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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

As regras são para se (in)cumprir

"Este fim-de-semana aconteceu um jogo com uma relevância especial na Primeira Liga portuguesa: o Sporting Clube de Braga recebeu o Sporting Clube de Portugal.
Não, não se trata só da importância desportiva deste confronto.
Estiveram dois treinadores que não são bem treinadores, a não treinar as suas equipas.
Pois, eu também não acho que faça sentido.
Nem Rúben Amorim, nem Jorge Silas completaram os cursos de treinadores de nível IV, conhecido como nível UEFA PRO, e portanto nem um, nem outro podem, legal e formalmente, ser treinadores principais das suas equipas. Este nível de qualificações é o exigido para se treinar equipas na Primeira Liga Portuguesa e nas competições europeias e como tal Amorim e Silas são, para todos os efeitos, treinadores adjuntos.
Ora, acontece que não só não têm esta formação, como podem ter de esperar bastante para a poder fazer. É que os cursos só abrem de dois em dois anos, de acordo com a regulamentação da UEFA e José Pereira, presidente da Direcção da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, já veio afirmar, em declarações ao jornal A Bola, que “Só há vinte lugares e, como tal, não há certezas de que Rúben Amorim e Silas possam ter acesso ao próximo curso...”.
Podemos, portanto, ter dois treinadores da Liga profissional de topo em Portugal, a treinar as suas equipas, sem poderem estar na área técnica, limitados na sua actuação, durante mais dois ou três anos.
Sabemos que a formação completa dos treinadores pode durar oito anos ou mais, isto quando houver vagas, custando também imenso dinheiro a quem a eles se candidata. Os mencionados cursos, ainda nos níveis mais baixos, podem chegar a custar mais de 800€ ou 1000€ cada. E falamos do grau I e II. 
É preciso gerir estas exigências de acordo com várias regras e imposições, internas e externas, desde a Lei n.º 40/2012, de 28 de Agosto às normas da UEFA, mas este acontecimento tem de nos fazer repensar a formação dos nossos treinadores de futebol. Somos internacionalmente destacados pela extrema competência dos nossos treinadores, profissionais com sucesso em vários continentes e nas mais difíceis provas do desporto-rei. Foi sendo apontada como uma das razões para esse sucesso a formação dos nossos treinadores, integrada, multidisciplinar e de imensa qualidade.
Temos é de definir o que queremos. Ou achamos que o caminho é longo e caro demais, que se deve valorizar a experiência como atleta profissional e que não pode um candidato a treinador esperar oito anos para chegar à Primeira Liga ou então assumimos que a formação é importante, que estas são as regras e são para cumprir.
Ter uma formação como máquina de fazer dinheiro, como obrigatória sem o ser de facto, fazendo regulamentos que sabemos não vão ser cumpridos e acabarmos a fechar os olhos a este problema é que não parece sensato. Ou se mudam os regulamentos e se permitem a estes profissionais treinarem no primeiro escalão ou se começam a penalizar as equipas que utilizam estes esquemas para ultrapassar as regras. As regras não podem ser feitas para incumprir."

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