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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A Champions e a Liga Europa

"Uma equipa portuguesa que faça uma excelente prova nas competições europeias aspira realisticamente a uns quartos-de-final da Liga dos Campeões, mas na Liga Europa aspira a poder vencer a prova. Qual é a melhor então?

Admito até opiniões diferentes, mas é como ser campeão da Liga de Honra ou ficar nos seis primeiros da Primeira Liga. A Liga Europa é a II Divisão europeia, a Liga dos Campeões é a primeira. É bom estar na primeira, mesmo sabendo que realisticamente não a iremos vencer.

São impressionantes os valores de receita que proporcionam. Mais de 15 milhões já acumulados (sem market pool) esta época para o Benfica é muito cacau! O Benfica fez uma boa prova. Venceu duas pré-eliminatórias difíceis, contra adversários ainda nas provas europeias, e ficou em primeiro num grupo que deixa de fora um gigante como o Manchester United. Jesus tem razão quando diz que aumentou o prestígio europeu do Benfica, mas Rúben Amorim tem bom senso quando diz que apenas poderemos pensar numa eliminatória de cada vez.

É doce, no entanto, ser com Real Madrid e Barcelona uma das únicas três equipas invictas da prova. É bom pelo nível da companhia, e porque é bom não perder.

A Liga dos Campeões teve surpresas, a maior das quais o APOEL, uma equipa fraca para o nível da prova, que teve como único resultado lógico o do seu último jogo. Lamento que não tenha ficado em segundo do grupo para jogar com o Benfica, talvez por essa razão o FC Porto tenha preferido não marcar ao Zenit, talvez por isso havia tanto benfiquista a desejar sorte a Vítor Pereira.

A pensar no jogo de 21 em Alvalade deixámos uma taça nos Barreiros, numa derrota difícil de digerir para quem como eu respeita tanto a Taça de Portugal. O mesmo Marítimo que domingo nos dita a sorte no campeonato. Uma vitória na Madeira coloca o primeiro objectivo da época numa posição privilegiada."


Sílvio Cervan, in A Bola

Alerta

"Quanto custou a derrota frente ao Marítimo? Custou a Taça de Portugal, custou a quebra de um clima de frenético entusiasmo em torno da equipa. Custou tudo isso, custou dolorosamente, mas o que custou pode custar menos. Como assim? Desaires há que são pedagógicos, que ajudam a perceber que o trajecto competitivo não é linear, não é sempre vitorioso.

O Benfica, esta temporada, ainda não havia perdido em desafios oficiais. O registo era entusiasmante, mas porventura sugeria facilidades que não existem, nunca existem. Não há colectivos, por mais forte que argumentem, invencíveis em todas as empreitadas que disputam. Sobretudo no Futebol, muito menos no Futebol.

Consequências do revés na Madeira? A convicção de que o Benfica até poderia superar o seu opositor, mas que o contratempo só pode obrigar a equipa a reforçar os seus melhores índices na competição. E o que há ainda para vencer? Desde logo, o Campeonato. Também a Taça da Liga, ainda uma prestação digna na Liga dos Campeões.

Uma derrota, esta época, com este Benfica, para mais a nível doméstico, é difícil de dirigir. Só que deve servir de alerta, deve servir para perceber que não há jogos ganhos antecipadamente. O aviso é para a equipa técnica, é para os jogadores, é para os dirigentes? Também é, claro que é. Mas é, fundamentalmente, para os adeptos. E porquê? Para que não murchem na sua convicção, no seu apoio, na sua alma, na sua crença.

Estamos em Dezembro. A temporada só termina em Maio. De vermelho colorida? Tanto mais vermelha quanto mais vermelho, convictamente vermelho, for o apoio dos aficionados. Depois do baque no Funchal, vamos reforçar o vermelho da confiança? A ser assim, razão bastante para que vermelho, muito vermelho, venha a ser, no final, o nosso contentamento."


João Malheiro, in O Benfica

Dormir na ocasião

"Ao ver a desonrosa eliminação do nosso Benfica da Taça de Portugal, recordava-me das palavras de Padre António Vieira no “Sermão de Santo António aos Peixes”.

Em 1654, o ilustre pensador lusitano, referindo-se aos peixes roncadores, e criticando a soberba dos mesmos, dizia que “O muito roncar antes da ocasião, é sinal de dormir nela”. Nesta simples frase lá ia explicando o nosso grande orador que não é digno dos grandes falar antes da ocasião, pois corre-se o risco de ser a ocasião a ultrapassá-los.

Antes da eliminação frente ao Marítimo, foi um corre-corre de encómios e louvores: os resultados frente ao Manchester e ao Sporting deram azo a que as manchetes fossem feitas com as referências à sequência de vinte e tal jogos invictos. De repente, vi entrevistas exclusivas de futebolistas nossos a jornais desportivos e até a jornais que sobrevivem às custas de mentiras torpes sobre o nosso Benfica. As conferências de imprensa dividiram-se entre o auto-elogio e a tal estatística da invencibilidade… ou seja, roncou-se muito antes da ocasião. Resultado: dormiu-se nela. Foi-se a invencibilidade, foi-se a Taça de Portugal, espero sinceramente que se tenha ido, definitivamente, a falta de humildade no discurso. E, além da falta de muitas outras coisas – desde a sorte a alguns habituais titulares – a humildade foi o que de mais deficitário o nosso Benfica teve naquele Estádio dos Barreiros.

De uma derrota só tira algo de positivo quem tem a capacidade de perceber os erros próprios como uma lição, uma aprendizagem. Quero acreditar que todos, sem excepção, a tenhamos aprendido."


Pedro F. Ferreira, in O Benfica

"Incidentes"

"O que é que aconteceu na noite de 26 de Novembro, no Estádio da Luz? Resumindo: o Benfica ganhou; o Sporting perdeu; o Estádio inaugurou uma área reservada e protegida para as claques dos visitantes, como existe já em diversos e modernos estádios do mundo; no final do do jogo, inconformados com a derrota, adeptos do Sporting incendiaram uma vasta zona da bancada. Posteriormente, o Sporting alegou que teriam sucedido «muito graves acontecimentos», nunca especificados, supostamente documentados numa gravação. Desafiado a mostrar a presumível gravação, o Sporting meteu a viola no saco.

Mas a generalidade dos meios de comunicação passou desde então, e ao longo de toda a semana, a referir-se aos «incidentes» daquela noite, um caldinho de especulação e manipulação. E com isto: deixou de se falar da vitória do Benfica; deixou de se falar da derrota do Sporting, um leão de papel levado ao colo pelos jornais como equipa imbatível; e deixou mesmo de se falar do único incidente que se registou e toda a gente viu - o crime de fogo posto, previsto e punido nos termos do Código Penal. O Regulamento Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol Profissional prevê a indemnização de danos em instalações de um clube causados por sócios ou simpatizantes de outro.

Não houve outros «incidentes». O que há é um imenso blá-blá-blá, papaguedo e escrito, para disfarçar um comportamento que se inscreve nos puros e simples actos de hooliganismo.

Aditamento: Espero que a triste derrota que afastou o Benfica da Taça de Portugal tenha ao menos servido para corrigir erros. E que o resultado da lição se veja, sem falta, já este fim-de-semana, de novo no Funchal, agora para o Campeonato."


João Paulo Guerra, in O Benfica