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quarta-feira, 31 de dezembro de 2025
Hábito de ganhar
"1. O Benfica vai-se habituando a ganhar. É o que parece.
Foi suadíssima a vitória tangencial sobre o Famalicão
na noite de segunda-feira, na Luz. Mas a sua justiça
não tem discussão. O Benfica criou oportunidades,
mas só marcou através de uma grande penalidade
e sofreu nos minutos finais do encontro frente a
um Famalicão que acreditou num desfecho diferente. Mas não passou disso, uma crença que não
se concretizou.
2. Foi a 4.ª vitória consecutiva do Benfica em 3 competições. Vitória sobre o Nápoles para a Liga dos
Campeões. Vitória em Faro para a Taça de Portugal.
E vitórias sobre o Moreirense e sobre o Famalicão
para o Campeonato Nacional. Com 9 golos marcados e 0 golos sofridos.
3. É certo que neste período o Benfica jogou e ganhou
ao campeão de Itália, mas o adversário que manteve a dúvida sobre o resultado até ao fim foi, honra
lhe seja feita, o Famalicão.
4. Se fala, é porque fala; se não fala, é porque não
fala. Decidam-se. Não há regulamento que obrigue
o treinador do Benfica – ou de qualquer outro clube
– a fazer conferências de imprensa nas vésperas
de jogos a contar para o campeonato principal.
O treinador do Benfica decidiu – sim, decidiu ele,
até porque não é imaginável que alguém tenha
decidido por José Mourinho –, decidiu, dizíamos,
não se prestar a esse serviço banalizando-o à força
de repetições. E fez bem.
5. Mas é compreensível o desgosto da comunicação
social ao ver-se privada de Mourinho. Sem ele,
falarão de quê? Sem palavras do treinador do Benfica, como o poderão acusar de estar a elaborar em
mind games malévolos para diminuir os adversários ou para atacar a arbitragem? Nesta última jornada em que o Benfica recebeu o Famalicão, Mourinho não compareceu na sala de imprensa. Já o
tinha feito – ou não feito – nas vésperas dos jogos
com o Casa Pia, com o Nacional e com o Moreirense,
e daí não veio mal ao mundo.
6. Houve dérbi de equipas B, e o Benfica venceu por
1-0 o Sporting. Muito público no Seixal, e valeu a
deslocação. O resultado podia ter sido mais dilatado, mas se a equipa foi perdulária contra 11, mais
perdulária foi contra 10, e ainda mais perdulária foi
contra 9. Ficou a intenção.
7. Foi bom e bonito de se ver. Não só foi bom e bonito
como foi um arraso e que arraso. A conquista da
16.ª Supertaça do basquetebol do Benfica, no Pavilhão Dr. Mário Mexia, em Coimbra, resultou de um
verdadeiro festival que o resultado ilustra na
perfeição. Benfica 91-65 FC Porto. O adversário
ofereceu pouco mais do que uma nula resistência
ao longo de todo o jogo, e esta foi a 9.ª Supertaça
do Benfica nas últimas 16 edições da prova."
Leonor Pinhão, in O Benfica
As intrigas de Trigo
"No início do concerto, o maestro
Silva caiu sobre o pódio, sem
pulso. O homicida disparou um
dardo envenenado de uma pequena zarabatana. Os suspeitos eram o trompetista profissional Carlos Camacho, que
esteve no palco minutos antes do homicídio, e Raul Bártolo, que também esteve no
palco na mesma altura, porque tinha
amigos no Coliseu. Quem matou o maestro?… Ninguém, pois o relato é o sonho
ficcional de Alexandre de Sousa, jornalista e personagem principal no cânone de
Mistério Ilustrado.
O Mistério Ilustrado foi uma secção policial na revista O Benfica Ilustrado, orientada por Álvaro Trigo. Consistia na publicação de crimes fictícios ligados ao mundo
desportivo, acompanhados por fotografias
encenadas, produzidas pela equipa responsável por esta secção. Os fãs disponham de 30 dias, desde a publicação do
texto, para enviarem uma carta indicando
quem cometeu o crime e como.
A secção começava com Alexandre de
Sousa a recontar um caso em que participou ou de que ouviu falar. Apresentava o
crime, as testemunhas e, por fim, o interrogatório aos criminosos. Os mistérios eram variados, como o homicídio de um promissor jogador de futebol que ia assinar com o Benfica, o
rapto de José Águas com Otto Glória como testemunha, ou o roubo da carteira de José Lisboa. As fotografias e as histórias por vezes contavam com a participação de atletas de várias
modalidades, como o José Lisboa, no caso do
mistério apontado acima, ou o Alberto Ló.
Durante o período de publicação do Mistério
Ilustrado, foram realizados seis campeonatos:
o primeiro torneio, o segundo torneio, o terceiro torneio, a Taça de 1960, o Circuito da Europa
(consistindo nas aventuras de Sousa
em diversas capitais europeias) e a
Taça de 1963. Os concorrentes foram
agrupados dois a dois, e desse par
quem passava para a próxima fase
era o que tinha a resposta “mais
certa” e mais bem fundamentada.
O processo repetia-se até sobrarem
dois concorrentes. O vencedor
ganhava uma taça, o finalista recebia
dois livros de mistério, os dois semifinalistas e os cinco primeiros solucionistas obtinham um livro.
O último Mistério Ilustrado, que
não foi solucionado, foi publicado na
edição n.º 91 de O Benfica Ilustrado.
O quadro O Desporto na Antiguidade
(fictício) foi roubado de um proeminente museu de arte localizado em
Berlim Ocidental. O ladrão passou-o
ao jovem Charles Dupond, artista
ambulante, que o transportou para
Paris. Dupond levou um tiro, disparado de um Renault-Dauphine vermelho, perto do rio Sena. Os suspeitos eram Marie Claude Parizet, que
afirmou que o quadro ainda estava
em Berlim, pois ninguém ia ter
coragem de passar pela fronteira, e
Hans Kleinfeldt, que discordou de
Parizet, porque ninguém “se lembraria de abrir a parte da frente de
um automóvel só para ver se lá iria uma tela
volumosa”. Quem roubou o quadro e matou
Charles Dupond?
Se quer mergulhar mais a fundo no mundo
literário benfiquista, convidamo-lo a explorar
a área 16 – Outros Voos, no Museu Benfica
– Cosme Damião."
2025
"O balanço do ano é de algum
modo ambivalente. Se, por um
lado, o Benfica não conquistou
o Campeonato – e esse será
sempre o principal barómetro
do Clube –, por outro, além de
ter festejado duas competições
futebolísticas (Taça da Liga em
Janeiro e Supertaça em Julho),
teve ainda participações prestigiantes a nível internacional,
quer na Champions League da
época passada (onde foi a
melhor equipa portuguesa),
quer no apuramento para esta
edição (veremos o desfecho),
quer no primeiro Mundial de
Clubes da FIFA (voltando a ter
o melhor desempenho luso).
Devíamos poder juntar aqui a
Taça de Portugal. Infelizmente,
a prova não foi decidida no relvado do Jamor, mas, sim, ali ao
lado, onde, refastelado numa
boa cadeira, e com vários ecrãs
de televisão diante do nariz, o
VAR não quis ver uma bárbara
agressão a um atleta do Benfica – lance que foi determinante
no desfecho da final.
O próprio Campeonato foi perdido, numa interpretação mais
natalícia, por um remate de
Pavlidis ao poste. Se formos
menos magnânimos, teremos
também de recordar alguns
jogos em que a nossa equipa
foi bastante penalizada por
erros de arbitragem, e, pelo
contrário, alguns outros em
que os rivais foram beneficiados. Situação que, de resto, se
estendeu à nova temporada.
No futebol de formação, o ano
foi histórico, com o triunfo inédito em todos escalões – juniores, juvenis e iniciados. No
futebol feminino, 2025 também foi glorioso, com a conquista do penta.
Quanto às modalidades, nas
cinco principais o Benfica alcançou 2 títulos nos masculinos (basquetebol e futsal), e 4
nos femininos (hóquei em
patins, basquetebol, andebol e
voleibol). Ou seja, 6 em 10 possíveis. Ninguém ganhou mais
do que nós.
Que 2026 não traga pisões na
cabeça, nem rasteiras com o
ombro. Será um bom princípio
para podermos ser mais
ganhadores."
Luís Fialho, in O Benfica
Consoar é consolar
"É verdade, a palavra consoada
deriva diretamente do verbo latino
consolar, e isso explica muita
coisa. Nesta refeição ritual católica existe uma intenção para lá da
comida. Uma intenção de satisfação plena, de consolação de todos,
conducente à paz e à harmonia
que se querem neste dia.
Ora, se pensarmos bem, é exatamente disso que se trata todo o
espírito natalício em que estão
implícitas a empatia e a partilha
com os outros tendo por único
objetivo proporcionar-lhe uma
dádiva de conforto e bem-estar
em nome de um ideal de paz
social e de remissão espiritual.
É assim que, quando cada um de
nós compra um presente, faz
uma boa ação. Ou, quando simplesmente convida alguém mais
isolado e arredado pela solidão,
está na realidade a cumprir, ao
menos por um dia, uma utopia
que ao longo de todo ano a nossa
sociedade simplesmente não é
capaz de materializar.
Sociedades houve, e há (cada vez
menos), em que toda a cultura
material e imaterial se orienta
para esse ideal. Essas sociedades
praticamente em estádio neolítico, praticando uma economia de
caça e recoleção, despojadas de
tudo e possuindo apenas os bens
necessários ao seu bem-estar
e sobrevivência, foram comparadas pelos filósofos iluministas
com o paraíso e deram lugar a
correntes de pensamento igualitário e de justiça social desenvolvidas a partir do chamado ‘mito
do bom selvagem’. Derivam daqui
muitas das ideias e das políticas
sociais que conhecemos.
Mas tratava-se duma ilusão: não
é assim o mundo, esta forma
de viver está praticamente extinta,
e aos nossos olhos surge como
uma enorme pobreza e desolação.
Talvez por isso hoje temos tudo e
falta-nos sempre alguma coisa,
somos ricos e sentimos que
somos pobres. Perdemos claramente em comparação com os
que, parecendo-nos pobres, vivem
na abundância apenas porque têm
tudo o que lhes faz falta e com isso
se satisfazem.
Nós já não, mas não perdemos
nem o sentido da humanidade
nem o dom da utopia, por isso, ao
menos um dia no ano, viramos o
mundo ao contrário e damos em
vez de tirar!"
Jorge Miranda, in O Benfica
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