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terça-feira, 8 de março de 2016

O futebol na encruzilhada

"(...)
2. O espectro da Superliga Europeia não foi arquivado, continua na agenda de alguns dos grandes clubes continentais e mais ano menos ano será uma inevitabilidade. O gap económico entre as Ligas dos vários países começa a ser profundo demais e a exigir que se tomem medidas para o mitigar. O alvo a atingir é a Inglaterra, onde o futebol-negócio está muito à frente do de todos os outros países europeus. Se o 15.º classificado do campeonato britânico pode encaixar mais do que a Juventus (1.º classificado na Série A, em Itália) em direitos televisivos, algo está mal. É óbvio que se tal cenário vier um dia a vingar, os campeonatos nacionais serão despromovidos à II Divisão da UEFA com o consequente empobrecimento cultural, financeiro e técnico."

Manuel Martins de Sá, in A Bola

Os príncipes vermelhos passearam no parque...

"O Benfica foi a Paris no dia 15 de Junho de 1967 fazer uma exibição de classe frente ao Angers. Venceu por 1-0 (golo do inevitável Eusébio) e apadrinhou a estreia de um jogador que ficaria na história do Clube: Adolfo.

Aqui há uns tempos falei de Artur, o «Ruço», correndo solto pelo lado direito. Hoje falo do lado esquerdo.
Gosto de andar pelo lado esquerdo: na rua e na vida.
Adolfo: Adolfo António da Cruz Calisto, por extenso.
No seu tempo o melhor defesa esquerdo de Portugal. Mais um produto desse alforge de jogadores que foi o Barreiro, onde nasceu no dia 1 de Janeiro de 1944. Em miúdo, no Barreirense e no Seixal, era avançado. No Benfica era um defesa-avançado, se assim lhe quisermos chamar. Ia e vinha pelo lado esquerdo, procurando os companheiros da frente, baralhando os adversários de trás.
Disse um dia que o pontapé-na-bola no sítio da «Escavadeira» lhe valeu muitas sovas do pai, António Calisto, e sobretudo da mãe, Joaquina Curado. Valeu-lhe sovas e as sovas valeram-lhe de muito, deixem estar. O vício entrara nele como o caruncho entra na madeira. E não saiu.
Entranha-se na equipa de Juniores do Barreirense e ninguém o estranha. Vai completando lugares, assim a modos de quem colecciona os velhos cromos das nossas infâncias: pontapé-de-bola, ponta-esquerdo, lateral-esquerdo. É aí, nesse lugar que ficará famoso. Recebe convites do FC Porto, da CUF, do Vitória de Setúbal. A todos diz: não!
José Augusto é uma daquelas figuras incontornáveis do Benfica. Um bom amigo, eu que o diga, sempre atento ao que se passa no Futebol da sua terra: o Barreiro, pois claro!
Adolfo não foge ao seu crivo de olheiro fino. Marca-o a ferro em brasa na memória e fá-lo vir para o Benfica: num ano único para a história do Futebol português - 1966 do Verão do nosso contentamento.
E o Benfica é um nunca mais acabar de estrelas: Eusébio, que cintila mais do que todas as outras, e Coluna, Simões e Torres, José Augusto e Costa Pereira.
Estreia-se na equipa principal no dia 15 de Junho de 1967.

Elogios atrás de elogios
Nesse dia o Benfica estava numa cidade que sempre disse muito a Eusébio. Foi em Paris que ele fez o seu baptismo internacional num e inesquecível jogo frente ao Santos de Pelé.
Adolfo não teve direito nem a Santos nem a Pelé.
O adversário que os 'encarnados' enfrentaram nessa noite no Parque dos Príncipes era o Argers Sporting Club de L'Quest, ou simplesmente Angers, nesse tempo uma das principais equipas do campeonatos francês.
Adolfo jogou na esquerda, o que não era surpresa nenhuma. A seu lado, na defesa, Cavém, Raúl e Jacinto. Atrás destes quatro, José Henrique. Daí para a frente, Jaime Graça, Calado e José Augusto, Eusébio, Torres e Simões.
Não há aqui espaço para suspenses à Hitchcock: o Benfica ganhou por 1-0, golo do inevitabilíssimo Eusébio da Silva Ferreira, num lance bem ao seu estilo que deixou o público francês rendido à sua classe. E, diga-se também, à classe do próprio Benfica.
A imprensa não poupou elogios: «Ontem à noite, no Parque dos Príncipes, frente ao Angers, uma das melhores equipas de França, e perante uma assistência pletórica de entusiasmo, o Benfica alcançou uma vitória por 1-0, mas uma vitória alicerçada em Futebol de inquestionável categoria, fascinantemente espectacular».
E um pouco mais à frente, nessa edição do «Diário de Lisboa»: «Diante de uma equipa de tal quilate, a máquina benfiquista funcionou com soberana precisão, digamos mesmo, com diabólica precisão, passeando pelo Parque dos Príncipes para orgulho dos inúmeros portugueses presentes, uma superioridade majestática própria dos grandes senhores».
Adolfo pode não ter sido baptizado pelo Santos ou por Pelé, mas quereria estreia mais eloquente?
Voltaria à reserva até que uma lesão de Cruz lhe abriu o lado direito da defesa no grupo dos titulares num jogo frente ao FC Porto. Depois voltou à esquerda, onde se sentia bem. Alternou - no bom sentido, é óbvio. No fundo, jogava onde fosse preciso. Ficou nove anos na Luz e foi campeão em seis. E figura grande da festa da Minicopa, em 1972, treinado por José Augusto, o homem que o trouxe para o Benfica, então seleccionador nacional.
O tempo passou célere sobre essa noite de Paris em que Adolfo foi um dos príncipes vermelhos que passearam no parque. Nunca a esqueceu... Por isso a recordo aqui."

Afonso de Melo, in O Benfica

A Batalha de Leverkusen

"Um hino ao futebol que será recordado como um dos melhores jogos de sempre do futebol europeu.

Soou o apito final, houve um ligeiro momento de silêncio e depois uma multidão entrou em erupção. Tinham acabado de assistir a uma verdadeira 'batalha', na qual 22 guerreiros tinham dado tudo de si para derrubar o adversário. Quem ganhou? O Benfica, claro! A equipa 'encarnada' garantia assim presença na meia-final da Taça das Taças de 1994.
O jogo em Leverkusen foi uma verdadeira batalha e os jogadores do Benfica foram os guerreiros que olharam para os seus adversários de frente, mesmo em terreno hostil, desafiando-se. Os gigantes guerreiros alemães olharam com desdém para os pequenos guerreiros portugueses, pensando que ultrapassariam com facilidade essa batalha. Sentimento que estava tão longe da verdade. A liderar as hostes alemãs, estavam os temíveis Bernd Schuster e Ulf Kristen.
O palco estava montado para aquele que é considerado um dos melhores confrontos europeus de sempre. Começou melhor o Leverkusen, com um golo na primeira parte de Kristen. No começo da segunda parte, Schuster ampliou a vantagem para 2-0, o que para muitos seria o fim, mas para os guerreiros 'encarnados', que nessa noite vestiam de branco, foi como o rastilho que os levaria a uma noite de gala. A comandar as tropas encarnadas estava um jovem 'maestro', Rui Costa. O jovem jogador esteve nos três primeiros golos do Benfica: Abel Xavier, João Pinto e Kulkov corresponderam da melhor maneira aos passes de Rui Costa. Os gigantes alemães voltaram a dar a volta ao jogo com golos de Kristen e Hapal. O 'golpe fatal' dos guerreiros 'encarnados' não foi dado pelo 'matador' de serviço, mas sim pelo herói improvável Kulkov, que era uma espécie de 'sargento' no meio campo do Benfica.
A palavra final coube aos cerca de 10 mil Benfiquistas que vieram em auxílio dos seus bravos guerreiros. Durante 90 minutos nunca deixaram de apoiar, empurrando a sua equipa para a frente. Com o fim da batalha, entraram em erupção e foi com uma mistura de emoção e orgulho que aplaudiram aos seus guerreiros.
Estas são as batalhas que os Benfiquistas aplaudem e sentem orgulho. As batalhas conquistadas dentro de campo com suor, sangue e lágrimas, e sempre com um profundo respeito pelo adversário. Esta e outras batalhas inesquecíveis podem ser recordadas no Museu Benfica - Cosme Damião."

João Fortes, in O Benfica


Benfiquismo (XXXVII)

Torres a marcar o 2.º golo do Benfica na neve de Amesterdão!
Ajax 1 - 3 Benfica, 12 de Fevereiro de 1969
Golos de Jacinto e Torres(2)

Este foi o jogo da 1.ª mão dos Quartos-de-final da TCCE. Na Luz acabámos por perder por 1-3, e fomos obrigados a um terceiro jogo, em Paris!!! Onde acabámos eliminados por 3-0... Mas como se pode ver pelas imagens, o frio e a neve não impediram o Benfica de vencer este jogo...!!!