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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Palhaçaria

"Palhaçaria é um país curioso. Vale uma visita...
Anafado, de olhos protuberantes, cabeça calva, orelhas peludas, o Rei dos Palhaços baba-se de uma barba bovina.
Opado pelos comprimidos que lhe permitem disfarçar a impotência, rebola o olhar pelos estranhos mamíferos que o rodeiam. Há para a sua flausina do momento um delicado vislumbre lúbrico. Repugnante mas ainda assim lúbrico. E ela, pobre tonta, cega, retribui.
A qualquer momento teme-se que lhe expluda uma coronária, mas o animal é rijo e suporta o arremedo de fluxo sanguíneo.
À sua volta, encharcados por um salivar constante das suas gengivas descarnadas, os cães-palhaço esperam um gesto seu.
Na continuada farsa em que se agitam, a degola de inocentes a que acabaram de assistir é apenas mais um episódio que os faz arfar de contentamento. E desta fez nem precisaram da ajuda do bando dos palhaços-pretos.
Há uns que aproveitam para enfiar nos focinhos as bolas de nariz de palhaço.
Em Palhaçaria, as bolas de narizes de palhaço não são vermelhas: são brancas. Bolas de golfe...
Como em todos os países, em Palhaçaria também há crianças que gostam de palhaços. Na sua inocência não entendem a profunda estupidez, os requintes de maldade, o humor boçal, os laivos de ordinarice sabuja. Depois crescem e entendem. E como todos os adultos deixam de ter paciência para palhaços. Sejam eles pobres ou ricos.
Em Palhaçaria os palhaços não se limitam a não ter graça. Não se limitam a ser grotescos. Não se cansam de espalhar em redor o nojo dos seus procedimentos macabros.
São apenas palhaços tristes..."

Afonso de Melo, in O Benfica

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