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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O Benfica perdeu e perdeu bem no Dragão

"SE o Benfica persistir nas comparações com a última época, em vez de melhorar o seu desempenho nesta, vai ter dificuldades em atingir os objectivos que ainda tem nesta temporada, e são muitos e importantes.

Embora a reconquista do título já tenha ficado comprometida na fruta servida na sobremesa da homenagem a Olegário que antecedeu a deslocação a Guimarães, a verdade é que o Porto tem sido uma equipa tacticamente evoluída e o seu treinador é merecedor de elogios. Já aqui escrevi, na altura contra a corrente, que no último ano a Académica nos jogos contra o Benfica jogou do futebol mais positivo e conseguido que tinha visto. Tenho pena que haja quem prefira elogiar aqueles que conseguem um pontinho com o autocarro em frente da baliza, muito antijogo e muita sorte em vez daqueles que arriscam a praticar bom futebol. Eu quero uma vez mais reiterar o apreço por Villas Boas como treinador.

Jorge Jesus não esteve feliz nas opções tomadas no último jogo, mas foi Jorge Jesus quem nos deu o melhor Benfica dos últimos 10 anos e será ele que ainda esta época nos trará vitórias e títulos. Evitar a sportinguização do Benfica parece prioritário para quem leu os jornais desta semana. Urgente por agora é ganhar à Naval.

Não são capas panfletárias, nem psis de pacotilha que farão o clube chegar aos seus objectivos. Vinte jogos de campeonato, uma Taça de Portugal, uma Taça da Liga e a mais importante competição europeia de clubes parece suficiente como caderno de encargos.

Compro e leio todos os dias A BOLA, a partir de amanhã sem a crónica de Ricardo Araújo Pereira tiraram-me o meu garantido sorriso de sábado, fiquei privado de ler um amigo que admiro, mas sobretudo perdeu o Benfica e os nossos leitores um dos seus mais brilhantes e talentosos advogados. Que seja um parêntesis, que volte o sorriso da leitura e as vitórias com brevidade que nós merecemos."

Sílvio Cervan, in A Bola

Segredo está na coesão interna

"QUANDO o Benfica decidiu estar presente nas celebrações do 35.º aniversário da Independência de Angola, muitos torceram o nariz a um jogo que ia obrigar a equipa de Jorge Jesus, entre duas jornadas da Liga Zon-Sagres, a uma viagem-relâmpago a Luanda.
Porém, na ressaca da derrota no Dragão, poucas coisas poderiam ter um efeito tão regenerador como uma mudança de ares. Os encarnados recuperaram a auto-estima em Angola, onde foram embaixadores de excelência de Portugal, ao mesmo tempo que carregaram baterias para o resto da temporada.
Há uma semana, no Dragão, a Lei de Murphy aplicou-se ao Benfica: tudo o que podia correr mal, correu pior. Depois de um início de época atribulado, entre exibições menos conseguidas e arbitragens penalizadoras, a goleada sofrida frente ao FC Porto representou o ‘bater no fundo’ do Benfica. Agora, na Luz, é tempo de cerrar fileiras e atacar todas as competições com a convicção de que, depois da tempestade, vem sempre a bonança.
Os 20 jogos que faltam disputar na Liga, a Taça de Portugal, a Champions e a Bwin Cup constituem um desafio global que nunca será superado com êxito só por jogadores, ou técnicos, ou dirigentes, ou sócios ou adeptos… Só um clube unido, sem brechas nas fileiras, estará à altura de tão exigente demanda.

PS – Em 1986/87, a 16 jornadas do fim, o Benfica foi goleado por 7-1 em Alvalade. Os encarnados sobreviveram à humilhação e sagraram-se campeões. E nem as vicissitudes de um acto eleitoral (João Santos derrotou Fernando Martins)que teve lugar na recta final do Campeonato corromperam a coesão do clube ou minaram o balneário."
José Manuel Delgado, in A Bola

E agora Benfica?

"Os dados estavam lançados, a margem de erro para o Benfica era mínima ou mesmo inexistente. Mais do que isso, exigia-se um Benfica competente, afoito, resoluto. Só um Benfica na posse dos seus melhores atributos poderia levar de vencida um FC Porto forte, coeso, estimulado. O cenário do Dragão constituía, desde logo, mais uma adversidade para as pretensões rubras.

Que Benfica se viu? O melhor Benfica, tal como era exigido? Ao contrário, um Benfica débil, insuficiente, desmoralizado. O triunfo do adversário foi inquestionável, ainda que os números da vitória sejam tão cruéis quanto injustos. A verdade é que no mais decisivo encontro da temporada, o Benfica não soube puxar os galões de campeão e até sugeriu passar o testemunho ao rival.

Discutem-se as opções do treinador. Com razão? Se calhar, sim. Todavia, também se afigura irrecusável, no final dos jogos todos ganham, todos estão na posse da receita certa. Jesus falhou? Se calhar, sim. E quantas vezes acertou em inúmeras circunstâncias? O pior é que este era o tal jogo em que a falha estava absolutamente interdita.

E agora? Há muito campeonato, há mais Ligas, há outras competições. Uma coisa é certa: o desempenho do Dragão não pode repetir-se. A época não está perdida, está comprometida. Ainda assim, acredite-se que o desastre no Porto até pode ser pedagógico, até pode devolver aos adeptos encarnados o melhor Benfica. É que só esse Benfica traz o suplemento de alma que os aficionados exigem até ao termo da temporada futebolística."
Luís Seara Cardoso, in Record

Superlativos

"Quando eu andava na escola e a Gramática ainda não era uma “arma de arremesso” para causar traumas aos alunos, estudávamos com atenção os Comparativos e os Superlativos. Mais: éramos prevenidos para a circunstância de estes últimos deverem ser utilizados com parcimónia, sob pena de se desvalorizarem e banalizarem. O que tem isto a ver com o futebol e, concretamente, com o clássico – pouco clássico – do último domingo? Simples: Jorge Jesus está agora a pagar (e parece cada vez mais certo que o fará com juros elevados) a fatura tresloucada dos encómios superlativos que, por causa de uma época meritória e categórica como o Benfica há muito não vivia, foram depositando na sua conta. Sempre que o faziam, subiam a fasquia. A cada nova palmada nas costas, o técnico – um respeitável “self made man”, que subiu a pulso e chegou onde merecia – era empurrado para maiores responsabilidades. Embevecido, a vingar os anos de penumbra, deixava-se empurrar e discursava em conformidade com o que nele queriam ver. Agora, com a humilhação de domingo (que vale tanto pelo resultado como pela exibição, ou falta dela), Jesus é despojado dos Superlativos e atirado para o odioso terreno dos Comparativos. Eis a imagem perfeita do futebol contemporâneo, célere a criar ídolos, veloz a destruí-los.

Começam as exigências de “serviços mínimos”. Revelam-se azias, até agora insuspeitas, no balneário. Contestam-se as escolhas, nem por isso diferentes de outras ocasiões críticas (Liverpool, claro). Ridicularizam-se as palavras. Ora, o que se passou no Dragão é, afinal, muito simples e ultrapassa as colocações suicidas de David Luiz e Fábio Coentrão ou as exclusões de Saviola e Airton: o campeão entrou a jogar exclusivamente em função do adversário. Tanto assim que se contam pelos dedos de uma só mão (não é ironia…) os remates que fez. Ao proceder desta forma, ressuscitou o fantasma que viveu instalado por mais de uma década para os lados da Luz – chama-se FC Porto. Quantas vezes se viu o Benfica entrar já em perda psicológica (leia-se “medo”) para os jogos com o rival do Norte? E quantos anos foram precisos para que esse complexo se desvanecesse? Agora, nem era preciso dar mais esse trunfo a uma equipa que se mostrava poderosa e compacta. Mas o Benfica ainda ofereceu mais essa vantagem de mão dada. Falta apurar se voltou à estaca zero e à tremideira.

Daqui em diante, pede-se mais trabalho e menos garganta. Mesmo sem título, ainda há muita margem para minorar os estragos.
Já agora, superlativo no domingo, só mesmo o FC Porto. E André Villas-Boas.

NOTA – Rogério Alves praticou, fora de horas, um dos seus desportos favoritos: a verborreia. Mas há quem não durma: nem Deus, nem Maniche, nem Targino"
João Gobern, in Record