Últimas indefectivações

quinta-feira, 2 de março de 2017

Não «inventem» benefícios para, depois, nos roubarem

"Não tenho outro pensamento que não seja o de, clima de união, irmos ao Marquês, em Maio, comemorar o 'tetra a 6'...

24 Fevereiro de 04
Na passada terça feira, dia 28... fizemos 113 anos... de paixão, de glória e de mística. Benfica, maior muito mais que Portugal!!!

Orgulho em Rui Vitória
Com este artigo escrito, não fiquei insensível à conferência de imprensa de Rui Vitória, após o jogo no Estoril, com o 2.º golo a ser obtido por Mitroglou, em hipotética posição irregular. Ao contrário de outros que se poderiam refugir no «ainda não vi as imagens», «parece-me no limite», ou qualquer coisa do género, como noutros lados, Rui Vitória afirmou o que... podia afirmar: que não o chocaria se o golo fosse anulado.
Apesar da dificuldade e do ângulo de visão poder induzir o árbitro assistente em erro. Mas - e isso Rui Vitória não pode dizer, mas eu posso - não nos façam passar por anjinhos! Não nos ofereçam golos como o 2.º golo, no Estoril, validado pelo assistente Inácio Pereira - sim, o mesmo que não viu, ou não quis ver, o penálti flagrantíssimo sobre Carrillo em Setúbal - , porque não era importante para o desfecho da eliminatória. Eu não quero pensar nem admito que a validação daquele golo seria muito conveniente para qualquer máquina de branqueamento, para que fossemos beneficiados num momento do jogo em que a eliminatória poderia parecer resolvida, para dar argumentos a quem se tem esforçado para criar a ideia de que o Benfica é o beneficiado!
Poderemos sempre perguntar-nos sobre qual seria a decisão de Inácio Pereira sobre este mesmo lance do 2.º golo do Benfica, no Estoril, se ele tivesse ocorrido em Setúbal, há uns dias apenas. Porque, ao contrário do momento em que decidiu mal este (irrelevante) a nosso favor, no Estoril, decidiu muito mal o tal lance (esse sim, relevantíssimo), aí contra nós, em Setúbal. Eu sei, como demonstrou Rui Vitória, que somos diferentes, mas... ser bom não é ser parvo!
Nem aceitar que voltem às espertezas saloias do tempo do Apito Dourado!!! Atenção redobrada, pois então, para Vila da Feira!!!


A reunião que pode mudar tudo (ou não)
Segunda-feira (e não terça, como por brincadeira foi anunciado) o Presidente do Benfica - e só o Presidente do Benfica - reuniu, como antes solicitara, com os membros do Conselho de Arbitragem da FPF (Secção Profissional). Nesse encontro, como se pode depreender do comunicado a que, entretanto, foi dada publicidade (excelente comunicado, excelente mesmo, refira-se), o Benfica deu voz ao que todos pensamos, mas que custou a obter vencimento como posição oficial.
É que, no faroeste dos futebóis lusitanos desta época - passada a aventura quixotesca verde e branca (como o Presidente deles gosta de se auto designar) do ano passado - contra malta da corda, com uma folha de serviços carregadinha de entradas na Wikipédia quando digitamos «Apito Dourado», não basta pregar a boa nova e oferecer a outra face! Não, não basta, antes pelo contrário!
E o Presidente do Benfica percebeu o que pensamos, viu o que vimos, entendeu o que queremos!
O que vêem, o que pensam e o que querem os sócios, os adeptos, os simpatizantes do Benfica! Percebeu (há muito, digo eu) que se impunha um murro na mesa!
Um murro contra a possibilidade de se poder repetir, nesta época, o modelo de isenção de arbitragens que... tantos títulos nos tiraram, há uns anos!
Nesse comunicado, o Benfica denunciou e muito bem - passamos a citar... «o ambiente de coacção e condicionamento que tem sido gerado sobre a arbitragem por parte de outros clubes e que se agravou a partir do momento em que se assistiu à invasão do Centro de Treinos do Polo Profissional dos Árbitros na cidade da Maia por parte de elementos afectos à claque do FCP». Pois, na verdade (já aqui o referi), esse foi o momento de viragem no actual campeonato!
E nem sequer precisamos de aqui invocar um texto que circula nas redes sociais sobre as verdadeiras ameaças à integridade física e à liberdade, não dos árbitros, mas dos seus familiares! Da mulher que é avisada no trabalho, dos filhos que recebem ameaças, dos irmãos, dos pais nos locais de trabalho, onde se encontram com amigos... em todo o lado onde possam ser encontrados por quem - publicamente, para que saibam quem foi - os ameaça!!! Pois o Benfica questionou o Conselho de Arbitragem (e passo a citar, de novo, o referido comunicado) «sobre as medidas que este adoptou face às ameaças expressas à integridade física de árbitros e seus familiares e declarações públicas de principais responsáveis desses clubes, que punham em causa directamente a honorabilidade e segurança dos responsáveis do sector e equipas de arbitragens».
Mas como garantir a não existência de ameaças se elas são públicas e nada acontece? O que aconselharia o bom senso? Nomear árbitros de Conselho de Arbitragem mais distantes dos locais onde é mais fácil concretizar tais ameaças ou demonstrar a possível violência sobre quem se sente fragilizado por ver nessa situação a mulher, os filhos, os pais, os irmãos! O que fez o Conselho de Arbitragem?
Nomeou árbitros ali da zona!
O que aconteceu? Beneficiados sempre os mesmos! Desde que (e volto a repetir essa parte do comunicado do Benfica)... «se assistiu à invasão do Centro de Treinos do Polo Profissional dos Árbitros na cidade da Maia por parte de elementos afectos à claque do FCP».
Porque tememos e lamentamos (e volto, a citar) «que a ausência de sanções no âmbito disciplinar verdadeiramente punitivas daquelas situações crie um clima de impunidade que acentua a necessidade de serem tomadas medidas urgentes em nome da credibilidade das competições e devida protecção das equipas de arbitragem».
O problema é que essa impunidade, essa sensação do que tudo pode ser feito... desde que seja para evitar o nosso treta... está lançada aos quatro ventos! O que eles querem é evitar o nosso 36!
Ora, os beneficiados do costume (ou, como se costuma dizer, em conversa de rua, os «suspeitos do costume») têm como padrão de imparcialidade as arbitragens dos tempos do Apito Dourado!
Por isso, tudo, para eles, que não seja ganhar assim... sabe-lhes a pouco (como diria Sérgio Godinho). E, neste particular, o clube anti Benfica do Porto tem o apoio quase generalizado do clube anti Benfica de Lisboa! Porque eles, todos eles, só não querem o que nós queremos: que o Benfica ganhe!
A partir de agora, como o ano passado, teremos 11 finais, que teremos que ganhar aos nossos adversários! Mas também ao medo. Com arbitragens distantes do tempo do Apito Dourado onde valia tudo, porque o tempo de nos terem roubado no campo e darem entrevistas a explicar o inexplicável já lá vai! Mas com medo! Medo que, na hora de cada dúvida, transformará cada decisão nessas circunstâncias, connosco, a favor dos outros, e cada decisão, também com essas mesmas dúvidas, sempre favorável aos nossos perseguidores directos! Medo de todos sobre o que lhes poderá acontecer se nós ganharmos!
Mas, ainda assim, vamos ganhar! Talvez jogando duas vezes mais, como alguém prometeu para sempre, quando cá chegou, e, dos 6 anos que por cá andou, só cumpriu no primeiro!
Mas, ainda assim, vamos ganhar! Porque a inveja deles não ganha jogos. Só com ajudas do tipo Apito Dourada!!!"

Rui Gomes da Silva, in A Bola

Animais com clubes ou vice-versa

"Muitos clubes estão associados a animais. Como símbolo ou alcunha. Não me refiro às pessoas, que também são animais. Mas a outros mamíferos e a aves. O Benfica optou pelo vôo da imperial águia, o Sporting pelo rugido do leão, à cautela enjaulado, o Porto reabilitou a figura mitológica do dragão, com mais ou menos fogo. Já o Boavista tem a pantera no xadrez e o Paços de Ferreira escolheu a mascote do simpático castor. Há o galo do Gil Vicente. E ainda os leõezinhos da Madeira (Marítimo). Pouca mais bicharada há por cá. Desta, evidentemente.
Em Espanha há os leões de San Mamés (Atl. Bilbau) e os periquitos do Espanhol. Por falar em aves temos, na Inglaterra, os canários do Norwich (e, como alcunha, por cá, os canarinhos do Estoril), bem como o urubu do Flamengo e o gavião do Norte no UT Cajamarca do Peru. Em Sunderland há um relativo paradoxo: o Estádio é da Luz (light) e o bicho é o gato-preto! Conhecidos são também os lobos do Wolfsburg, as raposas do Leicester e o touro do Torino. Peixe é que rareia. Mas assim é conhecido o Santos do Brasil. Aliás, no Brasil, a associação com animais é bem mais pródiga. Há o gavião (da chapada), elefante, camaleão, papagaio, zebra, morcego, tartaruga, raposa, coelho, tubarão, urso, coruja, crocodilo, arara, cascavel, rato, pica-pau, esquilo, tigre, cobra, camaleão, tucano, serpente, lagarto, cavalo. E ainda, estrela-do-mar, unicórnio, formiga, caranguejo e muitos mais: Um verdadeiro zoo!
Quanto a ciclóstomos, não conheço qualquer ligação a lampreias. E sobre batráquios, há silêncio: ninguém confessa engolir sapos."

Bagão Félix, in A Bola

SOS pelo título!

"Também no Benfica, mas, gritantemente, no FC Porto: 4 épocas a fio em jejum seria dantesco! Agora, ou... tendo de vender anéis (urgentes €120 milhões!), como será campeão?

, no renhidíssimo sprint que Benfica e FC Porto travam apenas entre eles, condimentos entre eles, condimentos muitíssimo especiais. Sim, não se limitam à sempre tão ambicionada conquista do próximo título nacional de futebol. Esta é uma temporada potencialmente crucial na definição dos caminhos para o futuro imediato!
SOS por este título! Nenhum deles o diz, mas trata-se de gritante SOS!
Para o FC Porto, a possibilidade de quatro épocas consecutivas em absoluto/terrível jejum de troféus torna-se dantesca! E com tenebrosa consequência financeira, antecedendo a desportiva! A SAD portista partiu para esta temporada já encostada à parede pela UEFA, que lhe deu mais um ano de prazo para cumprir o dito fair-play exigido nas contas. A SAD portista acaba de reconhecer novo prejuízo: €29,5 milhões do último semestre contabilizado. Porque, mau grado a pressão da UEFA, não quis - em boa parte também não conseguiu... - trespassar direitos desportivos de jogadores importantes (aí plenamente assumiu tudo por tudo por reconquistar êxitos que lhe escaparam nos anteriores 3 anos). Pelo contrário, investimento de €43 milhões...: 20 por 85% dos direitos sobre Óliver, 6 por Depoitre (90%), 13 repartidos por Alex Telles e Boly, 2,25 por mais 20% dos direitos sobre Otávio (passaram a 52,5%) e ainda 2 por Omar Govea. Aquisição de Soares, acima de 4 milhões, entrará no próximo semestre.
Acontece que a SAD portista não tem mais escapatória: no final desta temporada, terá de perder futebolistas que lhe rendam cerca de €120 milhões! Ou seja, terão de ir-se os mais valiosos anéis. Vide André Silva, Brahimi, Danilo, Alex Telles, quiça Felipe ou Marcano, ou curta passagem de Soares pelo Dragão.
O título nacional agora em efervescente disputa também vale pela valorização de jogadores. E mais, bem mais: se o FC Porto não for campeão nesta época, como poderá sê-lo na próxima com tamanha razia de firmes valores no plantel?!
Em SOS pelo título (embora menos premente) também está o Benfica. Porque conquistar o tetra, inédito no seu brilhante historial, sedimentando-lhe hegemonia, será duríssimo golpe nos grandes rivais. E também - não pouco!... - porque, já tendo partido Gonçalo Guedes, na próxima temporada deverão seguir-se as actuais mais brilhantes estrelas (até pela juventude e consequente alta margem de progressão): Ederson, Nélson Semedo, Lindelof... - enorme rombo à vista.
Evidente: este campeonato, ao rubro no topo, vale bem mais do que o seu título; vale futuro próximo mais risonho ou mais negro.

Sporting teve de trocar época de máxima ambição no futebol, transfigurada em catadupa de rotundos fiascos, por discussão eleitoral, quiça pouco proveitosa. Dois candidatos e, entre eles, José Maria Ricciardi, o omnipresente... - a quem, digo eu, há muito falta... candidatar-se.
Clara ideia de que Bruno de Carvalho continuará presidente. Por os seus méritos (evitou bancarrota, soube escolher líderes técnicos no futebol - de Leonardo Jardim a Jorge Jesus, passando por Marco Silva, a quem tanto destratou! -, vai inaugurar o pavilhão desportivo que o Sporting, direi que vergonhosamente, há largos anos não tinha) se sobreporem aos seus erros: irritação permanente, guerras espoletadas contra todo o mundo - e, naturalmente, perdidas (não sei se irá aprender...). Bruno de Carvalho favorito também porque Pedro Madeira Rodrigues terá acordado tarde em matéria de convincente firmeza - e os últimos trunfos que lançou, Boloni e Juande Ramos, não são decisivamente estimulantes.
O grande, enorme!, problema de Bruno de Carvalho, eventual vencedor, estará na próxima temporada de futebol. Após 4 anos a exigir títulos - o melhor que conseguiu, Taça de Portugal, teve batuta de Marco Silva, o injustadíssimo -, ou vai... ou rachará. É dos livros..."

Santos Neves, in A Bola

A brutal guerra contra os árbitros

"Há uma pergunta tão essencial quanto urgente a fazer: quando vai parar esta brutal guerra contra os árbitros?
A resposta é mais fácil do que a maioria possa pensar: se nos reportarmos a esta época, só vai parar depois de estar definido o próximo campeão nacional de futebol.
Não receamos falhar. Toda esta guerra louca contra os árbitros só vai mesmo parar quando não houver mais nada a decidir. E não me venham, por favor, com a treta da mudança de mentalidades. Há coisas que no futebol português nunca mudam, porque os clubes não querem que mudem.
Haverá quem lembre que a Liga tem responsabilidades. Tem, sim, mas a Liga não é um organismo que tutela os clubes; os clubes é que tutelam a Liga. Os clubes é que mandam no futebol português e nada muda, especialmente em matéria de arbitragem, porque, pura e simplesmente, os clubes, não querem.
Por isso, esta estúpida guerra contra os árbitros não é mais do que a extensão da guerra de poder entre os clubes. E qual é, neste momento, a batalha maior? Um título de campeão que está a ser discutido por dois clubes, separados, apenas, por um ponto.
A estratégia de ataque aos árbitros para tentar benefícios ilegítimos começou há muito tempo. Passa por uma pressão intolerável e por acções de condicionamento óbvias, mas que passam nas malhas disciplinares de pessoas e instituições sem poder nem autonomia; passa, também, por uma política de comunicação que desgraçadamente se alastrou a comentadores; e passa por esta gritaria que leva a um caos conveniente. E nada mudará."

Vítor Serpa, in A Bola

PS: Aqui está um excelente exemplo da cobardia cúmplice do descomunicação social desportiva portuguesa! Excelente diagnóstico, mas sem nunca chamar os bois pelos nomes!!! Medo, muito medo... O que esta gente não percebe, é que ao esquecerem-se das suas responsabilidades deontológicas, passam de facto, a fazer parte da Máfia que tudo contamina!!! Ao omitirem os responsáveis, estão a meter todos no mesmo saco: os criminosos e as vitimas...
Aliás, ainda esta semana, o propagandista da Máfia, acusou o Benfica de coagir os árbitros, por ter simplesmente, denunciado a coacção...!!!!

Lanças... frases!

105x68... Carnaval!

O triunfo dos Porcos, versão 33766 !!!


O objectivo destas acções criminosas não se restringe somente ao árbitro em causa e à sua família!
O facto dos mafiosos deixarem a assinatura nas paredes (ou aos microfones...) tem como objectivo intimidar, amedrontar, coagir todos os árbitros e as suas respectivas famílias... a forma como tudo isto é feito sem consequências, transmite a ideia de impunidade, dá-lhes inclusive um manto de omnipresença, é uma forma de 'insinuar' poder total, mais até daquele que verdadeiramente têm...
O facto da autoridades policiais, judiciais e políticas (até eclesiásticas... como o Padre que foi ao Prolongamento a semana passada...!!!) normalmente desvalorizarem este tipo de acções, dá-lhes força e inclusive 'respeitabilidade' social nos seus meios...
E como os avençados nos pasquins têm a lição bem estudada, em vez de condenarem sem reservas, em vez de identificar os autores e separar as águas, metem todos no mesmo saco... comparando o incomparável, dando-lhe o incentivo final para continuarem...
E se no futuro próximo, existir mesmo uma investigação, a 'sério', da Judiciária e do MP (como a entrevista do Vieira deu a entender...), quando a acusação for anunciada, já o Campeonato terminou!!!

Benfiquismo (CCCXCIV)

Benfica no feminino...!!!

Em maiúsculas e por extenso!!! E pontos de exclamação!!!

"Dez anos de passaram sobre a morte de Bento, o homem da coragem lendária. Figura quixotesca de bigode descaído, de cabelo longo e mãos enormes que não pareciam ser dele.

Bento já morreu há dez anos. Manuel Galrinho Bento. Parece que, quando a mulher de Nelson Rodrigues o avisou da morte súbita do romancista Guimarães Rosa, o cronista exclamou confuso: 'Mas morreu como, se estava vivo?'
É a única coisa requerida para quem tem de morrer. E somos todos.
Bento estava vivo. Vivissimo. Dificilmente alguém poderia estar tão vivo em campo, tão atento, tão seguro de si próprio. Era o exemplo acabado da coragem. Não se incomodava com a sua estatura meã, um metro e setenta e quatro centímetros, assim por extenso, toda a sua carreira foi por extenso. Barreirense, Benfica, Selecção Nacional. Lembrei-me, de repente, de um jogo de Portugal na Escócia. Os minutos passavam devagar, tão devagar. Para os portugueses, esclareça-se. Para os escoceses, os minutos pareciam que voavam. Duas concepções antagónicas do tempo. Os minutos de Bento, nesse jogo, foram infinitos. Não tinha mãos a medir. As bolas vinham e iam e continuavam a vir. E ele às vezes querendo-as, recebendo-as nos braços, afagando-as, acarinhando-as com as mãos, ás vezes desprezando-as, socando-as para longe como se fosse movido pelo ódio, empurrando-as para fora das linhas, e logo esperando por elas outra e outra vez. Lembro-me de Estugarda. O meu amigo, irmão, José Vidal estava lá como fotógrafo, atrás da baliza portuguesa. Gritava: 'Aguenta, Manel!' E o Bento cansado, aflito, sujeito às cargas de infantaria dos alemães, que digo eu?, cargas de cavalaria, cargas de tanques com lagartas, uma onda germânica invadindo tudo, camisolas brancas multiplicadas até ao infinito. 'Aguenta, Manuel!' O Bento respondia, por cima do ombro, impedido de estar desatento por um micronésimo de segundo que fosse: 'Já não posso mais...' Mas podia. Podia tudo. Portugal ganhou, Carlos Manuel fez um golo irrepetível, e o Bento desmanchava em defesas sublimes o seu corpo pequeno de homem da Golegã, terra ribatejana onde mandam os cavalos.
Bento devia escrever-se com maiúsculas: BENTO! E levar um ponto de exclamação no fim.
Não houve outro igual a ele e, no entanto, tantos foram enormes na baliza do Benfica.
Havia nele a figura quixotesca do bigode descaído, do cabelo longo, das mãos enormes que não pareciam ser dele, talvez algum deus do futebol lhas emprestasse no início de cada jogo.
Um golo único!
Lembro-me de Bento tantas vezes, que me lembro de o ver marcar um golo, e não foi o do penalty em Moscovo, contra o Torpedo, quando se tornou o capitão da neve, o homem que repelia os frios que vinham das estepes e o frio que fica por dentro sempre que um guarda-redes se estaca no momento do penalty. Bento sem angústia, esse. Bola certeira, Benfica apurado.
Mas eu falo de outro golo, era miúdo no Campo Dom Manuel de Melo, no Barreiro - sempre achei graça ao facto de um clube operário como o Barreirense ter um campo com Dom no nome. Foi contra a Académica, e ao Melo, salvo todos os erros de uma memória antiga. Bento chutou de lá da sua baliza, lá da sua grande área, a bola veio voando, voando, levada pelo vento ou por alguma ave matreira, brincalhona, depois caindo, caindo, caindo, dentro da baliza dos estudantes vestidos de negro como corvos. Até aí, Benfica foi único. Único golo. Golo único!
Lembro-me de Bento entre a alegria e a tristeza. Chovendo na Luz em noite de trovões, relâmpagos vermelhos de um Liverpool impressionante. E, mais tarde, contra o Liverpool ainda: a bola passando-lhe por debaixo das pernas, Rush e Dalglish de braços no ar, ele incrédulo de braços ao longo do corpo, a água caía do céu e tornava-lhe a figura ainda mais inconfundível, os bigodes molhados, o cabelo escorrendo água, as mãos enormes que pareciam não saber o que fazer no prolongamento do fracasso.
E a coragem? A lendária coragem de Bento!
Ele que vinha lá do Barreiro na camioneta de vender o peixe, passando aqui e ali para dar boleia aos colegas, logo mal o sol deitava para fora da noite as antenas de luz.
Uma vez, em Famalicão, voou para os pés de Reinaldo, que depois seria seu colega no Benfica. Reinaldo era grande, negro e luzidio, a cabeça de Bento não fugiu da sua bota, dos pitons que arrastaram pela testa, abrindo um sulco enorme de sangue e pele. Nessa semana, Bento levou tantos pontos, que, sozinho, liderava o campeonato. Seria campeão. Foi sempre um campeão, até nas derrotas, até no maldito dia em que partiu uma perna nos buracos de um relvado infame no interior do México em 1986.
Um metro de setenta e quatro centímetros de tamanho. Isso por fora. Por dentro, o Benfica era enorme. Quase infinito. Do tamanho do coração que o atraiçoou aos 58 anos, 1 de Março, decorrem agora dez anos certos.
Bento não agarrou a morte de frente como um pegador de touros lá da sua Golegã. Recebeu-a de peito aberto. O peito onde o coração deixou de bater."

Afonso de Melo, in O Benfica

Sportswomem num mundo de sportsmen

"Nos anos 20, a capital portuguesa ficou rendida a duas jovens atletas benfiquistas.

Félix Bermudes aproximou-se das suas duas filhas, Cesina e Clara Bermudes, as únicas participantes femininas em 93 concorrentes da primeira edição da Volta a Lisboa em bicicleta, prova organizada pelo periódico O Sport Lisboa, do qual era director. Estava quase a soar a partida, e era necessário colocar-lhes os números respectivos.
Nessa manhã de 12 de Outubro de 1924, ainda muito antes do início da prova, o Largo de Xabregas 'estava repleto de corredores e de povo que vinha curiosamente assistir à largada dos concorrentes'. A primeira categoria a partir foi a de 'Senhoras', às 10h05m, e as duas meninas iniciaram o percurso 'sob uma estrondosa salva de palmas do público entusiasmado pela sua gentilesa e decisão'.  Cesina Bermudes avança, mas Clara, a sua irmã mais nova, sofre uma aparatosa queda ao cabo de 400 metros, em consequência do mau estado do terreno. Apesar de magoada e prejudicada pelo atraso da recuperação da sua bicicleta, voltou a subir corajosamente e suscitou a 'admiração de todos, a energia com que venceu montada as enormes ladeiras do percurso, que muitos outros concorrentes se viram forçados a fazer a pé'.
Por seu lado, Cesina Bermudes teve uma acesa luta com um concorrente da categoria de 'Crianças', ao longo do percurso, apesar de não competirem no mesmo escalão. Nas descidas, o rapaz lançava-se em frente sem receio, distanciando-se da sua adversária, mas nas subidas Cesina 'ganhava o tempo perdido e passava-lhe à frente em virtude das suas excepcionais faculdades de fôlego e resistência'. Cesina Bermudes cumpriu os 30 200 metros sem nunca descer da sua bicicleta e conquistou a admiração do público e a vitória na sua categoria, com o magnífico tempo de 1 hora e 39 minutos.
Numa época em que havia a necessidade de alertar ao 'bom povo de Lisboa que defenda as senhoras que tomam parte da prova', estas jovens provaram serem duas 'distintas sportswomen, já notáveis em vários ramos do desporto' e que o desporto não era exclusivo da esfera masculina.
Pode conhecer mais sobre outras atletas benfiquistas que deixaram a sua marca na história do desporto na área 2 - Jóias do ecletismo do Museu Benfica - Cosme Damião."

Lídia Jorge, in O Benfica

F(r)acções

"Pode-se fraccionar um todo. Há quem se divirta com isso. É como ter uma vaca e dizer que só tem lombo e que, desde cachaço a rabo mais nada há.
Diz a aritmética que uma fracção de 1 é inferior a 1 e que, estatisticamente, uma série longa pode dividir-se em percentis, decis ou quartis, assim se podendo escolher a amostra mais sedutora e conveniente 'ao momento' e 'à medida'.
No futebol, é habitual 'salamizar' o todo, em função de critérios clubísticos sobretudo o de ser 'primeiro'.
Acontece que a vida (de uma clube) é isso mesmo: uma vida. Qualquer partição do todo é discricionária, subjectiva e parcelar. De ora em vez, surge a do fraccionamento político: o Benfica, melhor no tempo do Estado Novo e o Porto, melhor no tempo da democracia. E, já agora, nos anos do PREC?
É como dizer dizer que o Real Madrid, em Espanha, e a Juventus (e Bolonha!), em Itália, eram os clubes do regime fascista. Valha-nos Deus!
Foi o Estado Novo que gerou Eusébio, Coluna, Simões, José Augusto e tantos outros jogadores? Foi o Estado Novo que permitiu ao Benfica ganhar 2 títulos europeus e chegar a mais 3 finais (e 5 em democracia)? E será que os últimos 3 campeonatos ganhos pelo Benfica valem menos para análise (democrática) por causa da 'troika'?
Não, o Benfica não é, nem foi o clube de qualquer regime. É afrontoso insinuar-se tal. Simplesmente é o maior clube, o mais popular, o mais vencedor (35 campeonatos e 25 Taças).
O Porto teve fases de hegemonia, mas não deixa de ser o segundo clube, ainda que à frente em títulos internacionais. Tudo o resto é fantasia fraccionada e mais ou menos dourada, mesmo com uma data virtual do parto do clube."

Bagão Félix, in A Bola

Vieira na CMTV