"A quantidade de talento é extraordinária, mas nem sempre é suficiente. Será importante a estratégia, a organização e sobretudo uma identidade
O anúncio dos convocados marca, oficialmente, o início da campanha para um Campeonato da Europa, que todos esperamos que leve, uma vez mais, a Seleção portuguesa à consagração. Surge no final de uma época desgastante, física e emocionalmente, porém as forças renovam-se sempre com a ambição e a adrenalina, e não há como não olhar para a enormidade de opções que há agora , posição a posição, como nunca houve antes, e pensar que, se fizermos bem as coisas, pode muito bem ser desta que voltemos a festejar.
É extraordinária a quantidade de talento que conseguimos reunir ao longo dos últimos anos neste país tão pequeno, porém, ao mesmo tempo, de coração gigante e aberto para o jogo sobretudo ao nível da formação, que ainda assim não se cansa da autoflagelação todos os dias. É esse mesmo talento que coloca Portugal ao nível de potências como a França e a Inglaterra, os outros grandes favoritos, ainda que não se deva desvalorizar uma Alemanha revitalizada a jogar em casa, que tem génio a juntar ao espírito never say die, e as habituais Espanha e Itália, hábeis a reencontrar-se no meio de nada. Sobretudo a azzurra.
Nunca será só a arte a ganhar os jogos e esta até por vezes se deixa ultrapassar pela estratégia e pela organização, todavia, até nisso esta equipa parece preparada para a dimensão do desafio. O que não pode acontecer é que perante este se deixe sucumbir de uma forma contranatura, renegando a sua identidade, tornando-se uma antítese do jogo de que realmente gostamos e que nos colou, a certa altura, o rótulo de Brasil da Europa, tal o nível de fantasia que as nossas equipas deixavam impressa no relvado.
Não me interpretem mal, porque todos queremos e gostamos muito de ganhar, no entanto, só quem não percebeu totalmente o jogo é que poderá pensar que o caminho é de importância relativa. É que o passado ensina-nos sempre. Ensinou-nos em 1954 quando a Hungria perdeu com a RFA e é dos magiares que todos se lembram e não do vencedor desse Mundial, precisamente tal como vinte anos depois quando a Mannschaft se superiorizou à Holanda mecânica ou, em 1982, o Brasil foi destroçado no Sarrià pela Itália de Rossi. É por isso que o Brasil de 70 é tão elogiado. Ganhou e jogou. E como ponto final dessa afirmação deixou-nos o remate com vernáculo de Carlos Alberto, com a bola a passar por praticamente todo o escrete antes de consagrar o tricampeão.
Depois de ter vivido de perto 2016 e uma equipa com quatro médios-centro e Nani a correr como louco para os apoios a Ronaldo, sinto que é a altura de voltar a ganhar. Mas à nossa maneira. Desde o primeiro dia. Estou certo de que Martínez pensa o mesmo."
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