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terça-feira, 11 de outubro de 2022

Boas notícias da Europa: Trincão, Diogo Costa, António Silva, Florentino, Vitinha


"Nem sempre os valorizamos devidamente, mas os guarda-redes contam. E muito, mesmo se tendemos a reparar mais neles quando falham, porque ninguém os redime. São a rede protetora dos erros de todos os outros, mas não há apelo na hora do erro próprio, só agravo. Será sempre lembrado como Adán deixou virar ao contrário um jogo em Marselha que Trincão abrira numa junção eloquente de arte e eficácia. Mas é de elementar justiça sublinhar que no Dragão outra teria sido a história, do jogo e do grupo, se Diogo Costa não tivesse duplicado a angústia de Schick no momento do penálti. E, apesar do grande jogo coletivo do Benfica com o PSG, também Vlachodimos foi decisivo na Luz, numa das melhores exibições que se lhe anotam pelas águias. Diogo Costa é, aos 23 anos, o anunciado guarda-redes para a próxima década do futebol português, personalizado e elástico, com controlo invulgar do tempo e do espaço, além de um jogo de pés como é raro encontrar. Um guarda-redes de equipa grande e com lugar bem entregue numa grande seleção. Mas não foi apenas na baliza que a semana europeia autenticou a afirmação de talento português.
Fernando Santos já não pode ignorar António Silva, que o miúdo não tem como enganar depois do que mostrou no último par de meses. É um caso raro de personalidade, velocidade, agressividade boa, qualidade no jogo aéreo, e principalmente critério com bola, a construir com risco ou mais longo, como não me lembro de ver surgir em Portugal, pelo menos desde Ricardo Carvalho. E há outras duas evidências que resultam do jogo europeu na Luz: que Florentino tem de ser candidato à convocatória para o Qatar (apesar da forte concorrência na posição), pelo que garante de pressão e redistribuição, e que aquele Vitinha que se viu espalhar energia sem bola e qualidade com ela não pode ser suplente no onze das quinas. A questão pode ser a de escolher quem sai para ele entrar, mas não a de sair ele para entrar seja quem for.
Ainda na ressaca da desilusão na Liga das Nações, outra certeza: quanto menos vezes Bernardo Silva tocar na bola, pior joga a seleção. E a jogar a partir do corredor direito (mesmo que não amarrado a ele, reconheço), toca menos vezes na bola. Nos jogos do play-off, Fernando Santos puxou Bernardo para o corredor central e o rendimento melhorou muito, frente a Turquia e Macedónia. Não se entende este regresso ao passado, que o jogo frente à Espanha provou, mais uma vez, ineficaz. A natureza da seleção tem sido esta: perante um adversário de maior qualidade - idêntica à portuguesa, entenda-se, que muito melhores seguramente não há - a equipa preocupa-se sempre mais com o que faz sem a bola do que com ela. E já se percebeu pontualmente que bem podia ser ao contrário.
Para cuidar melhor a bola, para construir e criar com qualidade acrescida, é indispensável ter jogadores que consigam respirar mesmo no ar rarefeito do corredor central, podendo receber a bola de costas e ligando as pontas entre a construção e a finalização. Para os corredores não faltam opções, para esse espaço há bem menos, e não há nenhum como Bernardo, pelo menos enquanto Félix se mantiver com a carreira amarrada ao clube errado. Podemos ter um painel de avançados de qualidade historicamente invulgar, mas servi-los bem, e mais vezes, será a única maneira de concretizar essa força teórica. Ter Vitinha e Bernardo juntos no meio é um bom início de conversa para lá chegar. Pode sempre questionar-se se garantem equilíbrio defensivo ou a dimensão física ideal – mesmo se os imagino acompanhados de um 6, provavelmente Rúben Neves - mas essa é a linha de pensamento que tem conduzido à forma como a seleção tem jogado. E que os adeptos depois criticam. Quando não se ganha, claro."

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