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quarta-feira, 25 de abril de 2018

O fosso que separa os dois campeonatos da mesma Liga

"27. Para atentarem bem neste número escrevo-o até por extenso: vinte e sete.
A três jornadas do fim da Liga, a diferença pontual entre o quarto e o quinto classificados na tabela é um fosso do tamanho de um campo de futebol.
Rio Ave e Marítimo, que disputam o quinto lugar, que pode valer as competições europeias, estão mais próximos da zona de despromoção – 17 pontos –, da qual já estão a salvo, do que do quarto lugar do Sp. Braga – que está a uns inalcançáveis 27 pontos.
Estas duas equipas são, aliás, embora à tangente, as únicas abaixo do quarteto do topo que não têm mais derrotas do que vitórias nesta temporada.
Conferindo os golos marcados e sofridos, todas as 14 equipas do lote de remediados do futebol luso têm saldo negativo. O que contrasta com os generosos excedentes do quarteto da frente – FC Porto +61, Benfica +58, Sporting +39 e Braga +45.
Se preferirem outras perspectivas: o líder FC Porto dobra, para já, o número de pontos somados por onze equipas; ou, por exemplo, o benfiquista Jonas, que não joga há três jornadas, continua a ter, sozinho, mais golos do que sete equipas no total. Se preferirem um testemunho, dou-vos este. «Não jogamos à bola há dois meses e continuamos no mesmo lugar», disse-me recentemente um dirigente de um clube de futebol da I Liga. E a verdade é que mais de um mês passou e a sua equipa continua sem «jogar à bola» e bem classificada.
Temos, portanto, dois campeonatos na mesma Liga.
A explicação para este hiato é evidente: os três grandes têm orçamentos que são vinte vezes superiores aos da esmagadora maioria dos restantes clubes e, com os novos contratos de direitos televisivos, recebem facilmente dez vezes mais por época.
Só a centralização dos direitos poderia, em devida altura, ter introduzido algum factor de equilíbrio na competição.
Em contraponto, porém, há que ter em conta que a questão de fundo está bem mais a montante e tem que ver com o número de adeptos: os três grandes açambarcam-nos quase todos.
Sem entrar em contagens megalómanas baseadas em palpites que os reclamam aos milhões, atentemos nas assistências da Liga – apesar de mesmo esses números não serem particularmente fiáveis sobretudo em alguns estádios: a Luz tem uma média de espectadores superior a 50 mil, Dragão e Alvalade têm mais de 40 mil... Seguem-se o Vitória de Guimarães, que tem perto de 16 mil, o Sp. Braga, que tem menos de 12 mil, e depois destes só Marítimo e Boavista ultrapassam os cinco mil espectadores na assistência média por jogo – números já de si empolados pelas recepções aos grandes.
Em suma, temos dois campeonatos absolutamente distintos a conviverem na mesma Liga. Duas realidades tão díspares na mesma competição são o contexto para proporcionarem relações de dependência, ou subserviência até.
Será por isso que há quem não se surpreenda ao saber que jogadores emprestados podem servir de moeda de troca à sugestão de treinadores ou a alinhamento de posições na Liga. Tampouco haverá quem se espante com craques que, por castigo, lesão súbita ou até opções de compra fora de tempo, viram indisponíveis em vésperas de jogos importantes ou com as indignações selectivas de alguns responsáveis dos pequenos clubes consoante os prejuízos que sofrem.
Dois campeonatos na mesma Liga é o pano de fundo que favorece as relações de dependência dos pequenos e proporciona ambições de influência aos grandes.
Resistamos, porém, à tentação de mergulhar nessa fossa.
Mantenhamo-nos à tona. Limitemo-nos a contemplar o fosso."

1 comentário:

  1. Uma visão muito parcial para mais uma vez bater na tecla da centralização dos direitos de transmissão. E ainda por cima usa este argumento para justificar o injustificável. Os clubes que se deixam instrumentalizar têm o feito para beneficiar terceiros por vontade própria e porque pensam que retiram dividendos da podridão extra futebol.

    O que se deve exigir é maior independência e para isso é necessário que os clubes não pensem que possam ser favorecidos por arbitragens de favor.

    Porque ninguém pede maior fair play financeiro que impeça os clubes de se endividarem e ficarem à mercê de ajudas oportunistas? Ou mesmo reféns de dívidas que outros só pagam quando lhes interessa!

    Os clubes não grandes não fizeram a centralização dos seus direitos porquê? Eles não têm metade dos jogos grandes?

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