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terça-feira, 12 de julho de 2016

Portugal foi campeão 'sous le ciel de Paris'

"PARIS - Hoje é dia de apanhar o avião e regressar a Lisboa, 35 dias depois de ter partido rumo à aventura do Euro-2016. E que aventura! Saio de França com Portugal campeão da Europa, depois de ter tido o privilégio de ver ao vivo e a cores não só os sete jogos da turma das quinas mas também a vida, por dentro, do grupo liderado por Fernando Santos. Via história a ser escrita à frente dos meus olhos.
Sendo verdade que tudo está bem quando acaba bem, nem tudo foram rosas no seio da Selecção Nacional e depois do empate da Áustria muitas dúvidas foram levantadas. Lapidar a resposta, então, perante dificuldades, do seleccionador nacional: «Só vou dia 11 para Portugal e vou ser recebido em festa.»
Ontem, 11 de Julho, com o país feliz e ensonado, Fernando Santos teve a festa com que sonhou e fez sonhar Portugal. A convicção profunda do técnico, nacional nos seus jogadores foi a chave deste caminho vitorioso, com um discurso afirmativo, sem pedir desculpa a ninguém por achar que Portugal podia ser campeão da Europa. Confesso que quando o ouvi pela primeira vez dizer que era esse o objectivo que trazia para a FPF, pensei cá para os meus botões: «Ser possível é, já lá andámos perto; mas daí a consegui-lo são outros quinhentos.»
Foi preciso eliminarmos a Croácia para eu começar a acreditar que pelo menos era possível chegar à final. Mas, contactando diariamente com Fernando Santos, já tinha percebido a enorme força interior que o move e a forma fácil como chegava aos jogadores. E não que o técnico nacional conseguiu mesmo entrar na cabeça dos seus pupilos? E foi isso que fez toda a diferença. A partir do momento em que esta química entre treinador e jogadores funcionou, o céu passou a ser o limite... 
Acompanho a Selecção Nacional há quatro décadas, já vi coisas boas e coisas más, nas atitudes, na organização e na mentalidade. O esforço feito este ano foi notável - e estou em condição de fazer esta afirmação - e redundou num relacionamento mais humano com os adeptos, neste caso os militantes marcoussianos, e mais próximo (sem que ninguém ultrapassasse a linha do eticamente certo) com a comunicação social. Estas duas mudanças de atitude, só possíveis com um seleccionador que não viva atormentado por fantasmas, resultaram num clima desanuviado de que todos beneficiaram.
E se a Hungria tem feito 4-3 no último minuto, tudo isto que foi escrito teria alguma validade? A resposta é muito simples: em futebol não há ses...
Ao longo de mais de um mês em França, confesso que me diverti, sobretudo com as peripécias em torno do galo de Marcoussis, um exercício que mostra como a superstição tem sempre lugar numa actividade como o futebol sem que daí venha algum mal ao mundo. E o râguebi francês, dono do galo (que recebeu da FPF 20 mil euros por dia pela cedência de instalações), sempre pode dizer que foi graças as suas infraestruturas de excelência que Portugal se sagrou campeão europeu, embora isso não deva agradar muito à Federação Francesa de Futebol, que tem sede em Clairefontaine, não muito longe de Marcoussis (30 quilómetros, mais coisa menos coisa).
Sustos daqueles que não se desejam a ninguém, só apanhei um ao longo deste tempo todo. Foi em Lens, no dia do Croácia-Portugal, quando a polícia rebocou o carro de A BOLA, com os computadores bo porta bagagens. Confesso que aqueles minutos até perceber exactamente quanto tempo demoraria o processo burocrático para levantar a viatura do depósito, foram cruelmente longos. Mas lá conseguimos chegar a horas para o pontapé de saída e a mais do que tempo para assistir ao golo de Ricardo Quaresma, mesmo ao cair do pano.
Também posso dizer que saio de França com doutoramento em bouchons, ou seja, em engarrafamentos. O trânsito nas grandes cidades francesas - Lyon, Marselha e Paris - é horrível, não há outro adjectivo que o caracterize com maior rigor. E como fizemos mais de sete mil quilómetros durante estes dias, passámos horas infindáveis nas autoestradas, cujas áreas de serviço já conhecíamos de cor e salteado. No regresso de Marselha - são mais de 800 quilómetros até Paris - tivemos o azar da viagem coincidir com o primeiro dia de férias, o que tornou o trajecto uma loucura, entre autocaravanas e roulottes, que pareciam não ter fim.
Recordo que quando aqui cheguei a preocupação principal era a segurança e para muitas pessoas ligadas à organização a única questão em aberto era saber o dia em que o Euro-2016 sofreria um ataque. Receios infundados, por um lado; por outro, a segurança que envolveu o evento não foi nada de especial, excepção feita a Saint-Denis, onde os carros eram revistados antes de entrarem no parque e havia cães farejadores pelas salas de imprensa a farejar explosivos.
Anteontem, dia da final, a organização voltou a não estar à altura das circunstâncias. Faltou tudo, até a água era racionada, num exercício de mediocridade de quem passa a maior parte do tempo a pensar que é o suprassumo da barbatana. Enfim.
Aos episódios que tenho contado neste espaço, tinha mais um para acrescentar. Porém, o Fernando Urbano pediu-me para ser ele a narrar os factos, pelo que remeto para uma das páginas deste edição, uma história em que estupidez humana é bem retratada. 
Despeço-me, ainda sous le ciel de Paris, do Sous Le Ciel de Paris. Agora vou em gozo de merecidíssimas férias, regressando ao activo com novas crónicas a partir de Agosto, desta feita no Rio de Janeiro, onde estarei para os Jogos Olímpicos. Vão chamar-se «Brasil a ouro, a prata e bronze»"

José Manuel Delgado, in A Bola

Valores nacionais

"Três grandes lições podem ser retiradas da vitória portuguesa no Euro'2016. Os princípios não constituem qualquer novidade, é certo, mas, ou pela exposição excessiva de um outro protagonista, ou pela ânsia de se assistir a um espectáculo quase proibitivo nestas circunstâncias, nem sempre lhes é dado o devido valor.
Portugal provou, em primeiro lugar, que só um grande colectivo é capaz de conquistar uma competição deste nível. A Selecção é campeã da Europa porque conseguiu formar uma equipa tão forte que - e não há melhor exemplo - mesmo sem Cristiano Ronaldo derrotou a França, cujo favoritismo aumentou exponencialmente à passagem dos 25', quando o craque foi forçado a abandonar o campo.
O título europeu também só foi possível pelo trabalho extraordinário do seleccionador. Fernando Santos esteve irrepreensível em várias facetas. Formou um grupo coeso, ganhou a confiança cega dos jogadores e mostrou-se exímio em termos motivacionais e técnico-tácticos, em que preferiu a objectividade ao romantismo. A vitória sobre França, na final, só se tornou possível pela leitura de jogo do técnico português.
Não menos importante foi, por outro lado, a condição física dos jogadores, bem visível nas partidas disputadas no prolongamento. Enfim, um coletivo solidário, um seleccionador de várias valências e um staff técnico/médico competente construíram o campeão europeu."

Desabafos

"1. Vencer um Campeonato da Europa é um grande feito desportivo! Compromisso com objectivos consistentes, sacrifício e dedicação na tarefa, união verdadeira, capacidades bem aplicadas, humildade, liderança de gente competente. Poderia ser metáfora de Portugal, mas falta a última parte;
2. Fernando Santos revelou visão, espírito de missão, capacidade de gerir as pessoas antes dos atletas, entendimento da realidade à qual ia reagindo eficazmente. Valorizou a importância do grupo sem negar os talentos individuais. E afirmou a sua autêntica Crença Católica, culturalmente portuguesa, sem complexos perante o modismo idiota, sem fundamento filosófico, de negação da Fé;
3. Ronaldo foi jogador além do relvado, disposto ao sacrifício, dedicado ao projecto colectivo, líder na tarefa e na dimensão sócio-emocional. Afirmou-se feliz pelo treinador, Éder e restantes, sem egoísmos, ofereceu a Nani o troféu que recebeu. Que bom seria se os políticos o imitassem em vez de o bajular;
4. Os imigrantes estiveram sempre presentes. Afirmavam a sua identidade e valor nacional no estrangeiro para onde a gestão de séculos deste país os enviou. Sentiam-se parte de um projecto colectivo para que quiseram contribuir como podiam. Os sacrifícios são o seu quotidiano. Que poderiam fazer em Portugal se a sua alma e desejo de fazer fossem aproveitados? ...;
5. Uniram-se as claques dos clubes rivais! Afinal é possível cooperar por um valor superior. Exemplo para os Partidos? ...;
6. É bom ter o apoio do Poder político. Mas ele não consegue deixar de se pendurar nos holofotes dos vencedores... Seria elegante ficar calado nesse momento. Pauleta deu bofetada sem mão dizendo que não ia ao balneário porque era o momento dos jogadores. Mas ele é Campeão ...;
7. O senhor Presidente da República não se trata pelo nome numa entrevista! É o símbolo máximo do País. Pode aproximar-se das pessoas, mas elas devem manter o tratamento devido. Assim se vulgariza a autoridade e estimula o desrespeito."

Sidónio Serpa, in A Bola

A vitória do #qsf

"Duas frases que definem uma campanha vitoriosa

Há duas frases que marcam decisivamente a campanha da selecção no Euro2016. A primeira foi dita por Fernando Santos, ainda o apuramento ia a meio, e repetida em momentos complicados, como um refrão a lembrar o essencial: «Vai ser muito difícil alguém ganhar-nos».
Aquilo que para muitos soou a bazófia, ou excesso de confiança, foi simplesmente o assumir, descomplexado e com todas as letras, de uma inversão de valores históricos. Portugal, a selecção que desde 1966 partia do conceito universal de «jogar bem» para tentar ganhar os seus jogos, ia desta vez começar o edifício pela capacidade de não os perder, anulando os pontos fortes adversários.
Mesmo com oscilações pelo meio – erros defensivos com Islândia e Hungria tiraram alguma credibilidade ao anúncio - 14 jogos oficiais sem derrota (e nove vitórias pela margem mínima) permitem agora tirar a frase da gaveta das profecias e transformá-la em promessa cumprida. Mais uma, a juntar à dos prazos de regresso.


A segunda frase chave foi dita por Cristiano Ronaldo no já célebre apelo com que convenceu João Moutinho a bater um dos penáltis contra a Polónia. Depois do estímulo positivo («anda bater, tu bates bem!») veio, quase como um sacrilégio, a frase que olhava o medo de frente, o chamava pelo nome e o desvalorizava: «Se perdermos, que se f…!».
A fórmula de Ronaldo também revelava um drástico corte com o passado, na atitude da equipa e dos jogadores perante o grande pano de fundo que até aqui dominava todas as presenças em fases finais desde os anos 80: o receio algo provinciano de não agradar, de não estar à altura das circunstâncias e de alguma forma precipitar o regresso ao terceiro escalão e a décadas de ausência dos grandes palcos.
Rapidamente adoptada pelos utilizadores de redes sociais e transformada em hashtag (#qsf), a fórmula Ronaldo, dita naquele momento e naquele tom, só seria credível vinda de alguém com tantas fases finais (sete, no caso) nas pernas. Alguém que por entre tantas conquistas já se tinha cruzado na Selecção com quase todos os tipos de derrota possíveis, desde a agonia da final de 2004 às eliminações milimétricas de 2006 e 2012, até autênticos embaraços como os Mundiais de 2010 e 2014.
Em todas essas campanhas, com ou sem razões para isso, a Selecção continuava a ser avaliada em função da herança do belo jogo, que teve expoente em 2000. Podia ficar acima ou abaixo das expectativas, mas era uma equipa da qual se esperava espectáculo e que recolhia a simpatia dos neutrais como recompensa.
A formulação de Fernando Santos e o #qsf de Ronaldo assinalam, cada um a seu tempo, o momento em que, na cabeça dos seus líderes – e, portanto, na cabeça da equipa – Portugal rejeitou a simpatia e o medo, e assim deixou de ser o convidado de honra que abrilhantava os serões, em Europeus e Mundiais, para se tornar o sócio de pleno direito, sem medo de perder regalias e com total liberdade para chatear os vizinhos. E se em 2016 houve selecção capaz de ser orgulhosamente chata para com os vizinhos, essa selecção foi a portuguesa.
No fundo, esta conquista inédita, tão assente no passado como na sua rejeição, assinala a transformação final, o ponto de chegada de um trajecto iniciado no final dos anos 80, ainda com Carlos Queiroz como primeiro rosto. Só que todos os pontos de chegada são pontos de partida para outro lugar. É este o caminho a seguir? Quase de certeza que não: a vitória de Portugal no Euro 2016 passou muito por esta mudança de atitude, mas também por um conjunto de circunstâncias – algumas delas francamente felizes – que é quase impossível de repetir.
Além da inevitável renovação do grupo, que sempre acontece após as fases finais, muitas dessas circunstâncias chocam com o que é a cultura formadora de base, a identidade de jogo que começa a ser bebida nas idades mais baixas. E muitos dos conceitos postos em prática por esta selecção vencedora contradizem a lógica de um modelo coerente a ser aplicado em todas as selecções, numa altura em que os resultados na formação voltam a impressionar.
Mas ganhar o primeiro título internacional sénior é um pouco como perder uma espécie de virgindade: demasiado importante para se esperar que seja perfeito, nunca o é. Basta que seja suficientemente bom para haver uma outra vez. E outra. E depois outra. Sempre diferentes, sempre melhores. Citando Ronaldo, o resto #qsf."

Ganhar o Euro(milhões) com juros

"Um olhar sobre a conquista da Seleção, com base numa declaração do engenheiro do título

«Sou um crente, sou um homem que acredita em milagres, mas também em que é preciso que alguém faça alguma coisa para que aconteçam. Faz-me lembrar aquela história do homem que se queixava a Deus por nunca ganhar o totoloto, e Ele teve de intervir, dizendo-lhe que seria importante que ele fizesse alguma coisa por isso e que, pelo menos, registasse o boletim.»

A declaração de Fernando Santos, a três dias da conquista do título europeu, ilustra uma campanha em que a felicidade acompanhou o mérito mas não o ocultou. Não há campeões sem brilho, seja a trinta jornadas ou em sete jogos, por mais que a prestação lusa no Euro2016 tenha conciliado momentos sofríveis com apontamentos épicos.
Se na organização defensiva esteve a base da vitória – algo absolutamente legítimo -, em vários jogos a Selecção fez pouco com bola, tanto em ataque organizado como em transição. Sobretudo na fase de grupos, onde a margem de erro era maior, por força de um modelo competitivo que podia desinibir as equipas, mas que funcionou em sentido oposto com a grande maioria (e não apenas com Portugal).
O que estava em discussão não era tanto a estratégia delineada por Fernando Santos desde o primeiro dia, nem tão pouco a percentagem de posse de bola, mas sim a incapacidade revelada pela equipa no momento ofensivo, em várias etapas da competição. E apontar isto (de forma construtiva) é tão razoável quanto o oposto, quando não estamos a falar de uma ciência exacta. Até porque no futebol não se pode olhar apenas para o resultado e ignorar a forma, pois estaríamos a tirar ao jogo um conjunto de emoções para viver e um conjunto de circunstâncias para analisar. Nesse cenário utópico os adeptos ficariam em casa à espera do resultado final para então festejar ou reclamar, e os jornalistas elogiariam quem ganhou e apontariam sempre o dedo a quem perdeu.
Mas nada disto significa que o título tenha sido obra do acaso, até porque esta caminhada teve mais do que as hesitações frente à Islândia, a apatia da primeira parte com a Áustria ou a intranquilidade das contas com a Hungria.
Esta caminhada teve o «bis» de Jordão em Marselha. Teve o míssil de Figo, o cabeceamento inesquecível de João Pinto e a subtileza de Nuno Gomes na épica reviravolta com a Inglaterra. Teve a fezada de Ricardo a defender o penálti sem luvas, antes de bater David James dos onze metros. Teve Ronaldo a bater no peito com um «bis» que deixou a Holanda pelo chão.
Este título é de uma equipa que vai de Bento a Damas. De Vítor Baía a Quim. De Ricardo a Postiga. De Eduardo a Beto. De Rui Patrício a Adrien. De Fernando Cabrita a Fernando Santos, entre tantos outros nomes.
Este título foi conquistado diante da França, e em Paris. Com o melhor jogador remetido ao papel forçado de adjunto, na final, e com o golo da vitória assinado pelo nome mais discutido da convocatória. Este título foi épico, mas também muito merecido. O boletim foi registado e Portugal ganhou o Euro(milhões), com juros de 32 anos.
Que a euforia da conquista não passe a ideia de que esta é a única chave vencedora. E que o prémio seja investido de forma a que o sucesso do futebol português, que se pode medir de muitas formas, seja cada vez mais frequente."

Fernando Santos convenceu um país inteiro a abdicar do seu lado mais belo

"Foi quando desistimos do nosso futebol mais belo que fomos felizes.

Eu estava lá, e ainda é difícil de acreditar.
Escrevo ainda em França, com o eco das buzinas nos ouvidos, a caminho de Portugal. Estou a muitos quilómetros da festa que acredito que ainda se faz por aí, anda de boca em boca nas conversas e nos debates do dia. Não é todos os dias que um país se sagra campeão da Europa. E, para Portugal, esse foi apenas um, o de ontem.
Escrevo ainda a pensar como é que os deuses do futebol deixaram que uma ideia repetida várias vezes sem que tenha tornado verdade se concretizasse por fim. A ideia de que Portugal foi sempre candidato a alguma coisa.
Tivemos gerações fantásticas desde a década de 90 e ficámos sempre aquém. Faltou-nos sempre qualquer coisa. Sofremos com o chapéu de Poborski, e os penáltis de Zidane, o poder de salto de Charisteas, os misseis de Schweinsteiger. Perdemo-nos na pressa de Batta, na irreverência coreana, no crescimento do soccer. Desperdiçámos uma oportunidade única, entrámos em depressão com a nossa própria versão de Maracanazzo, que aparentemente calha a todos.

O contraste com o passado de artistas
jogámos muito à bola, enormidades. Fomos classe. Levados no pé direito de Rui Costa, nas arrancadas de Figo, nos ângulos desenhados por Paulo Sousa, nas certezas de Pauleta, nos pequenos monumentos levantados por um Nuno Gomes com uma vontade enorme, nos voos de João Pinto. Tivemos Bento, Baía, Damas. Fernando Couto, Jorge Costa, absorvemos o melhor do melhor entre os melhores Ricardo Carvalho. Vibrámos com Deco. Um Maniche imparável, que marcou um golo que apenas um estádio viu. Se alguém pestanejou… A garra de Conceição, as gincanas de Futre, a esperteza de Rui Barros. E falhámos, uma vez após outra, como sempre.
Fomos os melhores do mundo que jamais ganharam alguma coisa. E aprendemos a viver com isso. Tornou-se natural, normal. Até hoje.
Havia de jurar que ouço daqui os foguetes em Lisboa. A festa ainda em Paris. Sei que existem.
Jogar bem é estar mais perto de ganhar algo. É uma daquelas regras não escritas, mas com que toda a gente concorda. E foi quando menos bem jogámos – não acho que tenha sido nojento, mas andámos longe daquela ideia que nos aproximava do joga-bonito brasileiro – que ganhámos. Quando menos expectativas tínhamos, quanto mais parecíamos incapazes de marcar, de vencer jogos, a equipa portuguesa uniu-se em torno de si mesma e levou o caneco para casa. Com um jogo ganho em 90 minutos, dois no prolongamento e um nos penáltis. E três empates.

Convencer todos os jogadores foi o primeiro grande passo
Tivemos de ser um pouco Grécia e trocar a bola como se não houvesse balizas, à espera do momento certo. Do lado de fora desesperámos por passes de rotura, por um futebol de ataque continuado. Fernando Santos teve de convencer os jogadores que só dava assim: fechadinhos atrás, sem nunca se desequilibrarem, com a obrigação de começarem a aproveitar as oportunidades criadas. Fomos obcecados pelo controlo.
Teve de convencer Nani a aparecer nos espaços perto da baliza, a lutar pelo ar, Renato a não embalar e a sair curto, João Mário a ir muitas vezes sozinho. Quaresma a não sair em dribles e cruzamentos sem critério. André Gomes lutou corpo a corpo. Adrien focou-se primeiro no outro, do lado de lá, do que em si próprio e na bola. Moutinho só passou a aparecer nos momentos finais para aquele passe de morte. Todos eles acreditaram e foram enormes, incansáveis.
Fernando Santos ou o momento, ou ambos, foram responsáveis pela maior transformação de todas: Cristiano Ronaldo começou também a acreditar que era essa a única via. A olhar para o braço e ver lá finalmente a braçadeira. A chamar Moutinho para marcar penáltis, a voltar a coxear para o relvado para motivar Quaresma, a gritar que nem um Diego Simeone nos seus dias mais frenéticos, a apontar o caminho, a tomar decisões. Viram quem mandou Raphäel Guerreiro assumir o livre directo? Dou-vos uma pista: não foi o seleccionador. Vimo-lo festejar cada corte como um golo marcado por si, cada bola para o quintal, cada falta ganha a meio-campo. A coxear, depois de secar as lágrimas, fez a diferença. Foi enorme.

A felicidade premiou o trabalho
Claro que houve felicidade. O golo, tantas vezes repetido, da Islândia, nos descontos. Os três falhanços de Vida. A bola no poste de Gignac. Mas foi procurada até à exaustão pelos jogadores em todos os muitos minutos que jogaram. Uma atitude incrível. Uma confiança impressionante, que nem abanou quando Ronaldo saiu de maca do Stade de France. Uma confiança carregada às costas por Éder, o mais improvável dos heróis, aos 109 minutos.
O mérito de Fernando Santos é enorme. Até nessa decisão, inesperada, de lançar o avançado do Lille para o golo de uma carreira.
Confesso que faz-me alguma falta a magia de alguns craques de antigamente na Selecção. Aquele futebol rendilhado, de filigrana, apaixonante nas combinações e talento individual. Esta Selecção deixou de ser poesia, como se se tivesse apercebido de que ninguém pode subsistir apenas da vida de artista. É preciso foco, organização, concentração e sacrifício. É preciso que todos corram para o mesmo lado.
As novas gerações que aí vêm trarão ainda mais talento, e novas soluções. Portugal continuará forte, e pode crescer, mantendo estas chaves como base, e juntando-lhe, se possível, umas pitadas de magia.
No entanto, agora, o momento é outro. Façamos-lhes uma vénia. Merecem tudo. Foram enormes!
Não perdemos, Cristiano. Ganhámos! Querias acrescentar alguma coisa?"

Patrício, Pepe e Guerreiro: os mais consistentes de 23 heróis

"Portugal, Portugal, Portugal!
Nós somos campeões, campeões, campeões
Nós somos campeões!

E aqui estão eles:
Rui Patrício, Anthony Lopes, Eduardo;
Cédric, Vieirinha, Pepe, José Fonte, Ricardo Carvalho, Bruno Alves, Eliseu e Raphael Guerreiro;
Danilo, William Carvalho, Moutinho, Renato Sanches, André Gomes, Adrien e João Mário;
Quaresma, Ronaldo, Rafa, Nani, Éder.
São estes os nomes dos jogadores que ficam para a história.
Faço parte de outra geração mas, tal como eu, acredito que todos os jogadores, antigos e actuais, estão felizes com a conquista desta equipa. Eles fizeram história e ficam para a memória do futebol português como sendo os primeiros a conquistar um título europeu de futebol.
Sinto um orgulho enorme por estes atletas que elevaram o nome de Portugal bem alto. Atrás deles tinham um povo a apoiar, como foi visível em todos os jogos nos mais diversos locais do nosso país. 
Mas é impossível não referir o apoio que foi dado pelos nossos emigrantes no local de estagio em França, bem como em todos os dias e todos os jogos de Portugal neste Europeu. Foram extraordinários na presença constante, em todos os momentos e sem dúvida que foi para eles muito especial esta vitoria, a forma como a viveram e vão continuar a viver daqui em diante.
Esta aventura por terras gaulesas terminou da melhor forma com a consagração em Paris. Na final foram 120 minutos de emoção, de sacrifício, de sofrimento, mas tudo terminou com uma alegria enorme. O jogo teve de tudo, desde logo com a lesão de Ronaldo, com as grandes defesas do Rui Patrício, com oportunidades falhadas dos franceses, com a bola à trave de Raphael e a terminar com o golo de Éder, o herói improvável.
Uma coisa é certa: independentemente da pouca ou muita qualidade exibicional, da sorte e do azar em certos momentos, dos adversários que tivemos, a equipa trabalhou e lutou para merecer o titulo. Fomos uma equipa bem organizada defensivamente e isso foi importante para a conquista do titulo mas do ponto de vista individual uma nota para três jogadores – Rui Patrício, Pepe e Raphael Guerreiro que foram ao longo da prova os mais consistentes e de melhor rendimento.
Valemos pelo trabalho colectivo, solidário, pela entreajuda e pelo sacrifício em prol de um objectivo. E aí o papel do líder e treinador Fernando Santos foi determinante. O seleccionador acreditou desde a primeira hora na conquista do título e disso fez menção em todas as suas intervenções e fez acreditar os jogadores. O segredo esteve na capacidade de levar os jogadores a interpretar em cada jogo um plano estratégico diferente do que é normalmente habitual e a acreditar que dessa forma era possível. Deu resultado e estão todos de parabéns.
O país sofreu e vibrou e a alegria foi contagiante. A forma como a selecção foi recebida ontem em Lisboa é reveladora do sentimento e do orgulho que os portugueses tèm na sua selecção.
Fantástico!
Somos campeões europeus!
Obrigado!

P.S. Este último fim de semana foi também extraordinário para outros atletas. As medalhas de ouro da Sara Moreira, Patricia Mamona e as de bronze da Jessica Augusto e do Tsanko Arnaudov nos Europeus de atletismo são bons indicadores para a nossa presença olímpica em Agosto."

Benfiquismo (CLIX)

Guarda de Honra...

O texto que explica porque isto é mais que futebol: “É o maior feito desde a entrada na CEE”

"Um artigo do site norte-americano “Politico” passa em revista a final do Euro 2016, considerando que o “carácter português triunfou perante a fragilidade francesa” e afirmando que o se passou não deve ser encarado como um mero jogo de futebol mas antes como um “drama humano”
Uma equipa tinha a vontade de vencer. A outra apenas um je ne sais quoi”. É deste modo que o site norte-americano “Politico” começa por descrever o jogo que ditou a vitória de Portugal sobre a França na final do Euro 2016, algo que considera mesmo ter sido “o maior feito de Portugal como nação desde o dia em que foi admitida na Comunidade Económica Europeia, em 1986”.

No artigo intitulado “O carácter português triunfou perante a fragilidade francesa”, o seu autor, Tunku Varadrajan, aconselha a que se preste a devida atenção à vitória portuguesa, pois a “modéstia do resultado” (1-0, após prolongamento) pode “obscurecer uma multiplicidade de coisas: drama, coragem, pujança, perversidade, resistência e determinação”.

Em tempos como estes, em especial nas finais de grandes competições, é melhor não pensar do jogo como sendo apenas futebol, mas antes, como um mais amplo drama humano, um teste de carácter, e em todas as artes de sobrevivência e de penetração” que envolve, refere.

O autor do artigo considera que após Cristiano Ronaldo ter sido forçado a abandonar o jogo, por lesão, ao 25.º minuto, Portugal ficou na situação de uma “equipa órfã”. “Paradoxalmente”, esse acabou por corresponder ao momento a partir do qual os portugueses “cresceram em força”, enquanto a França, que “até então parecia invencível”, perdeu o gás, pois com a saída do capitão português ficou “sem fazer ideia de quem era agora o seu oponente”.

A equipa francesa não apresentou capacidade para fazer frente ao prolongamento, descreve ainda o artigo, pois “o desejo de ‘jogar bonito’ foi demasiado sufocante”. “Falharam na tentativa de furar a defesa oposta” e tiveram ainda de defrontar o “heróico Rui Patrício”, descrito como “uma personagem dos Lusíadas”.

Nesta análise do jogo, o modo como a selecção de Fernando Santos jogou é comparado com o nosso “estilo nacional e histórico”: “Sempre usaram os escassos recursos da terra de modo sábio, sagaz, esticando-os ao máximo. De outro modo, como poderia um pedaço de terra no extremo ocidental da Europa ter construído um império de tal magnitude? Há uma determinação, uma coragem defensiva, uma teimosia infatigável dos portugueses, que os serviu bem no império e os serviu bem no campo de futebol no domingo à noite”.

Gostaríamos nós que cada equipa jogasse futebol do mesmo modo que os portugueses o fazem? Certamente que não. Mas gostaríamos nós que cada equipa quisesse tanto ganhar como quis Ronaldo e o seu grupo? Eu penso que sim, que gostaríamos. Quase de certeza que nós gostaríamos”, conclui Tunku Varadrajan."

Portugal campeão da Europa

"PARIS - Quais foram os principais atributos de Portugal na noite mágica de ontem, no Stade de France?
1 - O primeiro foi a personalidade. Não é fácil para qualquer equipa do Mundo jogar em casa da França, num estádio cheio de gauleses histéricos, e nunca se deixar afectar, passar a bola de pé para pé ou colocá-la mais à frente ao som de assobios, como se o fosse a coisa mais natural do mundo. E neste âmbito da personalidade também deve entrar a forma superior como os jogadores de Portugal lidaram com um árbitro que se apresentou sempre com dois pesos e duas medidas, em nítido prejuízo da Selecção nacional. A personalidade que Portugal mostrou no Stade de França esteve ao nível do que a Itália conseguiu em Dortmund, na meia-final do Mundial de 2006, em que derrotou a Alemanha. Uma proeza estratosférica.
2 - O segundo foi a solidariedade. Dentro do campo, ontem, com a intensidade dramática própria de uma final, confirmou-se aquilo que tinha sido visto nos seis jogos anteriores: o lema desta equipa é um por todos, todos por um, Fernando Santos conseguiu entrar na cabeça dos jogadores e é um regalo ver, por exemplo, um jogador como Ricardo Quaresma, tantas vezes considerado por alguns treinadores como um jogador difícil, a ser mais disponível das criaturas. E como o Mustang foi essencial para a vitória de Portugal no Euro 2016!
3 - O terceiro foi a superação. Perder Cristiano Ronaldo na final do Campeonato da Europa aos sete minutos e não abrir brechas técnicas, tácticas e psicológicas revela uma força de carácter notável. Cristiano não merecia o Payet que teve. Mas depois, do lado de fora, fez uma exibição notável, de entrega à equipa. Mesmo sem ele, foi a vitória do Portugal de Cristiano Ronaldo."

José Manuel Delgado, in A Bola

Salvé Portugal campeão!

"Durante os 90', como se esperava, Portugal mostrou óptimo sistema defensivo e deu poucas chances à França. Faltou o gol de Ronaldo, que saiu contundido. A França, também como se esperava, não pressionou, jogou um futebol burocrático, com Pogba muito recuado, na posição de armador defensivo, fora de suas características, as de jogador inventivo e próximo à área adversária.
Na prorrogação, não houve mudanças. Até que Éder, em um petardo, fez o gol da vitória e do título. Portugal, que tinha perdido a Eurocopa em casa, em 2004, quando era favorito, ganhou na casa da favorita França. Salvé Portugal, campeão da Europa, merecidamente! Um título inesquecível, emocionante! #somostodosportugal."

A primeira de muitas

"Foi uma vitória acima de tudo emocionante e o nosso país já merecia há muito tempo. Que possa a ser primeira de muitas no futuro. Que Portugal possa ter muitas a nível de seniores, tal como a nível dos mais jovens. Até mesmo nas próprias modalidades. Portugal foi prova disso ontem, com as medalhas de ouro noutras modalidades. Acima de tudo, sinto um orgulho enorme por pertencer a este país que, apesar de pequeno, a cada dia que passa, mostra a grande qualidade que tem a todos os níveis.
Temos uma grande Selecção e um grande seleccionador capaz de motivar todos e incutir o espírito necessário para conseguir ganhar."

Teremos sempre Paris

"Já vai distante o tempo em que Gullit descreveu a Selecção portuguesa como jogando um "football sexy". A conquista de ontem foi construída de realismo e de uma dose adequada de cinismo. A Selecção já não entusiasma como no início da caminhada que consolidou Portugal nas fases finais das competições internacionais. Tudo terá começado com a vitória em Riade e, apesar de alguns percalços pelo caminho, esta vitória é parte desse ciclo iniciado já lá vão duas décadas e meias. Se o futebol tem muito de aleatório, no fim, acaba por premiar o trabalho e os corredores de fundo. Um país pequeno, com muitas fragilidades, também na organização do desporto de competição, tem no futebol um caso à parte."

Ouro, ouro, ouro!

"Que dia, Portugal! Histórico, para sempre inesquecível, 10 de Julho-2016! A rajada de ouro para o desporto português começou com Sara Monteiro e equipa nacional campeãs da Europa da meia-maratona, Patrícia Mamona campeã da Europa de triplo-salto (mais Dulce Félix vice-campeã nos 10.000 metros e medalhas de bronze para Jéssica Augusto, na meia-maratona, e Arnaudov, no lançamento de peso). E o absoluto êxtase chegou à noite, de lés a lés deste país enormíssimo porque se amplia a todo o planeta: Portugal campeão da Europa de futebol!

Fernando Santos várias vezes garantira que só hoje voltaria a Portugal e trazendo a Taça, frisando «é muito difícil alguém nos ganhar». A França, após eliminar Alemanha e disputando a final em Paris, foi a última, e a maior, vítima dessa convicção. Mesmo ficando a nossa Selecção sem Cristiano Ronaldo, com KO clínico logo aos 10 minutos! Tremendo golpe, dir-se-ia aniquilador! Mas treinador e equipa de imediato reagiram excelentemente. Na pronta, e certeira, mudança táctica e na alma... gigantesca. Portugal campeão da Europa porque em alma e capacidade táctica/estratégica ninguém ganhou à nossa Selecção! Ao cabo de 7 jogos e final em casa da França, esta é a pura verdade!"

Santos Neves, in A Bola

Somos nós!

"Começar com medo, jogar a sofrer, acabar em lágrimas. Foi uma final como nunca tínhamos visto, nem jogado, nem sentido. Nada do que se passou foi sorte, nada foi fugaz, nada foi acaso. Este campeão que somos fez-se de um campeonato em que fomos uma equipa paciente e humilde, estratega e consistente. Com um treinador brilhante que parecia plúmbeo. Com o incrível Ronaldo que foi capitão, treinador, motivador, jogador - e que, quando saiu lesionado depois de uma falta maldosa (e escandalosamente não marcada), deixou uma equipa a largar sangue na relva. Patrício, Pepe, João Mário - e até um Éder maravilhoso. Não é possível entender o cinismo de quem desdenha nem o azedume de quem não vibra. Somos campeões. Somos campeões! E tanta justiça."

Compromisso define a Selecção

"Tudo começou na coragem do nosso seleccionador, quer antes do Europeu, quer após o segundo jogo com a Áustria, em que repetiu que só voltava dia 11 e ia ser recebido em festa. Passou para fora e transmitiu muita confiança aos jogadores. Há que destacar o grupo, que teve um compromisso enorme.
A melhor palavra que define a nossa Selecção é compromisso. Houve crença muito grande entre todos os atletas. É difícil referendar uma individualidade na nossa Selecção. Isso define uma equipa. Fomos uma equipa, soubemos sofrer. Acabamos da melhor forma, com o jogador mais criticado a ser o nosso herói.
Tudo está assente na Federação, que dá grandes condições. E ainda há o apoio dos adeptos. É uma vitória muito grande para o nosso povo, para os nossos emigrantes.
Quando Ronaldo se lesionou, só pensámos no que nos podia acontecer mais. A equipa mostrou união e houve uma mudança táctica do nosso seleccionador. Continuámos a ser uma equipa sem a nossa grande figura mas com os outros predicados: o acreditar, a entreajuda, compromisso e ambição de que a sorte nos podia sorrir."

Vale dizer tudo, menos a palavra saudade

"PARIS - Escrevo esta coluna sentado no chão, na zona mista do Stade de France, enquanto espero por ouvir os homens que vão ficar na história do futebol português. Faço-o porque me dá jeito, mas também para tirar-me das nuvens. Para voltar a pôr-me no sítio onde devo estar e manter a racionalidade. Mas não é fácil. Depois da daquela noite de 25 de Janeiro de 2004, em Guimarães, quando assisti à morte de um jogador em campo, este é o dia mais difícil em gerir as emoções. Elas andam aqui por dentro, às voltas, borbulhando no estômago, querendo saltar, depois de assistir a 120 minutos delirantes, onde vi de tudo: um jogador perder a pose de deus e transformar-se no mais frágil dos humanos, no único momento em que a excepção nunca poderia contrariar a regra; assistir à ovação de pé que milhares de franceses prestaram a um jogador que tanto criticaram; o destino que parecia escrito naquele remate de um gaulês a jogar no México mas alguém terá soprado o couro para o poste e; a outra bola que bateu no ferro, mas no ferro mau; o jogador que afirmou, no início do estágio em Marcoussis; sonhar com um grande momento e poucos acreditarem; o mesmo jogador que usa uma luva branca quando celebra um golo como forma de expurgar males a críticas, mas fundamentalmente como amuleto motivacional. A luva que vi naquela mão negra, apontando o indicador para cima. E eu sem conseguir fazer qualquer comentário. Porque as cordas vocais por momentos ficaram inertes depois do esforço a que foram submetidas com aquele pontapé tão forte quanto a alma coletiva de 11 milhões de crentes.
Chega o apito final. Comovo-me como nunca em 18 anos de carreira. Porque é impossível não ter sentimentos quando se escreve sobre emoções. E sabermos que temos uma família a torcer para que se se juntem as palavras Portugal e campeão no mesmo texto, menos saudade, apesar de muita. É, pois com o enorme orgulho que digo: também sou campeão. Peço desculpa, o melhor é pôr-me novamente de pé."

Fernando Urbano, in A Bola