"A diferença entre os homens grandes e homens rasteiros vê-se em pequenos pormenores. Vamos a hipóteses remotas, todavia, capazes de exemplificar o que vos pretendo comunicar. Se algum dia me fosse dado o privilégio de treinar uma equipa de futebol, nem que fosse por uma única vez, e se viesse a perder esse jogo por um golo depois de ter visto o meu 11 motivado e a jogar bom futebol, a última desculpa que usaria para justificar a derrota seria o árbitro e a dualidade de critérios. Destacaria o desempenho dos meus jogadores, a forma encontrada para contrariar a superioridade do adversário e as oportunidades falhadas que não me permitiram vencer. Se essa única chance, enquanto mister, fosse ao serviço do rival da 2.ª Circular, na sequência dos maus resultados das perdas financeiras e das polémicas em tons de «jornalismo cor de rosa», posso garantir que teria entrado na sala de conferências de Imprensa do magnífico Estádio da Luz com uma expressão confiante.
A grandeza dos homens mede-se pelos actos simples também, pela soma de gestos reveladores da educação que transportam e da distância que alcança o seu olhar. Depois de perder com o Sport Lisboa e Benfica, a jogar fora, numa eliminatória da Taça da Liga, após já ter sido derrotado por duas vezes antes e por estar a uma imensidão de pontos do SLB, eu, na posição do vencido que apanhou uma equipa de rastos e que a transformou num conjunto competitivo, aos jornalistas diria «tenho que dar os parabéns aos meus jogadores e dizer a todos vós que estou orgulhoso desta equipa. Fomos uns dignos vencidos e há que felicitar o vencedor. Antevejo dias bons, se continuarmos a jogar assim ainda daremos muitas alegrias aos nossos adeptos!». Perder assim não é vergonha para ninguém. É, antes, uma meia-vitória e um alto estímulo para os terceiros do campeonato. A partida grandiosa, própria de homens grandes, foi feita por homens grandes. Infelizmente, os outros nunca entenderão isto."
Ricardo Palacin, in O Benfica
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