Últimas indefectivações

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Cadomblé do Vata (#VataChallenge)

"Motivado pelas respostas portistas aos dois últimos textos aqui publicados, que na generalidade versaram em redor de singelos "vocês estão é habituados a serem beneficiados contra o FC Porto" sem que os exemplos nos Clássicos tenham aparecido (ou eu muito metodicamente não os tenha visto), decidi-me a dar uma oportunidade à falange azul esverdeada de darem largas ao seu protesto numa página Benfiquista.
Assim, e apenas numa dinâmica de interacção histórico-clubistica, sem qualquer propósito chorão, vou nomear 10 momentos em que o SLB foi absurdamente prejudicado num Clássico e aguardo que me demonstrem 10 momentos em que o FCP foi absurdamente prejudicado contra o SLB. Aqui, a palavra "absurdamente" é de máxima importância. Não quero aquele amarelo por uma falta a meio campo que ficou por mostrar, o penalty duvidoso que na sua essência duvidosa o árbitro não assinalou ou o Calabote, a menos que tenham estado presentes num dos jogos dessa tarde. Como bónus, podem utilizar o fora de jogo do ano passado 3 vezes ou em última análise, todas as que acharem necessárias para atingir os 10 momentos. Começo eu, então, sem sequer considerar o jogo de Braga:
1. Época 90/91, jogo do título nas Antas. O balneário do SLB está sem condições de utilização. A FPF, como mandam as regras, diz aos jogadores do Glorioso que se desenrasquem e que não se atrasem, porque já nessa altura, entrar em campo atrasado era feio. Equiparam-se nos corredores e deram 2 secos. Atenção que foi em 90/91 do séc XX, não foi em 90/91 do séc. XVIII.
2. Época 91/92, jogo do título na Luz. Na segunda parte, Fortunato Azevedo que na 1ª volta tinha tido o desplante de mostrar o 2º amarelo ao Kostadinov nas Antas por marcar um golo com a mão, marca penalty por falta de Rui Bento sobre o malogrado Rui Filipe e expulsa o Pequeno Baresi. Acontece que a infracção foi cometida tão longe da área, que o médio portista teve de atravessar a Ponte 25 de Abril para poder cair junto do Neno. Ganha o FC Porto 2-3 e é campeão.
3. Época 93/94 primeira jornada do campeonato nas Antas. A meio da segunda parte o SLB vai vencendo 2-3. Num lance na área do SLB, Domingos ou Kostadinov, um desses mergulhadores, chuta no calcanhar de Mozer que protege a bola. O árbitro marca falta... para penalty. Paulo Pereira converte o 3-3 final e nos festejos provoca João Pinto. Como castigo, assina na época seguinte pelo SLB do Artur Jorge para aprender a não ser parvo.
4. Época 94/95 2ª mão da Supertaça nas Antas. Nos descontos Baía defende com toda a normalidade do Mundo, fora da área com as mãos, Amaral chuta na recarga e José Carlos marca o auto golo que dá o troféu ao SLB. Donato Ramos anula o auto golo por fora de jogo, numa decisão que inacreditavelmente não faz jurisprudência na modalidade e deixa o FCP recomeçar o jogo com 6 jogadores do SLB a festejar junto à bancada. Após o nulo, o FCP ganha a Supertaça na finalissima em Paris por 1-0.
5. Época 97/98, no famoso jogo em que JVP é expulso com um maxilar partido por um Paulinho Santos que jura a pés juntos (como era costume nele) nada ter feito, ao mesmo tempo que a TVI mostra o capitão do SLB a enfiar uma maxilarada no cotovelo do anjo azul. Na segunda parte, Kandaurov em estreia, juntamente com Poborsky, domina a bola com a barriga na área de Rui Correia e faz o 1-1, que António Costa anula por anomalia anatómica... o ucraniano tinha o braço onde o resto da Humanidade tem o abdómen. Perdemos 2-0.
6. Época 03/04 na alvorada do campeonato, o SLB desloca-se à cidade Invicta e sai do jogo com 10 jogadores. Ricardo Rocha foi expulso por, debaixo do nariz do fiscal de linha, se ter aproximado de Deco mais do que a lei permitia na altura... 2 a 3 metros. Levamos 2 a zero e não estrebuchamos mais.
7. Época 04/05, início da temporada de Clássicos na Catedral. Com 0-1 no marcador, Petit chuta de onde nunca ninguém havia tentado antes. Baía deixa escapar a bola para dentro da baliza... tão dentro que dá uma chapada no esférico para a puxar para fora e ela ainda vai ao poste. Olegário Benquerença diz que até à rede é campo e manda seguir. Vitor Baía teve o perdão Glorioso na temporada seguinte. Foi uma das 7 derrotas da época de regresso aos títulos de campeão.
8. Época 08/09, vamos ao Dragão com hipótese de passar para primeiro, que poderia ter acontecido, não se desse o caso de Lisandro López ter tropeçado na movimentação de ar originada pela movimentação à distância de Yebda. Quem estava bem perto do argentino era Pedro Proença, que não só marcou penalty, como ainda hoje acho que foi ele que o cometeu. Ficou tudo empatado a 1 e nunca mais nos recompusemos.
9. Época 10/11, 2ª mão da meia final da Taça de Portugal. Com SLB em vantagem de 2-1 na eliminatória, o jogo entra para a segunda metade da segunda parte, quando Hulk sozinho na área, recebe um cruzamento da esquerda e empata tudo. Estava fora de jogo há 10 minutos mas ninguém pareceu reparar nisso, até porque o rapaz era tão desnutrido fisicamente que facilmente passava despercebido. Fomos de vela com 1-3 a anular o 0-2 do Dragão.
10. Época 11/12, segunda volta do campeonato, com Clássico na Luz a ser resolvido nos últimos minutos na mesma baliza do topo norte, onde a visibilidade parece ser fraca para o fiscal de linha, por Maicon em fora de jogo, fora do campo, fora de Lisboa e até fora do país, a corresponder de cabeça a um livre lateral com a defesa do Benfica toda alinhada. Com o 2-3 despedimos-nos da temporada."


PS: Reconheço mérito ao Mão de Vata pela lista bem conseguida, mas escolher os 10 maiores roubos com os Corruptos seria sempre muito complicado, pois ficariam sempre de fora, muitos outros jogos!!!
Só um exemplo: um jogo no Antro Corrupto, não me recordo da época, com 0-1 para o Benfica ao intervalo, (creio que o Jorge Costa foi expulso por agressão ao Simão!!!) onde o apitador Rui Costa na 2.ª parte salvou a sua vida, expulsando o Miguel e o Argel, facilitando a reviravolta... com um dos golos dos Corruptos, a ser marcado numa falta, marcada 10 metros ao lado do local exacto... e onde, uma intercepção do Petit, que não tinha qualquer jogador adversário num raio de 5 metros, foi considerada falta!!!!!

Incompetência ou caso de polícia?

"Admito que seja difícil arbitrar um jogo de futebol entre equipas maiores do futebol português. Especialmente se for um jogo altamente competitivo e de grande intensidade como o último Benfica - FC Porto. Porém, o que seria uma missão difícil torna-se uma missão impossível se o árbitro, ou os árbitros, se incluirmos o juiz do vídeo, forem incompetentes. E esse será, na actualidade, um dos problemas graves do futebol português.
O presidente do Benfica fala em árbitros condicionados e em famílias de árbitros ameaçadas. Seria bom que concretizadas e não se limitasse a deixar uma suspeição no ar. Tal como sereia saudável que o Conselho de Arbitragem, através do seu presidente, viesse dizer que não sabe nada sobre isso ou sabe, mas que se trata de matérias sob investigação da polícia.
Pode ser que mediocridade e a falta de coerência a que se tem assistido na arbitragem nacional e que, por vezes, altera a verdade desportiva, se deva, afinal, a uma insuportável e até criminosa pressão sobre os árbitros. Não sabendo mais de quem parece saber tudo e pouco ou nada fazer, mantenho a ideia de que há uma situação vigente de ausência de qualidade na maioria dos árbitros que está a prejudicar o jogo, está a manipular resultados e está a matar o espectáculo.
É verdade que a cultura enganadora de muitos dos futebolistas obriga a erros involuntários; e é verdade que a cultura irracional de dirigentes, que querem ganhar de qualquer forma, cria um insustentável clima de intranquilidade. Porém, se houvesse uma competência reconhecida, haveria, também, o reconhecimento da autoridade que tem faltado aos árbitros."

Vítor Serpa, in A Bola

Um míope furtou o Benfica

"A primeira parte do clássico foi uma obra épica de elogio ao futebol de ataque, falhou a equipa de arbitragem, VAR incluído

A final da Taça da Liga irá jogar-se entre a melhor equipa portuguesa da actualidade e uma equipa média, desequilibrada, com valia que a coloca entre a terceira e a quarta equipa deste nosso pequeno rectângulo. O Sporting tem grandes jogadores poucos, e muitos pequenos jogadores sem nível nem classe para vestirem aquela honrosa camisola.
O Braga bem pode ser defendido de forma violenta e galharda pelo seu presidente, mas a verdade é que ainda não tem dimensão para estes grandes momentos. O presidente do Braga fala do 'poder do mais forte', mas o que se passou ontem, num jogo decidido nos penáltis, foi a demonstração do poder do menos fraco.
Na terça-feira tivemos a final antecipada desta Taça da Liga. A primeira parte foi uma obra épica de elogio ao futebol de ataque. Falhou um grande detalhe - a equipa de arbitragem, VAR incluído, falhou na avaliação do lance em que Rafa ficou isolado e deu o golo a Pizzi.
Esse golo, injustamente invalidado, daria o empate a dois, e transportaria o grande espectáculo para o segundo tempo. Com a anulação da jogada, o intervalo serviu para Sérgio Conceição acertar a equipa para estrangular a emoção e para o novo treinador do Benfica ir mais e mais, com ousadia, à procura do empate. Foi a ousadia de Lage que levou o Porto ao terceiro golo.
Centremo-nos então no lance que daria o empate a dois antes do intervalo. Na televisão que detém os direitos deste grande momento do futebol português, viu-se uma linha traçada nos pés do defesa do Porto e do avançado do Benfica. Mesmo aí, no máximo, os pés estão em linha. Mas o fora-de-jogo não se mede pelos pés. Mede-se por todas as partes do corpo que podem jogar a bola sem falta. Ou seja, todo o corpo serve para se medir o fora-de-jogo, à excepção dos braços. O defesa do Porto tem parte do tronco para lá (no sentido da sua baliza) da linha que iguala os seus pés com os do avançado do Benfica. O avançado do Benfica tem todo o corpo para trás da linha do seu pé.
Ouço e leio que o 'protocolo do VAR' dita que, em caso de dúvida, prevalece a decisão da equipa do relvado. Para lá de achar essa definição uma salomónica cobardia, incapaz de assumir a vantagem do revisionista digital, convém que assentemos num conceito: as leis do futebol dizem que, no fora-de-jogo, em caso de dúvida deve favorecer-se quem ataca. Ora, em caso de dúvida como inexplicavelmente se determinou no lance em apreço, caberia aos árbitros beneficiar a dúvida a favor do Benfica. Embora não haja dúvida nenhuma neste lance, a não ser a que recai sobre a boa fé de quem decidiu ao contrário da lei do futebol e dos interesses do espectáculo."


PS: O roubo foi tão grande, que até o Benfiquista Octávio Ribeiro não se conteve!!!
(sim, o director-geral da Cofina é Benfiquista, apesar de permitir que que a secção de desporto do seu Jornal faça o que faz ao Benfica diariamente...!!! É daqueles Benfiquistas que não deveriam existir...)

Penáltis: trabalho ou "lotaria"?

"Por demasiadas vezes na nossa sociedade, tendemos a confundir trabalho, persistência e talento (e a ordem apontada não é por acaso) com o factor ”sorte”. Por demasiadas vezes, ouvimos dizer da sorte que “A”, “B” ou “C” tiveram no emprego que conseguiram ou na promoção que alcançaram... ou se gaba o carro e a casa que têm.
Por demasiadas vezes porque, ingloriamente e de forma descontextualizada, conotamos profissionais dedicados com outros que, por vezes, de facto têm sorte.
O futebol não foge a este fenómeno – e, ontem, Marafona e Renan, também não.
Fora todas as polémicas levantadas pelo jogo e centrando-nos apenas no “mata-mata” dos penáltis, atribuir “sorte” ao facto de dois enormes guarda-redes terem evidenciado um rendimento claramente acima da média é, no mínimo, desconhecimento, ignorância ou desrespeito intencional – quem sabe, por se ter muita dificuldade em lidar com a competência que o outro acaba de evidenciar e, por isso, tendermos a ter a necessidade de o “diminuir” um pouco para o nosso ego poder “suportar” este tipo de evidência.
Colocamos em causa o Atleta, o seu treinador de guarda-redes (que, por alguma razão, tem “sorte” nos treinos que escolhe para potenciar as suas qualidades), o treinador principal que, se calhar, por “intuição” calhou escolher o guarda-redes “a” em vez do “b” e todo o staff invisível que, diariamente, trabalha... para ter “sorte”.
Assim é no futebol, no desporto... e na Vida.

Futebol Moderno
mais de 20 anos, quando iniciei no futebol, havia já a necessidade identificada de treinar competências específicas em guarda-redes para situações únicas que, em boa verdade, em algumas competições pode determinar arrecadar milhões nos cofres dos clubes ou o título da competição em questão.
Por esta razão, obviamente que no futebol moderno esta é uma preocupação específica que é alvo de trabalho multidisciplinar, com o intuito de elevar as qualidades físicas, técnico-tácticas e psicoemocionais de quem remata e de quem defende... em contextos de extraordinária exigência emocional.
Lotaria sim... quando sem qualquer tipo de treino ou trabalho específico, se passa uma “espécie de pata de coelho” quando se entrega a bola ou a baliza a um atleta, sem ter tido qualquer tipo de preparação prévia para a elevação das suas competências, aumentando a probabilidade de sucesso na tarefa.
Sucesso é uma maratona e não uma prova de 100m e, seja em que área de performance for, resulta de trabalho árduo, persistência e, muito frequentemente, de elevados sacrifícios ao nível da vida pessoal e, por isto mesmo, é que nem todos o têm.
A “Sorte” que muitos desejam e ambicionam dá, de facto, muito trabalho.

P.S. Nota 10 para um enorme público que, numa situação de insucesso, soube posicionar-se do lado dos seus Atletas, do seu Treinador e do seu Clube... como todos o deveriam fazer."

Em nome da transparência

"Algo de muito grave se passa quando decisões incompreensíveis do VAR se tornam, infelizmente, o principal destaque de um jogo de futebol. Um instrumento que deveria ajudar a esclarecer e a tirar dúvidas, está, pela sua má utilização e por critérios que ninguém conseguiu até hoje entender, a transformar-se num enorme problema para as próprias equipas de arbitragem.
Em nome da transparência seria de toda a utilidade divulgar-se a gravação das conversas entre árbitro e vídeo-árbitro do último Benfica-FC Porto para se tentar compreender o que parece incompreensível:
* Por que razão existiu tamanha dualidade de critérios que levou a que só no lance do golo de Rafa o árbitro tenha ido visionar as imagens?
* Por que razão o vídeo-árbitro lhe disse que esse golo era irregular?
* Por que razão o mesmo vídeo-árbitro não viu as faltas nítidas de Óliver e Marega nos dois primeiros golos do FCP?
* Por que razão o árbitro não quis rever no monitor o segundo golo do Benfica, erradamente invalidado por um pretenso fora-de-jogo que as imagens provam não ter existido?
Torna-se imperioso, em nome da verdade desportiva, evitar um apagão sobre esta situação.
Em nome da mesma transparência, seria também importante que o Conselho de Arbitragem (CA) esclarecesse quantos erros do VAR foram até hoje detectados nos jogos do campeonato. E mais: que o CA os identificasse publicamente com explicação pedagógica. Pelo menos os 9 que foram assumidos até à 11.ª jornada.
Importa realçar que analistas insuspeitos, sem qualquer ligação ao Benfica, defendem que a vantagem do actual líder do campeonato deve-se a erros de arbitragem e, sobretudo, a erros do VAR difíceis de entender.
Ou seja, no Campeonato e na Taça da Liga, esses erros tiveram e continuam a ter interferência directa no desenrolar dos resultados e na verdade das competições, com a particularidade e a coincidência absurda de favorecerem sempre a mesma equipa.
Estranho fenómeno também se passa sobre um outro apagão, este sobre os processos que foram movidos na sequência das ameaças e tentativas de coação a árbitros e suas famílias. Como estão esses processos? A invasão da Maia e as queixas divulgadas pelos media desapareceram?

PS – Para além de todas as peripécias ocorridas nos últimos dias, em Braga, esta edição da Taça da Liga será ainda recordada pelo incumprimento regulamentar que deveria ter afastado – e não afastou – uma das equipas da Final Four. Não é admissível que uma ‘lesão criativa’ se sobreponha às regras que, à partida, todos deveriam estar obrigados a cumprir."

Benfiquismo (MLXXIV)

Grande Águas...

Lanças... Regresso ao passado...!!!

Propostas...

"Alguma coisa vai ter que mudar, certamente. Ainda há pouco vi mais um lance escandaloso a desmobilizar os festejos da equipa que tinha marcado um golo válido. O VAR só trouxe o aumento do arbítrio. Não trouxe mais rigor, nem transparência. A razão é simples: o VAR também é gerido pelo mesmo órgão, Conselho de Arbitragem, que designa os árbitros em função dos seus alinhamentos. Para não lhe chamar já outra coisa.
O poder do futebol não está no melhor treinador, na melhor equipa, na melhor organização. Está na arbitragem. Numa sociedade regrada poder é responsabilidade. Complementam-se. Daí que quando se assiste a um exercício de poder, parcial, persecutório, delitual, está aberto o canal para uma enxurrada de responsabilidade.
Defenderei, como sócio, que o Benfica, lesado por este poder degenerado da Arbitragem, pondere seriamente avançar com uma acção de responsabilidade civil contra o árbitro de ontem, mas não só. Também o presidente do Conselho de Arbitragem e os membros da Secção Profissional devem responder pelo estado deplorável a que chegou a arbitragem. Não se trata de discutir se o golo foi bem ou mal assinalado. Isso são outras questões técnicas. O que gostava de ver discutida é a intencionalidade do árbitro, a sua premeditação ostensiva, a sua privação quanto a critérios disciplinares.
E no rol de réus gostava de ver os referidos senhores dos gabinetes, para esclarecerem porque não exercem o poder disciplinador sobre um conjunto de apaniguados que infringem, sistematicamente, as regras em benefício do mesmo clube, que aparenta ter uma influência inquestionável no modo como o sistema de arbitragem serve os seus interesses.
A culminar, demandaria a própria Federação que permite, no seu seio, o funcionamento destes poderes contrários aos seus fins de utilidade pública desportiva. Diriam: o Benfica incorreria numa sanção por recorrer a tribunais estaduais para dirimir questões desportivas. A resposta é do foro constitucional: ninguém pode ser privado do acesso à justiça perante actividades delituosas. E é de delitos que estamos a falar. Continuados. Impunes. Poderiam retaliar com piores arbitragens, mas as más já temos garantidas. Quando o resultado das suas acções fosse sentido, com citações, horas de preparação de litígios, justificação de condutas, não apenas entre os pares, mas perante outros poderes imprevisíveis, talvez ponderassem em servir dignamente a arbitragem e o desporto. Sobretudo, quando isto se traduzisse em menos euros no bolso, talvez se lembrassem do código de ética e das leis do jogo.
Até lá olham para isso como a maioria de nós olha para o Código da Estrada."

Gamar !!!

"⌛ Quem se lembra daquele tempo em que um guarda-redes podia defender com as mãos fora da área, a jogada seguia e, mesmo se um defesa tivesse a infelicidade de meter a bola própria baliza, o golo era anulado por fora de jogo? Quem não viveu esses tempos pôde ontem experienciar o gamar azul de que os antigos se lembram.
🎥 Felizmente, nos dias de hoje, há mecanismos tecnológicos que garantem a verdade desportiva, e não é possível gamar escandalosamente como naquele tempo, verdade? Mentira.
⚽ PRIMEIRO GOLO DO FC PORTO
Manda o protocolo que o VAR analise toda a jogada de que resulta o golo para verificar se não houve nenhuma irregularidade. E havia: é uma falta sobre Gabriel que permite ao FCP roubar a bola. O VAR faz vista grossa e aceita o golo.
⚽ PRIMEIRO GOLO DO BENFICA
A jogada é limpa e parece limpa a toda a gente, inclusive ao trio de arbitragem e aos inquinados comentadores da realização televisiva. Menos ao VAR. O VAR da vista grossa do 1.º golo estava agora com excesso de zelo e dava indicação de que havia mão de Seferovic na recepção da bola. Xistra foi mesmo chamado a visionar as imagens, mas não teve coragem para anular um golo que era manifestamente limpo. Valeu mostrares ao que vinhas, VAR.
⚽ SEGUNDO GOLO DO FC PORTO
Marega, antes de aparecer solto para empurrar a bola para o fundo das redes, liberta-se da marcação de Grimaldo com um safanão que projecta o espanhol para fora da jogada. O VAR volta a activar o modo vista grossa e não quer saber da falta que permite o golo ilegal.
⚽ SEGUNDO GOLO DO BENFICA
Num contra-ataque rápido, Seferovic toca a bola para Rafa, que assiste Pizzi para o que seria o terceiro empate da partida. A jogada corre sem qualquer intervenção do trio de arbitragem. A dúvida está em saber se Rafa recebe a bola em posição legal ou não. O bandeirinha, em posição deficiente, deve ser a última pessoa com certezas sobre o lance. A realização televisiva apressa-se a traçar uma linha errónea (na imagem da capa desta edição) para dar a ideia à opinião pública de que há offside milimétrico, hipótese logo cavalgada pelos solícitos comentadores. Para os benfiquistas, claro, o lance é claramente legal, no máximo, Rafa está em linha, nunca fora de jogo. O VAR, com todos os recursos tecnológicos, deve tirar todas as dúvidas. Para um telespectador isento, basta observar a linha do corte da relva: o defensor portista está totalmente fora do corte de relva em que a bola se encontra, enquanto Rafa está ligeiramente mais para trás, com um pé ainda dentro da mesma zona. As imagens 3D (que não entram na análise) tiram qualquer dúvida, mas mesmo sem linhas imaginárias nem 3D é possível perceber que Rafa está em posição legal. O VAR assim não considera, e o golo é mal anulado. O árbitro nem foi chamado a ver as imagens. A única vez em que isso aconteceu foi para ajuizar o único lance que não teve dificuldades de análise (o golo de Rafa). Está tudo dito.
🚿 Depois vem o branqueamento. Luís Freitas Lobo exorta a que se fale de futebol e que se deixem os casos. Foi um jogo tão bonito, o FCP ganhou, e tudo está bem quando termina bem. O Tribunal d'O Jogo é unânime: o 2.º golo do Benfica é muito bem anulado, e ainda ficou por marcar um penalty a favor do FCP, para equilibrar a escandaleira.
😈 Isto foi o que se passou a jusante. A montante, o trio de arbitragem estava muito bem seleccionado; o VAR, também; nem os delegados ao jogo foram deixados ao acaso, com o sobrinho de Reinaldo Teles a ser convocado. Já para não falar no calendário que fora meticulosamente escolhido, se bem se lembram. O Benfica apresentou-se neste embate com algum défice de frescura física depois de duas duras batalhas em Guimarães, inclusive pernoitando fora mais de uma semana, enquanto o FCP fez repouso activo perto de casa. E vai agora disputar a final com mais um dia de descanso. Tudo bem programado.
🤷‍♂ Resumindo, de pouco vale estar 10 anos à frente enquanto outros continuam nuns certos 30 anos atrás."

O império da mediocridade

"A chegada da tecnologia à arbitragem desumanizou o erro. E quando isso aconteceu, foi retirado aos árbitros a jargão do «não vi» ou ainda do «tudo aconteceu numa fracção de segundo», com que normalmente justificavam as más decisões. O vídeo, em suma, acabou com a desculpa da falibilidade humana que conduzia à má decisão. E erradicou a tolerância que derivava da solidão do árbitro no momento de apitar. Hoje, com todos os meios auxiliares de diagnóstico colocados ao serviço da arbitragem, o que está a ser posto a nu é a incompetência de boa parte dos juízes de campo e de televisão, que mostram escassos argumentos para exercerem tal função.
Não sendo este um problema estritamente português - ainda esta semana houve em Espanha mosquitos por cordas pela validação de um golo amplamente irregular de Luís Suárez - vai sendo por vá que as ondas de choque são mais sentidas. Não é pois, fácil, a tarefa do presidente do Conselho de Arbitragem, que gere um plantel medíocre, que não tem assento, aliás, na elite medíocre, que não tem assento, aliás, na elite europeia. O que fazer, então? Será necessário que venha uma nova fornada de árbitros com maior qualidade e isso não só não é certo como demora alguns anos. Entretanto, haverá que viver com a pobreza franciscana vigente e com os danos que isso causa à credibilidade do futebol. De qualquer forma, seria bom que Fontelas Gomes viesse esclarecer os critérios de classificação e as fórmulas de promoções e despromoções, quer para os árbitros de campo quer para os VAR. Porque há casos em que venha quem vier, pior não há de ser...
Benfica e FC Porto, pelo que fizeram e pelo que jogaram, num dos clássicos mais interessantes de seguir nos últimos anos, não mereceram um trabalho tão desastrado dos seus árbitros escalados. Mas no fim só um é que riu..."

José Manuel Delgado, in A Bola

Bruce Lee

"1. Morreu o homem mais velho do mundo, aos 113 anos. Mesmo que viva tanto tempo, não conseguirei perceber a aceitar a decisão do caso Rúben Amorim/Casa Pia. Aberrante.
2. A anunciada saída de Paulo Gonçalves da Luz parece mais complicada que o Brexit. Passou de funcionário a colaborador pro bono em regime de home office? Luís Filipe Vieira a brincar com o fogo e com os benfiquistas.
3. Se Jorge Jesus é o mestre da táctica, o treinador do Loures é o Bruce Lee da táctica. Literalmente.
4. Sérgio Conceição, cujas conferências são viciante série do Netflix, tem razão em muitas críticas que faz, mas assim ele não consegue fazer um dream team com pés de chumbo, também o CA não pode fazer milagres com apitos (e VAR's) de chumbo. Viu-se ontem.
5. A coisa pior que pode fazer-se a um jogador é a colagem de rótulos. Idrissa Doumbia é, dizem, o novo Yaya Touré ou, se preferirem, o Pogba da Costa do Marfim. Que tenha mais sorte no Sporting que o Lampard da Bulgária (Slavchev), o Messi da Escócia (Gauld), o Adriano do Japão (Tanaka), o Balotelli do Egipto (Shikabala) ou o Lewandowski de Angola (Gelson Dala).
6. Nesta histórica de Robin dos Bosques dos tempos modernos (hacker Rui Pinto), o Benfica é o xerife de Nottingham e o FC Porto é donzela Marian. Entre foras da lei, justiceiros e virgens não se vislumbram heróis.
7. O jovem central Tiago Djaló, do Sporting, vai para o Milan com a famosa cláusula antirivais, moda muito portuguesa e de legalidade duvidosa. É como eu divorciar-me da minha mulher e impedi-la de voltar a casar com o baixinho musculado do talho ou o calmeirão tatuado da padaria. Ridículo.
8. José Mourinho diz que não gosta de lavar roupa suja quando sai de um clube, mas, como quem não quer a coisa, já vai na centrifugação.
9. Vou ali comprar um exemplar do livro Missão Benfica - Luís Filipe Vieira. Se ainda houver. Volto já."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

A batalha de uma 'final'

"Ritmo, intensidade, emoção e oportunidades. Foi assim desde o primeiro segundo.

Natureza do jogo
1. O futebol é um jogo fácil de entender, relativamente aos seus objectivos, às variadas formas de intervir sobre a bola, às relações básicas entre colegas e adversários. A sua aparente simplicidade esconde uma fenómeno assente numa lógica complexa, em virtude de contextualidade que envolve cada instante do jogo, fruto de inúmeras fontes de incerteza (companheiros, adversários, a bola, etc.). Destas fontes radicadas num universo de possibilidades de intervenção de domínio estratégico, táctico e técnico, desenvolve-se toda uma aleatoriedade, imprevisibilidade e transitoriedade de situação para situação, que induzem a múltiplas decisões, acções e interacções plausíveis, estabelecendo a dinâmica organizacional de cada equipa.

Transformação 'v.s.' maturação
2. Apesar das duas equipas estarem em níveis de rendimento diferentes relativamente às fases, etapas e momentos de jogo, o futebol produzido foi de nível superior. Ritmo, intensidade, emoção e oportunidades. Foi assim desde o primeiro segundo, as equipas assumiram o que queriam, trabalhar para atingir a final. Jogo em aceleração constante, equipas por vezes desequilibradas no espaço, mas não na concentração sobre as incidências de jogo. Mesmo a equipa arbitragem foi posta à prova num alto nível de exigência.

Sistemas tácticos iguais, processos de jogo diferentes
3. Tanto o Benfica com o FC Porto de 4x4x2. O FC Porto realiza uma pressão alta forte e intensa, mantendo a equipa compacta, e tirou proveito dessa acção no 1.º golo. Porém, ultrapassadas as possíveis zonas de pressão, existe espaço e possibilidade de passar por situações delicadas. No ataque os padrões de jogo estão bem assimilados e são eficazes. O Benfica procura a construção baixa, contudo nesta etapa de jogo o risco terá de ser zero, não dá para ter a bola mais de alguns centésimos de segundo, principalmente quando o jogador e recebe na direcção da sua baliza. E, quando se joga longo na profundidade para ultrapassar essa zona de pressão, é essencial ter referências na frente e atacar a 2.ª bola. As transições defesa/ataque na profundidade na direcção dos diferentes corredores de jogo conseguiram desequilibrar a estrutura defensiva do FC Porto, a questão passa por definir a etapa de remate (a eterna acção que marca indelevelmente o resultado final da partida).


Jogo de equipa e de jogadores (mas também de treinadores)
4. Em função do desenvolvimento do jogo as equipas foram-se moldando às circunstâncias. Alteram-se posições, missões tácticas de base e acções num real compromisso perante os objectivos das equipas. Numa só frase: reproduziu-se a essência do futebol.
(...)"

Jorge Castelo, in A Bola

Conto magiar e castelo encantado

"Nada justifica a negação de um dos mais sagrados princípios de conduta ética: a de que os fins não podem justificar todos os meios

1. Rui Pinto está em prisão domiciliária em Budapeste, no seguimento de um mandato de detenção europeu e da cooperação entre a PJ e a sua congénere húngara.
Os advogados do jovem de 30 anos emitiram, entretanto, um comunicado onde se diz que ele é um amante de futebol «indignado com práticas vigentes neste desporto» e que, nesse contexto, «decidiu contribuir para o conhecimento público da extensão dessas práticas criminosas».
E mais à frente: «Não pode deixar de se notar, em particular, o incrível paradoxo que resulta da tentativa de criminalização do seu cliente, quando, na verdade, o seu gesto cívico e as suas revelações permitiram a numerosas autoridades judiciais europeias um avanço histórico no conhecimento das práticas criminosas no mundo do futebol» (sublinhados meus).
Por agora, ao que se diz, o que estará em causa é a pirataria sobre entidades do mundo do futebol que foi vertida para o football leaks e que terá precedido a devassa ao servidor do SL Benfica.
Tenho a minha opinião sobre o que está subjacente a este caso, ainda que haja muito por saber numa certamente espessa e intrincada rede entre alegados criminosos, extorsores e chantagistas, adquirentes e usufrutuários de informação roubada e violadores e divulgadores de correspondência privada.

2. Mas, aqui e agora, vou apenas escrever não sobre questões jurídicas, mas sobre o plano ético, deontológico e institucional subjacente também a casos semelhantes e, sobretudo, ao chamado 'caso dos emails' do SLB.
Bem sei que, no caso do SLB, a bateria do saque tem de tudo. Contratos e estratégias comerciais, como se isso fosse uma normalidade num contexto concorrencial legal. Condições laborais e pessoais, como se o direito de privacidade fosse coisa menor. Toneladas de 'lixo', truncagens e descontextualizações ilegítimas de 'fontes' milagrosas, como se a realidade pudesse ser torturada. E correspondência divulgada por terceiros - admito que alguma de mau gosto, inadvertida e desrespeitosa, mas não certamente muito diferente de práticas de outros ainda que por outras vias - como se estes fossem os 'justiceiros naturais'.
Seja como for, nada justifica a negação de um dos mais sagrados princípios de conduta ética: a de que os fins não podem justificar todos os meios. Ou seja, a adopção do império da selva.
Absolutamente inacreditável é a confirmação pelos causídicos de práticas fora da lei - «denunciou práticas criminosas» - a que chamam gloriosamente «gesto cívico»!
Proclama-se a bondade dos fins a alcançar e define-se a sua infalibilidade através de uma iluminada expressão, qual seja - e volto a citar - a de «um avanço histórico». Assim o alegado sujeito de acção «decidiu contribuir para o conhecimento público de práticas criminosas», de tão indignado e sofredor que estava. Um gesto heróico, dirão. Um cavaleiro andante, quiça romântico, pensarão. Um paladino da moralidade, certificarão. Um Robin dos Bosques cibernético que rouba aos por si aprioristicamente considerados criminosos para dar - sim dar, em regime da mais pura filantropia - a terceiros e, não menos importante, aliviar altruisticamente a carga de trabalho das autoridades policiais e judiciárias de um ou mais Estados de Direito! E, sendo assim, o denunciador (whistleblower) deve prevalecer sobre o criminoso, dizem-nos, embora sabendo que essa ponderação só tem lugar em casos extremos de protecção da sociedade previstos na lei.
Será certamente um verdadeiro enigma tentar, mesmo que em abstracto, encontrar o ponto de convergência entre tanta benemerência e o nível de vida e honorários a pagar por tais práticas de bem-fazer (ainda que por via de funções igualmente filantrópicas). Tendo a nossa PJ informado que se trata de alegados crimes de «extorsão qualificada na forma tentada, acesso ilegítimo, ofensa a pessoa colectiva e violação de segredo», certamente a extorsão ou sua tentativa estarão a mais!
A generalização da violação do princípio ético atrás referido 'decretando-se' um qualquer fim como um bem e os meios como neutros levaria a aceitar práticas hedionadas como justificáveis. Assim seria, desde guerras e actos de terror que sempre invocam um qualquer deus imaginário ou uma suposta supremacia política, moral, étnica ou histórica, e desde outros actos mais circunscritos e outros de âmbito mafioso. Aliás, no mundo cibernético, esta grosseira perspectiva poderia conduzir, irreversível e danosamente, à justificação de qualquer pirataria informática, mediática ou similar em nome de uma suposta estratégica do 'bem'.

3. Infelizmente, estas práticas estão a ser crescentemente sujeitas a uma perversa indiferença e anestesiada banalização. Para tal, 'inventou-se' um novo arquétipo moral entre os actos bons e os maus: os actos neutros, uma espécie de silenciosa amiba onde se acolhem as maiores maldades. Mas, como há vinte séculos escreveu São Paulo, «não há mal de que provenha bem».
É certo que estas piratarias 'animam a malta' por via de voyeurismo mediático repetido até à náusea, alimentam a acefalia social, engordam as fake news e favorecem as adulterações por manipulação semântica ou por rivalidades levadas à obsessão. No caso da devassa de correspondência do Benfica, fazem medrar anjos ressuscitados das trevas e bolsar votos pios de que «na nossa casa é tudo puro», como se alguém acreditasse nisso. A ética vem-se relativizando pela abordagem quantitativa, condicional ou adversativa, de mãos dadas com um oportunista se, mas, talvez, às vezes, salvo se.
Todos - alegados piratas e ladrões, sofridos delatores e relapsos divulgadores, causídicos que vêem 'gestos cívicos' em práticas ilegítimas - se deveriam questionar, na sua solidão, sobre o que achariam se, em vez do Benfica ou outras pessoas e instituições, estas práticas os visassem a eles próprios ou a organizações a que estão ligados?
Bastaria que atendessem ao teste do imperativo categórico kantiano, ou seja, ao dever dos deveres: «Age unicamente segundo a máxima que te leve a querer ao mesmo tempo que ela se torne uma lei de tal modo que, se os papéis fossem invertidos, as partes em questão estariam sempre de acordo e a tua conduta seria universalmente válida». O que lhes iria na alma? Achariam que tudo não passava de uma sucessão de escrupulosos 'actos cívicos'?

4. Entre as peripécias magiares e o futebol por cá quase dia sim, dia não, o Benfica de Bruno Lage alcançou (três fora de casa) e não sofre golos há mais de 3 jogos e meio. Em Guimarães e para a Liga, um triunfo saboroso, mas bem sofrido numa segunda parte de grande nível dos vitorianos (ainda que completamente ineficaz, bastando observar que Vlachodimos não fez defesas neste período).
O futebol tem um dos seus paradoxais pontos no primado do instante. Ao virar da esquina, para melhor ou para pior, pode vir um resultado que contrarie uma qualquer série boa ou negra.
Jogar melhor é uma condição necessária para prolongar o sucesso, mas só por si não é suficiente. O certo é que o Benfica de Rui Vitória que jogou em Portimão, Aves e Montalegre provavelmente não teria ganho nenhum dos 4 jogos de Benfica de Bruno Lage.
De um modo directo, não afectado, simples e quase naif, Bruno Lage reconquistou a alegria de se jogar, redescobriu jogadores postos de lado ou aparentemente incompetentes, sabe fazer substituições com valor acrescido em vez da medíocre rotina do que se chama 'troca por troca' e - hélas! - fala de futebol e explica, sem subterfúgios, as suas opções, ao mesmo tempo que evita perguntas tontas ou despropositadas de certas personagens doentias do mundo mediático.
Neste jogo, vimos um excelente Gabriel até gora desaparecido (ainda bem que Lage não ouviu o catedrático Lobo na Sport TV desancar, desde o primeiro minuto, neste jogador) e confirmámos a evidente inevitabilidade de João Félix estar na equipa e não a ver os jogos da bancada. Samaris mostrou que é sempre um recurso a aproveitar. Só continuo a achar que Castillo nada acrescenta.
Ainda agora não consigo entender como é que o árbitro e o VAR acharam que André não mereceu o cartão vermelho depois de uma sarrafada evidente, melhor dito, de duas em uma. Compare-se a intencionalidade e a agressividade escudas, com a expulsão de Jonas em Portimão. Cadê o critério? Cadê o protocolo do VAR?

Contraluz
- Monotonia: Na Liga os 4 primeiros: Porto, Benfica, Braga, Sporting. Nas meias finais da Taça: idem aspas. Na final four da Taça da Liga ibidem aspas. Mais palavras para quê?
- Susto: Há duas li no rodapé de um televisão: «Nuno Saraiva troca Benfica pelo Sporting». Ainda que a permuta fosse da Luz para Alvalade, fiquei perplexo. Mas descansei quando vi que Nuno Saraiva é judoca.
- Incoerência: No futebol profissional vale quase tudo, no que diz respeito aos técnicos (ou não) que se sentam no banco. Quando muito, vai uma multinha ligeira. No futebol secundário, a penalização por um técnico em formação dar umas indicações para o relvado, leva a multa pesada, suspensão, pontos retirados, etc. Foi o que aconteceu com o honrado Casa Pia Atlético Clube e o diligente Rúben Amorim. Uma vergonha!"

Bagão Félix, in A Bola

Hiena ou a filha do Barão

"Violette Morris, ‘A Discóbola das Mamas Cortadas’, foi um fenómeno da capacidade atlética em todas as modalidades

Certo dia, Violette resolveu ser homem. Ninguém estranhou. Afinal passara anos a bater-se com homens. Não só durante a I_Grande Guerra, quando conduzia ambulâncias ao som dos canhões das batalhas do Somme e de Verdun, como no desporto ou nos bares: disputava as damas com uma ferocidade de hiena, predispondo-se a lutar por elas a punhos, fosse junto ao balcão onde se abusava do álcool, fosse nos ringues, se lhe respondiam ao desafio. Tinha estado casada durante nove anos com Cyprien Gouraud e vivera seis anos com Raoul Paoli, um boxeur e jogador de râguebi que a deixou quando ela decidiu fazer uma mastectomia. Dizia que tinha o peito demasiado grande para caber decentemente dentro do habitáculo de um automóvel de corrida. Outro dos seus fascínios. 
Violette, última de uma série de seis irmãs, era filha de um barão, Pierre Morris, capitão de cavalaria, e de uma palestiniana chamada Betsy Sakanini. Passou a adolescência num convento de freiras, em Huy, na Valónia, e tornou-se numa das atletas mais impressionantes da história: oito vezes campeã de França em lançamento do peso; quatro vezes campeã de França no lançamento do dardo; três vezes campeã de França no lançamento do disco. Mas não se limitava a lançar: foi avançado-centro do Olympique de Paris, em futebol; internacional francesa de polo aquático; ciclista (bateu o recorde do mundo dos 5 quilómetros, pedalando a 62,285 quilómetros por hora) e motociclista; halterofilista, tenista, lutadora de greco-romana; participou em provas de equitação. Não sei se há palavras capazes de descrever toda a energia que emanava daquele corpo em forma de barril com 1,66 de altura. Nem se, não havendo palavras, haverá palavrões. Sei que Violette tinha a fama de utilizar uma linguagem mais própria de um carroceiro do que de a filha de um barão. Em Violette Morris – Histoire d’une Scandaleuse, Gérard de Cortanze resume-a assim: «C’est um animal. Et une force de la nature, en plus». Nada de muito simpático se pensarmos que estava a descrever uma senhora. Ou talvez não.
A vida social de Violette foi sempre muito comentada. Quando passou a envergar exclusivamente calças ou fatos completos, já tinha deixado para trás a sua vida de heroína sem medalha e uma pleurisia que a obrigou a abandonar o exército. Fumava como uma chaminé, nunca menos de três maços por dia, e passeava orgulhosa as suas conquistas, indiferentemente viris ou melíobres. Mas tudo começou a mudar a partir de 1928. Não se andava por aí a escandalizar a sociedade parisiense por dá cá aquela palha. ‘La Discobole aux Seins Coupés’ tornara-se pouco atractiva aos olhos dos dirigentes da Federação Francesa de Desportos Femininos. Levantaram-lhe um processo com base numa decisão do intendente-geral da Polícia de Paris do ano IX, 16 de brumário, o calendário republicano francês: «Il est interdit aux femmes de porter culotte dans la rue». Embora o tribunal tenha declarado que não fazia parte das suas funções decidir a forma como os cidadãos se vestiam, deixou a federação à vontade para aplicar sanções desportivas. Violette foi impedida de competir fosse em que modalidade fosse. Respondeu com uma altivez não muito de acordo com a sua figura arredondada: «Ce pays de petites gens n’est pas digne de ses aînés, pas digne de survivre. Un jour, sa décadence l’amènera au rang d’esclave, mais moi, si je suis toujours là, je ne ferai pas partie des esclaves». E passou-se para o outro lado.
Em 1936, Violette Morris esteve em Berlim. Não pôde participar dos Jogos Olímpicos, mas foi convidada pessoal de Adolf Hitler. Há quem diga que foi aí que se tornou informadora da Geheime Staatspolizei, mais conhecida por Gestapo, a polícia política nazi. Outros asseveram que a ligação já tinha sido estabelecida anteriormente. Seja como fôr, a terrível filha do barão, ganhou uma aura de violência incomum.
Após a invasão alemã, instalou-se na Rue Lauriston onde funcionavam os serviços da Gestapo Francesa comandada por um canalha de 28 patas chamado Henri_Chamberlin, o detestável_Lafont. A sua força bruta deu muito jeito para fazer cantar alguns resistentes mais teimosos e menos dispostos a dar com a língua nos dentes.
Cortanze contrariou no seu livro esta face torcionária de Violette reclamando que não há uma única prova factual de que La Morris tivesse sido uma colaboradora dos nazis. E que o seu trabalho como dirigente da sucursal da Luftwaffe, no Boulevard Pershing, se deveu à sua incontrolável paixão por automóveis e aviões. Conduzia uma Citroên Traction Avant, que entre nós ganhou o nome de Arrastadeira, quando foi crivada de balas por um grupo de maquis numa estrada campestre. Com ela morreram os cinco passageiros que a acompanhavam. Entretanto, o povo alcunhara-a de Hiena."

Palpites...

"Na presente época futebolística tem sido manifesta a superioridade das quatro melhores equipas nacionais, de forma ainda mais vincada do que nos anos precedentes.
Não é apenas no campeonato, onde o 5.º classificado já está nove pontos abaixo do 4.º lugar (e a 17 do líder), mas também pela exclusividade que garantiram nas meias finais da Taça de Portugal (com a ajuda dos sorteios, o que nem sempre acontece) e também da Taça da Liga em que, finalmente, os cabeças de série resolveram colaborar com os arranjos do calendário.
Parece, assim, confirmar-se a existência de um novo "4.º grande", o Sporting de Braga, a que só falta o título de campeão para enfileirar "de juro e herdade" (como consta dos títulos da nobreza) na galeria dos anteriores titulares desse galardão, Belenenses e Boavista.
De facto, numa breve análise do que se passou neste século (18 campeonatos, a partir de 2000/ 01), o Sp. Braga ficou 11 vezes nos quatro primeiros lugares (incluindo um 2.º e um 3.º), onde apenas couberam, além dos três grandes, Guimarães (3x), Nacional (2), Boavista, P. Ferreira e Estoril; e de onde sairam (por engano?...), Benfica (6.º em 2000/01) e Sporting (7.º em 2012/13).
Quanto à Taça de Portugal (TP), todas as 18 finais tiveram a presença de, pelo menos, um dos três grandes, mas apenas houve dois confrontos directos, Benfica-FC Porto (2003/04) e Sporting-FC Porto (2007/08). O FC Porto (9 presenças, mas só ganhou 6), Sporting (6, ganhou 4) e Benfica (5, ganhou 3); também o Guimarães (3, ganhou 1), Braga e Setúbal (2, ganharam uma cada), Académica e Aves (uma presença vitoriosa cada um); e ainda, com galhardas presenças, Marítimo, Leixões, U. Leiria, Belenenses, P. Ferreira, Chaves e Rio Ave.
A Taça da Liga (TL), com 11 edições, foi mais democrática, mas o Benfica ganhou as 7 finais em que participou (só duas contra outro "grande", Sporting e FC Porto), sendo as restantes ganhas por Setúbal, Braga, Moreirense e Sporting, e asssistidos por P. Ferreira, Gil Vicente, Marítimo (2) e Rio Ave.
- Chegados aqui, perguntará o estimado leitor, "atão os palpites?". Aí vão, calma, não estavam esquecidos, mas vamos a ver se não iremos ser muito gozados pelo atrevimento...
Os sorteios ditaram: Taça da Liga: Benfica-FC Porto e Sp. Braga-Sporting. Taça de Portugal: Sporting-Benfica e Sp. Braga-FC Porto. Quer dizer que, para o ramalhete ficar completo, ficam a faltar o Benfica-Sp. Braga e o Sporting-FC Porto que, em nosso entender, vão ser as finais, até para evitar outro Bf-Sp... Uf!...
Assim, aqui ficam os nossos palpites:
Final da Taça da Liga: Sp. Braga- Benfica, ganha o Sp. Braga;
e Final da Taça de Portugal: Sporting-FC Porto, ganha o Sporting.
Votos de bons espectáculos e... boas arbitragens!"


PS: Até agora este colunista não acertou num só palpite... e em relação aos desejos, a coisa também não está a correr bem!!!

As bases para um futebol com futuro

"O futebol é propriedade dos adeptos, de todos eles! São eles que o pagam, são eles que o sustentam. 

Somos diariamente fustigados com programas futebolísticos, em todos os canais de televisão. A todas as horas. Com todo o tipo de comentadores. Conhecedores e não conhecedores do fenómeno. Espanta-me que todos se sintam capacitados para falar de futebol. Do futebol jogado, da gestão de clubes ou federações ou até, pasme-se!, das leis e regulamentos que o regem.
O futebol é propriedade dos adeptos, de todos eles! São eles que o pagam, são eles que o sustentam. Nos estádios e nas televisões (e também, e cada vez mais, nas plataformas digitais).
E eles não têm a obrigação de serem especialistas. Basta serem especialistas em gostar do seu clube, da sua selecção ou, pura e simplesmente, do jogo. E terem a liberdade para serem irracionais faz parte desta paixão, e ainda bem. Daí a crescente importância dos órgãos de comunicação serem criteriosos na escolha de quem colocam à frente das câmaras. Se alguns, ao invés de instigar a natural irracionalidade dos adeptos, apostassem na informação e na gestão das emoções, lucraríamos todos. 
Claro que o papel de principal regulador deste termómetro deve ser atribuído aos dirigentes e às estruturas desportivas, que estão incumbidos de defender os valores mais nobres do desporto e e neste caso especifico, do futebol. Posto isto, seria de mau tom não destacar ou elogiar o bom exemplo que tem tido tanto a Federação Portuguesa de Futebol como a Liga Portugal.
A criação da Portugal Football School por parte da FPF (com um portfólio vasto em formações para todos os agentes desportivos) bem como a concepção da Pós Graduação em Organização e Gestão do Futebol por parte da Liga, estão a funcionar a todo o vapor e contam com mais de 5.000 dirigentes qualificados apenas nos últimos dois anos, sendo ambos os projectos liderados por académicos de referência.
A somar a isto, o lançamento, nas próximas semanas, de uma publicação de direito desportivo liderada pela FPF na pessoa do Professor José Manuel Meirim, acompanhado pelos melhores académicos das mais diversas universidades portuguesas. Porque também no futebol é fundamental incluir, criando as pontes necessárias, e para que todos possam remar na direcção certa. O objectivo é óbvio: formar, informar e debater, com todos os interessados e de forma cada vez mais qualificada. 
Lá por fora, e já com vários anos de implementação, o International Centre for Sports Studies (CIES), em conjunto com a FIFA, tem o seu programa executivo de gestão desportiva disseminado por 17 países (predominantemente em países subdesenvolvidos), mas também o Master FIFA que, todos os anos, forma 35 jovens de elevado potencial e que foi reconhecido novamente em 2018 como o melhor do mundo na área (7.ª vez desde 2012).
Por isso, meus caros, a mim parece-me claro: o futebol tem futuro e está a ser construído pelo paradigma certo. Assim queiramos promover o que de realmente bom se faz.
Por fim, e quando falamos da necessidade em informar melhor, é justo deixar uma última nota relativamente à criação do novo canal da FPF, a estrear pela Primavera. Não tenho dúvidas de que será um projecto de uma dificuldade extrema e com inúmeros obstáculos, mas não é certamente por acaso que são prestigiados profissionais como Nuno Santos e Carlos Daniel a liderar este processo com tão nobre objectivo: elevar o nível televisivo do debate sobre futebol. Aguardemos portanto."