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quinta-feira, 21 de maio de 2020

«Sporting ofereceu mais 20 contos mas preferi o Benfica»

"Diamantino, bem ao seu jeito, faz-me duas ou três reviengas antes de conseguirmos marcar a entrevista. Ao fim de alguns whatsapps, lá fechamos a hora e Diamantino atende pontualmente, pronto para desbobinar a cassete das memórias dos tempos de jogador. Sem rodeios ou frases feitas, e com muitas gargalhadas à mistura, Diamantino vai por ali fora sem medo e conta-me os pontos altos da passagem pelo Benfica, a desilusão com a Seleção, a juventude de um miúdo educado mas reguila, cuja referência era Cruyff, terminando com um olhar assertivo e pragmático sobre o que esperar para o futebol português nos próximos tempos.

– Onze épocas à Benfica –
Tenho que começar por aqui. O meu pai diz que se não te tens lesionado contra o Guimarães antes da final da Taça dos Campeões Europeus [1988], o Benfica tinha ido lá…
(risos) É o que toda a gente diz. De tanta coisa boa que fiz, e isso é um elogio claro, uma das coisas que as pessoas mais me dizem quando me veem é “Por causa de si, não ganhámos a Taça dos Campeões Europeus”. Ehehehe.

Tu nem jogaste a final e as pessoas dizem-te que a culpa de o Benfica não ter ganho é tua?
Ehehe, é mesmo!

Foste ver a final a Estugarda?
Sim. Eu lesionei-me no sábado e o jogo foi na quarta-feira. Eles decidiram não me operar logo naquele dia e fui ver a final com a perna engessada. Quando vim de Estugarda fui directo ao hospital para ser operado.

Como é que se vive uma final daquelas a partir da bancada?
As coisas no futebol, para mim, sempre foram algo efémeras, tanto que em casa não tenho assim nada à mostra, nem camisolas nas paredes. Está tudo no sótão em caixotes. Eu como jogador vivia da mesma maneira: aconteceu, paciência. Se calhar era a época mais consistente que eu estava a ter, ainda por cima naquela idade estava no auge, com 26 ou 27 anos. Até já estava a jogar como médio ofensivo, já tinha deixado os extremos. Estava a ser uma grande época, por isso é que as pessoas diziam que aquilo circulava tudo à minha volta e que se eu tenho jogado tínhamos ganho aquela final. 

Foi o momento mais difícil da tua carreira?
Sim, é possível que sim. Mas não olhei para isso como uma catástrofe enorme que se abateu sobre mim. Aconteceu, foi assim, e realmente teve alguma influência na minha carreira porque naquela altura estive muito tempo parado. Muito tempo não, eu fiz três meses e pouco numa lesão que costuma ser seis ou sete meses. Eu ao fim de três meses e 12 dias estava a jogar, mas foi sobretudo porque eles queriam. Eu só ao fim de um ano, mais ou menos, é que me senti em condições.

Quem eram os líderes da brincadeira no balneário?
Eu era um brincalhão, o Carlos Manuel também, o Bento. Eu entrei no Benfica em 1977, entrei como júnior mas para os seniores e ainda podia fazer mais dois anos de júnior. Naquela altura era muito difícil entrar numa cabine do Benfica, havia nomes enormíssimos como Toni, Humberto Coelho, Vítor Baptista, Vitor Martins, Zé Henrique. Eu quando fui para lá era um miúdo, não tinha grande moral naqueles primeiros anos (risos). Naquela altura havia hierarquias e mais respeito pelos jogadores mais antigos, hoje já não.

Em que sentido?
Um exemplo. Quando cheguei ao Benfica, o treino começava com uma corrida de 10/15 minutos à volta do campo. Este aquecimento era feito em grupos de três ou quatro e esse respeito e essa hierarquia viam-se logo aí, porque chegavas nesse ano e ias para último da fila. Ou seja, só ias subindo na fila consoante os anos que fosses ficando. Eu acabei por chegar à primeira fila, foram muitos anos. Quando eu cheguei, os primeiros eram o Humberto, o Toni, os mais antigos no clube.

Havia quase uma reverência dos recém-chegados relativamente aos mais experientes?
Sim, nessa altura por muito “palhaços” que fossemos não tínhamos a confiança para chegar lá e falar com o Humberto e com o Toni, começar ali a brincar, como eu já apanhei no meu tempo aqueles que vinham dos juniores. Não é que não respeitassem mas não olhavam muito ao estatuto, já vinham dos juniores como craques. Nós não, podíamos ser craques mas mantínhamos ali… eles obrigavam-nos a manter porque não davam muita confiança. Tenho orgulho em dizer que aprendi muito, muito, muito no Benfica, não só como jogador mas também como pessoa, foi uma escola para a vida.

Final da Taça de Portugal 86/87, fui ver o resultado: Diamantino Miranda 2-1 Sporting. Os teus dois golos são fabulosos. Na tua opinião, qual deles é o melhor?
Eu nesse ano acho que marquei oito ou nove livres directos. Talvez a jogada do segundo golo, como é uma jogada quase individual, é um passe do Nunes ainda no nosso meio-campo e depois a partir daí é uma jogada completamente individual até ao golo. O primeiro é mais um golo de técnica. Quer dizer, o segundo também (risos). O segundo tem tudo, técnica, velocidade, potência, drible, tem tudo.



O primeiro drible é qualquer coisa. Tu sentes que o defesa vem nas tuas costas?
Sim, eu costumava fazer muito aquilo. Normalmente eu era marcado muito em cima e por isso costumava olhar antes de receber a bola. Se via que o jogador estava à distância, percebia que, quando o passe fosse feito, ele ia arrancar. Porque naquela altura, se passasse a bola não passávamos nós e eu já sabia que tinha um adversário, caricaturando, tipo touro a ir contra a capa. Fiz muitas vezes aquele tipo de drible mas havia vezes que os defesas chegavam a tempo de me dar uma porrada (risos). Mas aquela saiu bem e ainda bem.

O livre também é qualquer coisa…
O golo de livre também é um excelente golo porque eu tinha a percepção que os guarda-redes mais experientes, que era o caso do Damas, grande, grande guarda-redes, normalmente tentavam adivinhar os lances. Naquela zona o mais comum era colocar a bola no canto mais próximo por cima da barreira e eu entendi que era isso que o Damas estava a pensar. Quando parto para a bola, vejo o Damas dar um passo para o lado do poste mais perto e acabei por decidir meter a bola no lado dele. Ele quando deu o passo quis recuperar mas já não deu tempo.

Tu até o cameraman enganas porque ele ainda está a focar-te quando te estás a preparar para bater e de repente já a bola está a entrar.
É, porque nós tínhamos aquele livre estudado. Quando era mais longe da baliza era o Carlos Manuel que marcava e, como aquele era mais perto, fui eu a marcar. O Carlos Manuel preparava a bola e assim que ele tirava as mãos eu rematava. Ele nem sequer recuava, ao tirar as mãos eu marcava logo. Eles eram apanhados desprevenidos porque julgavam que era o Carlos Manuel a marcar e, como ele estava com as mãos em cima da bola, descontraíam um pouco. Fizemos vários golos assim.

Entrevistei há uns tempos o Álvaro Magalhães, que me disse que se há equipa que sabe jogar no Jamor é o Benfica. Concordas? 
É assim, o Benfica sabe jogar no Jamor, pelo menos estou a referir-me mais ao meu tempo e àquelas alturas em que fomos ao Estádio Nacional muitas vezes, eu ganhei cinco Taças de Portugal. Naquela altura o Benfica em cinco finais da Taça ganhava quatro, às vezes mesmo as cinco. Essa coisa do sentir-se bem aqui ou acolá, normalmente associo isso ao valor da equipa. A equipa era melhor, jogava melhor que os outros, normalmente ganhava mais vezes. Associo a isso não só o saber jogar no Estádio Nacional. Por exemplo, estou a recordar-me de 82/83, em que a Federação Portuguesa de Futebol resolveu fazer a final da Taça de Portugal no Estádio das Antas, contra o Porto.

Que acabou por ser em Agosto não foi? O Eriksson mandou-vos de férias e depois só se jogou em Agosto?
Sim e nós fomos lá ganhar 1-0. Por isso, tem que ver com a qualidade da equipa e não com o campo onde se joga. Agora, se perguntarem a todos os jogadores desse tempo, nós associávamos ao ambiente, à festa. O jogar lá, para mim, continua a ser o jogo mais bonito da época. Aquele Estádio Nacional como está, tenha condições ou não. Nós jogadores gostávamos muito, os do Sporting também e os do Porto só depois é que começaram a criar uma certa aversão ao Estádio Nacional, mas mais por estratégia do que por outra coisa, eu compreendo.

Como jogador, como é que viveste a chegada de Sven-Goran Eriksson e o que ele trouxe ao clube?
Tenho um sabor agridoce em relação ao Eriksson. A vinda dele para o Benfica revolucionou todo o futebol português. Não foi só o Benfica, foi todo o futebol português e isso percebeu-se na evolução que o nosso futebol teve em termos tácticos e de mentalidade. Nós vamos à final com o Anderlecht, depois o Porto vai à Taça das Taças e é campeão europeu…

Revolução a que nível?
Foi uma revolução em termos de treino. O Eriksson trouxe uma nova metodologia e passamos de um treino convencional para um treino mais específico. Deixámos de correr nas matas, de fazer treinos de conjunto durante duas horas, de andar a correr à volta do campo, subir bancadas. Começámos a fazer um treino que era específico para o futebol e deixámos de fazer o trabalho de força do atletismo. Depois revolucionou em termos mentais. Por exemplo, nós jogávamos em Roma, como jogámos e ganhámos, como se jogássemos em casa contra uma equipa mais acessível do nosso campeonato. Em termos técnicos nós éramos muito bons, só faltava encarar todos os adversários da mesma maneira, sabendo que ganharíamos a maioria dos jogos. E foi o que aconteceu, tanto em Portugal como na Europa.

Esse trabalho de mentalidade era antes do jogo ou ao longo da semana?
Durante a semana. Nós percebíamos logo à 3ª-feira quem jogava ao domingo. Antes de ele chegar, nós sabíamos os 11 que iam jogar dentro da cabine, uma hora e meia antes do jogo. Com aquele tipo de treino, durante a semana nós percebíamos quem ia jogar porque havia o treino por sectores e ele preparava os quatro defesas que iam jogar, os médios e os avançados. Aquilo que ele realmente mudou, e que hoje em dia se chama com aqueles “palavrões” das pressões altas, diagonais interiores e exteriores, nós treinávamos isso já naquela altura. Depois muitos aproveitaram essa metodologia de treino que o Eriksson implementou, até hoje. Em termos de Benfica, outra revolução do Eriksson foi passarmos a ter um jogo muito mais vertical.

E isso trouxe mudanças nas funções dos jogadores em campo?
Deixámos de ter aqueles médios, e o Alves foi um dos sacrificados nessa altura, ele tinha uma técnica de passe excepcional, metia a bola a 40 metros mas o que o Eriksson queria era médios que fizessem o passe e, no tempo em que a bola demorasse a fazer o percurso até ao avançado recepcionar a bola, chegassem lá para dar o apoio frontal ao avançado. O Alves era fabuloso nas bolas longas, metia a bola onde queria, tinha uma visão de jogo espectacular mas depois faltava-lhe isso.

É nessa óptica que começam a chegar os jogadores nórdicos ao Benfica?
É, o Eriksson optou por um sueco chamado Stromberg, que não tinha nada a ver em termos técnicos com o Alves. Mas para aquilo que o Eriksson queria, era um jogador muito mais útil que o Alves. E era este tipo de futebol que ele queria, a pressão alta, o criar zonas de pressão.

Com resultados satisfatórios?
Foi por isso que o Benfica, além de ter uma grande equipa, os resultados quando o Eriksson chegou eram oito ao Guimarães, sete ao Braga, oito ao Penafiel, nove ao Marítimo e por aí fora. O Eriksson deve ter sido o primeiro treinador em Portugal a usar vídeos. Havia cassetes de VHS e acho que era o Prof. Jorge Castelo que filmava os jogos e depois tirava 10 minutos do jogo do adversário, das jogadas padrão, das movimentações, das características individuais de cada jogador. Nós já víamos isso em ’82 e depois era o Toni que normalmente falava 2/3 minutos sobre a equipa adversária, porque era ele que tinha o conhecimento, o Eriksson não sabia nada de Portugal.

Como eram as palestras dele antes dos jogos?
Era só “Joguem aquilo que treinámos, divirtam-se”. E pronto. Mas nós treinávamos era muito especificamente, coisa que os outros ainda não faziam, bolas paradas, aqueles movimentos sem bola que hoje em dia se treina, desde a bola a sair do guarda-redes. Aquilo que se chama hoje o jogo de posição, nós já fazíamos isso, não tinha era esses nomes. Nós sabíamos quando a bola estava no Pietra, qual era a movimentação que o médio direito tinha que fazer para o médio centro entrar nas costas do extremo que baixava. Eram dois pontas-de-lança, um deles deslocava-se para o corredor da bola e o outro ia para receber na frente, porque se a bola fosse mais alta ele estava lá para receber e o outro rodava para fazer o apoio frontal. Tudo isso já nós fazíamos nessa altura e o Eriksson foi o grande implementador dessa filosofia e dessa metodologia de treino.

Porque falavas então em agridoce?
Porque depois ele volta em 1990, a seguir à minha lesão, eu faço um ano e saio no ano a seguir, já não fiz o segundo ano com ele. Ele marcou muito a minha geração e teve muito a ver com a evolução que o futebol português teve nessa altura em termos europeus. Basta dizer que depois Portugal vai ao seu primeiro Europeu em ’84 e vai ao Mundial em ’86.

Qual foi o jogo com o melhor ambiente no Estádio da Luz?
Aquele jogo que marca mais é a meia-final com o Steaua de Bucareste [1988], onde se fala entre 120 a 140.000 pessoas, na altura ainda não havia cadeiras. Esse foi o jogo que me marcou mais em termos emocionais porque dava acesso a uma final, final que afinal eu acabei por não jogar (risos). Mas correu-nos muito bem, foi um grande jogo.

Que memórias tens desse jogo?
Havia sempre o ritual do capitão vir primeiro, espreitar no cimo do túnel o ambiente do estádio e gritar lá para baixo para o pessoal. E eu lembro-me de vir cá acima, meter assim a cabeça para espreitar e comecei a chorar. Gritei para a malta subir, nós fazíamos o percurso do estádio ao lado do terceiro anel para cumprimentar o Presidente. Atravessávamos o campo até à linha lateral do lado contrário, que era onde ficava o camarote presidencial, e íamos aí fazer a vénia. Eu lembro-me de percorrer esses 65 metros, nós sprintávamos e lembro-me de começar a chorar desde o túnel até ao lado de lá, fazer a vénia a chorar e só parei de chorar quando foi aquele ritual da moeda ao ar.

Emocionaste-te com o ambiente que estava no estádio?
Só quem vive aquele jogo, e lá em baixo no campo, é que percebe o que aquilo é. Não tem nada a ver com o estar na bancada, aquilo era um barulho, uma festa e eu não me aguentei.

O Nuno Gomes há pouco tempo disse que havia muitos jogos que o Benfica começava a ganhar no túnel.
Era tudo. Por exemplo, um jogo normal naquela altura, com o Salgueiros ou com o Rio Ave, que hoje até tem mais expressão do que naquela altura, tinha 40 ou 50.000 pessoas. Hoje há esses números porque têm os lugares cativos, levam os carros para dentro do estádio e tal, naquela altura não. Naquela altura iam a pé desde o Jardim Zoológico até ao estádio, era muito mais difícil. E as pessoas iam, fosse contra quem fosse, porque já sabiam que normalmente o Benfica ia ganhar, só não sabiam era por quantos. Então, era mais difícil cativar as pessoas para irem ao estádio. Sobre o ganhar antes, era um bocado verdade nessa altura, porque eu lembro-me muitas vezes de as equipas estarem perfiladas e os adversários começavam a olhar para as nossas pernas, para as botas, as caneleiras (risos). E logo aí percebíamos o terror que era para eles jogarem no Estádio da Luz. Havia jogadores que quebravam quando lá entravam, jogadores com valor. Ainda hoje falamos disso e eles recordam esses tempos “Epá, aquilo era uma coisa… Nós queríamos mas as pernas não davam, ficavam presas ao chão”. E era verdade.

Em 2007 treinavas o Varzim na 2ª Liga e eliminaste o Benfica da Taça de Portugal, na Póvoa. Como motivaste os jogadores para este jogo?
Eu cheguei ao Varzim nessa semana na 3ª-feira e o jogo era no sábado. O Varzim tinha 14 ou 15 jogadores só, porque tinham jogado em Guimarães e tinham sido dois expulsos, para além de ter três ou quatro lesionados. E tinha dois dos jogadores mais conhecidos, o Alexandre, que era aquele capitão de cabelo comprido, e um angolano que esteve no Belenenses e no E. Amadora, o Mendonça…

Lembro-me bem, o Mendonça marcou o golo da vitória.
Exactamente. Eles não jogavam há muitos meses e eu apostei neles. Vou buscar também um rapaz que era contabilista, pertencia ao plantel mais porque ajudava o clube na contabilidade, o Yazalde, que depois jogou no Rio Ave e o Neto, que agora está no Sporting, também foi para o banco nesse dia.

Como é que preparaste a equipa?
Fizemos apenas 5/6 treinos de adaptação às posições. A única coisa que eu disse foi a um jogador que era o Tito, fortíssimo e razoável tecnicamente, era aquele típico jogador daquela zona de pescadores, rude e forte. Eu disse-lhe “O Rui Costa não pode tocar na bola”. Lembro-me que o Benfica não perdia há 13 jogos e nós fizemos uma exibição muito boa, mesmo com o Benfica a jogar com a equipa completa, foi uma vitória merecida. Claro que se o Benfica tivesse no seu melhor ganharia com certeza. Eu joguei um pouco com isso, com a experiência que tinha destes jogos. Muitas vezes pode-se ser bom treinador mas, não tendo estas experiências, não consegues transmiti-las aos jogadores.

Por exemplo?
Olha, dei-lhes um exemplo de um jogo meu enquanto jogador. Tínhamos ido jogar ao Cartaxo para a Taça de Portugal, era um campo pelado, pequeno, difícil. Mas o Cartaxo era da 3ª Divisão e nós éramos o Benfica que tinha vindo de finais europeias. Mas para eliminar o Cartaxo tivemos que jogar um segundo jogo em casa porque empatámos 0-0 lá. E a mensagem que eu quis passar foi que o 0-0 no Cartaxo aconteceu porque fomos lá jogar demasiado descontraídos, a dar como garantida a vitória. Quando demos por nós, íamos sendo eliminados pelo Cartaxo. Por isso eu disse-lhes que de certeza que o Benfica está a vir aqui cheio de moral porque não perde há 13 jogos e nós vamos aproveitar isso.

Qual foi o sentimento de eliminares o Benfica?
Igual àquele que tive quando não joguei aquela final (risos). São jogos, podia ser o Sporting, o Porto, o Tondela, indiferente. Agora, para qualquer treinador profissional, aquilo que mais satisfaz é, sem as armas dos outros, conseguires ganhar. Era um jogo de futebol, sou profissional e queria ganhar o jogo. Não foi um sentimento especial. Aliás, no Vitória de Setúbal ganhei ao Benfica duas vezes, uma como jogador e outra como treinador-adjunto.

– O miúdo educado mas reguila que teve Cruyff como referência –
Oriundo de Sarilhos Pequenos, perdoa-me o trocadilho fácil, mas eras de te meter em sarilhos quando eras pequeno?
Era, era. Educado mas reguila, principalmente de língua. Tive sempre o coração ao pé da boca. São características que nós temos que só depois a idade é que nos vai moldando. Mas mesmo como jogador tive sempre a sensação de alguma liberdade de pensamento e se era naquela altura que me apetecia dizer aquilo e, se eu achava que devia dizer, dizia. Eu normalmente dava uma entrevista por ano a cada jornal. Não era de andar sempre nos jornais mas quando dava uma entrevista achava que era sempre muito lida porque depois também era sempre muito debatida e comentada [Diamantino ri-se a bom rir]. Havia coisas que eu dizia que iam um bocado contra os padrões da altura de comportamentos e pensamentos, mas eu sempre fui assim, pensar por mim mas respeitar os outros. Algumas dessas arranjaram-me dissabores mas não me arrependo de absolutamente nada.

Quem foram os teus ídolos em miúdo?
É assim, eu nunca fui muito de ídolos…

[Rio-me a bom rir porque Diamantino volta a trocar-me as voltas]
… eu tinha era alguns jogadores que adorava ver jogar.

Quem?
O jogador que mais me fascinava era o Cruyff. A maneira como ele jogava, a simplicidade, a beleza, a leveza com que ele jogava era uma coisa impressionante.

Fizeste a formação em que posição?
Joguei sempre como extremo na formação. Entrei nos iniciados do Vitória de Setúbal, fiz um ano e depois subi logo para os juniores, saltei os juvenis. Depois subi logo para sénior, com 16 anos. A maioria dos seniores tinha 34/35 anos, tinham idade para ser meus pais.

Quem eram eles?
Jaime Graça, JJ [Jacinto João], Carlos Cardoso, que depois foi treinador, Tomé, que depois jogou no Sporting, Wágner.

No Benfica como é que passas de extremo para médio ofensivo?
Creio que é em ’87, quando o Toni fica com a equipa e o Jesualdo Ferreira é adjunto. Eu tinha 26/27 anos, já era um jogador maduro e eles acharam por bem que a equipa ficaria melhor comigo a jogar como organizador de jogo, porque eu era um jogador com uma técnica muito razoável…

Estás a ser muito modesto…
… Não, sabes que eu às vezes fico surpreendido comigo quando digo isto. Por exemplo, ontem estava a dar um jogo da selecção portuguesa do Europeu de ’84, contra a Roménia. Eu nem sequer me lembrava que tinha jogado esse jogo e fiquei a ver, já tinha começado a segunda parte. Eu entrei logo aos 10 minutos porque o Chalana se lesionou. Estive a ver um bocado do jogo e fiquei surpreendido, eu realmente fiz algumas coisas que nem me lembrava que tinha feito e que era capaz de fazer. Eu tenho jogadas neste jogo de passar por três e quatro adversários em velocidade, as tais diagonais, e eles a fazerem-me carrinhos por trás para me acertar nas pernas mas não conseguiam. E eu a pensar “Fogo, mas eu jogava isto tudo?” [Diamantino ri-se com gosto]. Até eu fiquei surpreendido com as coisas que fazia.

Ainda sobre a mudança de posição, onde é que achas que rendias mais?
Acho que a médio ofensivo. Mas eu era muito produtivo nos corredores, eu fazia muitas assistências, além de marcar alguns golos. Depois quando passei para o centro tinha um espaço maior para poder usar as minhas capacidades, a leitura de jogo, o passe, a condução com a bola no pé a queimar linhas e o chegar perto dos pontas-de-lança para dar apoio. Mas por exemplo, uma vez com o Eriksson joguei a ponta-de-lança.

Quando?
Foi num jogo da Taça de Portugal em Paços de Ferreira, ganhámos 5-1, mas o jogo estava difícil. Eu estava no banco e o Eriksson pôs-me no lugar do ponta-de-lança. Eu acabei por marcar dois golos e no final do jogo o Eriksson agarrou-me pelo braço, ele falava ainda mal português, e disse [Diamantino imita o sotaque de Eriksson] “Eh Diamantino, é como o Paolo Rossi!” Tinha acabado há pouco tempo o Mundial de Espanha, onde o Rossi tinha dado muito nas vistas. A verdade é que ele fica com aquilo na cabeça e no ano seguinte põe-me a ponta-de-lança vários jogos. E eu nesse ano fico a dois golos da Bola de Prata.

Ehehe,que maravilha.
E só não ganho a Bola de Prata porque nos últimos sete jogos do campeonato ele resolve meter o Nené como ponta-de-lança, ao lado do Filipovic, e fez-me recuar para médio. Nessa altura eu estava na frente com quatro ou cinco golos de avanço mas o Nené acabou por me passar, porque ele era um marcador de golos exímio. O Gomes também me ultrapassa e ganha ele a Bota de Prata com 21 golos e eu com 18 ou 19.

O que fizeste com o primeiro ordenado?
Não faço a mínima ideia. Posso é dizer-te que numa semana tive um convite de um clube que me dava 65 contos, agora são 300 e tal euros. E eu não assinei com esse clube porque as coisas não estavam a ser bem feitas.

Isso foi quando estavas no Benfica?
Não, não, quando saí do Setúbal. Estás-me a falar do primeiro ordenado e eu vou-te contar a história do primeiro ordenado [sai mais uma gargalhada de Diamantino]. A história é que eu podia ter ido ganhar mais 20 contos por mês para aquele clube, e naquela altura era muito dinheiro. E eu fui ganhar menos 20 contos para o Benfica, fui ganhar 45 contos.

Qual era o outro clube?
Era o Sporting. As coisas não estavam a ser feitas como eu achava que deveriam ser e o meu Pai também não achou bem na altura. Na semana a seguir aparece o Benfica, que tratou primeiro das coisas com o Vitória de Setúbal, tudo normal, e eu acabo por ir para o Benfica ganhar menos 20 contos. Fui para o Benfica com 17 anos, não tinha carta, nem eu, nem o Chalana, nem o Zé Luís. Viajávamos de comboio, barco, autocarro, depois é que começámos a ir com o Bento na carrinha do peixe. Mas ainda andámos ali dois ou três anos a fazer a viagem de comboio da Moita, barco do Barreiro até Lisboa, a pé do Terreiro do Paço para o Rossio e depois metro até Sete Rios. Por fim, autocarro até onde são as torres da Vodafone, na 2ª Circular, e saíamos aí por esses prédios, que atrás tinham quintas e nós atravessávamos as quintas para chegar ao Estádio da Luz. Ou seja, demorávamos três horas para chegar lá.

Repito: o que fizeste com o primeiro ordenado?
Talvez o primeiro ordenado tenha dado para passar ali na Baixa depois do treino, na Rua Augusta havia muitas lojas, mercearias, e a minha mulher é que me lembrou “E quando tu ainda fazias o percurso a pé para o estádio, passavas na Baixa e trazias sempre sacos de pinhões? Mas daqueles descascados!” [Diamantino farta-se de rir].

Qual a melhor lição que o futebol te deu?
Há más pessoas em todo o lado mas a melhor lição foi ensinar-me a ser uma pessoa de grupo. Não ser individualista, não olhar só para o meu umbigo, ser solidário com os colegas. Embora seja difícil, porque todos procuramos o mesmo: ganhar um lugar na equipa. Ganhar um estatuto e uma visibilidade melhor que o dos outros, para fazermos melhores contratos, isso está sempre presente. Mas sempre com o melhor espírito e sempre com respeito por todos.

– A Selecção onde se viravam cadeiras para os jogadores dos rivais não se sentarem –
Lembras-te onde estavas quando foste chamado pela primeira vez à Selecção?
Não me recordo, mas ao contrário do que muita gente pode pensar, a primeira vez que sou internacional A é a jogar pelo Boavista e não pelo Benfica. O que faz com que eu me sinta mais orgulhoso, porque naquela altura era dificílimo ser internacional A com 20 ou 21 anos, perante tantos bons jogadores que havia, e ainda por cima vindo do Boavista.

Nessa altura sentiam-se as rivalidades dos clubes na selecção?
[Diamantino hesita antes de responder] Sentiam-se. Ainda não tanto como depois em meados da década de 80, daí por diante essa má rivalidade veio a agravar-se. A partir de ’84, mais ou menos, agravou-se porque as estratégias dos clubes começaram a não ser as melhores. Principalmente o Porto, começa a usar uma estratégia de confronto, sobretudo com o Benfica. Houve ali alguma separação. Mesmo as amizades no Europeu em França, que até acaba por correr bem em termos de resultados [Portugal chega às meias-finais], ao contrário daquilo que se passou em Saltillo, por exemplo. No México foi realmente muito mau. Mas no Europeu ficámos em 3º lugar e podíamos ter sido campeões, podíamos ter lá chegado mas não teve nada a ver com o que passou depois no México. Aí sim realmente era uma verdadeira seleção, embora se tivesse passado só dois anos.

O que se passou exactamente?
Alguns dirigentes seguiram um caminho de confronto com outros clubes que eu nunca concordei. A rivalidade sempre existiu. Por exemplo, a grande rivalidade, ainda hoje, para mim e para as pessoas do meu tempo, é o Sporting, não é o Porto. Para as gerações mais novas passa a ser o Porto mas já é uma rivalidade pouco saudável. Naquela altura, tanto para nós como para os jogadores do Sporting, a semana do derby era uma semana de festa. Nós queríamos ganhar e eles também mas depois à noite até nos encontrávamos em Lisboa depois do jogo. Lembro-me de jogadores do Sporting irem à cabine do Benfica dar os parabéns à equipa que tinha sido campeã e beber um champanhe connosco. Isso hoje em dia é impensável acontecer. Havia essa realidade boa mas infelizmente as coisas descambaram por caminhos que eu não concordo, embora reconheça que o dinheiro que está hoje envolvido no futebol faça com que não se opte pelos melhores caminhos. Está assim infelizmente mas o futebol é muito melhor que isso.

Estiveste no Europeu de ’84 e no Mundial ’86. Como é que vês desempenhos tão díspares em competições separadas por apenas dois anos?
Está relacionado com o que nós muitas vezes achamos do futebol e conhecemos, que é a lógica. E não há lógica nem nos resultados e muito menos em campeonatos. Os jogadores eram quase os mesmos, é verdade que depois houve aqueles problemas de Saltillo mas que não influíram em absolutamente nada. Porque se estamos a falar em termos de que os bons ambientes ganham jogos, nesse Campeonato do Mundo devíamos ter ido à final. Jogadores do Benfica, do Porto, do Sporting, dormíamos nos mesmos quartos, dávamo-nos bastante bem, fazíamos grandes festas, uma amizade e uma camaradagem enormíssima nos treinos. Coisa que não se tinha passado em França, onde viravam as cadeiras ao contrário para os jogadores do Benfica não se sentarem. Os jogadores do Benfica não falavam com os do Porto. Quando chegávamos às mesas, um sentava-se e virava logo sete ou oito cadeiras para ninguém se sentar, só os da sua equipa.

No México já não foi assim?
Não, foi totalmente ao contrário, todos os jogadores se davam muito bem. Deixou-se essas rivalidades de parte e acabámos por fazer os resultados que fizemos. E no Europeu acabámos por fazer um brilharete. Mas o que explica a diferença entre estes dois anos, a equipa era a mesma e os jogadores até tinham mais dois anos de experiência, acho que tem a ver com o jogo de futebol, que não se sabe o que poderá acontecer, e também com alguma confusão que houve em relação ao recato de uma selecção que estava a jogar um Mundial. A Federação não tinha o recato e a organização que deveria ter, era completamente amadora. Na altura as coisas já estavam muito evoluídas noutros países, nós éramos uma Federação completamente amadora e pagámos o preço desse amadorismo mas também do nosso amadorismo. Éramos melhores que Marrocos? Quase de certeza absoluta que sim, mas perdemos 3-1. Éramos melhores que a Polónia? Quase de certeza que sim, mas perdemos 2-1. Nós tínhamos acabado de ganhar à Inglaterra, pela primeira vez na nossa história. O que é que era mais previsível, não era depois ganharmos à Polónia e a Marrocos?

Claro, era fazer o pleno.
É, mas não ganhámos. Só ganhámos o jogo mais difícil.

Porque é que não voltas a ser chamado à selecção?
Porque eu e os outros 21 jogadores assinámos um documento ainda no México em como não voltaríamos a jogar pela selecção enquanto algumas situações não fossem resolvidas. Desses 22 jogadores, ao chegar a Lisboa houve um que disse logo que não tinha nada a ver com isso e tinha sido coagido pelos colegas para assinar porque não queria.

Quem é que foi esse jogador?
Foi o Álvaro Magalhães. Os outros 21 ficaram indisponíveis durante alguns meses mas depois de conversações começaram a regressar à selecção. Os únicos dois que mantiveram a palavra, ainda hoje não sei se bem ou mal, fui eu e o Carlos Manuel, que dissemos que não voltávamos à selecção enquanto o presidente se mantivesse. Achámos que tinha sido muito grave aquilo que se passou e não voltámos. Portanto, a partir dos 26 anos não voltei a jogar na selecção.

Hoje em dia seria impensável passar-se o que se passou na altura.
Sim. Nem eu se calhar tomaria aquela atitude porque havia outras formas de demonstrar o nosso ponto de vista em relação àquilo que deveria ser uma Federação e o trato com jogadores profissionais. Se calhar não foi a melhor atitude mas foi a que tomámos em consciência e não me arrependo absolutamente nada. Agora, há uma coisa que tenho a certeza absoluta, o futebol português a partir daí nunca mais foi o mesmo em termos de selecção. A partir daí a Federação começa a perceber que tem de se deixar de amadorismos e que alguns lugares têm que ser preenchidos com profissionais, não com funcionários públicos. E tinha que ter um Presidente autoritário. A partir daí a Federação passou a ser outra e o futebol português ganhou. Quando a Federação abre os horizontes, em ’89 é campeã do mundo de juniores, em ’91 também, portanto três anos depois do México. Pagámos nós por isso, mas nestas coisas das revoluções há sempre sacrificados. Ehehe.

– Regresso do futebol e os milhões da Liga dos Campeões –
Sentes que se está a menosprezar a condição de saúde de jogadores e treinadores ao querer forçar este reatamento do futebol em Portugal? Sentes que o dinheiro está a falar mais alto?
Sim, sinto um bocadinho isso. Sinto que se os clubes portugueses tivessem uma saúde financeira diferente, se calhar poder-se-ia retomar o campeonato mas se calhar de uma forma mais segura. Por outro lado, se a retoma do campeonato vai ser só por pressão dos clubes e porque têm algum interesse político começar o campeonato, claro que não concordo. Não vou entrar aqui na fácil demagogia da maior parte dos adeptos do futebol, que é falar no dinheiro que os jogadores ganham, mas há uma coisa que temos que reconhecer. Se quem ganha muito pouco tem que correr riscos para exercer a sua profissão, quem ganha muito dinheiro tem a responsabilidade de dar ao público a alegria de voltar a ter o melhor espectáculo do mundo.

Achas que os jogadores correm mais ou menos riscos que um “cidadão normal”?
Acho que correm menores riscos do que o trabalhador comum porque têm tudo aquilo que o trabalhador comum não tem: podem estar em academias fechadas, com testes todos os dias, equipas médicas ao seu redor, com tudo e mais alguma coisa, também não me parecia bem os jogadores e os treinadores defraudarem o povo, que está sedento por futebol. Concordo quando dizem que os jogadores estão a ser “carne para canhão”. Agora, também não concordaria que os jogadores e os treinadores se pusessem de parte numa fase tão difícil, tipo “Nós somos uma espécie completamente diferente daquela que anda nos transportes públicos, restaurante, numa farmácia ou num supermercado”. Não são e por isso têm que correr alguns riscos, riscos muito menores que um cidadão comum corre. Acho que o campeonato deve ser retomado dentro desses parâmetros. Se se chegar à conclusão que é arriscado demais, porque começa a haver mais infecções, não há nada a fazer, é acabar.

Na tua opinião, o campeonato mesmo sendo retomado já está desvirtuado, porque as equipas não estão nas melhores circunstâncias e não têm as mesmas condições face a uma situação que é excepcional?
Sim, mesmo com esta retoma as equipas não estão em pé de igualdade. Não é igual para todos, não acredito que o Tondela tenha uma academia onde os jogadores são confinados nos seus quartos que vão ser desinfectados, vão ter um staff médico como têm os três grandes. Agora quanto ao risco, não concordo com aquele alemão que disse que se deve tratar uma infecção como uma lesão. Não é igual. Se for só um ou dois jogadores de uma equipa infectados, muitas vezes há equipas que têm sete lesionados ao mesmo tempo. Agora, se isso vai pôr em risco todos os colegas e todos os que trabalham no campo, aí não concordo. Começa-se a desvirtuar porque são sete, oito ou nove com infecções, vão para isolamento e o clube tem que jogar com os que sobrarem. Acho que aí há um grande desvirtuamento.

E o que pensas sobre as escolhas dos estádios para os jogos?
Uma situação excepcional, por exemplo, é o caso do Marítimo. O Santa Clara concordou vir para Lisboa porque está no meio da tabela, não chegará às competições europeias mas também não irá descer de divisão. O Marítimo acha, e bem na minha opinião, que é prejudicado por não poder jogar no seu campo. Assim como eu acho que o Benfica, por exemplo, tem maiores problemas de fazer vários jogos no Estádio do Dragão neste momento. Se estivéssemos num ambiente saudável, das rivalidades saudáveis, tudo bem. O problema é que o ambiente que se vive no futebol não é esse e portanto não concordo absolutamente nada, acho que há um grande desvirtuamento da competição se o Benfica tiver que fazer mais jogos no Estádio do Dragão sem ser contra o Porto. São situações excepcionais por isso pedem medidas excepcionais. Agora, as medidas excepcionais não podem é beneficiar uns e prejudicar outros.

No caso de não se completar as jornadas que estão por jogar, achas que é justo atribuir um título de campeão?
Não, não acho justo, porque não sabemos aquilo que se iria passar nos jogos. Dá-me a sensação que a única coisa que está em jogo é, no caso de ser campeão, os 40 e tal milhões da Liga dos Campeões. Acho que a Federação, a Liga Portuguesa e depois o Benfica e o Porto, se isso vier a acontecer, deviam chegar ao consenso: ninguém é campeão e dividem os 40 milhões entre os dois. Claro que todos sabemos as dificuldades que o Porto atravessa neste momento e, ao contrário, a saúde financeira que o Benfica apresenta e a forma como pode enfrentar esta dificuldade mesmo sem esse dinheiro. O Porto já não tenho tanta certeza, segundo se vai ouvindo falar e for verdade, parece que terá grandes problemas se não conseguir mais uma vez os 40 e tal milhões da Liga dos Campeões. Daí também me custar aceitar aquela frase do Pinto da Costa a dizer “Bem, se tiver que acabar, quem vai à frente ganha.” [Volta a gargalhada de Diamantino].

É natural quem vai à frente achar isso…
Sim, é entendível mas acho que todos os jogadores e todos os treinadores querem é jogar e ganhar dentro do campo, os dirigentes é outra coisa. Os jogadores e treinadores do Porto ou do Benfica, se lhes for atribuído o título sem jogar, acredito que não terá sabor nenhum. É bom para o clube, é bom para alguns adeptos, não para todos, para aqueles que gostam de futebol também não é bom porque esses gostam de ganhar no campo e de ver os jogos. Não sei qual será a solução mas acho que a pior solução será entregar o campeonato a quem não o ganhou.

– Passes curtos –
Qual é para ti o melhor momento da tua carreira?
A primeira vez que fui internacional.

Um estádio?
Estádio da Luz.

Qual foi o melhor jogador com quem jogaste?
Fácil: Chalana. O maior elogio que lhe posso fazer é que, quando eu estava à rasca, dava a bola ao Chalana.

Um guarda-redes?
De longe, o Bento.

Um defesa?
O melhor defesa central que eu vi na minha carreira foi o Mozer. Nunca tinha visto um jogador com todas as valências que um defesa central deve ter e até mais que isso. Eram um jogador soberbo, nunca vi um jogador como ele.

Um médio?
Mais defensivo Shéu e mais ofensivo Carlos Manuel.

Um avançado?
Nené. Era um finalizador nato.

Um golo?
O segundo golo ao Sporting na Taça de Portugal. Mas também o golo ao Liverpool em Anfield, driblo o jogador quase na linha de fundo, depois ameaço que vou cruzar com o pé esquerdo, o Grobbelaar sai da baliza e eu meto a bola direta na baliza. Ainda por cima foi do lado da Kop."

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