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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Valeu-me a tareia do Real Madrid

"Estava o Benfica no auge da sua projecção europeia, coube-me ser o enviado-especial de A BOLA a uma das suas frequentes deslocações ao estrangeiro. E quis o acaso que, numa das escalas da ida, a equipa do Real Madrid se juntasse à equipa do Benfica no avião onde também eu viajava. Houve natural confraternização entre as duas caravanas, esse saudável convívio foi apreciado e realçado por diversos passageiros, mas até alguns deles notaram (sobretudo quando solicitaram autógrafos) que a humildade dos jogadores do Benfica contrastava com algum distanciamento dos jogadores do Real Madrid. E, naturalmente, tudo isso registei no primeiro serviço que enviei para A BOLA. Pouco tempo depois, Outubro de 1962, coube-me acompanhar o Belenenses a Barcelona, para jogo da então existente Taça das Cidades com Feira. E, numa manhã, quando do hotel saí para comprar jornais, o homenzinho do quiosque julgou-me adepto do Belenenses e, assegurando-me copiosa goleada do seu Barça, levou-me a revelar-lhe a minha profissão e a razão da minha presença ali. Surpreendido, reagiu (sempre em espanhol, já se vê): «Periodista português? A última edição da revista mensal do Real Madrid bateu forte num seu colega». E eu, naturalmente, perguntei-lhe se tinha algum exemplar da publicação a que aludia. Tinha, sim senhor. E a surpresa passou a ser minha, pois era eu o visado, com a tareia em grande nas duas páginas centrais da revista mensal do histórico clube espanhol, por causa do que eu escrevera sobre o encontro Benfica-Real Madrid no avião. O homenzinho do quiosque começou por se confessar incrédulo. Mas, quando lhe mostrei documento de identificação, terá visto em mim o herói que ousara afrontar o grande rival do seu querido Barça, pois abraçou-me, foi chamar o colega do quiosque vizinho, falou-me de mim como se fosse de outro mundo, fez questão de me oferecer a revista do Real Madrid e só a muito custo consegui pagar-lhe os jornais do dia.

Um forte abraço de parabéns, sr. Eusébio da Silva Ferreira, por sempre ter sido como que o símbolo de tal humildade profundamente marcante daquela histórica equipa do Benfica e pelos sete a zero de vida que hoje alcança."


Cruz dos Santos, in A Bola

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