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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Futebol está fora de jogo

"É curioso. Nem a FIFA nem o Comité Olímpico internacional têm a coragem de enfrentar uma questão tão importante. O futebol continua a pairar em redor dos Jogos como se deles não fizesse parte. A coisa é tão óbvia que, ontem, começaram os jogos de futebol feminino, sem que tivessem começado os Jogos Olímpicos. Os hipócritas dizem que não há razão para alarme, afinal o futebol até abriu os Jogos. Que o futebol abriu, é uma verdade indesmentível, mas não se sabe bem o quê, porque os Jogos só abrem oficialmente amanhã à noite.
Terá sido uma abertura oficiosa que até teve a presença oficializada do inefável Blatter. A verdade é que o caso não dignifica o futebol, que vai andar por todas as terras britânicas, da Escócia ao País de Gales; nem o espírito olímpico que, em matéria de futebol, é mais justamente o espirro olímpico.
O problema é antigo. Vem dos tempos de Samaranch e de Havelange. Passou, depois, para o cinzento belga de Jacques Rogge e para o olímpico azedume de Blatter. Enquanto estas figuras perdurarem nos seus postos, já se sabe que nada acontecerá.
Mesmo depois, não me parece que possa haver grande esperança. Rogge abandonará o comité olímpico internacional depois dos Jogos de Londres, mas sabe-se pouco do seu provável sucessor germânico: Thomas Bach.
Quanto a Joseph Blatter estará de pedra e cal e se o sucessor for Michel Platini, também não deverá trazer grandes novidades.
E, assim, o futebol continuará fora de jogo, jogado por selecções nacionais criadas a bel-prazer de cada país e à luz de um filosofia de escolha verdadeiramente caótica."

Vítor Serpa, in A Bola

Os Jogos Olímpicos

"Aí estão os Jogos Olímpicos (JO) de Londres. Sempre me fascinou este planetário evento desportivo. Não tanto pela exuberância do betão e pelo incitamento de todas as formas de marketing, mas pela festa humana e pelo ecletismo desportivo. Lembro-me da sofreguidão com que lia no jornal os resultados dos primeiros jogos do que tenho memória (Roma, 1960) e de como vibrei com a prata dos irmãos Quina em vela. Ou da primeira integral cobertura televisiva na Cidade do México (1968) onde Dick Fosbury imortalizou o 'flop' como nova técnica para o salto em altura que foi substituindo a do rolamento ventral.
Na sua origem e conforme os documentos oficiais «o Olimpismo (...) combina de forma equilibrada as qualidades do corpo, da vontade e do espírito. Aliando o desporto à cultura e educação, o Olimpismo é criador de um estilo de vida fundado no prazer do esforço, no valor educativo do bom exemplo e no respeito pelos princípios éticos fundamentais universais».
Os JO são um lugar de encontro universal, agora regressado a uma cidade também ela universal. E um tempo para o desporto como espaço de ética intensiva. Do espírito de fair play, decência, integridade, lealdade, exemplaridade, disciplina, solidariedade, autenticidade e orgulho de pertença.
Para mim, JO são, em primeiro lugar, atletismo, ginástica e outros desportos pouco vistos (e que bom seria se comentados com a preocupação de ensinar as regras que a maioria desconhece). Outros, como o futebol e o ténis (e não só) estão a mais, abastardando o espírito olímpico com critérios abstrusos de selecção e de hiperprofissionalismo dos atletas."

Bagão Félix, in A Bola