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sábado, 10 de outubro de 2020

Tiago Dantas, mais um episódio de “validações” e o que realmente importa


"Tiago Dantas, à semelhança de outros jogadores talentosos fez emergir as “lutas” nas “redes sociais” como tentativas de validar opiniões. Umas mais bem fundamentadas que outras.
O triunfo dos que ignoram o jeito que dá ter potencial morfológico para o jogo surgiu com o interesse do Bayern – validado com a presença na equipa principal bávara – Quantas fotos foram partilhadas de Dantas ao lado do treinador em forma de “fina ironia”. Mas a eliminatória ficou rapidamente empatada com a não inscrição do jovem na equipa principal, facto que o relega para a terceira divisão da Alemanha.
Sobre a estupidez sem fim de quem por não ter talento para as suas próprias guerras, escolhe guerras de outrém muito haveria para dizer, mas para o caso importa é o talento de Tiago Dantas.
É óbvio que a questão física importa – Creio que qualquer pessoa com um mínimo de capacidade para expandir horizontes e tentar perceber um pouco sobre o jogo, reconhecerá que cada vez mais a cadência da passada é determinante para o rendimento – O jogo está tão rápido pela evolução técnica e tática, que conseguir chegar um segundo antes é muito diferente de chegar um segundo depois. Um segundo antes ajudas a fechar o espaço, ou és opção para poder receber e / ou finalizar no último terço. Assim como ter boas capacidades condicionais ajudará ao rendimento. Capacidades como a força ou a resistência são determinantes para o sucesso, ou para que o sucesso se expanda por mais tempo ao longo do jogo. Aliás, se a questão física não tivesse qualquer impacto, onde estaria agora um talento como Dantas?
Um miúdo que não perde uma bola, “limpa-as” para os colegas entregando-a sempre redonda, cria e embora pouco robusto fisicamente, enquanto a guarda ou trata não sente qualquer dificuldade porque sempre assim cresceu, e por isso desenvolveu argumentos na astúcia que lhe permitem não precisar sequer de ter confrontos físicos nos momentos ofensivos. Pensa mais rápido e executa a um nível superior a qualquer jogador comum.
Pois se Tiago ainda hoje procura encontrar espaço é precisamente porque a excelência da sua tomada de decisão e gesto técnico – que é o que é mais diferenciador num jogador de futebol, afinal é… mais difícil de encontrar! – não é acompanhada por capacidades físicas que lhe garantam sem bola o rendimento que tem com esta.
Outra falsa questão que tem surgido ao seu redor passa pela dissertações sobre a sua densidade muscular. Diversos jogadores do Bayern ficaram “maiores” e há a expectativa que tal possa acontecer com Dantas, beneficiando o jovem de tal para aumentar o seu rendimento. Lamento informar, mas não é de músculo que Dantas precisa. Daria muito jeito a tal maior velocidade para chegar aos diferentes espaços – Aquela passada larga que permite participar no pressing avassalador que hoje caracteriza os vencedores das últimas Ligas dos Campeões, mas essa não chega em forma de tamanho muscular, e não parece ser possível de obter ganhos substanciais.
Dantas como tantas outros jogadores ou situações está no meio termo entre as discussões que gera – Discussões cujo único intuito tantas vezes parece ser gerar validação de argumentos próprios e por momentos sentir que se poderia fazer parte do jogo que por certo se amará.
Não terá nível para jogar em qualquer equipa do mundo pelos seus traços físicos. PONTO.
Tal não significa contudo que se deva nivelar por divisões mais baixas! É mais questão de contexto do que de patamar ou nível competitivo.
Se calhar numa comum equipa da Segunda Liga ou da Liga NOS, não terá capacidade para ter rendimento – Há muitas perdas (a culpa não é sua, que nunca a perde, mas há!) e o jogo transporta-se para uma dimensão onde sai prejudicado. E obviamente nenhum treinador vai manter um jogador com pouca capacidade para ajudar a equipa a recuperar metros e bolas, quando outros há que são capazes de o fazer. Mas, porventura, poderá ter espaço em equipa de nível e talento diametralmente oposto às citadas. De forma simplista, Dantas é um 80 com bola, e um 8 sem esta – Não é assim nem com bola, nem sem ela – Vocês percebem o intuito do exemplo – então para ter rendimento e contribuir terá de ter o contexto que garanta muita bola – Que garanta poucas Transições – Momentos em que a tal velocidade do deslocamento se faz sentir mais. Dantas pode não ser jogador para o Desportivo de Chaves, mas se calhar pode ser para o Bayern. Faz sentido?
Talvez não totalmente, porque mesmo as melhores equipas hoje passam sempre tempo sem bola e encontram na capacidade de pressão e vencer duelos no momento defensivo a forma de ganharem a bola para depois a guardarem. E sim, o Dantas evita os duelos. Mas, como outros de elevado nível cognitivo, que pensam e executam mais rápido que os demais, evita-os quando tem bola. Sem bola não há como os evitar. Não é como se pudéssemos desviar-nos deles quando a posse está do outro lado… a menos que o intuito seja ver o oponente a marcar golo.
Na equipa perfeita, Tiago Dantas teria lugar. A equipa perfeita não perderia a posse, não precisaria de passar tempo sem ela, viajaria junta pausadamente nas transições, sem precisar de ver os seus elementos a abrir em a passada para chegar à frente sem deixar demasiado espaço entre sectores. O problema de Tiago Dantas é que não há equipas perfeitas. E como não as há, estará sempre no limbo entre o triunfo retumbante – qualidade para isso todos o reconhecerão – e as dificuldades para se impor no contexto competitivo que o seu talento faz por merecer.
O que o Tiago precisa de saber, é que o melhor a fazer é não abrir sequer caixas de comentários na internet, porque ai não encontrará nada de absolutamente positivo a retirar. Não precisa dos elogios que como a outros antes, lhe provocarão sentimentos de injustiça, e poderão fazer baixar a guarda convencido que é um Messi injustiçado, nem das críticas tantas vezes infundadas. Até porque de um lado e do outro não está ninguém que se preocupe verdadeiramente com a sua carreira, mas apenas com o seu ego.
No mundo perfeito tu triunfas, menino. Mas, não queiras viver uma vida de lamento por não ser o mundo um lugar perfeito. Faz com que todos os dias sejam dia de evolução. Anda da perna. Por ti."

2 comentários:

  1. Excelente POST, faz todo o sentido, vai além do superficial num mundo cada mais volátil e de juizos sem qualquer conhecimento ou profundidade, algo assim tem conteúdo e acrescenta, não é um ouvir mas um escutar, por vezes alguém como o Tiago necessitar que o escutem não que o oiçam e ajudem-no a acreditar que a sua vida tem sentido.

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  2. É verdade que não há equipas perfeitas, mas há equipas mais perfeitas do que outras. E o Bayern encaixa neste grupo.
    Não creio que o treinador do Bayern seja um romântico (alemães profissionalmente românticos?), terá visto qualquer coisa, ou antes, uma possibilidade de retirar dali algo que outros não viram. Um experimento inédito, um desafio aliciante? Talvez.
    Seja como for, o jogador só tem a ganhar. Assim como o Benfica.

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