"A partir de hoje, nada será como dantes no panorama do futebol internacional, ao mais alto nível competitivo.
Finalmente a FIFA consegue implementar a disputa justa de um Mundial de clubes quadrienal, com um modelo idêntico ao seguido, nas últimas décadas, no Mundial de seleções nacionais: 32 equipas, fase de grupos com oito grupos de quatro conjuntos cada, três jogos garantidos e apuramento dos dois primeiros classificados de cada grupo para a fase de eliminação direta, a partir dos oitavos de final.
A única diferença é a ausência de jogo para apuramento do terceiro lugar, entre os derrotados nas meias-finais. De resto, um anseio de grande parte da comunidade futebolística, por considerar sem interesse e, sobretudo, contranatura, a realização deste encontro.
Estamos, portanto, perante um quadro competitivo testado à exaustão pelas diversas equipas da FIFA, por jogadores, técnicos e staff das equipas envolvidas, e com um curioso sistema de apuramento que junta méritos adquiridos ao longo dos anos com prémio pela conquista das principais competições a nível continental. Ao cabo, teremos os melhores conjuntos de cada confederação numa ponderação a quatro anos, até porque o apuramento para o Mundial de Clubes de 2029 já começou, com os sauditas do Al Ahly, os egípcios do Pyramids, os mexicanos do Cruz Azul e os franceses do Paris Saint-Germain a reservarem quatro das 32 vagas, por força da vitória nas respetivas ligas dos campeões continentais desta temporada.
Qualquer parto é difícil. Mesmo o chamado parto normal acarreta riscos, dores e algum sofrimento. Isso sucede justamente este ano com a competição estado-unidense, por força de vários fatores de referência no futebol internacional.
Desde logo, o aclamado «excesso de jogos e competições» para as equipas de topo e respetivos jogadores. Se bem virmos, é essencial a ponderação entre a exposição mediática universal de uma competição com estas características (ademais, com o acordo original entre FIFA e DAZN para a difusão integral da competição através da plataforma digital do operador), o desgaste provocado por épocas longas, de múltiplos desafios domésticos e internacionais (quer ao nível das equipas de clube, quer de seleções nacionais para as quais, obviamente, são sistematicamente convocados os melhores valores…), a rotação de planteis a que os clubes mais representativos são obrigados durante dez a onze meses, e as compensações financeiras advenientes de uma prova transversal a todas as confederações continentais e aos seus mais representativos emblemas.
Na realidade, é (quase) tudo uma questão de dinheiro, da sua origem e da respetiva distribuição. E, nesse quesito, a federação internacional abre os cordões à bolsa, com um esquema de prémios de presença e de resultados que coloca o Mundial de Clubes num patamar, desde logo, muito elevado.
Os principais clubes, de resto, foram os primeiros a percebê-lo, depois do espernear inicial de emblemas como o Real Madrid ou o Manchester City, que pretenderam, ab initio, marcar posição reivindicativa, sugerindo até a apresentação de equipas de segunda linha no certame que hoje se inicia na América do Norte.
Porta-vozes iniciais desse descontentamento, Florentino Pérez e Pep Guardiola cedo arrumaram argumentos, porque também muito cedo perceberam que a comunidade do futebol queria, efetivamente, a sistematização de uma grande competição mundial entre clubes, e quadrada e legislada pela FIFA, e que desse, finalmente, respaldo de garantia a um verdadeiro título de Campeão do Mundo.
Se há um local ideal para a primeira edição da prova, é os Estados Unidos da América. Pela experiência na receção e organização de mega-eventos, pela dimensão transoceânica que lhe pode conferir (com onze estádios em onze cidades coast to coast, pelo teste que significará para o Mundial 2026 (esse, pela primeira vez, com 48 seleções nacionais e um total de 104 jogos agendados!), e pela cativação de novos públicos para o soccer, o futebol do resto do mundo que os norte-americanos se foram habituando a consumir pela migração de grandes vedetas do jogo e pela crescente valorização competitiva e financeira da Major League Soccer (MLS), entretanto também estendida ao Canadá.
Acrescem os sponsors. A veia financeira do Mundial de Clubes não pode ficar completa sem a agregação de patrocinadores, sejam os habituais parceiros da FIFA em grandes competições de dimensão mundial, seja os locais, atraídos pela presença de emblemas de prestígio transversal e histórico, com os seus principais nomes e a fome de inscreverem o nome no primeiro troféu a ser disputado nestes moldes.
Estamos no princípio de um mês frenético e que, decerto, fará europeus, africanos e asiáticos acertarem os relógios pelos quatro fusos dos EUA.
A segunda edição, dentro de quatro anos, poderá mesmo ser disputada numa candidatura conjunta entre a Austrália e a Nova Zelândia (à semelhança do estrondoso sucesso organizativo e popular de 2023, com o Mundial feminino em paragens dos antípodas).
Por essa altura, já jogadores, técnicos, dirigentes, adeptos e jornalistas contarão os dias para o seu início.
Porque todos os caminhos e lógicas deste primeiro Mundial de Clubes apontam para o velho aforismo: primeiro estranha-se, depois entranha-se.
Cartão branco
Muito bem a Seleção A, ciente das suas responsabilidades e até do histórico na Liga das Nações, a tal prova que veio, mesmo, para ficar. Muito bem também os sub-17, apurados para o Mundial do Qatar, uma competição com um muito interessante modelo de disputa e imprevisibilidade, e que passará a ser anual. Excelente a Seleção feminina de futsal, a garantir passaporte para o primeiro Mundial do género, no final do ano, nas Filipinas. Seguro o início do Europeu de sub-21, com um não comprometedor nulo frente à França. Sorrisos, merecidos sorrisos e cumprimentos aos vencedores, para os lados da Cidade do Futebol. Portanto, de Portugal.
Cartão vermelho
São bandidos, arruaceiros, criminosos. Não são, certamente, adeptos deste ou daquele clube e muito menos de uma modalidade ou do desporto, no seu mais lídimo significado de competição digna e leal. O que se passou em Lisboa é tanto mais grave porque não é a primeira vez e, seguramente, se medidas exemplares e radicais de punição não forem tomadas, não será a última. Frederico Varandas tem razão: é um problema que ultrapassa os clubes e as federações, é uma questão de segurança interna que tem, urgentemente, de merecer intervenção direta e decisiva das autoridades."