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quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Pela paz


"Lutar pela paz é o mais nobre papel que um exército pode ter. E o Exército Português tem-no! Mas não se pense que é passivo ou isento de risco o papel destes comandos. Pelo contrário, exige-lhes redobrada coragem, defender populações civis transformadas em alvo de predadores e bandidos armados numa terra sem lei como é hoje, infelizmente, a República Centro-Africana.
Ali, a realidade é tão terrível, que ultrapassa a ficção. Metade das crianças não tem acesso à saída, apenas um terço vai à escola, e quase 40% sofrem de malnutrição. Quem o diz é a UNICEF e o próprio governo que impotente perante a dimensão da catástrofe social, pode ajuda ao mundo, divulgando que continua, e até aumenta o recrutamento forçado de crianças como combatentes. São já mais de 10 mil meninos soldados feitos carne para canhão e meninas usadas como escravas sexuais.
Os mais fracos de entre os fracos, as crianças, estão na linha da frente aos abusos, mas, para ação das Nações Unidas, estão também na linha da frente da defesa dos direitos humanos e da proteção pelas forças de paz. É esse, entre outros de natureza estratégica militar, o papel social das tropas portuguesas em missão de paz. Por isso, interagem com amizade e carinho junto das comunidades que protegem, levam tudo o que podem para melhorar o acesso à educação e à prática desportiva das crianças centro-africanas. Por isso levam o melhor que lhes poderiam dar daqui deste lado do mundo: a solidariedade benfiquista e a beleza contagiante das nossas cores!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Pre-Bet Show #80 - O amasso que deu origem à expressão: 15 minutos à Benfica 🦅

Frederico Varandas tem pouca autoridade para dar lições de moral


"«O sistema existe, não lhe posso é provar. E realmente essas situações são corriqueiras, desde os juniores até aos seniores. (…) As pessoas que falavam comigo nessas alturas eram pessoas que apareciam e desapareciam, e todas elas tinham uma bitola consoante a importância do jogo. Muitas das vezes fui contactado e não aceitei, e uma das vezes fui experimentar e vi que realmente funcionava».
Estas declarações pertencem a Jorge Gonçalves, antigo presidente do Sporting. Não foi preciso vasculhar terabytes de e-mails consultados indevidamente para chegar a esta declaração clara como água. Que me lembre, é a única admissão de corrupção ativa alguma vez feita por um presidente de um clube português de grande dimensão. Por um lado, apetece-me elogiar a sinceridade da declaração. Por outro, apetece-me perguntar se está prevista a suspensão do Sporting de todas as provas desportivas. Investigue-se.
Vem a provocação a propósito da mais recente entrevista de Frederico Varandas, ao longo da qual o presidente do Sporting enumera uma série de feitos como se o próprio fosse aquilo a que hoje se chama na gíria de «talento geracional». A expressão é usada para descrever um talento que só aparece uma vez uma geração, uma espécie de cometa que passa pela realidade dos comuns mortais e nos abençoa com a sua presença. A expressão foi cunhada para caracterizar o talento de pessoas como Lionel Messi ou Cristiano Ronaldo, portanto Frederico Varandas não me levará a mal se o colocar numa categoria diferente, ligeiramente abaixo dos verdadeiros talentos que marcam uma geração como nenhum outro.
Não quero ser mal interpretado e tento sempre reconhecer valor a quem o demonstra. O presidente do Sporting tem grande mérito no sucesso que, em conjunto com a sua equipa, voltou a um clube que parecia cronicamente afastado das grandes vitórias. Ninguém lhe tira isso, como ninguém lhe deve tirar os demais progressos que o clube tem feito durante os seus mandatos. Mas, para alguém tão revoltado com páginas negras do futebol português, Frederico Varandas parece-me um pouco inebriado pelas recentes conquistas.
Já aqui elogiei a firmeza do presidente do Sporting em relação ao FC Porto, mas não me parece que seja boa ideia o presidente do Sporting viver excessivamente convencido da sua pureza. A ideia de que Frederico Varandas, por ser mais novo e aparentemente impoluto do que dois ex-presidentes seus rivais, representa um clube moralmente inatacável, não resiste ao embate com a realidade. O exercício é simples. Se Frederico Varandas se sente intitulado a decretar sentenças acerca de crimes por demonstrar, como o fez em relação ao Benfica, o mesmo critério poderia ser usado contra o seu Sporting. Bastaria para isso que, tal como Frederico Varandas, fintássemos o Estado de Direito da forma mais conveniente e tirássemos as nossas próprias conclusões acerca da conduta de um antigo vice-presidente do clube de Frederico Varandas, ou de outros funcionários do clube.
Se isso não for suficiente, podia falar sobre o Euromilhões que permitiu ao Sporting obter uma vantagem económica por via da recompra das VMOCS, vantagem essa que Frederico Varandas considerará devida, mas que eu reservo o direito de considerar moralmente condenável, mesmo que financeiramente lícita, e mais do que capaz de desvirtuar a relação de poder entre clubes rivais. Já agora, também valeria a pena lembrar o acionista do clube, detentor de 9,9 % da SAD do Sporting, que se vê hoje enredado em acusações graves de branqueamento de capitais, numa operação alegadamente tornada possível com a entrada de dezenas milhões de euros na SAD. Apetece perguntar a que expediente recorrerá para defender o Sporting no dia em que um destes problemas, ou outros daí decorrentes, se abater sobre o seu clube.
Daqui se infere uma verdade relativamente prosaica: Frederico Varandas, com quem, pasme-se, não antipatizo, tem pouca autoridade para dar lições de moral a quem quer que seja. Pode e deve pugnar pela ética do seu clube enquanto o representar, mas para isso terá de considerar também um objeto, para além dos artifícios verbais. Chama-se espelho e permite ver o nosso próprio reflexo. Nele, se olharmos com atenção, descobrimos as nossas próprias imperfeições e aprendemos coisas importantes sobre nós.
De resto, por muito assertividade que empregue, as sentenças de Frederico Varandas não transitam em julgado. O presidente do Sporting está no direito de escolher a parte da realidade que lhe interessa. Quem o ouve, está no direito de fazer exatamente a mesma coisa. Nisto, devemos ser francos. Não sairá daqui um país melhor, mas antes o país que temos. Quando este choque acontece, ou seja, quase sempre, a acusação de negacionismo é válida para ambos os lados, mas, em rigor, só um dos participantes nesta troca preside a uma instituição com a dimensão do Sporting.
Refiro-me à dimensão, não porque esta crónica semanal se deva ocupar demasiado com o tamanho dos outros, que empalidece por comparação com o Sport Lisboa e Benfica, mas, porque, em virtude dessa dimensão institucional, se aconselharia uma postura diferente por parte do presidente do Sporting, que, à sua maneira, acaba por ser capturado pela narrativa mais corriqueira do futebol que tantas vezes já criticou.
A sensação é a de que Frederico Varandas aproveitou os ventos favoráveis dentro de campo para uma operação de outra natureza, neste caso uma nova recompra de VMOCs, leia-se, Valores Morais Oportunamente Convertíveis. No entanto, se há coisa que o futebol português nos ensinado, é que todos os heróis acabam por viver tempo suficiente para acabarem como vilões.
O meu clube tem um longo caminho a percorrer, precisamente por se ter deparado e continuar a deparar-se com esses heróis caídos em desgraça. Felizmente, há muitos sócios e adeptos que lhe colocam um espelho à frente, sem receio de confrontar a realidade. Podemos ser muito grandes em muita coisa, mas não devemos ser tímidos a reconhecer os momentos em que fomos pequenos, sem pretensas virtudes morais e sem achar que temos algo a ensinar aos outros. Gosto de pensar que nos preocuparemos sempre mais connosco.
Quanto a Frederico Varandas, talvez não o antecipe, mas é possível que a dívida moral, ao contrário da financeira, acabe por cobrar o seu preço."

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