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terça-feira, 1 de novembro de 2022

Fanatismo desportivo


"Na sua mensagem natalícia de 2018 o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, declarou que deveriam ser erradicados da modalidade o facciosismo, a mentira e a violência, entre outros substantivos e adjectivos.
Manifestou também a sua ideia de que o futebol nacional tem de contribuir para a construção de um país mais próspero, desenvolvido e coeso.
Como bem sabemos existe um histórico de confrontos em que os valores e as leis próprias do jogo não foram respeitados.
Ora este patamar de rivalidade exacerbada entre os clubes gera como consequência actos de vandalismo, agressões e até assassinatos que, para além da responsabilização pessoal, se estende sos próprios emblemas, que passaram a sofrer pesadas sanções e multas com a agravante de manchar a imagem de todos os agentes aos olhos e ao escrutínio da opinião pública estrangeira.
Episódio recente, a tragédia da Indonésia, em que a confusão num estádio de futebol terminou com pelo menos 125 mortos, como consequência de protestos contra jogadores e funcionários do clube, revela o lamentável estado a que chegámos na modalidade um pouco por todo o Mundo.
Todos conhecemos o histórico de confrontos, sobretudo em Inglaterra há alguns anos, em que os hooligans se degladiavam, tendo como argumento a rivalidade entre clubes, num fenómeno infelizmente expandido a várias latitudes e que em nada abonam para a saúde e atractividade da indústria do futebol.
Lanço daqui o alerta, veemente, mas sobretudo a minha vontade e a de outros como eu, para a necessidade de activar uma cooperação efectiva para que a Federação Portuguesa de Futebol e demais relevantes parceiros desenvolvam um trabalho de essência no combate a este estado de coisas, estado este para mais agravado por um contexto sócio-económico e cultural ameaçado por uma crise que, para lá dos valores, contribui directamente para o desequilíbrio das famílias mais fragilizadas. Como em todas as estruturas organizacionais só a pedagogia será eficaz contra a violência. Mas o nosso estado de alarme será fundamental e decisivo. A este propósito acompanha-me há anos um poema de Bertolt Brecht que define a forma como estamos proibidos de lavar as mãos, entre outros desastres sociais, destas incidências e actuar com noção de responsabilidade e urgência antes que a irresponsabilidade e a urgência ajam elas mesmas sobre nós. Como penso que resultará óbvio pouco tenho a ver com a dimensão política do poeta e dramaturgo marxista alemão, mas não resisto a deixar aqui esse seu poema que constitui em mim um grito permanente de inconformismo e atenção:
"Primeiro levaram os negros
mas não me importei com isso
eu não era negro.
Em seguida levaram alguns operários
mas não me importei com isso
eu também não era operário.
Depois prenderam os miseráveis
mas não me importei com isso
porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados
mas como tenho meu emprego
também não me importei.
Agora estão a levar-me mas já é tarde.
Como não me importei com ninguém
ninguém se importa comigo.""

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