me com a camisola do Benfica vestida, me chamou de imediato. Palavra puxa palavra, vim a saber que o senhor, mexicano, tinha amigos em Portugal, no Norte, em Vila Verde, na freguesia de Vila de Prado. Descobri, assim, a 7500 Km de casa, um mexicano com quem eu tinha um amigo em comum. Interessante, mas nada de inédito.
Já tivemos, quase todos nós, conhecimento de episódios deste género, mas há alguém que nunca vivenciou algo idêntico: Diogo Faria, o co-autor daquele livro que aborda mil e uma suposições - onde lamentavelmente o café com leite e a fruta ficaram esquecidos -, escrito pelo funcionário do ano do FCP em 2017.
Durante esta semana, a comunicação social divulgou que Rui Pinto, hacker suspeito de ter pirateado o correio electrónico do Benfica, foi colega de curso de Diogo Faria na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e Diogo, que é também comentador do Porto Canal, apressou-se a negar qualquer proximidade entre ambos, assegurando a inexistência de amizades em comum.
Há quem vá encontrar pessoas com quem partilha amigos em comum do outro lado do mundo; Carlos da Maia e Maria Eduarda, protagonistas de Os Maias, aprenderam, inclusive, que é possível conhecer de repente alguém com quem até se partilha a mesma mãe; Diogo Faria afirma, com toda a certeza, que não partilha rigorosamente nenhuma relação de camaradagem com um sujeito com quem até já partilhou a mesma sala de aula.
Diogo e Rui não se veem há cinco ou seis anos, mas se as coincidências não forem coincidências, talvez se reencontrem e partilhem a mesma cela."

Pedro Soares, in O Benfica

Piratarias

"Pouco a pouco as máscaras vão caindo, e vamos sabendo onde e como começou o ataque sem precedentes visando o maior clube português.
Os piratas menores parecem já estar identificados, e em breve chegar-se-á ao pirata-chefe desta história de bandidos. Tudo começa a fazer sentido, desde Gaia até ao Altis.
De resto, continuam a encher a boca de mails, mas, repare-se, já poucos mencionam o seu teor. Sabem que tudo aquilo é inócuo. Roubaram-nos, e certamente tiveram muito trabalho para encontrar algo que pudesse ser utilizado como arma de arremesso e criar fogo-de-artifício. Com o ruído instalado, até já omitem o conteúdo. É que, truncado ou não, o que ali está é uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.
Caro leitor, afirmou-o sem hesitar e com clareza: estou absolutamente seguro de que o Benfica é um clube sério, e que será absolvido de todos estes casos onde o quiseram envolver. E mais, tenho a certeza de que um dia, tal como os muitos benfiquistas que pensam como eu, terei orgulho em relembrar estas linhas.
A propósito, é preciso enaltecer a atitude inteligente e sensata da esmagadora maioria dos sócios e adeptos do Benfica perante esta ataque massivo. A união tem sido regra, o apoio igual ao de sempre e, salvo raras e negligenciáveis excepções, todos estão do lado certo. Também nisso temos mostrado a nossa grandeza. Não surpreende, mas deve ser assinalado.
Aos nossos dirigentes exige-se pois que deixem estes casos para os advogados, e se centrem a 100% naquilo que mais nos interessa: reconquistar o Campeonato, a Taça de Portugal, a Taça da Liga e fazer boa figura na Europa."

Luís Fialho, in O Benfica

36 campeões europeus

"No final do Benfica - Rio Ave olhei para o telefone e tinha uma SMS: 'Já não liga aos campeões da Europa!' Liguei, de imediato, ao José Rosa, que atendeu e só ouvia cânticos: 'SLB, SLB, SLB... Glorioso... SLB! Pedro, somos campeões da Europa... estamos a subir ao 1.º lugar no pódio!'
Lembrei-me do investimento que o presidente Luís Filipe Vieira tem feito na formação em todas as modalidades, desde Novembro de 2003. Este projecto júnior, através da nossa Academia Olímpica, é a base da renovação e da sustentabilidade da equipa sénior masculina e do Benfica Olímpico.
Fixe estes 23 nomes: Alexandre Figueiredo, Bayley Campbell, Delvis Santos, David Reis, Diogo Guerra, Duarte Gomes, Elberson Silva, Edgar Campré, Emanuel Sousa, Hugo Cruz, Isaac Nader, Ivo Cruz, João Coelho, João Geadas, Júlio Almeida, Leandro Ramos, Manuel Dias, Miguel Ribeiro, Paulo Soares, Rodolfo Garcia, Rodrigo Rosa, Simão Pereira e Yuben Munary.
Os nossos jovens talentos têm o privilégio de serem orientados por 8 treinadores de eleição. Tiago Madureira e Bruno Mangana dos saltos. Vítor Zabumba e Jayme Metto são os técnicos da velocidade e das barreiras. Acácio Paixão no meio-fundo. Elisa Costa e Carlos Tribuna orientam os lançamentos. Como team leader e coordenadora, a incansável e hipervencedora Ana Oliveira. Destaco o staff. Os delegados logísticos, Ana Morais e José Rosa. Peça fundamental nos êxitos tem sido o delegado técnico e grande campeão Rui Silva. Essencial, o trabalho da dupla-maravilha do Departamento Médico - Diogo Cunha (fisioterapeuta) e Jorge Silva (massagista).
Ou seja, 36 'águias' que levaram o nome do SL Benfica ao mais alto patamar do atletismo internacional e que nos fazem sonhar em relação ao título europeu sénior."

Pedro Guerra, in O Benfica

Sem comentários

"Depoimentos na 1.ª pessoa de dois jovens participantes no intercâmbio com Israel Breaking Barriers trough Football. Antigos alunos do projecto 'Para tiSe não Faltares!', há vários anos voluntários da Fundação e exemplo para os mais novos. Aqui vão, sem mais comentários, os seus testemunhos sobre esta experiência e sobre o trabalho da Fundação Benfica:

«Confesso que no início tinha um pouco de receio de viajar para um país com muita história de guerra e confusão. Mas, pelo contrário, aquilo que eu presenciei foi tudo menos isso! Foi uma experiência de amor, alegria, amizade, paz, conhecimento. As pessoas que conheci foram incríveis e tinham tanta energia quanto nós para oferecer. Receberam-nos em casa deles da melhor maneira que alguém podia receber, as amizades que fiz serão para sempre. Pessoalmente posso afirmar completamente que cresci como pessoa, e a minha maneira de pensar também mudou pela positiva, recomendo completamente a cada pessoa que tenha oportunidade de presenciar algo como esta semana, pois a realidade nem sempre é aquilo que a TV nos transmite. Se algum dia tivesse outra oportunidade como esta, abdicava de tudo para voltar a experienciar esta semana inesquecível! Obrigado à Fundação Benfica e à EFDN por toda esta experiência que fez de mim uma pessoa melhor!»
João Silva, 19 anos, Antigo aluno do Projecto 'Para ti Se não Faltares!', Paranhos, Ano Lectivo, 2012/13

«Inicialmente, se me perguntassem o que achava de viajar pelo mundo, diria experimentar comidas novas, conhecer novas culturas, ou simplesmente iria ficar estática a pensar em todos os riscos que poderiam existir. Actualmente, só penso qual será o meu próximo destino. Tudo o que eu vi, tudo o que experimentei, todas as pessoas incríveis que conheci fizeram com que o meu receio do perigo desaparecesse, todas elas provaram que nem sempre o que se fiz é verdade. Israel é uma fonte de conhecimento, de novas experiências e acima de tudo de amor. Se perguntar a alguém na rua o que acham de países com alguns conflitos como Israel, elas dir-me-ão que é uma terra de mortes, de bombas e de caos. Eu estou viva, a minha caixa de recordações está cheia, a minha vontade de voltar é enorme. Agradeço com todo o meu coração à Fundação Benfica pela oportunidade que me deu ao conhecer este país e por permitido ultrapassar algumas barreiras impeditivas. Relativamente ao projecto 'Para ti Se não Faltares!', eu já faço parte desta grande família desde os 10 anos, e as grandes lembranças e experiências que eu guardo na memória foram possíveis graças a ele... se eu hoje sou uma pessoa que luta pelos seus objectivos, que tem ânsia de aventura e que acha que todos têm algo de bom a oferecer, é devido a este projecto».
Ana Rego, 18 anos. Antiga aluna do Projecto 'Para ti Se não Faltares!', Paranhos, Ano lectivo 2010/11"

Jorge Miranda, in O Benfica

A mais importante resposta

"A enchente na Luz na noite de quarta-feira era, mesmo antes do jogo com o Bayern, mais do que a celebração da expectativa dos adeptos relativamente a um jogo de futebol. É certo que o próximo desafio juntava ao Benfica, a atravessar um início de época difícil, mas muito prometedor, aquela que será, talvez, nos dias que correm, a mais poderosa e mais eficaz equipa do mundo que, nesta temporada, com um conjunto de jogadores notáveis - em que a veterania e a experiência se aliam à juventude, à força física e a uma dinâmica colectiva extraordinária -, para levantar um sistema de jogo extremamente eficiente, inteligente e produtivo. Em vista portanto, os adeptos tinham a antecipada garantia de que se perspectivava uma 'grande noite europeia'. Das antigas. E foi mesmo o que aconteceu.
Nestas circunstâncias, a memória histórica do Benfica e dos Benfiquistas - ou seja, aquilo a que hoje, mediaticamente, se costuma designar como o nosso 'ADN colectivo' e que, dantes, definíamos como a nossa 'mística'... - acorda em nós aquela íntima e fortíssima convicção nas vitórias 'impossíveis' que na década de sessenta do século passado surpreenderam o mundo do futebol e fundamentaram a dimensão universal do Glorioso. Evidentemente que essa terá sido a razão fundamental para que uma enorme multidão viesse ver o grande jogo.
Em todo o caso, outros motivos determinaram a enchente do maior estádio do país. Um, de ordem meramente circunstancial (espera-se), tendo que ver com a forma atabalhoada e reveladora de um profissionalismo barato, como uma nova operadora de direitos televisivos 'entrou' no mercado português, revelando, afinal, tão pouco respeito pelo interesse dos seus putativos clientes espectadores de TV como a atitude que anteriormente já caracterizava os seus pacientes subscritores, tendo agora a merecida paga por parte da nova concorrente que, mediante uma oportuna blitz concorrencial, literalmente, lhe roubaria os direitos de transmissão e distribuição da Champions - um dos mais suculentos bifes do negócio... Este novo player, ao se lançar no mercado, revela-se mal preparado e incompetente para atender às volições e expectativas do público. Sem ter divulgado devidamente as condições de acesso ao seu sinal, nem ter negociado, a tempo e horas, com as três distribuidoras mais conhecidas - NOS, Altice e Vodafone, a nova operadora deixaria desesperados todos os incrédulos amantes do Benfica e do futebol, que, longe do estádio, ainda nem sequer tinham 'no ar' uma Rádio Benfica para ir seguindo as incidências da partida... A muitos Benfiquistas, só as centro e noventa Casas do Benfica lhes valeram para poder ver a partida na TV.
O outro motivo para a grande lotação de quarta-feira, no entanto, era bem mais profundo. Luís Filipe Vieira, na Tapadinha, dias antes, na histórica estreia oficial da equipa feminina sénior, dera o mote:
'Temos um património sem igual e uma estratégia que causa inveja a muita gente. Em vez de copiar, imitar e seguir os nossos passos, atacam-nos e entram por outros caminhos... Mas quanto mais atacam fora do campo, mais força vamos ter!'
Depois disso, nesta quarta-feira à noite, com a sua massiva presença, mais de sessenta mil Benfiquistas deram a primeira e mais importante reposta uniram-se para apoiar a sua equipa de elite, a jogar bem, muito bem, o melhor possível, perante a mais forte equipa do mundo... Uniram-se na sua fé inquebrantável, mas uniram-se, sobretudo, porque enquanto vêem os nossos jogadores a jogar olhos nos olhos diante dos outros, também não esquecem que, fora das quatro linhas e no portugalzinho do ministério público, da federação de vaidosos, da liga penteada com brilhantina e de árbitros do futebol de praia, o Benfica continua a ser miseravelmente perseguido e atacado."

José Nuno Martins, in O Benfica

O destino

"A diferença entre Benfica e Bayern, infelizmente para as águias, esteve também na diferença entre as exibições de Gedson e Renato

A diferença entre Benfica e Bayern na noite de quarta-feira, na Luz, pode muito bem ficar exemplificada também na diferença do jovem Gedson Fernandes, do lado dos portugueses, e do jovem Renato Sanches, do lado dos alemães. Infelizmente para o Benfica, o jovem Gedson afundou-se no jogo, felizmente para o Bayern o jovem Renato superou com distinção o maior teste emocional que até hoje teve de enfrentar.
Enorme o desafio lançado a Renato pelo treinador Niki Kovac, o treinador que apesar de croata nasceu na Alemanha há quase 47 anos, no então lado ocidental de Berlim, e que esta época sucedeu aos bávaros a essa grande figura germânica que é, sem qualquer dúvida, Jupp Heynckes. O novo treinador do Bayern já tinha prometido, assim que chegou a Munique, um olhar muito atento a Renato Sanches, que muitos (ou incluído) pareceram traçar como destino provável nunca mais regressar ao colosso alemão.
Niko Kovac prometeu, aliás, ver mesmo com muita atenção na pré-época o que considerou ser um jogador com muito de especial e raro, foram palavras de Kovac, entre os jogadores da Bundesliga. Logo na apresentação como novo treinador da equipa, no começo de Julho, Kovac foi claro ao afirmar querer contar com Renato, pondo completamente de lado a possibilidade de o clube voltar a emprestá-lo. Kovac teve convicção no que disse e acaba de mostrar porquê.
Renato não encheu apenas a Luz na quarta-feira, encheu também o coração de todos os seus fãs e esperam vê-lo triunfar e voltar a ter na Selecção Nacional a influência que teve no caminho do título europeu de Portugal, há dois anos, em França. Uma coisa é certa: o jovem Renato precisa, com todos, de se sentir confiante; e precisa, mais do que qualquer outro, de estar poderoso fisicamente. Ficou claro.
E ficou ainda mais claro que Renato precisa de acreditar nele próprio, precisa de ser determinado, precisa de não desviar o foco do que é a exigência do futebol profissional, precisa de trabalhar muito, e precisa, sobretudo, de ter vontade de ser realmente bom. Se conseguir tudo isso, vai seguramente ser bom. Tem tudo para ser bom. Só precisa de arrumar tudo no lugar certo.
O que Niko Kovac fez, em Lisboa, foi dar ao mesmo tempo a Renato Sanches uma tremenda injecção de confiança e um teste emocional absolutamente desafiante. O que Renato fez foi agradecer a confiança e mostrar que parece ter reencontrado de novo o caminho. Depois de se ver o que ele fez na casa que o viu crescer, sob pressão de mais de 60 mil adeptos e com o rigor, concentração, intensidade e serenidade com que jogou, só poderá o futebol lamentar se Renato Sanches não souber aproveitar as qualidades que a natureza lhe deu.
No jogo da Luz, infelizmente para o Benfica, em sentido contrário esteve o jovem Gedson, igualmente uma das maiores esperanças do futebol português actual, que acabou por se afundar no meio daquela superioridade e organização alemãs. Sim, a diferença entre as exibições de Gedson e de Renato reflectem, de algum modo, a diferença do futebol das duas equipas, ainda por cima acentuado, na minha opinião, pelas ineficazes decisões do treinador do Benfica na hora de mexer no onze, deixando (e desprotegendo) o jogador Gedson em campo quando parecia francamente mais aconselhável deixar Pizzi, o único maestro possível e apenas com a desvantagem da ligeireza física, e, por que não, até o próprio Salvio - retirado também à hora de jogo - quando ele era, à primeira e à segunda vista, o único jogador do Benfica em campo de verdadeira classe mundial, a perder, na verdade, no combate com o austríaco Alaba, seu adversário directo, mas sempre potencialmente mais capaz do que qualquer outro de conseguir aquele lance de desequilíbrio, decisivo em qualquer jogo, e ainda num jogo destes e frente a um adversário desta dimensão.
Assim não viu Rui Vitória, assim não conseguiu o Benfica repetir a graça do empate de há duas épocas (2-2) frente ao mesmo Bayern, na noite em que um miúdo chamado Renato Sanches também brilhou, mas a defender então o lado português da barricada. Parece o destino.
Ainda antes de ir ao Schalke - FC Porto, algumas referências mais ao que se passou quarta-feira na Luz: Odysseas Vlachodimos com a melhor exibição entre os jogadores do Benfica; o arrepiante (palavra bem escolhida na capa de A Bola de ontem) aplauso que todo o estádio tributou ao menino Renato, o muito infeliz gesto de James Rodriguez a entrar em confronto com a plateia, que é tudo o que não se espera de um jogador de categoria, e a elegância com que o treinador do Bayren quis saber junto de Rui Vitória o que significava a atitude de James, pedindo, de algum modo, desculpas ao Benfica.


na terça-feira, o que vi do outro confronto luso-germânico foi um jogo demasiado pobre para uma Liga dos Campeões e, com toda a franqueza, até parece impossível como o FC Porto não foi capaz de o ganhar. Salvou-se, apesar de tudo, o mal menor do empate, mas salvou-se sobretudo o regresso a estes palcos dessa espécie de imperador portista que é Danilo. Um jogador que também faz a diferença!
Em Alvalade, ontem à noite, três particulares vencedores num jogo difícil que o Sporting ganhou bem: José Peseiro (como decidiu), Montero (pela classe) e Raphinha (o melhor em campo) - é craque!

(...)"

João Bonzinho, in A Bola

Porque andamos longe do topo...

"Porque é que as equipas portuguesas não só não conseguem aproximar-se dos melhores conjuntos do futebol europeu, como estão cada vez mais distantes?
Porque a nossa Liga é pouco competitiva e tem quase nula visibilidade externa; ninguém leva a sério a indústria do futebol, destruindo-lhe a credibilidade; por isso a receitas televisivas são paupérrimas e a sponsorização é baixa; e a necessidade de venda dos melhores elementos impede o crescimento das equipas.
Anteontem, na Luz, o Bayern de Munique apresentou-se com os seguintes jogadores (entre parêntesis o número de épocas do clube): Neuer (7), Kimmich (3), Boateng (7), Hummels (3), Alaba (8), Javi Martinez (6), Renato Sanches (2), Robben (9), Lewandowski (5), Ribéry (11). Se, desde que Ribéry foi para Munique, o Benfica não tivesse tido necessidade de vender os seus melhores jogadores (privilégio de que o Bayern gozou...), poderia apresentar uma equipa, além da que Rui Vitória escalou, assim: Oblak, João Cancelo, David Luiz, Lindelof, Fábio Coentrão; Matic, Renato Sanches; Bernardo Silva, Gonçalo Guedes, Rodrigo, Gaitán. Ou outra ainda com Ederson, Ramires, Garay, Lisandro, Nélson Semedo; Javi Garcia, Witsel, Enzo Pérez, André Gomes, Mitroglou, Di Maria.
Faz mal, então, o Benfica, ao vender todos estes jogadores? Não tinha alternativa. E é essa a diferença para os maiores da Europa. Enquanto estes têm meios para ver apenas os jogadores na sua mais-valia desportiva, os nossos olham para os cifrões que podem vir a valer. E assim não se juntam qualidade+tempo, fórmula para a construção das grandes equipas."

José Manuel Delgado, in A Bola

O chicharro e a garoupa

"Os custos do futebol estão pela hora da morte. De repente, de supetão, entrou no mercado televisivo português um novo canal que tem o exclusivo da Liga dos Campeões. Assim de repente, contas por alto, quem quiser assistir a todos os jogos das principais equipas portuguesas tem de pagar, no mínimo, à volta de 80 euros por mês - quase 50 só para poder ver a bola e subscrever um pacote mínimo na plataforma de distribuição, que ronda os 30. São 600 euros por ano só para se ver futebol.
Em Inglaterra, em termos comparativos, paga-se por ano um valor a rondar os 1500 euros para se poder ver todo o futebol e mais algum. Pois, é verdade, é um balúrdio, mas portugueses e ingleses pagam, em termos de média financeira, o mesmo para assistirem ao beautiful game, pode-se é atgentar ao facto de que o salário mínimo em Inglaterra ronda, precisamente, os 1500 euros mensais e em Portugal anda perto, também, dos 600 euros por mês, e de que a qualidade de futebol inglês - julgo não existirem grandes dúvidas sobre a matéria - é substancialmente superior à cá do burgo. Portanto, é mais ou menos como ir à praça do peixe e comparar o chicharro ao preço da garoupa. Por muito que se goste de garoupa, se a garoupa é mais cara, por alguma razão é.
A Liga e a FPF, nos últimos anos, muito têm contribuído para (alguma) evolução do futebol nacional, mas entre tantas comissões, grupos de trabalho e de estudo, ninguém olhou para isto? E o Governo, nada? É que uma indústria só é sustentável com consumidores, e se estes tiverem de optar entre ver o futebol e mais umas refeições para a família, julgo eu, decidirão por esta última, seja de garoupa, de chicharro ou de petinga."

Hugo Forte, in A Bola

Diferenças competitivas

"Quando as nossas equipas jogam competições internacionais, e defrontam adversários das Ligas mais poderosas, observa-se, por norma, o inverso do que essas próprias equipas lusas sentem quando defrontam adversários mais modestos em Portugal. A intensidade do jogo, uma vantagem interna, deixa de o ser no confronto europeu. Isso deve obrigar-nos a pensar em soluções para aumentarmos a intensidade que cada equipa emprega ao jogo. Claro que ter na sua estrutura jogadores de maior capacidade é um elemento decisivo para vencer, mas se a isso juntarmos a intensidade das suas acções, defensivas e ofensivas, temos quase sempre encontrada a equipa vencedora. Óbvio que existe uma componente aleatória num jogo de futebol, mas se o nível entre os intervenientes for aumentado pelas razões expostas anteriormente, esses factores são minimizados. E é isso que dá interesse ao jogo, a incerteza no resultado final. Se a perdermos, perdemos muito mais do que um jogo de futebol.
Para que uma equipa de menor dimensão técnica, ou melhor, com jogadores de nível técnico inferior, possa vencer um opositor mais forte, não basta confiar nas questões de ordem aleatória. É preciso ter intensidade igual ou superior ao adversário, e fazer bem os trabalhos de casa. Isto é, ter preparado o jogo de forma a controlar os aspectos ofensivos do opositor, e vencer os pontos mais vulneráveis da sua estrutura defensiva. Nada acontece por acaso. Neste momento, parece-me claro que se trabalha bem em solo nacional, que temos qualidade humana, mas falta intensidade no jogo. É essa intensidade que nos poderá levar mais perto do topo. Temos que reflectir na forma de melhorar este aspecto para sermos mais competitivos. A discussão aberta, desde a calendarização às condições infra-estruturais, é um desafio para todos nós."

José Couceiro, in A Bola

O código secreto de Paulo Gonçalves !!!

"Um jornal online noticia que o arguido Paulo Gonçalves sugeriu ao presidente da Liga, na altura, Mário Figueiredo, dois nomes para desempenharem a função de delegados em determinado jogo do Benfica, a final da Taça da Liga de 2013-14.
Pela primeira vez, ao fim de triliões de emails, vejo chegar à frontpage da imprensa desportiva um caso concreto com eventual influência no decorrer de uma competição, ainda que sem correspondência a notícias de corrupção activa nem passiva. Ainda não é um árbitro comprado, ainda não existe denúncia de subornos aos indivíduos citados, mas dois delegados ao jogo já representam qualquer coisa de palpável a justificar um “inbestigue-se”.
Quando começo a ler a notícia parto do principio que a sugestão do ex-assessor jurídico do Benfica foi bem acolhida e que o escândalo ocorreu. Estou admirado por não ser manchete da publicação, situando-se no scroll abaixo da expulsão de Cristiano Ronaldo, das negociações do Sporting com Gelson e Patrício e até de um protesto de um jogador de uma equipa sub-23 às parvoíces de Cristina Ferreira.
No segundo parágrafo, ainda leio informação significativa, quase diria comprometedora, sobre a resposta do presidente da Liga, da altura, a dizer que tomou a “devida nota” do pedido.
Salto a publicidade, carrego no botão “continuar a ler” e chego ao terceiro parágrafo, onde há um “refira-se que” a lembrar que os delegados realmente de serviço nesse jogo foram outros dois e nenhum dos sugeridos pelo ex-assessor benfiquista no seu email criminoso. A sério?
Aqui ao lado, alguém me diz que Paulo Gonçalves comunicava por código e que os dois nomes que referiu não correspondiam aos próprios, mas sim aos que foram efectivamente nomeados pela Liga. 
No entanto, o jornal omite este pormenor e acaba por passar a ideia contrária, de que na realidade a Liga escarnecia das sugestões do Benfica e que o “tomei a devida nota” do então presidente era também uma frase em código, correspondente a “Arquivo Geral”, vulgo lixo."

Pinto da Costa autoriza o debate !!!

"Com a declaração de defesa intransigente da ética desportiva e de “liderança na luta contra as artimanhas do Benfica” por parte do presidente do FC Porto, foi dado o pontapé de saída para o julgamento político do caso dos emails. Deu-se o upgrade há muito esperado, com o grande líder a ocupar o espaço do idiota útil, o pastor a tomar o lugar do cão-de-fila. Pinto da Costa pressentiu o esgotamento da “fórmula Jota” e, sobretudo, ficou alarmado com o desaparecimento em combate do esforçado Bruno de Carvalho, cujo substituto não parece capaz de chafurdar tão bem neste chiqueiro. 
O sentido político a reter deste novo posicionamento é o recado que passa aos outros agentes do futebol, há meses e meses a assobiar para o lado, como se o assunto não lhes dissesse respeito.
Pinto da Costa abriu um debate a que não podem continuar a fugir a Federação, a Liga, todos os outros clubes profissionais, seus dirigentes e figuras de proa, até os patrocinadores e parceiros institucionais. Nem, claro, os directores dos órgãos de comunicação social que se colocaram no papel fácil de publicar ou não publicar, segundo critérios confusos com que apenas procuram andar à chuva sem se encharcarem, trocando o trabalho de campo sério e responsável por sessões contínuas de ruído para trogloditas.
Quando um jornal repete a primeira página de há meses, com o chamariz da prostituição, sem qualquer dado novo, é como se a lama tivesse secado e se transformasse em pó, muito mais fácil de limpar e sacudir para longe. É como se o assunto estivesse a esgotar-se e já só existisse na cabeça de editores desesperados com as perdas de vendas e dependentes do lado pavloviano das suas audiências.
Paralelamente à receita infalível da tia matrafona - futebol, corrupção e sexo -, há indivíduos citados na correspondência pirateada do Benfica há mais de um ano que nunca foram confrontados por jornalistas. E isto envergonha quem tenha sido educado numa cultura de contraditório e tenha lido jornais do século passado.
Cabe à imprensa ir ao encontro de todos aqueles agentes, a maioria silenciosa do futebol, que têm de posicionar-se, a bem da transparência da indústria e da verdade desportiva. Não por uma questão de justiça, a qual há-de fazer o seu trajecto autónomo, mas por necessidade de reconhecimento e esclarecimento de uma opinião pública por ora dividida, de forma doentia, como água e azeite
 Pinto da Costa falou, os outros estão agora “autorizados” a falar também."

A inversão do crime !!!

"Temos assistido em silêncio ao que se tem passado nos últimos dias. Não podemos deixar passar em claro alguma incoerência e falta de imparcialidade de alguns comentadores supostamente isentos. Um deles é José Manuel Freitas da CMTV que quer tornar um alegado hacker que roubou 10 anos de correspondência privada de uma instituição num verdadeiro herói nacional. Isto demonstra ao estado doentio que chegou esta troca de acusações entre clubes e adeptos. Ouvir tanta gente a elevar um alegado criminoso demonstra o estado a que se chegou.
Mas vamos a alguns pontos que merecem alguma atenção da nossa parte.
1 - Quando o alegado hacker roubou correspondência privada de 10 anos do Benfica, e no caso de ter sido pago para isso, como é que se desculpa esse ato com a justificação de que o conteúdo desculpa a acção? A ordem cronológica está virada ao contrário na cabeça de alguns famosos comentadores da nossa praça. Relembramos que o crime original foi cometido por quem roubou a correspondência privada de uma instituição, antes de a roubar com certeza não havia conhecimento por parte do autor do tipo de conteúdo que poderia ou não encontrar nessa correspondência privada. Portanto, é anedótico desculpar-se um crime quando todos sabemos que quem o terá cometido não conhecia à partida o seu conteúdo.
2 - Há comentadores que teimam em fazer dos emails um caso cheio de conteúdo clarividente. A verdade é que nenhum deles consegue dar um exemplo de um único email onde existam provas concretas da prática de atos ilícitos. Não vamos discutir o conteúdo dos emails outra vez, já fizemos publicações nesse sentido. Não podemos ainda assim deixar alguns comentadores deturparem e omitirem constantemente a verdade. Os emails não resultaram ainda em qualquer tipo de acusação, os emails não têm um conteúdo que indicie que o Benfica tenha corrompido ou subornado algum árbitro ou jogador. Os emails não têm comparação com o caso E-Toupeira. Esta é a verdade. Podemos discutir a ética do modus operandi de algumas pessoas caso a veracidade de um ou outro email seja comprovada, ainda assim tal como escrevemos em publicações mais antigas, este caso não deverá resultar em acusação ao Benfica no que toca a qualquer prática ilícita.
3 - O caso dos emails teve um desenvolvimento que teve pouco destaque na imprensa nacional. A ERC reprovou veemente o Porto Canal e os seus comentadores há uns meses.
No ponto 106 do seu comunicado pode ler-se o seguinte: "De facto, são deliberadamente omitidas frases inteiras e segmentos de frases cujo teor admitiria – como admite – uma interpretação diferente e mesmo diametralmente oposta à artificiosamente criada por Francisco José Marques. Além disso, e ao longo da emissão identificada, é particularmente enfatizada a afirmação «hoje quem nos prejudicar sabe que é punido» como putativa evidência incontestada do “poder” que o SL Benfica teria adquirido nos “centros de decisão” do futebol português e inclusive como meio de suporte à ideia de que os árbitros x, y e z (objecto de referência e identificação expressas num outro email igualmente “revelado”) seriam «punidos» no caso de «não cumprirem»." A própria ERC foi esclarecedora, mas para alguns continua a ser prioritário omitir a verdade.
4 - Francisco J Marques é arguido no caso dos emails, aliás, é o único arguido. A sua acusação foi tornada publica após quase meia dúzia de meses de ter sido feita. É um facto que Francisco J Marques no caso dos emails é o único acusado e isto também é bastante revelador da credibilidade do individuo em causa que ainda há 2 dias atrás através do seu twitter deu a entender que não estava acusado de nada.
5 - Finalmente, queremos deixar a justiça funcionar mas ao mesmo tempo queremos reprovar novamente a atitude de alguns comentadores que estrategicamente ou não tentam deturpar e omitir factos que não ajudam ao cabal esclarecimento de todos que em casa assistem a estes casos. Deixamos o link para o comunicado da ERC, comunicado esse que foi completamente abafado na altura que foi publicado e que é esclarecedor.

http://www.erc.pt/…/YToyO…/deliberacao-erc2018112-contjor-tv"

Alvorada... do Vicente

Será desta que o Liverpool se orienta?

"Estão completadas cinco jornadas da Premier League e já se podem tirar algumas notas breves deste arranque. Parece mais ou menos consensual que, nesta edição, a concorrência vai apertar o celestial Manchester City.
Sarri melhorou o Chelsea. Jorginho pensa com lucidez e executa com precisão, desencadeando mais soluções sob pressão. O catarinense estabelece toda a equipa a jogar 15 ou 20 metros mais à frente, mexendo, até, com a posição-base de Kanté, que pressiona e transporta mais à frente, fazendo de Allan na configuração sarriana. Com Cesc lesionado, os revigorados Kovacic e Barkley alternam no papel destinado a Hamsik nos rascunhos anteriores do ‘allenatore’, agora coadjuvado por Zola, lenda dos Blues.
Não esqueçamos a devolução de David Luiz ao onze, depois de ostracizado por Conte. O ex-Benfica confere o risco calculado no passe frontal que Sarri exige na fase inicial de construção. O Chelsea quer dominar, passar muito mais tempo perto da grande área do adversário e talvez Giroud até venha a roubar a titularidade a Morata. De qualquer forma, é Hazard que mais deslumbra com a quantidade de dribles frenéticos. Possivelmente, tem sido o jogador mais espectacular neste arranque de edição. 
O Liverpool está mais completo do que nunca e atingiram um nível de consistência assinalável, doseando muito melhor o frenesim de modo a manterem o controlo da situação durante fatias mais prolongadas do jogo. Será desta que conseguem o primeiro campeonato da era Premier League? Van Dijk chefia a defesa, Alisson dá mais segurança atrás, enquanto Keita dá a manobra que os Reds precisavam depois da venda de Coutinho. Klopp tem a linha atacante mais diabólica de Inglaterra - nos últimos 32 jogos em que Mané, Firmino e Salah foram titulares em simultâneo, marcaram 66 golos entre eles. Mesmo que Salah esteja um pouco “fora dela”, Mané voa com a bola e Firmino liga jogo com mestria para que os extremos façam diagonais e apareçam em frente à baliza. Fabinho ainda não calçou, mas Wijnaldum, um multi-funções, coordena e destrói. E o que correm Milner, Robertson e Alex-Arnold…
O Tottenham, mesmo tendo agora perdido duas vezes seguidas, tem futebol entusiasta e capacidade para ganhar em qualquer campo, como já aconteceu em Old Trafford. Não tarda vão jogar no seu novo White Hart Lane, mas é importante eliminar a ideia que a equipa de Pochettino já chega frágil à viragem para as segundas voltas.
Com Emery, o pós-Wenger é animador: o basco impôs mais método no Arsenal, primeiramente para saber defender, posteriormente para rodar as peças adiantadas e rematar de forma mais esclarecida, já com Aubameyang e Lacazette bem relacionados, aproveitando ainda as desmarcações de Ramsey e a destreza de Özil, que parece mais desenvolto. Petr Cech é o guarda-redes que mais passes efectua no campeonato (a média de passes por jogo de Cech é o dobro da da sua época anterior), sinal do aproveitamento que Emery quer do seu elemento mais recuado e da participação na fase inicial de construção. Leno, titular pela primeira vez contra o Vorskla, ainda vai ter de esperar.
Mourinho passou no Turf Moor, em Burnley, dissolvendo a nuvem negra que se criou com as derrotas contra o Brighton e Tottenham. Fellaini deu físico numa altura em que o Manchester United precisava, não só para cortar ocasionais pontos fortes do oponente, como também para libertar Matic e Pogba. Na frente, Lukaku já marcou quatro vezes – o belga anotou 50% dos golos dos Red Devils na PL.
Nas East Midlands, as raposas vão aprendendo a dar os primeiros passos sem Mahrez, transferido por £60M para o Man.City. O esquerdino Ghezzal foi adquirido pelo Leicester na condição de sósia de Mahrez, mas tem sido Maddison, médio-ofensivo útil na ligação e no remate, que melhor se tem mostrado nos azuis, com prejuízo para Okazaki, peça fulcral no xadrez de Ranieri no título de há dois anos.
Nuno Espírito Santo mantém o 3-4-2-1 com que foi campeão da segunda divisão na época passada, mas acoplou João Moutinho para dinamizar o eixo junto de Rúben Neves. O tandem funciona e, atrás deles, é Coady que vinca a sua qualidade na construção com uma precisão fabulosa no passe longo e que coloca Jonny, Doherty, Diogo Jota ou Hélder Costa em condições de ir para cima dos adversários em 1v1. Os Wolves têm um projecto para se estabelecerem já nesta época na primeira metade da tabela e o jogo bem conectado da equipa de Nuno tem tido resultados muito satisfatórios: são nonos e empataram com o Man.City.
O Bournemouth está em 5.º lugar e Eddie Howe demonstra sucessivamente a capacidade para pôr os Cherries a jogar bem, mesmo com recursos ligeiramente mais limitados. Já nos tempos da segunda divisão eram uma equipa que pensava fora da caixa, a ligar com apoios próximos e valorização do passe curto, fruto da inspiração do treinador no futebol do sul da Europa. Com uma ou outra nuance, têm mantido essa matriz na PL, até porque a coluna de jogadores nucleares também vai permanecendo no plantel. Para já, apenas o Chelsea os conseguiu vencer.
Talvez o Watford seja a maior surpresa das cinco jornadas iniciais. Javi Gracia entrega as rédeas do meio-campo a dois médios possantes, mas que sabem jogar (Capoue e Doucouré), e tem desenvolvido muito dinamismo nos Hornets, não tendo havido muitas mexidas no plantel da época passada. Saiu Richarlison para Merseyside, mas Hughes e Pereyra estão bem recuperados e, nos três quartos do campo, facilitam a chegada da bola a Deeney e Gray, dois dos avançados mais rijos do campeonato. Menção honrosa para Holebas, um lateral-esquerdo fantasista que já totaliza um golo e quatro assistências. Ninguém diz que tem 34 anos.

E olhando para o resto da tabela?
Começando por baixo, o Burnley não altera a sua forma rudimentar de estar em campo. Resultou num inacreditável 7.º lugar da época passada, mas quem depende tanto de ressaltos e bola suja nunca poderá ter muitas garantias de êxito ao longo do tempo. Dyche põe os Clarets a lançar longo e não sai muito disto. Barnes e Vokes, os avançados, saltam mais do que combinam com a bola no chão.
O Newcastle já podia ter ganho um jogo, mas Kenedy falhou um penalty contra o Cardiff nos últimos instantes. Mike Ashley quer vender o clube e Rafa Benítez já percebeu que não haverá investimento por aí além, no sentido de melhorar a equipa de Tyneside. A lesão de Shelvey, o cérebro do meio-campo, também não ajudou neste início de época.
O Cardiff e o Huddersfield não se projetam como as equipas mais prometedoras e a “malha” que os Terriers levaram no Etihad não favoreceu a imagem de David Wagner. O West Ham só tinha derrotas antes de se deslocarem a Goodison Park, mas Obiang, Felipe Anderson, Yarmolenko e Arnautovic derrubaram o Everton. Pellegrini tem muita gente com qualidade. Com tempo, talvez se consiga fazer dos Hammers uma equipa decente, ainda que tenham perdido a magia por já não jogarem em Upton Park.
Não desgosto do Fulham. Jokanovic, o treinador, pode montar uma linha atacante de respeito, com Schürrle, Mitrovic (que falta faz ao Newcastle…) e Vietto. JM Seri, centrocampista que brilhou no Nice e, antes, em Paços de Ferreira, com Paulo Fonseca, ganha agora notoriedade em Craven Cottage, onde já marcou um golão ao Burnley.
O Brighton já causou sensação por ter ganho ao Man.Utd. No apoio ao inoxidável Murray, autor de um golo bonito contra os Red Devils, Knockaert e Izquierdo são extremos diabólicos e Alireza, o iraniano chegado de Alkmaar, tem sido suplente no emblema da South Coast. Continuando a sul, o Southampton tem perdido o fulgor de outras épocas. Não é fácil lidar com a saída sucessiva de jogadores para a elite, mas Mark Hughes tem feito com que Hojbjerg, outrora valorizado por Guardiola em Munique, se assuma muito melhor no meio-campo com Lemina, ao mesmo tempo que é bom ver Danny Ings retomar a confiança depois das lesões. Em Anfield, nunca teria hipótese de jogar com frequência.
Em South London, Max Meyer, hoje ‘persona non grata’ em Gelsenkirchen, ainda não se estreou como titular em jogos da PL. A afirmação do talentoso médio do Crystal Palace ainda não aconteceu, mas Hodgson tem tido a equipa estabilizada com Milivojevic, McArthur e Koyaté, recrutado ao West Ham. Townsend tem variedade de dribles, mas, mesmo assim, Zaha, o marfinense de Croydon, está um ou dois níveis acima dos outros. Inspirado, é imparável. Que jogador!
Vamos estando atentos ao Everton, que trouxe, neste Verão, vários jogadores de categoria internacional, três deles depois de um raide em Barcelona. Todos juntos, contemplam uma soma aproximada a €100M. Richarlison, autor de uma primeira volta sensacional no Watford em 2017/18, foi um pedido expresso de Marco Silva e o jogo fabuloso que fez em Wolverhampton foi convincente para os Toffees. E para Tite. Talvez Schneiderlin se assuma melhor sozinho no meio-campo do que com Gana Gueye ao lado, mas esse é um enquadramento que Marco Silva terá de afinar, salvaguardando que André Gomes pode vir a entrar nesta equação. Se a zona de construção não melhorar, Sigurdsson vai apanhar por tabela e não vai conseguir dialogar com tanta propriedade com Tosun, um avançado que pede que joguem com ele."

Os bons sinais que a (injusta) expulsão não esconde

"O arranque da Liga dos Campeões não foi propriamente feliz para as equipas portuguesas, com um empate e uma derrota no duplo confronto com adversários germânicos, mas isso não quer dizer que o talento português não tenha saído valorizado da primeira ronda da prova.
E nem o impacto mediático da (injusta) expulsão de Cristiano Ronaldo deve minimizar os sinais positivos, em particular na quarta-feira. A começar pelo próprio duelo entre Valência e Juventus e pela fantástica exibição de João Cancelo no regresso ao Mestalla.
O lateral da «vecchia signora» está em fase de afirmação também na Selecção, mas a concorrência continua a aumentar. Basta ver a exibição assinada por Diogo Dalot na estreia pelo Manchester United, com apenas 19 anos. Logo na Liga dos Campeões, e depois de uma lesão. Se a admiração de José Mourinho já seria expectável (caso contrário não o teria contratado), registem-se os elogios provenientes até de quem conhece o peso daquela camisola.
Renato Sanches também aproveitou o regresso à Luz para dar um passo importante rumo à sua afirmação. Não só pelo golo marcado - com pedido de perdão aceite em forma de ovação – mas também por uma performance que fez lembrar a fase da explosão.
Já num patamar diferente está Bernardo Silva. O Manchester City até estabeleceu um recorde negativo com mais uma derrota europeia, mas o português voltou a justificar os elogios repetidos do treinador. «Encontre alguém que fale de você como Guardiola fala de Bernardo Silva», lê-se nas redes sociais.
No dia em que Cristiano Ronaldo viu-se impossibilitado de brilhar, outros talentos portugueses deram nas vistas. Um pouco à imagem do que já tinha acontecido nos últimos jogos da Selecção, sem a presença do capitão. Não para mostrar que devemos olhar menos para Ronaldo, mas para nos convencer de que vale a pena ver mais além."

Futebol e negócio

"Várias áreas do conhecimento, como a economia e a gestão, têm reflectido sobre o futebol profissional e o aumento das suas exigências, como prova o crescente número de estudos e artigos de opinião disponíveis, nomeadamente na UEFA.
Este é mais um claro indicado de que a dimensão económica do futebol assume uma importância cada vez maior, podendo mesmo ser considerada uma indústria com notória representação nos diversos países e com evidente mobilização de recursos humanos, de forma directa ou indirecta, no mercado de trabalho. Se, no passado, o rendimento desportivo constituía o único fim a atingir, para satisfação dos associados e dos adeptos do clube, hoje, o equilíbrio entre o resultado desportivo e o resultado financeiro deveria ser orientação estratégica a privilegiar, de modo a manter a satisfação dos simpatizantes do clube, o interesse dos accionistas e a viabilização da organização desportiva.
Esta nova concepção implicou que a gestão do futebol deve equacionar sempre dois vectores de actuação: por um lado a vertente desportiva; por outro lado a vertente comercial. Isto é, quando falamos na gestão do espectáculo do futebol, ele deve ser analisado enquanto jogo e enquanto negócio.
Estes são, aliás, os pontos de vista base, responsáveis por alguns conflitos nas equipas multidisciplinares de gestão do futebol nas diversas organizações. Se uns, os gestores, que dominam as ferramentas para intervir e potenciar a gestão do negócio, desvalorizam alguns aspectos do jogo, outros, os protagonistas do jogo, fiéis à cultura do futebol e aos seus códigos de conduta muito particulares, consideram os primeiros como intrusos e até mesmo "oportunistas". Vamos procurar saber."

Denúncia de contratos

"1 - Pode o formando denunciar um contrato de formação desportiva sem o pagamento de uma indemnização ao formador?
O contrato de formação desportiva (CFD) é o acordo celebrado entre um formador (o clube) e um formando, com idade entre os 14 e os 18, nos termos do qual aquele se obriga a prestar a este formação adequada ao desenvolvimento da sua capacidade técnica e à aquisição de conhecimentos necessários à prática de uma modalidade desportiva, ficando o formando obrigado a executar as tarefas de formação.
A lei aplicável prevê que o CTD pode cessar por denúncia por iniciativa do formando, mediante declaração escrita, com pré-aviso de 30 dias. Daqui resulta que o formando pode denunciar o CFD ante tempus e sem justa causa, sem necessidade de pagamento de qualquer quantia ao clube desde que respeite o pré-aviso.
Já o contrato colectivo de trabalho (CCT) aplicável admite a possibilidade de se clausular o direito de o formando fazer cessar o CFD mediante o pagamento de uma indemnização ao clube. É frequente surgirem CFD com cláusulas segundo as quais o formando pode denunciar o CFD mediante o pagamento de uma compensação pecuniária ao clube, muitas vezes de valor elevado, à semelhança das cláusulas de rescisão previstas nos contratos dos jogadores profissionais de futebol.
Assim, a regra do CCT é mais desfavorável para o formando do que a lei, segundo a qual este pode pôr termo livremente ao CFD sem o pagamento de uma indemnização ao clube.

2 - Que fonte de Direito prevalece?
A lei aplicável prevê que as suas normas podem ser desenvolvidas e adaptadas por CCT que disponha em sentido mais favorável aos praticantes desportivos, tendo em conta as especificidades de cada modalidade desportiva.
Considerando que o regime do CCT é manifestamente mais desfavorável para o formando, a meu ver deve prevalecer a solução da lei, e assim o formando pode denunciar o CFD sem o pagamento de qualquer quantia ainda que o CFD faça depender essa denúncia do pagamento de uma indemnização."

Integridade desportiva: a profissão de fé da “tolerância zero”

"A vulnerabilidade do desporto a fenómenos de corrupção e viciação de resultados acompanha as suas origens mais ancestrais, tendo um papel determinante no colapso dos Jogos Olímpicos da Antiguidade e vindo a manchar a reputação das organizações e agentes desportivos em ondas sucessivas, e crescentes, de escândalos até aos dias de hoje, pondo em causa o principal catalisador de emoções de milhões de adeptos: a imprevisibilidade do resultado.
Inevitavelmente, a sofisticação, complexidade, dimensão e volumes financeiros associados a estas práticas acompanharam o desenvolvimento de uma indústria global que pulverizou receitas, fontes de financiamento e diversidade de direitos conexos às competições e seus protagonistas, despertando o interesse de actores externos com assinalável poder económico.
Estes fenómenos deixam de ter apenas como denominador comum interesses meramente desportivos (alcançar melhores posições e classificações desportivas; subir de divisão ou evitar a relegação; passar a fase de grupos ou encontrar um oponente mais favorável num sorteio), para se moverem por interesses financeiros fora do universo desportivo, cujos agentes invariavelmente estão fora da jurisdição das organizações desportivas, exigindo competências de órgãos de investigação e policia criminal, entre outras entidades.
Quando hoje as organizações desportivas ou os governos enfrentam estas novas ameaças, e os escândalos a elas associados, invariavelmente assumem uma de duas opções: podem escolher ignorar, ou minimizar, o problema, por vezes escudados em declarações proclamatórias demagógicas, procurando conter danos e esperar que a onda mediática se dissipe; ou assumem que a ameaça efectivamente existe e tomam medidas proactivas que ajudem a prevenir, identificar e sancionar, no plano desportivo e criminal, a devastação deste tipo de incidentes.
Portugal tem hoje um quadro regulador que, entre outros requisitos, estabelece como “condição para a atribuição de apoios à federação desportiva a aprovação e execução por parte desta de programas de prevenção, formação e educação relativos à defesa da integridade das competições”, implicando o incumprimento da legislação e das “determinações das entidades competentes” a suspensão de todos os apoios concedidos pelo Estado.
No plano desportivo, no que à manipulação de competições diz respeito, vigora como “determinação” para todo o Movimento Olímpico a implementação das disposições do Código do Movimento Olímpico sobre a Prevenção de Manipulação de Competições , como requisito de elegibilidade à participação em competições olímpicas.
Apesar de alguns passos importantes se terem encetado, o universo federativo está longe de cumprir com estas “determinações” e requisitos elementares.
Por outro lado, no espectro político, o Conselho da Europa está há dois anos para encontrar dois Estados Membros que ratifiquem o único instrumento legal internacional sobre manipulação de resultados para que a Convenção de Macolin entre em vigor.
Mas a realidade no terreno não espera e as fragilidades avolumam-se sem que se vislumbrem consequências desportivas, políticas e legais, que efectivamente materializem perante o incumprimento o discurso de “tolerância zero”, o que desobriga as organizações desportivas e as autoridades públicas cultivando um clima de permissividade e complacência, para deleite de quem aqui encontra terreno fértil para prosperar no crime, com elevados lucros e baixo risco."

Aquilo que de facto importa...


Este deveria ser o tema discutido e noticiado na imprensa portuguesa! Mas preferem inventar conversas e códigos, desrespeitando as pessoas e as instituições, mentindo e difamando, alguns para ganharem alguma tiragem, outros simplesmente por maldade e anti-clubite doentia...
A história de hoje no Correio da Manha, depois da reciclagem de ontem, seria num país civilizado, suficiente para retirar a carteira de jornalista àquela escumalha toda...!!!

Global Notícias, Cofina, Imprensa e RTP Desporto são a frente deste ataque vergonhoso ao Benfica. Na era das Fake News, temos em Portugal uma versão mafiosa daquilo que os Russos fizeram nas eleições Americanas, e protegida pela corja dos avençados... e até agora, parece que a PJ e o MP fazem parte dessa organização criminosa!

Querem um exemplo dos avençados da Cofina:

Benfiquismo (CMLVI)

Lá dentro...

Sabe quem é? Pior que o desmaio... - Germano

"Foi parar ao Caramulo, o Sporting não o quis por o achar «tuberculoso»; No Benfica foi Beckenbauer antes dele

1. Nasceu em Alcântara por inícios de 1932 - e, pequenino, desatou a aparecer por detrás das cabeceiras da Tapadinha (ainda modesto campo de terra batido do Carcavelinhos), encantado sobretudo por Carlos Baptista, a quem se chamava o «Back da Morte», o seu primeiro ídolo.

2. Aos 11 anos perdeu o pai, aos 14 perdeu a mãe - e estava a ser criado por irmã mais velha quando, algures por 1947, se foi oferecer para jogador do Atlético (que acabara de surgir da fusão entre Carcavelinhos e União de Lisboa). Pediu para ser guarda-redes, guarda-redes começou por ser.

3. Treinador que o acolheu foi Carlos Baptista. Achou que o talento que ele mostrava com os pés se perdia entre os postes das balizas - e, num abrir e fechar de olhos, transformou-o em avançado centro (de recorte fino e esperteza de movimento). Desatou a marcar golos - aos 19 anos, estreou-se na primeira equipa do Atlético.

4. Armindo lesionou-se no treino antes do jogo com o Benfica. Janos Biri pediu-lhe que trocasse de posição, fosse fazer as vezes de Armindo - foi, sem esconder surpresa (e alvoroçado). Não se atormentou com a missão, o Atlético perdeu por 3-4 (e o que correu de boca em boca foi que sem o «miúdo» na defesa não teria sofrido só os quarto golos que sofreu).

5. Com Armindo recuperado, voltou às reservas - e, com o Benfica, na segunda volta, voltou a jogar (mas já a médio centro). Titular não deixou mais de ser (e, sem grande tardar, Salvador do Carmo chamou-o à selecção A para jogo com a Áustria. Abriu-o como suplente, lesão de Cabrita pô-lo em campo - e fez de Orkwick, a estrela dos 9-1 de Viena, uma sombra em si.

6. Constipara-se, abatido, jogou num dia de temporal contra o SC Braga - e, no balneário, desmaiou de súbito. O médico achou que era efeito da gripe - e pediu que o levassem a casa de automóvel (e de lá não saísse nos dias seguintes). Saiu para ir pela selecção à Turquia e ao Egipto. Depois, foi pela selecção de Lisboa a Madrid (para jogo organizado por Carmen Franco, a mulher do Ditador). No aeroporto, nevoeiro não permitiu a descolagem do avião, ficou-se à espera de melhoria tiritando de frio - e ao aterra-se em Lisboa Santa Maria foi o seu destino (incapaz de suportar tanta tosse a soltar-se o corpo a arder).

7. A pleurisia que logo lhe detectaram deixou-o internato um mês. Correu a jogar (e a brilhar) e numa inspecção para a Selecção Militar, o médico achando-lhe estranhos os pulmões, atirou-o de emergência para o Sanatório do Caramulo. Lá ficou durante quatro meses, tratado por José Maria Antunes (médico que ganhara pela Académica ao Benfica a primeira edição da Taça de Portugal e foi, por várias vezes, seleccionador nacional).

8. O Sporting tinha acordada a sua transferência a troco de 400 contos para o Atlético (e de 100 de luvas para ele) mas sabendo-o «tuberculoso» rasgou o contrato (e arrependeu-se). Voltou à liça, ajudou o Atlético a ganhar o Campeonato da II Divisão. O Benfica foi buscá-lo, de lés a lés se falou dele como melhor central da Europa. (António Simões haveria de o definir, perfeito - como o «primeiro Beckenbaeur do futebol mundial»).

9. Esteve na conquista da Taça dos Campeões ao Barcelona e ao Real Madrid - a sua quarta final, a de San Siro, jogou-a injectado com novocaína (tal como Eusébio). Era tempo em que não havia substituições - e com Costa Pereira, sem ser capaz de se ter em pé (pior: paralisado). Schwartz cogitou mandar José Augusto para a baliza. Alguém lembrou que, com o Benfica a perder por 0-1, talvez José Augusto fosse mais útil à frente - e foi ele. Lá esteve 33 minutos, com uma ligadura a aconchegar-lhe a coxa - sem que o Inter lhe marcasse um golo sequer.

10. Após o Mundial de 1966, onde fez um jogo apenas, Fernando Riera disse-lhe que não contava mais com ele - e foi para o Salgueiros. Um ano depois, despediu-se de jogador. Ao Benfica regressou como adjunto de Otto Glória - nessa condição esteve na final da Taça dos Campeões de 1968 perdida no prolongamento para o Man. United. Ainda treinou o Atlético - empregou-se numa empresa de edições, desligou-se do futebol, entrevistas deixou de dar, sublimando a ideia que dele se criara: a do homem do olhar triste, sardónico (e morreu em 2004)."

António Simões, in A Bola

Aquecimento... rescaldo

Era uma vez um 'hacker' tipo Robin dos Bosques

"Se, em matemática, negativo por negativo dá positivo, na vida, crime com crime não dá prémio nem legitimidade (além da ilicitude)

Era uma vez um hacker que, no já longínquo século XXI, arranjara albergue no então extinto Império Austro-Húngaro. Ao que consta, havia-se iniciado em pirataria por assédio informático a um banco de uma longínqua ilha fiscalmente paradisíaca, de onde terá desviado umas centenas de milhares de moedas. Depois, ter-se-ia especializado em roubar informação privada e fazer espionagem industrial. Rapidamente floresceu e se metamorfoseou num ambiente de globalização e de exuberância tecnológica. O hacker, parece que jovem, tinha cabecinha. Engenhosa e sorrateira. Inventiva e perversa. Usava-a, com o ardil e a aparência de inocência necessários para ludibriar com encanto, sempre exibindo um insondável kit de gadgets, incluindo o último grito da moda tecnológica de perfuração digital.
Aconteceu que este nosso herói resolveu passar pela Ibéria e, entre outras vítimas, sacou toda a correspondência emailizada de uma centenária instituição, por sinal, desportiva. Parece que, para tanto, terá contribuído o fascínio do que no desporto-rei naquela altura - o futebol - era quase uma instituição, conhecida como o «benefício do infractor».
Numa noite de breu, o saque concretizou-se. Tudo foi levado, não pelo vento que até soprava levemente, mas pelo nosso generoso hacker. No infindável granel que extorquiu, havia de tudo desde conversas mais sérias e tantas outras de chacha, da treta ou de ocasião, desde graçolas de duvidoso gosto a metáforas atolambadas ou néscias, desde contratos desportivos ou comerciais e cunhas com maior ou menor empenho. Coisas que qualquer alminha no seio do futebol de então se não escrevia, pelo menos dizia ou fazia.
Isso passou-se ainda no tempo em que estas práticas eram consideradas criminosas. O certo é que o objecto do crime se espalhou urbi et orbe. Pago ou não não pago, com recibo de quitação ou sem IVA, trazido pela rena da Finlândia ou pelo burro da Tasmânia, apanhado num qualquer ermo ou baldio em forma de pen ou de pena, aportou (quer dizer, chegou ao porto), por intrépidas e egrégias personagens. Logo se apressaram a tornar público o embrulho, e no meio de tanto sortido de milhões de mails, anunciavam uns poucos seleccionados, em fatias semanais e estilo Sherlock Holmes, sempre de dedo em riste, embora com ares de virgem e convencidos da acção salvífica que lhes estava destinada.
O objecto do cibercrime, qual troféu de caça à moda do passado século XXI, iniciaria, deste modo, o seu percurso entre o extorsionista militante e o seu usuário ilegítimo. Neste tipo de actividades não constava que houvesse beneméritos ou filantropos. Como ninguém terá pago o produto do crime, houve até quem tivesse admitido (malevolamente) que tenha caído na chaminé natalício daqueles sortudos. Chegou-se a dizer que o pirata era tipo Robin dos Bosques: roubava aos poderosos para dar aos desesperados e famintos. Voltando ao benefício do infractor - diziam cronistas da época - pegou-se no alvo do crime (correspondência privada) e, por milagre, transformou-se a acção proibida em coisa boa, reparadora, digna, excelsa mesmo. Houve até quem dissesse - quase em jeito de blasfémia religiosa, na altura - que o justiceiro ao ter nas mãos tanta papelada fez lembrar o milagre do vinho das bodas de Caná, pois o roubo uma vez manipulado pelo justiceiro (ou milagreiro) virou credível, senão mesmo virtuoso.
Muita discussão havido à volta do assunto. E perguntou-se: o que diria um milagreiro qualquer se alguém violasse a sua correspondência particular e íntima e a desse por acto de generosidade (humanitária) a alguém que a tornaria pública em todo o sítio, por exemplo, divulgando conversas sobre impostos, refeições, relações e pomares. Será que esse milagreiro acharia eticamente irrepreensível a acção do mensageiro, como nesta história chegou a parecer?
Moral da história: se, em matemática, negativo por negativo dá positivo, na vida, crime com crime não dá prémio nem legitimidade (além da ilicitude). É que, salvo circunstâncias absolutamente excepcionais numa sociedade civilizada e num Estado de Direito, os fins (mesmo que desejáveis ou aceitáveis) nunca justificam meios (criminosos). E a ideia plena da ética não se confunde com a da moralidade, que é como quem diz, o dever dos outros (ética da terceira pessoa) só faz sentido com o primado do dever de cada um (ética da primeira pessoa).

Jogar num estádio vazio
Numa - certamente por mera coincidência ou fruto do acaso - torrente de punições, processos, intenções e denúncias anónimas a la carte que se vêm abatendo sobre o Sport Lisboa e Benfica, eis que o Estádio da Luz (e ouros) foi sujeito a uma punição de um jogo efectuado à porta fechada, expressão que quer dizer sem assistência.
Devo dizer que aplaudo o propósito de apertar a malha contra práticas negativas e ofensivas que se estão a generalizar nos estádios portugueses. Também sei reconhecer que o Conselho de Disciplina terá agido em conformidade com normas aprovadas pelos... clubes.
O que já não compreendo é a lógica que lhe subjaz. Ouvi uma entrevista televisiva do actual presidente daquele Conselho e percebi que a bitola fundamental para a acção disciplinar tem a ver sobretudo com a reincidência e não tanto com a magnitude ou natureza das acções a punir. Quer dizer, no caso do Benfica tratou-se de punir «à terceira» ocasião de pirotecnia, mesmo que sem consequências gravosas para os jogos a decorrer. Entendi, assim, que a chuva de artefactos que caiu em Alvalade sobre a área do Sporting, logo nos primeiros momentos do jogo contra o Benfica e que gerou a interrupção da partida por alguns minutos, não é punida com um jogo sem assistência porque ainda não é a terceira vez! Também não sei se serão precisas mais duas tentativas de algum espectador entrar no relvado para agredir um jogador da equipa adversária (caso no último Porto - Benfica para molestar Pizzi), para a suspensão ter cabimento!
Para além da questão discutível de saber a quem compete a responsabilidade de acautelar determinados actos (se à equipa visitada ou visitante), estou em crer que, para atacar a verdadeira raiz do problema, seja com claques legalizadas ou não, este tipo de suspensões nada resolve. Aliás, prejudicam esta actividade, afastam mais pessoas dos estádios, são financeiramente inedequadas para os clubes castigados, não evitam situações para as quais os clubes não têm antídotos ou efectiva possibilidade de os prevenir, ou, pelo menos, evitar. Como sócio de um clube, prefiro que, a ter de haver punição desportiva pesada, pois que seja a interdição, tendo o clube de jogar noutro estádio, mas com os seus adeptos e simpatizantes. Pergunto até por que razão eu tenho de ser molestado com este tipo de punições, quando, como tantos sócios, comprei a possibilidade de ver todos os jogos. Quem me indemniza? E terão as regras em vigor pensado suficientemente nas eventuais repercussões sobre as entidades patrocinadoras aos diferentes níveis que, mesmo mantendo-se a transmissão televisiva, vêem limitado o retorno do valor que investiram.
Não diminuindo a responsabilidade e a função que os clubes devem ter diante das suas claques apoiantes, que este tipo de problemas são, sobretudo, casos de polícia que deveriam ser sanados à nascença, por exemplo, identificando os costumeiros prevaricadores, impedindo-os de ir aos estádios ingleses e problema bem grave que havia. Por que é que há-de ser sempre a justo a pagar pelo pecador?

Contraluz
- Eleições: no Sporting que se realizaram com notável participação e lisura. Como sócio do eterno rival, procurei ver este acto eleitoral com natural distância, mas não desinteresse. Permito-me aqui salientar dois pontos:
1) a lição de desportivismo, serenidade e elegância do principal candidato derrotado, João Benedito;
2) a constatação de como um quase mero acaso tudo pode mudar num clube, seja ele qual for. Se  SCP tivesse ganho ao Marítimo, provavelmente Alcochete não aconteceria daquela maneira, o Sporting venceria a Taça, iria às eliminatórias da Champions e... o anterior presidente ainda estaria em funções...
- Boa notícia: sobre o Belenenses, agora cindido entre uma SAD a jogar no Jamor e uma equipa iniciática a jogar no seu Restelo. Refiro-me à notícia de A Bola de 10/9 «Históricos (Belenenses e Atlético) unidos contra o futebol negócio». As das equipas que vão competir nos distritais da AF Lisboa jogaram uma partida amigável, com mais de 3000 espectadores, coisa rara no futebol da primeira divisão...
- Comentário: Creio que Duarte Gomes se estaria a referir a um comentário meu, a propósito da arbitragem do passado Benfica - Sporting. Li-o com atenção e consideração. Não concordando com tudo o que foi escrito, quero exprimir o gosto (e proveito) com que o leio."

Bagão Félix, in A Bola

Diferentes patamares

"Jogos assim ajudam a perceber quanto é preciso trabalhar para chegar onde os outros já estão

Modelos
1. Na actualidade todas as equipas se baseiam em formas ou modelos de jogo em constante (re)estruturação ao longo da época competitiva. Sendo dependentes da qualidade técnica/táctica dos jogadores, dos treinadores e da estrutura dos clubes. Estes modelos expressam-se para a sua intrínseca organização dinâmica, mas também pela capacidade de se adaptarem continuamente a factores contingenciais que se desenvolvem durante a luta competitiva.

Duas vertentes
2. Questiona-se as razões pelas quais certas equipas atingem a vitória perante adversários que teoricamente têm maiores condições para o conseguir? Ora, a resposta a esta questão baseia-se em duas vertentes essenciais. A primeira de conhecimento dos sincronismos sectoriais e intersectoriais do modelo de jogo adversário, a correcta elaboração de uma dimensão estratégico/táctica treinada e operacionalizada para essa competição e a aplicação de elevados níveis de ritmo, bem como a sua variação no que se refere às fases (ataque e defesa), etapas (construção, criação, reacção à perda da bola, bloco defensivo, etc.), e momentos de jogo (esquemas tácticos e transições de fase). A segunda é não controlável, ou seja, a natureza do próprio jogo composta pela sua aleatoriedade, imprevisibilidade e transitoriedade.

O resultado
3. O resultado final é o produto destas vertentes em que a cada milionésimo de segundo as coisas acontecem, as equipas estabelecem ordem/desordem, equilíbrios/desequilíbrios, sempre sujeitas a condições controláveis e não controláveis.

Os 2 por cento
4. Analise-se então o Benfica - Bayern à luz destes pressupostos, partindo do favoritismo de 49% para o Benfica e 51% para o Bayern. Então como se pode ganhar os tais 2% que faltam? Nas variáveis controláveis e tudo fazer para que as não controláveis possam concorrer a favor do Benfica. Vejamos 4 factores.
(1) Ritmo competitivo e capacidade de marcar esse ritmo, acelerando e desacelerando na fase ofensiva e defensiva.
(2) Dinâmica organizativa sintetizando articulações tácticas e soluções práticas eficazes usando o jogo interior e exterior.
(3) Agredir constantemente o adversário, não o deixando executar nem sequer pensar, ganhando constantemente segundas bolas.
(4) Manter padrões e rotinas de jogo em qualquer circunstância favorável ou adversa, aproveitando todos os pormenores a seu proveito. Mas também deter jogadores verdadeiros mestres da síntese que simplificam o que é complexo em cada situação de jogo.

Diferenças
5. Por mais voltas que se queiram dar, as diferenças entre estas duas equipas residem não só no resultado final nem nos dados quantitativos expostos no final da partida, mas exactamente nos referidos factores. Estes são os pressupostos que as equipas portuguesas têm de aprender a passar à prática, de modo a aproximar-se das grandes equipas. Caso contrário, continuaremos a divergir da Europa. A vantagem da análise destes jogos é verificar-se quanto se precisa de trabalhar para chegar ao patamar em que outros já se encontram (há muito tempo)."

Jorge Castelo, in A Bola

Resumo do Relatório e Contas de 2017/18