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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O nobre ofício de 'ironizar' já conheceu melhores dias

"Ninguém lamenta como os adeptos do Clube de Futebol 'Os Belenenses' foram tratados no anúncio da Sagres? Um equilibrista desequilibrado vestido de vermelho!

PARECE-ME injusto e mal observado vir-se dizer que o presidente do Benfica demorou cinco dias a responder às insinuações pós-derby do presidente do Sporting porque, na verdade, o presidente do Benfica não tem de responder, nem respondeu, a nada de nada.
E porquê?
Porque o presidente do Sporting não é de todo um problema do Benfica.
O presidente do Sporting é um problema do Sporting.

DOMINGO, hora do almoço, faz-se um zapping rápido e dá-se de caras com uma grande defesa do nosso Quim. É a magia da II Liga. Quim, com os cabelos cinzentos da cor do equipamento que enverga, defende agora as redes do Desportivo das Aves.
A situação era a de um livre muito perigoso mas Quim voou desviando a bola com a ponta dos dedos em grande estilo. Foi campeão no Benfica e dá satisfação ver os nossos campeões sempre em forma.

QUEM insistir, por conveniência ou ardil, que o presidente do Benfica demorou cinco dias a reagir às acusações do presidente do Sporting pós-derby, terá então de concluir que, em 2014, o presidente do Benfica demorou quase dois meses e meio a responder a um conjunto de não menos graves acusações vindas do presidente do Sporting quando, na realidade, o presidente do Benfica nunca o fez.
Tratou-se de um episódio singelo mas muito revelador que merece ser lembrado.

NO dia 19 de Março de 2014, em declarações à Rádio Renascença, o presidente do Sporting afirmou que o presidente do Benfica lhe tinha telefonado e contado que «depois de ter gasto uns milhões valentes na equipa» o melhor reforço que conseguiu «foi um jogador chamado nomeações».
A sujíssima suspeição ficou a pairar sem resposta do visado até ao dia 27 de Maio de 2014 quando um jornalista da RTP que entrevistava o presidente do Benfica se lembrou de lhe perguntar se era verdade aquilo que o presidente do Sporting tinha dito há um par de meses.
Respondeu o presidente do Benfica ao jornalista (ao jornalista e não ao seu homólogo verde) lamentando, à cavalheiro, ter de chamar mentiroso ao presidente do Sporting – «é feio dizer mas mentiu» – porque tal conversa nunca tinha existido e nunca poderia existir.
E não é que o presidente do Benfica tinha razão?
Razão que lhe foi dada logo no dia seguinte pelo presidente do Sporting: «Estávamos a ironizar. Claro que não houve nenhum telefonema!»
Era na brincadeira.
E ficou logo toda a gente esclarecida.

muitos jovens jogadores formados pelo Benfica a rodar em campeonatos estrangeiros. Trata-se do nosso programa Erasmus. Estão como os estudantes os nossos jogadores. Estudam até um determinado ponto do seu percurso em casa e depois, a ver se crescem, vão estudar para fora em ambientes que lhes são estranhos e que lhes exigem um novo tipo de responsabilidades. Depois se verá como regressam a casa, os que regressarem.

CINCO dias depois do último derby, Luís Filipe falou directamente aos benfiquistas presentes na inauguração da Casa do Benfica de Leiria e, indirectamente, a todos os outros que não estávamos presentes. Como seria de esperar, não fugiu aos temas em rescaldo nacional desde aquele preciso momento em que Jardel fez o golo do Benfica em Alvalade.
Falou bem Vieira. Os benfiquistas queriam ouvir a opinião do seu presidente e, de uma maneira geral, ficaram satisfeitos com o que ouviram porque tem uma opinião igual ou muito parecida com a da maioria dos adeptos e que, no essencial, se resume assim: repúdio total pela violência das palavras, dos actos e das imagens, respeito pelo nome e pela história do adversário e apelo às autoridades competentes para que façam o seu trabalho.

EM termos práticos, o presidente do Sporting pôs fim ao blackout para anunciar aos seus fãs e admiradores que fazia anos no dia do derby e, passados sete dias, voltou a comunicar com a referida plateia para lhes dizer que até tinha «motorista».
Isto de ter motorista não é para qualquer um.

NA tarde de domingo, durante quatro minutos o Benfica teve quatro jogadores portugueses em campo. Foi mais um pormenor satisfatório num jogo tranquilo. O Benfica começou com dois portugueses, Eliseu e Pizzi. 
A um quarto-de-hora do fim do jogo Jorge Jesus mandou entrar Rúben Amorim e Gonçalo Guedes para os lugares de Samaris e de Ola John. Quatro minutos depois saiu Pizzi para os aplausos, entrou Talisca e diminuiu para três o número de portugueses do Benfica em campo.
Patrioteirismos à parte, foi satisfatório o dito pormenor dos quatro portugueses em campo porque os quatro estiveram muito bem.
Pizzi parece-se cada vez mais com Enzo Pèrez, Eliseu parece-se cada vez mais com um defesa-esquerdo, Rúben Amorim vai a caminho de se parecer com o Rúben Amorim do passado e Gonçalo Guedes vai a caminho de se parecer com o Gonçalo Guedes do futuro.
O que se pode pedir mais?

ENTÃO ninguém pede desculpas ao Clube de Futebol «Os Belenenses»?
Ninguém lamenta o modo como os adeptos do Belenenses foram retratados no anúncio da Sagres?
Um equilibrista desqualificado em cima de uma corda e o respectivo espalhanço final. Um funâmbulo incompetente para mais vestido com uma camisola vermelha. Vermelha, sim! Não haverá aqui matéria que fira também a susceptibilidade belenense para além de outras susceptibilidades feridas?
Pode uma campanha publicitária ironizar com o Belenenses se não pode ironizar com o Sporting? Onde estão, nesta barricada, os Charlies do futebol português?
Onde está o próprio Bruno de Carvalho, o primeiro a carregar de novos e insondáveis atributos o nobre ofício de ironizar?

A «Os Belenenses» devem solidariedade o presidente da Liga em protesto pela campanha da Sagres, e ainda todos os que defendem a «verdade desportiva» em protesto pela campanha do Sporting para levar os seus adeptos até ao Restelo.
É que, na semana que antecedeu o último clássico lisboeta, o nome do Belenenses também foi muito mal tratado e ninguém se indignou nem pediu desculpas. Aconteceu no site oficial do Sporting pela pena galante de um historiador que fez questão de lembrar uma goleada imposta pelos leões ao Belenenses numa visita ao Restelo «na época de 1953/54».
Com que objectivo de concórdia se desentulham estas humilhações que, pelos vistos, deixaram de mãos atadas todos os indignados da cerveja?
Factos horripilantes que deixaram de mãos atadas, inclusivamente, os próprios adeptos do Belenenses sem saber o que responder à provocação tendo em conta que o Estádio do Restelo só foi inaugurado no dia 23 de Setembro de 1956, isto é, dois anos depois da tal goleada ironizada pelo Sporting no tal Estádio do Restelo, embora ainda não existisse.

O Benfica foi o campeão da última temporada. E, como já toda a gente sabe, este era o ano em que o Sporting tinha o campeonato no papo se Bruno de Carvalho não fosse tão orgulhoso e tivesse dado ouvidos ao presidente do Benfica sempre que o presidente do Benfica o perseguiu pelos corredores da Liga propondo-lhe, a arfar de tanto «correr atrás» dele, a alternância nas «vitórias no campeonato». Ou era isso ou estava a ironizar.
Não houve reunião de presidentes na sede da Liga em que a comunicação social de serviço não noticiasse a perseguição em corrida do presidente do Benfica, em fato de treino e de sapatilhas, ao presidente do Sporting, à paisana.
Não só no interior do edifício da Liga, escada abaixo e escada acima, como também no exterior do edifício e áreas circundantes, Rua da Constituição para cima e para baixo, o presidente do Benfica correu sem êxito “atrás” do supersónico presidente do Sporting perante o olhar consternado de um Luís Duque pouco dado a correrias e sem saber que lição colher de tão estrambólicas ocorrências.

OS nossos rivais andam pela Suíça e pela Alemanha e nós vamos no sábado a Moreira de Cónegos que é o que interessa. Respeitinho pelo adversário e 100% de concentração será o caminho para a felicidade."

Leonor Pinhão, in A Bola

Minutos: primeiro e último

"Entre tempos úteis, inúteis e fúteis, um jogo tem, em regra, entre 90 a 95 minutos. vividos intensamente e de maneira diferente. Julga-se o cronómetro com a imaginação de um antiquado e lento relógio de pêndulo, quando o desejo é que o tempo voe, ou, então, como uma cebola que se adianta desmesuradamente, quando se anseia por mais tempo de jogo. Um tempo dentro da pressa e uma pressa fora do tempo.
Isso é mais evidente nos derradeiros minutos. Um golo decisivo marcado ou sofrido nos últimos instantes é uma dádiva celeste ou uma tragédia diabólica. Como, aliás, se acha bizarro haver golos nos primeiros segundos. E, no entanto, todos esses segundos são iguais a quaisquer outros. Apenas o não são na subjectividade que desafia a teoria das probabilidades.
É como numa viagem de automóvel. A um quilómetro de chegar ao destino, depois de um longo percurso, achamos que já nada irá acontecer, ainda que a menor probabilidade se possa transformar numa arreliadora certeza.
A propósito destes momentos no futebol, fiz algumas contas até à última jornada (21.ª). Quanto aos instantes finais, o líder das emoções é o Sporting:
Benfica (saldo 0) - ganhou 1p. (Sporting) e perdeu 1p. (P. Ferreira)
Porto (saldo +1) - ganhou 1p. (Estoril)
Sporting (saldo +2) - ganhou 6p. (Arouca, 2; Moreirense, 1; Braga 2; Belenenses, 1) e perdeu 4p. (Académica, 2; Benfica, 2).
Quanto aos primeiros minutos, o Benfica marca duas vezes (Estoril e Braga) e sobre com o Nacional. Curioso é que, no fim, acabou por perder com o Braga e com o Nacional venceu. Já quanto ao Porto e o Sporting apenas no jogo entre eles houve um golo prematuro (do SCP)."

Bagão Félix, in A Bola