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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Menos uma maldição do Guttmann

"Embora a transcendência não esteja, por definição, ao alcance de todos, Artur é o exemplo a seguir por jogadores, técnicos, dirigentes e adeptos. Transcendamo-nos. É nisso que somos bons.

AQUELA coisa de o Benfica não conseguir ganhar na primeira jornada do campeonato acabou. Já não era sem tempo. Foram dez anos de maldição do Guttmann, só pode ter sido o homenzinho outra vez.
Ou, com toda a franqueza, não é mais sobrenatural não conseguir ganhar durante uma década na primeira jornada a adversários nacionais de médio calibre (que me lembre, em casa ou fora tanto faz…Leixões, Rio Ave, Marítimo, Académica, Gil Vicente, Sporting de Braga e, outra vez Marítimo) do que não conseguir ganhar oito finais europeias contra adversários de alto calibre (que me lembre… AC Milan, Inter de Milão, Manchester United, Anderlecht, PSV Eindhoven, outra vez AC Milan, Chelsea e Sevilha)?
Posto isto, avancemos porque está morta e enterrada a maldição do Guttmann no que diz respeito ao longuíssimo ciclo de não-vitórias na primeira jornada do campeonato.
Falta ao Benfica matar e enterrar as outras duas maldições vigentes do Guttmann, sempre do Guttmann.
A primeira é a de o Benfica não conseguir ganhar dois campeonatos seguidos há três décadas. A segunda é a tal, a mais falada de todas, que pesa há cinco décadas sobre as legitimas ambições europeias do maior clube português.
A extinta maldição da primeira jornada ficou resolvida, precisamente, na primeira jornada, no último fim-de-semana e ainda estamos em Agosto. A maldição dos dois campeonatos consecutivos resolve-se não numa única jornada, mas ao longo de trinta e tal jornadas o que equivale a dizer que a resolução do maldito problema se vai prolongar, no máximo, até Maio. De Maio, não passa certamente.
O Benfica, campeão, perdeu durante a pré-temporada todo o favoritismo que, por regra, acompanha os vencedores da época anterior. Foi tudo por água-abaixo. Ainda bem que assim foi. Agora é fazer das fraquezas forças.
E não há melhor exemplo a seguir do que o de Artur que, objectivamente, já deu uma Supertaça ao Benfica e que muito bem poderá ter impedido um resultado menos feliz do Benfica na historicamente nevrótica primeira jornada ao defender uma grande penalidade quando ainda não havia dez minutos de jogo.
Embora a transcendência não esteja, por definição, ao alcance de todos, Artur é o exemplo a seguir por jogadores, técnicos, dirigentes e adeptos. Transcendamo-nos. É nisso que somos bons.

OUVI de um benfiquista dos sete costados uma explicação transcendental para a alegada vontade que Luisão terá em sair do Benfica rumo à Juventus.
- O nosso capitão quer-se ir embora porque agora quem vai passar a mandar na defesa toda é o Júlio César.
É, de facto, uma explicação arrevesada ainda que plausível.

ROJO pediu formalmente desculpa aos adeptos do Sporting e ao presidente do clube pelas suas declarações intempestivas, pelas suas acções intempestivas, pelos seus anseios intempestivos. Fê-lo através do canal de televisão do clube, naturalmente. Foi uma vitória de Bruno de Carvalho, também naturalmente. 
Quer remédio teve Rojo se não dobrar espinha perante quem lhe paga o ordenado e tem o poder de o negociar.
Foi precisamente o mesmo que aconteceu em 1999, já no século passado, com João Vieira Pinto, estão certamente recordados. O jogador que era à época “capitão” do Benfica apresentou-se, também ele, de corda ao pescoço pedindo desculpa aos sócios do Benfica e ao presidente do Benfica por aquele resultado tão intempestivo de Vigo. Também foi uma vitória de Vale e Azevedo.
Provocou, no entanto, maior celeuma, quase diria escândalo, o forçado pedido de desculpas de João Pinto ao Benfica do que o ruído provocado por este mais recente episódio do género, o ainda fresco e não menos forçado pedido de desculpas de Rojo ao Sporting.
Compreende-se porquê. São acontecimentos de dimensão incomparável do ponto de vista das respectivas repercussões. O seu a seu dono, sem primeiro lugar.
Vale e Azevedo e Bruno de Carvalho, ambos exigiram o exigível arriscando-se, com quinze anos de diferença, a ser vilmente desconsiderados pelos românticos do futebol. E mesmo nestes pormenores da desconsideração há diferenças enormes.

UM caso a seguir com simpatia é o do contrato que Bruno de Carvalho rasgou com a empresa de fundos que ajudou Godinho Lopes a comprar Rojo ao Spartak de Moscovo. Isto se chegar a haver caso, naturalmente.

O progresso não tem de ser obrigatoriamente de índole tecnológica. Há avanços simples que não exigem software. Tenho grande estima e consideração por este tipo de progresso porque está ao alcance de todos. É só querer. Até no futebol, essa super-indústria que já impôs a chamada tecnologia de linha de baliza nos seus grandes eventos, coexistem fatores de progresso de cariz semi-artesanal.
Como é o caso do pequeno spray, tão pequeno que cabe no bolso dos calções do árbitro, que permite desenhar na relva os limites de uma barreira ou o exato lugar onde uma falta foi cometida. Foi uma novidade que começamos todos por ver em jogos de campeonatos sul-americanos, vimo-la mais recentemente ser usada em todos os jogos do último Mundial de futebol, depois na final da Supertaça da UEFA e, mais recentemente ainda, vimo-la no passado fim-de-semana fazer a sua estreia no arranque do campeonato inglês.
Tendo em conta que foram os mesmos ingleses que inventaram o futebol, conclui-se que o uso do spray pelo árbitro em nada belisca os pergaminhos do jogo aos olhos dos seus veneráveis fundadores.
Também o campeonato português viveu o seu arranque no último fim-de-semana. Sem spray. É uma pena porque o uso do pequeno artefacto reforça a autoridade do árbitro de modo claríssimo e impede perdas de tempo aborrecidas e significativas.
O futebol português, enfim, é… português. Tem, por isso mesmo, um problema com a regulação. Neste caso a regulação imposta pelo spray que faz com que se cumpra a lei sem discussões nem demoras. Spray, para te quero? É que nem parece coisa nossa.

SEREMOS sempre adeptos melhor qualificados e mais justos se nos soubermos meter na pele dos adeptos dos clubes rivais. É, aliás, um exercício bem curioso. Recomendo-o.
Se eu fosse, portanto, adepta do FC Porto teria ficado desconsolada com o golo de Jackson Martínez ao cair do pano do jogo com o Marítimo.
É certo e sabido que 1-0 – era como as coisas estavam até Martínez ampliar para 2-0 – é um resultado escasso, por isso tramado, e que não há adeptos que sonhem com resultados de 1-0 pelo muito que sempre se acaba por sofrer nessa ocasiões tangenciais.
Mas, portanto, se eu fosse do FC Porto, depois de o jogo estar terminado e os 3 pontos do lado de cá, teria dispensado de muito bom grado o segundo golo da minha equipa, o tal golo de Jackson Martínez, em benefício da importância do golo solitário de Rúben Neves e da sua auspiciosa estreia para a História.
É no que dá sabermos metermo-nos na pele dos adeptos dos clubes rivais.
Se eu fosse, portanto, adepta do Sporting teria visto com o maior alheamento o jogo do campeonato inglês que opôs o West Ham, que jogava em casa, ao Tottenham. Seria o género de jogo em que tudo poderia acontecer deixando-me indiferente.
Tudo? Não, tudo não. Tudo menos vir o Tottenham a ganhar o jogo por 1-0 com o golo da vitória a ser marcado por Eric Dier aos 93 minutos de jogo. Tudo, menos isso.

FALTARIA coisa de dez minutos para o fim do jogo de Coimbra, o resultado era de 1-0 favorável ao Sporting, quando Rui Patrício evitou, naquele instante, o golo que seria o do empate da Académica com uma bela estirada, uma defesa «estratosférica», na opinião de Luís Freitas Lobo.
Lá que foi uma grande defesa de Rui Patrício, isso foi…
Tão grande que deu que pensar. Será que Rui Patrício, à semelhança do que acontece com Cristiano Ronaldo, é tão mais preponderante no seu clube do que na sua selecção? Talvez."

Leonor Pinhão, in A Bola

Bancos (II)

"Prosseguindo no tema de ontem, o BANCO DE INVESTIMENTO (leia-se: formação) não tem vingado na praça. Trabalha bem, mas os produtos estruturados que oferece são preteridos por obrigações subordinadas (aos intermediários) com a garantia de bons colaterais (que não necessariamente laterais). Do mercado da moeda única, até vieram os desconhecidos Frisenbichler e Dawidowicz, já recambiados para o banco de retalho e preparados para voltar a bancos dos seus países.
O BANCO DE RETALHO, com sede no Seixal, é apenas um banco de último recurso. Que o diga Teixeirinha, que chegou a João Teixeira na pré-época mas que depressa voltou a Teixeirinha no retalho. Ou Bernardo Silva, João Cancelo e Cavaleiro que foram emprestados (?) para praças offshore.
Finalmente há o exuberante BANCO VIRTUAL, sem activos mas com uma larga carteira de encomendas (na maioria de subprime) no universo das miragens e das notícias.
Limito-me aqui a citar 35 nomes que li em A BOLA desde o dia 18 de Maio: Van Wolfswinkel (30/5), Cristante (5/6), Gerhardt (6/6), Manolas (6/6), Sefa Isci (6/6), Pedro Tiba (11/6), Zikovic (12/6), Luc Cataignos (17/6), Kiko Casilla (27/6), Guilavogui (3/7), Rulli (3/7), Joaquin Correa (6/7), Forster (10/7), Danilo Pereira (10/7), Romero (15/7), Keylor Navas (15/7), Insúa (17/7), Giancarlo Gonzalez (17/7), Jeroen Zoet (18/7), Batshuayi (21/7), Darko Lazovic (22/7), Rafa (25/7), Loris Karius (5/8), Mohammed Rabiu (6/8), Denilson (7/8), Wijnaldum (10/8), Robert Sieler (12/8), José Guiménez (13/8), Saul Ñiguez (13/8), Aboubakar (15/8), Lindeggard (16/8), Samaris e Fer (19/8). É obra!"

Bagão Félix, in A Bola