Últimas indefectivações

terça-feira, 2 de julho de 2019

Proibido dormir na forma

"Bruno Lage foi muito claro: quem não tiver mentalidade para ajudar o Benfica na sua afirmação nacional e internacional deve mudar de vida, ou de clube

Se o Benfica entrar na próxima época à sombra do sucesso da época transacta é um engano. Sábias palavras que Bruno Lage quis transmitir aos seus jogadores, em mensagem pública emitida pelo canal do clube no dia do regresso ao trabalho.
«Quem deixar de treinar-se com a intensidade desejada, quem deixar de correr e jogar em equipa» fica sem espaço, por não ter mentalidade para representar emblema que pretende sublinhar a sua afirmação nacional e internacional através de dois grandes objectivos: conquistar o bicampeonato (38.º) e reforçar o seu estatuto europeu.
No momento presente suscita fraco entusiasmo qualquer discussão em que o tema central seja o de questionar, a estabilidade do Benfica, que o coloca em plano mais elevado. É uma evidência, em contraposição aos dois históricos rivais e únicos candidatos e competirem com ele pelas conquistas mais importantes:
FC Porto - Ainda não se livrou do controlo financeiro da UEFA. Debate-se com notórias dificuldades para reconstruir um plantel que defenda e honra do clube. Substituir, em simultâneo, jogadores com a qualidade de Felipe, Éder Militão, Herrera e Brahimi é complicado, mas também há dois anos, de um bando de renegados, Sérgio Conceição formou um grupo profissional e de tal maneira disciplinado e forte que se sagrou campeão. O que me leva a deduzir que o campeonato que se segue será uma cópia deste, e do anterior: dragão e águia a lutarem pelo título até à última gota de suor.
Sporting - Novo treinador, a dar boa conta do recado, que veio de alta escola e que, para sua protecção, deve rapidamente comunicar sem intermediários. Não precisa dizer muito, tão somente perceber o que lhe perguntam e responder o essencial. A dúvida maior é Bruno Fernandes. A sua eventual permanência fará enorme diferença. Com ele, o leão passa de candidato estatístico a candidato efectivo. Com o beneplácito da história: foi campeão em 1970, em 1980 e em 2000. A terminação em zero dá-lhe sorte e a próxima época acaba em 2020. Nunca se sabe...

O Benfica situa-se em patamar superior, mas nada de lhe foi oferecido, trabalhou muito para lá chegar sob a judiciosa e lúcida liderança de Luís Filipe Vieira. Sei que há quem embirre por, frequentemente, trazer à colação a importância da figura presidencial no longo e complexo processo de recuperação do emblema da águia, mas é a pura das verdades.
É o campeão em título, tem sido diligente nos trabalhos de casa e previdente na projecção do futuro. Além disso, usando linguagem militar, passa a ser absolutamente proibido dormir na forma e a primeira advertência deu-a Bruno Lage com sublime clareza: mais exigência, mais intensidade, mais alegria, mais equipa.
O que aconteceu em 2010 deve estar gravado na memória de todos os benfiquistas como exemplo a não repetir. Foi o primeiro ano de Jesus, em campeonato decidido na última jornada devido ao fantástico desempenho do SC Braga, que ficou em segundo, então treinado por Domingos Paciência. Os festejos foram de arromba e as vaidades infindas, de tal maneira que nem tempo houve para preparar a época seguinte e que viria a corresponder a um trambolhão de todo o tamanho: o Benfica foi despromovido a vice, ficando a 21 pontos (!) do FC Porto. Uma vergonha de que só viria a recompor-se quatro anos mais tarde.

O Seixal reabriu as portas e leio em A Bola que os encarnados voltam ao mercado para contratarem «um atacante móvel que também possa jogar como extremo». Só agora? O jornalista Rui Miguel Melo revela no seu trabalho que o Benfica já estava preparado para o fim da carreira de Jonas, mas contava segurar João Félix por mais um ano.
A prioridade incide, pois, em descobrir o substituto do 'jovem 120 milhões'. É normal, mas, por outro lado, escapam notícias sobre outras situações igualmente determinantes para a imposição do tal Benfica ousado que pretende recuperar o lugar que foi seu entre a elite europeia e mundial. Um Benfica apto física e mentalmente para se bater em todas as frentes. Não se fala, ou fala-se pouco, de alternativas para as laterais esquerda e direita, duas posições deficitárias: Grimaldo pode não sair, mas o seu historial clínico dá que pensar, e André Almeida vale pela sua inesgotável disponibilidade.
A aquisição de outro guarda redes parece também em banho Maria, ou é impressão minha. Vlachodimos, de 25 anos, é um jovem em crescimento. Denota inibições no jogo aéreo, a jogar com os pés e fora dos postes, o que não é pouco, mas para resolver esses e outros problemas é que existem equipas técnicas com especialistas nas diversas áreas do treino. Apesar do apreciável cumprimento de grego, o Benfica continua à procura de 'um guarda redes de renome'. De renome? Enfim, se a questão é essa, procure... Se me é permitida a opinião, porém, direi que a questão é outra e reside em descobrir um clone de Jonas. Mesmo com a dor nas costas, a falta que ele irá fazer!..."

Fernando Guerra, in A Bola

10 anos de CFC

Afinal, o que se passa com a VAR no Mundial Feminino?

"24 pénaltis, jogadoras a recusarem continuar a partida, lágrimas de tristeza e sobretudo de raiva. É este o balanço da atuação do Video Assistant Refferee (VAR) no Mundial de Futebol Feminino em França. O que é que isto significa para o torneio e para o futuro da tecnologia no desporto rei?

É a primeira vez que o video-árbitro está a ser utilizado num Mundial de Futebol Feminino, e o balanço não tem sido nada positivo. Desde que o torneio começou, em França, há cerca de três semanas, muitos foram os episódios que tiveram a mulher do apito (e a do ecrã) como protagonistas.
Um dos acontecimentos mais marcantes surgiu no Camarões-Inglaterra, a contar para os oitavos de final da competição. Depois de um golo de Ellen White que fez o 2-0 para as inglesas ter sido anulado pela fiscal de linha mas validado pelo VAR, as camaronesas… recusaram-se a jogar. Numa das cenas mais bizarras do futebol nos últimos anos, as representantes do país africano juntavam-se no centro do seu meio campo e não davam o pontapé de saída.
No Argentina-Escócia, jogo da última jornada do Grupo E, um penálti falhado pelas albicelestes no minuto final da partida significaria que as escocesas seguiriam em frente na competição. Mas a revisão no VAR indicou que a guarda redes estava adiantada da sua linha na altura da grande penalidade, e a repetição do penálti acabou por ser convertida por Florencia Bonsegundo, eliminando as britânicas.
Mas, enquanto estas decisões podem ser contestadas, mas aceites por, em última análise, estarem corretas (especialmente no caso do jogo entre Inglaterra e Camarões), o que aconteceu no Alemanha – Nigéria já não foi tão bem aceite. No primeiro golo das germânicas (que viriam a vencer 3-0), Svenja Huth está a obstruir a visão da guarda redes enquanto a sua colega de equipa, Alexandra Popp, cabeceia para dentro da baliza, fazendo o 1-0. O VAR assinalou a posição irregular de Huth, mas, cabendo a decisão final sempre ao juiz da partida, este acabou por considerar o tento limpo.
Assim, mais do que no Mundial Masculino de 2018, o VAR tem estado no centro das atenções. Não só pelas alturas dramáticas em que tem actuado, mas também pelo volume de decisões que tem tomado. Isto deixa questões no ar, nomeadamente quanto ao progresso do futebol feminino e ao futuro da tecnologia no desporto.
Naquele que, para muito, teria de ser o torneio de afirmação do futebol feminino profissional (com a qualidade de jogo a ser cada vez maior), estas situações agarraram grande parte da atenção exterior. Quem está dentro do desporto rei acha que o desenvolvimento das mulheres no futebol depende também dos juízes que arbitram as partidas. E, para já, os homens e mulheres do apito não têm estado à altura das expectativas.
Mas Pierluiggi Colina, ex-árbitro e actual presidente da Comissão Arbitrária da FIFA, afirma que o desempenho das 27 árbitras e 48 auxiliares destacadas para o Mundial de França está “de acordo com as expectativas”.
A polémica também deixa vários pontos de interrogação no ar quanto à introdução do VAR na Premier League da próxima época. Uma fonte próxima da liga afirma, em declarações à TalkSport, já ter sido contactado devido aos episódios do Mundial Feminino. Garante que os critérios utilizados pelo VAR serão diferentes. Casos como o da repetição do penálti argentino não devem suceder, já que a tecnologia não será utilizada nestas situações. Isto, claro está, se Piergluiggi Colina permitir. O italiano, numa conferência de imprensa, deixou explícito que as regras “são as mesmas em todo o mundo”, o que deixa dúvidas quanto à liberdade de critérios da Liga Inglesa.
Com as meias finais da competição à porta, resta esperar que o foco vire para as verdadeiras artistas, naquele que tem sido um Mundial com grandes histórias e com uma qualidade de jogo sem precedentes no desporto rei feminino."

Megan Rapinoe: as vantagens de não ser invisível

"A jogadora que pinta o cabelo com cores berrantes pode ter ficado bem mais popular quando recusou uma eventual visita a Donald Trump, caso os EUA vençam o Mundial - jogam, esta terça-feira, a meia-final contra a Inglaterra (20h, RTP2) -, ou por dizer que "é impossível" ganhá-lo "sem gays na equipa". Mas Megan Rapinoe, capitã da selecção americana, é bem mais do que isso

Denise leva os dedos indicadores à boca e sopra. A filha está lá em baixo, no relvado, algo perdida, a passar um raio-x às bancadas com os olhos, desesperada por não encontrar quem procura no meio de 20 mil pessoas. A mãe assobia, nada. Assobia de novo, não há reacção. Assobia, pela terceira vez, o assobio a que habituou os filhos desde pequenos, e a mulher de cabelo curto e descolorado desvia a cabeça.
A filha toca com uma mão no ouvido e sorri. Confirma à mãe que a ouviu e a vê com o pai e a irmã gémea, mas, por muito que continuasse a inspeccionar, nunca veria o irmão mais velho.
Ele estava dentro da sua cela, na prisão, sentado no topo de uma pilha de livros, seriam uns 60, presos por pedaços rasgados de lençol, para ser capaz de olhar pela janela da porta e avistar, ao fundo do corredor, uma pequena televisão que estava a transmitir o jogo.
Megan Rapinoe estava em Dresden, na Alemanha, acabada de fazer a assistência para o golo que fez os EUA ganharem ao Brasil, no prolongamento dos quartos-de-final do Mundial de futebol feminino, em 2011. A jogadora da imagem entre o excêntrico e o vistoso, que na fase de grupos, contra a Colômbia, beijara uma câmara e cantara “Born in the USA” após marcar pelo país em que nascera, já começava a dar nas vistas.
Brian Rapinoe estava confinado à cela de uma prisão, nos EUA, cada vez mais escondido de tudo. 
Um encarcerado da vida que, logo aos 15 anos, fora detido por traficar metanfetaminas na escola; aos 18, já consumia heroína quando foi preso por roubar um carro e atropelar uma pessoa; nos 27, tinha cruzes suásticas tatuadas no corpo, fazia parte de gangues de prisão e era transferido para uma prisão de alta segurança; e chegava aos 35 anos a ter de empilhar livros para vislumbrar a irmã do cubículo de uma cela. “Foi o mais difícil. Doeu. Não estava lá para o testemunhar, para lhe dar um abraço, para fazer parte daquilo”, diria, à “ESPN”.
E muito do que Megan Rapinoe é - a eloquente capitã da selecção dos EUA, a franca faladora à imprensa sobre qualquer assunto, a dedicada activista de causas sociais - ou é conhecida por ser - a jogadora que recusa visitar Donald Trump à Casa Branca, caso as americanas ganhem o Mundial - está ligado, de uma forma ou de outra, ao percurso do irmão.
A consciência social que faz a futebolista ser apoiante de movimentos como o #MeToo, o Black Lives Matter e o Time’s Up (contra o assédio sexual) germinou da experiência de acompanhar o percurso de Brian que, confessou, tem “muitas ramificações" para lá do abuso de drogas. “O meu irmão é especial. Tem tanto por oferecer. Seria uma pena se não deixasse mais nada no mundo para além de penas de prisão”, resumiu a jogadora, de 33 anos, sobre a pessoa que a fez olhar para o quão fundo chega a pegada que uma pessoa pode deixar nesta vida.
Ver o que não define mas afeta o irmão, fê-la querer definir-se por aquilo que assume e defende.
Em 2012, um ano depois de jogar o primeiro Mundial, assumiu-se publicamente como lésbica. Quis lutar contra “a visão demasiado estreita” em relação aos gays, os “estereótipos que ainda persistem” e as “visões incompletas sobre quem [eles] são enquanto pessoas”, explicou, à “Sports Illustrated”, quando se tornou na primeira atleta gay a ser capa da revista, na sua edição dedicada a fatos de banho.
Em 2016, decidiu ajoelhar-se ao ouvir o hino nacional dos EUA, primeira na sua equipa (Seattle Reign), depois na selecção. Tocar com um joelho no solo, indo contra a norma comum, não teve, por si só, que ver apenas com Colin Kaepernick, o jogador da NFL que se celebrizou, mas não mais jogou, por protestar dessa forma contra a violência policial contra negros.
Megan Rapinoe queria fazer alguma coisa. “Qualquer coisa que fosse”. Nunca sofreu violência policial ou viu “o corpo de um familiar morto na rua”, mas, escrevendo no “Players’ Tribune”, admitiu que não podia “ficar indiferente enquanto há pessoas neste país a lidar com esse tipo de problemas” diariamente.
E perguntou-se e respondeu e voltou a questionar enquanto se ajoelhava e não era apoiada em público, ou em privado, pela federação do país, que a deixou de convocar durante uns tempos quando a sua forma física, emperrada devido à recuperação de uma rotura de ligamentos no joelho, tornou a ausência plausível de ser justificada: “Importo-me, realmente, com a igualdade das pessoas? Se sim, então tenho de exigir mais, e (...) se estou numa posição de influência, posso usar a plataforma para elevar as milhões de vozes a serem silenciadas”.
Antes destes dois actos, Megan não estava tapada por um manto de invisibilidade. Agindo, porém, deixou de ser invisível para muita gente. E, sobretudo, optou por deixar de sê-lo.
Recuperada a forma e atinada com as boas prestações em campo, Rapinoe continuou a protestar, embora não sobre um joelho. Quando a federação de futebol dos EUA instituiu, em Março de 2017, que as jogadores se devem “pôr de pé, respeitosamente”, ao escutarem o hino, ela começou a não o entoar, nem a colocar uma mão sobre o coração. Quando faltavam 95 dias para o primeiro jogo dos EUA no Mundial, foi uma das 28 signatárias da queixa que as jogadoras da selecção apresentaram num Tribunal Federal, contra a federação, por discriminação de género.
Megan fala, de forma cândida e directa, na mesma medida em que, no campo, decide e decisiva se torna para a equipa. É a capitã e a melhor marcadora (cinco golos, a par de Alex Morgan), em parte por bater os penáltis, muito por ser uma das jogadoras mais experientes e esfomeadas por mais que há. “Não temos chefs pessoais. Não voamos em jactos privados. Trabalhamos em ginásios como uma pessoa normal. Não temos conveniência de jogadores masculinos de topo. Mas é o trabalho mais divertido do mundo”, assumiu, em outro texto no “Players’ Tribune”, coloquial ao ponto de ser fluente em palavrões.
Como o que utilizou, no início do ano, no vídeo em que surge a dizer que não iria à Casa Branca, onde está Donald Trump. "Com a excepção do palavrão, que terá chateado a minha mãe, mantenho tudo o que disse", garantiu, numa conferência de imprensa, já durante o Campeonato do Mundo. Megan Rapinoe diz o que pensa, sem grandes filtros pelo meio, e não tem problemas com isso. 
Depois de marcar os dois golos que eliminaram a França, nos quartos-de-final, a americana que, em tempos, se descreveu como um "protesto ambulante", disse que "não se pode ganhar um campeonato sem gays na equipa. Nunca foi feito antes, nunca. É uma ciência".
Ganhando, ou não, o Mundial, os EUA terão que ultrapassar a Inglaterra em campo, nas meias-finais - e terão feito de tudo para o conseguirem, mesmo antes de jogarem à frente de adeptos e televisões. 
No sábado, responsáveis da Federação Inglesa de Futebol apanharam alguns elementos da entidade homóloga americana, sem o equipamento oficial, a visitarem os quartos de hotel das jogadoras inglesas. Os EUA disseram que essas pessoas estavam apenas a estudar um possível local para a comitiva ficar antes da final, que se jogará no domingo.
Quem não ficará lá hospedado, ou qualquer outro hotel por França, é Brian, que não consome drogas há 18 meses, está a um de sair da prisão e troca sms todos os dias com a irmã. No dia em que os EUA acabaram com a Tailândia, por 13-0, a capitã da provável melhor selecção do Mundial, olhou para o telemóvel e leu: "Megs, o facto de não me poderes pagar uma viagem, com tudo incluído, para França, parte-me o coração"."

Tino 2024

Renovação necessária, com actualização da cláusula de rescisão e do salário, daquele que para mim, parece-me ser de todos os jovens que ultimamente foram promovidos à equipa principal - sem querer ser injusto com os outros -, aquele que mais 'sente' o manto sagrado...

Ah! Esse Brasil lindo e trigueiro...

"Em 1957, o Benfica viaja pelo Brasil. No Maracanã, dois jogos com o Flamengo (agora tão na moda em Portugal por ter contratado um antigo treinador encarnado). Não foi o primeiro, no entanto. O primeiro foi Cândido de Oliveira.

O Flamengo tem, agora, um treinador português: Jorge Jesus, que passou seis pelo Benfica.
O Flamengo já tinha tido um treinador português: Cândido de Oliveira, uma dessas figuras que marcaram a história do Benfica. Foi em 1950. Durante pouco mais de dois meses.
Vamos, agora, a 1957. O Benfica estivera, de novo, à beira de conquistar a Europa, atingindo a final da Taça Latina, disputada e Madrid, perdendo para o Real Madrid, por 0-1.
Mas a águia não tem descanso.
Tem uma vontade indómita de se medir continuamente com os melhores dos melhores.
É tempo de defrontar clubes brasileiros. Esses brasileiros que estão à beirinha de deixar o mundo boquiaberto, no ano seguinte, no Mundial da Suécia.
'Ah! Ouve estas fontes murmurantes
Aonde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar
Ah! Esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro...'
No dia 30 de Junho, uma semana após ter perdido a final da Taça Latina, recebe em Lisboa o Vasco da Gama. O Vasco da Gama que viera à Europa derrotar o Athletic de Bilbau (4-2) na decisão do Troféu Ramon Carranza e o Real Madrid (4-3) na primeira edição do Torneio Internacional de Paris. O Vasco da Gama de Orlando, Valter e Vavá venceu por 5-2. Natural. O Vasco era temível.
Passaram-se oito dias.
Uma grande delegação encarnada sobrevoava Copacabana e o Leblon e a Baía de Guanabara, apreciando a vista lá do alto bem mais do que o antropólogo Claude Lévi-Strauss que a terá detestado parecendo-lhe uma boca benguela. A famosa digressão encarnada de 1955 deixara raízes. E o Benfica desembarca no Inverno do Rio com três encontros aprazados contra velhos conhecidos, dois frente ao Flamengo e um frente ao América.
Otto Glória levou consigo 17 jogadores: Bastos e Costa Pereira; Calado, Serra, Ângelo, Artur Santos, Zézinho, Caiado, Alfredo e Pegado; Palmeiro, Coluna, Águas, Salvador, Cavém, Chipenda e Azevedo. Em Portugal chamaram-lhes 'Os bandeirantes da actividade desportiva', recordando o sucesso da digressão de 1955.

Flamengo: a besta rubro-negra!
O Flamengo acabara de bater o Belenenses para o Torneio Internacional de Morumbi, torneio esse que se disputava no Rio e em São Paulo mas, curiosamente, com nenhum dos jogos a ser realizado no Morumbi que ainda não estava completamente construído. 3-1 fora o resultado do Maracanã. E também no Maracanã jogou o Benfica.
Durante longos períodos do jogo domina o seu adversário, respondendo ao golo de Duca, logo aos 30 segundos, com um golo de Águas, aos 42 minutos. No dia seguinte, os jornais brasileiros tecem rasgados elogios ao Benfica, mas recordando a cada linha que é um brasileiro, Otto Glória, que treina, os encarnados. No segundo jogo, os golos não aparecem. Serra foi expulso e Bastos, aos 48 minutos, defendeu um 'penalty' apontado por Moacyr. Pela primeira vez o Benfica não sai derrotado de confrontos com o Flamengo. O Flamengo é o seu 'fantasma vermelho e negro': nunca até hoje o Benfica bateu os brasileiros.
No dia 17 de Julho, de novo no Maracanã, o adversário é o América do Rio. Em disputa, a Taça Craveiro Lopes. As regras para a conquista do troféu são as seguintes: um jogo no Rio de Janeiro, outro em Lisboa e, finalmente, outro vez no Rio. Sairia vencedor quem atingisse primeiro os 5 pontos. Um empate (1-1) deu a cada clube um ponto no primeiro jogo. O segundo jogo disputou-se em Lisboa no dia 1 de Junho de 1959 e voltou a registar um empate (0-0).
Benfica e América nunca voltaram a encontrar-se no Brasil.
A digressão prossegue em São Paulo, ou melhor, em Santos, no Vila Belmiro, contra outras das 'bestas negras' do Benfica, o Santos, um dos adversários que nunca venceu ao longo da sua história. Pela primeira vez os encarnados estava cara a cara com aquele que se tornaria o mítico Santos de Pelé, único clube que pode pedir meças ao Benfica nas suas andanças pelo Mundo. O Santos era bi-campeão paulista mas ainda não era verdadeiramente o Santos, ou seja, o Santos que ficou escrito a letras mágicas na história do futebol. Mas tinha Manga, o guarda-redes que Eusébio e Simões destruíram em 1966. E tinha o grande Zito. E Dorval, e Jair, e Pagão, o herói do Chico Buarque, e Tita. E um menino de apenas 16 anos chamado Edson Arantes do Nascimento. Como dizia Nelson Rodrigues: Edson Arantes do Nascimento, por extenso Pelé.
Ah! Como as viagens do Benfica entusiasmavam aqueles que, por cá, dia a dia, se iam informando sobre o que se passava pelas páginas dos jornais.
'Oh, esse coqueiro que dá coco
Onde eu amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Brasil pra mim...'"

Afonso de Melo, in O Benfica

'No dia de São Martinho, pão, castanhas e vinho'

"No magusto 'encarnado' de 1980 houve 'pão, castanhas e vinho', mas o rei foi o porco

No dia 15 de Novembro de 1980, teve lugar no restaurante do Estádio da Luz o Magusto-80. Tradição da quadra de São Martinho, o magusto é uma festa que reúne amigos e familiares em torno de uma fogueira, onde se  assam castanhas para comer e se bebe água-pé, jeropiga e vinho novo. No magusto 'encarnado', não houve fogueira, mas não faltaram as comidas e as bebidas tradicionais e ainda houve pouco - «que fez 'as delícias dos comensais' - e uma 'rapsódia' de fado».
Organizado pela Comissão Central do Sport Lisboa e Benfica, o Magusto-80 contou com a colaboração de sócios, dirigentes e simpatizantes do Clube, que não só estiveram presentes em largo número como ofertaram comes e bebes para a festa. Houve mesmo quem oferecesse dois porcos! 'A ideia é poupar à Comissão Central os gastos inerentes, de modo que haja um número mínimo de despesa e um máximo de receita'. Até os 'cortadores dos »bichos»', numa 'atitude muito simpática', recusaram a gratificação que lhes era devida e pediram para ser pagos com emblemas do Benfica.
Com início às 17 horas, 'aí pelas 20 horas estava a festa no auge'. O repasto decorreu em 'ambiente familiar', repleto de 'demonstrações de dedicação benfiquista'. Comeu-se, bebeu-se - 'as febras estavam deliciosas', mas 'também o arroz, tanto que o «chef Dias» veio lá da cozinha para corresponder a uma chamada ao palco' - e, 'com o maior agrado e quentes aplausos', ouviu-se o fado pelas vozes do 'conjunto privativo (...) da Parreirinha de Alfama'.
Com os convivas bem animados e alimentados, veio a surpresa da noite: um 'leitão de «chispes»'! E o porco não comido 'rendeu nada menos do que 16 contos!'.
'E foi assim, neste ambiente descontraído e ameno, que a festa foi decorrendo. E as castanhas e a água-pé desaparecendo'. Só não se prolongou noite dentro 'porque o «bichinho» do desporto começou a atrair gente para o basquetebol que se disputava no pavilhão ao lado'.
Através da sua lente, Roland Oliveira registou a mesa onde jantaram os fadistas que abrilhantaram o magusto 'encarnado'. A fotografia, publicada no jornal O Benfica de 19 de Novembro de 1980, pertence ao arquivo do Centro de Documentação e Informação do Sport Lisboa e Benfica."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

Samaris, o novo lider do balneário encarnado?

"Foi com uns surpreendentes dez milhões de euros que o SL Benfica resgatou ao Olympiacos o passe do médio Andreas Samaris, corria a época 2014/2015.
Seria um valor demasiado alto? Esta era a dúvida que reinava no seio dos adeptos encarnados.
Ao Estádio da Luz chegava um médio centro de 25 anos, internacional grego, com uma estampa física imponente, quase 1,90 cm de altura.
A expectativa de ver Samaris a jogar era grande, mas a espera foi curta. Foi pela mão de Jorge Jesus que o então camisola 7 fez a estreia de águia ao peito.
Para além de todas as capacidades técnicas e físicas que lhe são reconhecidas, Samaris cedo demonstrou a astúcia e inteligência que caracteriza os grandes jogadores. Percebeu a dimensão do SL Benfica e, surpreendeu tudo e todos, no inicio da segunda temporada, quando deu uma entrevista na língua de Camões a um canal televisivo português.
Mesmo com jogadores de peso no balneário como Luisão, Enzo Pérez, Nico Gaitan, Jardel, entre outros, começou a ser notória a influência crescente do grego junto do plantel encarnado.
Época após época a sua possível saída era noticia, mas apesar do assédio de clubes estrangeiros o médio foi permanecendo e é, neste momento, um dos jogadores do plantel com mais anos de águia ao peito.
A época 2018/2019 foi bastante agridoce para o médio benfiquista. Com Rui Vitória no comando, o jogador natural da cidade de Patras foi praticamente descartado tendo ficado fora das opções de forma sistemática e, para muitos benfiquistas, incompreensível.
Foi só após a chegada de Bruno Lage que o jogador recuperou posição de destaque e se afirmou como um dos indiscutíveis da turma encarnada. Aproveitando a lesão de Fejsa, o médio rapidamente chegou à sua melhor forma, assumindo logo com Gabriel uma dupla decisiva para triunfos fundamentais na caminhada da reconquista, casos da vitória em Alvalade e no Dragão.
Acarinhado e visto como um líder pelo plantel, o jogador deu o exemplo ao longo da primeira metade da época, treinando sempre nos limites e não mais largando a titularidade até ao final do campeonato. Tem uma entrega tremenda nos 90 minutos, fazendo da firmeza com que aborda cada lance a sua imagem de marca. Por vezes acusado de ser demasiado viril pelos adeptos adversários, a raça e a entrega são duas das características chave do seu jogo.
Seguramente todos os leitores recordar-se-ão do vermelho directo visto em Moreira de Cónegos como uma definição do grego. Eu prefiro recordar esse lance como sendo um ato isolado e gravar na memória como lidou bem e de forma profissional com a ausência bastante prolongada de minutos nas pernas.
Por vezes comente excessos, como em Moreira de Cónegos e o lance que ditou o vermelho directo, mas é inegável para qualquer benfiquista o profissionalismo do grego, mesmo nos momentos mais difíceis, provando que os grandes campeões não se fazem dentro do campo. Com o futebol em constante mudança, é hoje fundamental ter um jogador que seja a voz do treinador dentro de campo e vejo em Samaris o homem certo para desempenhar essa função.
Com o final de carreira de Luisão e Jardel já numa curva descendente, é notória a importância de alguém que lhes possa suceder e ninguém melhor do que Samaris para ser o novo líder do plantel encarnado. 
Entra agora na sua sexta época de águia ao peito, sendo já um dos capitães do plantel.
Terá Andreas Samaris o perfil certo para carregar consigo, a tão desejada braçadeira encarnada?"

O SL Benfica voltou hoje

"Ficou marcado para a manhã de hoje o regresso ao Seixal da maioria dos jogadores do Benfica. Os treinos propriamente ditos só começam na quarta-feira e o primeiro jogo, com o Anderlecht, é só daqui a 10 dias. O primeiro jogo oficial está marcado para 4 de Agosto. Para já, hoje é o dia em que ficamos a saber quem realmente faz a pré-época e quem não faz.
Há desde já 12 jogadores do plantel da época passada que não vão aparecer hoje:
- Odysseas Vlachodimos, Rúben Dias, Ljubomir Fejsa, Andreas Samaris, Pizzi, Rafa Silva, Andrija Zivkovic e Haris Seferovic não vão aparecer porque estiveram nas suas seleções e ainda estão de férias
- Sebastien Corchia regressou ao Sevilla. Jonas e João Félix são saídas “oficiais”. Segundo os jornais não devem aparecer.
- Gedson Fernandes partiu um dedo do pé durante as férias e está lesionado
Do plantel do ano passado, devem aparecer todos os outros, cinco jogadores da equipa B/juniores, alguns regressos de empréstimos, os dois reforços oficializados e Chiquinho que deve ser oficializado hoje ou nos próximos dias. Teremos então os seguintes jogadores:
- G: Mile Svilar e Ivan Zlobin
- D: Tyronne Ebuehi, André Almeida, Jardel, Ferro, Pedro Álvaro (ex-junior), Germán Conti, Alex Grimaldo, Yuri Ribeiro e Nuno Tavares (ex-equipa B)
- M: Gabriel, Adel Taarabt, Krovinovic, Florentino Luís, Tiago Dantas (ex-equipa B), David Tavares (ex-equipa B) e Chiquinho (ex-Moreirense)
- A: Franco Cervi, Toto Salvio, Jota, Caio Lucas (ex-Al-Ain), Jhonder Cádiz (ex-Setúbal), Heriberto Tavares (emp Moreirense) e Nuno Santos (ex-equipa B)
Seria um regresso com 25 jogadores, no entanto a lista pode perfeitamente aumentar com jogadores como Branimir Kalaica (ex-equipa B), Cristian Lema (emp. Peñarol), Pedro Pereira (emp. Genova), ou Chris Willock (ex-equipa B). Ou seja, pode chegar aos 29 jogadores. O que no entanto é pouco provável pois em breve os 8 jogadores das seleções deverão juntar-se.
No meio destes 25 jogadores, há jogadores que quase de certeza não vão ficar, pelo menos para já, no plantel principal. Mile Svilar deverá ser emprestado. Entre Nuno Tavares e Yuri Ribeiro, só um ficará. Pedro Álvaro, Tiago Dantas, David Tavares e eventualmente Nuno Tavares (se Yuri ganhar o lugar) devem regressar à equipa B. Krovinovic tem sido falado que deverá ser emprestado. Creio que entre Jhonder Cádiz e Heriberto Tavares só haverá lugar para um. Tenho muitas dúvidas que o Benfica fique com Cervi, Salvio, Jota, Zivkovic e Caio Lucas atrás de Pizzi e Rafa, logo muito provavelmente 2 ou até 3 destes jogadores ainda irão sair. O mesmo se passa com Fejsa, que nesta altura da carreira deve querer jogar.
Contas feitas, o Benfica tem ainda por colocar Pedro Pereira, Hélder Baldé, Branimir Kalaica, Matheus Leal, Cristian Lema, Filip Krovinovic, Chris Willock, Pêpê, Martin Chrien, André Carrillo, Oscar Benitez, Alfa Semedo, Zé Gomes, Ivan Saponjic, Cristian Arango e Tiago Macedo. Além de todos os outros que não conseguirem um lugar no plantel.
A nível de reforços, além de Caio Lucas, Jhonder Cádiz, Chiquinho e eventualmente algum dos miúdos (Nuno Tavares e Nuno Santos parecem-me os maiores candidatos, além de Heriberto Tavares), estou a contar com mais três reforços:
- Um deles, ao que tudo indica, será Raúl de Tomás que irá competir com um lugar no 11 inicial com Haris Seferovic, ou seja, um ponta de lança de referência.
- Espero também que acabemos por contratar alguém para fazer o lugar de João Félix. Dani Olmo ou Ianis Hagi, dois jogadores que estiveram em grande evidência no Europeu S21, encaixavam-se que nem uma luva. Um deles até conhecemos bem porque jogámos contra ele na Liga Europa.
- Por último, falta um guarda-redes de um nível superior. Não que Vlachodimos seja mau. Não é mau. Mas tudo o que não envolva estar em cima da linha de golo é complicado para o grego. Seja cruzamentos, saídas, jogo com os pés ou controlo da profundidade, é um perigo.
- Defesa direito e defesa esquerdo, acho que não faz sentido, pelo menos para já. Sem ver melhor do que Ebuehi e Nuno Tavares são capazes a este nível, não vejo a lógica de ir ao mercado. Ebuehi tem a questão da lesão, mas o departamento médico do Benfica saberá melhor do que nível se ele está apto ou não.
Mais logo, às 19h00, Bruno Lage dá uma entrevista na BTV que ajudará a desvendar mais um pouco dos planos para o Benfica."

Com o dedo de Lage

"Bruno Lage tem um discurso interessante. Simples e directo. Sem grandes floreados, mas explicando o que quer dizer sem rodeios. Todos percebem o que pensa sobre a saída de João Félix. E que sabe que não vale a pena chorar sobre o leite derramado. As palavras sobre o plantel, os jovens e a pré-época são, todas elas, conclusivas e informativas. Sabe bem ouvir alguém assim. Sem medo de falar. 
Tenho algumas dificuldades em entender negócios como Chiquinho. Mas a verdade é que o Benfica é neste momento um clube saudável, que lhe permite pagar para ter os melhores miúdos, pagar a quem os projecta e pagar até para os reaver. Ter mais dinheiro do que os outros faz toda a diferença. É assim que se fica mais perto de ganhar. Acontece na Luz.
"Não há dinheiro nenhum que me tire do Sp. Braga." A frase é de Abel Ferreira, que acrescentou na altura: "O único que o poderá fazer é o presidente, que terá de me pagar até ao fim." Não faço mais comentários. A piada está feita.
Traído inesperadamente, muito bem António Salvador. Defesa intransigente dos interesses dos guerreiros e escolha célere do sucessor. É duro perder o treinador a horas do arranque, mas quem sabe não será positivo após o doloroso final da época passada?"

Benfiquismo (MCCXXIV)

Golo...