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quinta-feira, 2 de junho de 2022

Teia de interesses e influências: a promiscuidade entre a política e o FC Porto


"A ligação entre o futebol e a política foi um tema que deu (e muito) que falar antes das eleições do Benfica, em outubro 2020, quando os nomes de Fernando Medina, na altura presidente da Câmara Municipal de Lisboa, e António Costa, primeiro-ministro, surgiram na Comissão de Honra de Luís Filipe Vieira. O assunto parece, no entanto, não suscitar sentimentos de indignação quando os políticos vestem a camisola azul e branca, como é o caso do recém-eleito presidente do Partido Social Democrata, Luís Montenegro.
O ex-líder parlamentar, para além fervoroso adepto portista, é também elemento efetivo do Conselho Superior FC Porto, e não houve vivalma na comunicação social que, agora, pusesse em causa a rigorosa equidistância que se impõe a quem exerce cargos políticos e altos cargos públicos.
A promiscuidade entre o poder político e dirigentes portistas é evidente, e temos assistidos, impávidos e excessivamente serenos, a comportamentos antiéticos e sucessivos casos de absurdo favorecimento ao FC Porto. Uma rede de interesses sem paralelo em Portugal. Importa, por isso, olhar com atenção para alguns nomes da vasta lista de membros do Conselho Superior do FC Porto e refletir sobre a gravidade de se misturar a gestão de cargos públicos com os interesses de um clube.
• Rui Moreira - Distinguido pelo Futebol Clube do Porto como Sócio do ano em 2010, o presidente da Câmara Municipal do Porto justificou a entrega da Medalha de Ouro da cidade a Pinto da Costa, o mais alto galardão do município, como um ato de justiça. Na verdade, a justiça tem falhado nos casos que envolvem o presidente portista...
O Edil da Invicta e membro do Conselho Superior do FC Porto foi, durante algum tempo, apontado como possível sucessor de Pinto da Costa. Não obstante recentemente ter confessado que, dada a sua idade, 65 anos, já seria tarde para cumprir o sonho de ascender à liderança do clube, Rui Moreira serve afincada e apaixonadamente o FC Porto. Está encarregue da concretização da Academia do FC Porto, um sonho do seu presidente, e é de conhecimento público (o que torna tudo ainda mais vergonhoso) que já reuniu com colegas autarcas para discutir assuntos relacionados com a construção da ambicionada academia. Será, certamente, um projeto idêntico ao do Centro de Estágios do Olival, pago por todos nós. A gravidade de toda esta situação em que se misturam a gestão de cargos públicos com os interesses de um clube, e em que o papel do presidente da Câmara do Porto já não se percebe onde começa e acaba e se confunde com o de futuro presidente do Conselho Superior do FCP e eventual sucessor de Pinto da Costa, devia deixar de sobreaviso e em alerta todas as autoridades competentes.
• Bragança Fernandes - Passou de vice para Presidente da CM da Maia em 2002, tendo lá ficado até 2017. Desempenhou vários cargos no FC Porto.
Analisando o concelho vizinho, Vila Nova de Gaia, os episódios grotescos também não param de brotar:
• Eduardo Vítor Rodrigues – Eleito em 2013 como Presidente da Câmara de Gaia, sucedendo a Luís Filipe Menezes, que estava no cargo há 16 anos. Nesse período ofereceu o Centro de Estágios do Olival ao FC Porto, num dos negócios mais escabrosos e que mais lesaram o erário público. Expoente máximo da afetação de recursos públicos em benefício de um clube de futebol, a fundação Porto-Gaia, criada em 1999 para construir e gerir o centro de estágios do FC Porto, obteve uma das piores avaliações no censo efetuado pelo Governo em 2012. 84,4% das suas receitas provêm de dinheiros públicos. Já em 2004, um relatório da Inspeção-Geral de Finanças, com base numa fiscalização à Câmara de Gaia, concluiu que a autarquia pagou a totalidade dos custos do centro de treinos: 16 milhões de euros. O FC Porto assegurou o direito de superfície dos terrenos por 50 anos e apenas paga uma renda mensal de 500 euros pelo centro de estágio. Para que os portistas conseguissem ressarcir todo o investimento da autarquia tinham de estar no centro de treinos durante... 2666 anos. Sim, dois mil seiscentos e sessenta e seis anos! - mas o contrato é de apenas 50 anos. Ou seja, 300 mil euros de renda, no total.
Como se não bastasse, a CM de Gaia, pela mão do seu presidente, Eduardo Vítor Rodrigues, cedeu também à equipa B de futebol do FC Porto, em regime de exclusividade, a utilização do Estádio Jorge Sampaio, em Pedroso, mediante o pagamento de uma renda simbólica e manutenção do relvado. E as regalias não ficaram por aí, a secção de andebol tem o uso regular do Pavilhão Municipal da Lavandeira sem pagar quaisquer contrapartidas financeiras. É caso para dizer: amigos, amigos, negócios em toda a parte!
Será que estas benesses ao FC Porto seriam aprovadas se fossem referendadas diretamente pelos munícipes de Gaia? Lembramos que a CM de Gaia é uma das mais endividadas do país. Porque será?
• Nuno Cardoso - Presidente da CM do Porto pelo PS entre 1999 e 2002, sucedendo na altura a Fernando Gomes que é, atualmente, vice-presidente do FC Porto para a área financeira. Este foi o responsável pela dimensão assumida pelo Plano de Pormenor das Antas (PPA), o qual levava a cabo uma intervenção urbana que o próprio considerou «só ter paralelo com o que aconteceu nos anos 50, quando foi desenhada a Avenida dos Aliados». Ora, na sequência deste processo, Nuno Cardoso terá lesado deliberadamente a autarquia em favorecimento do FC Porto, tendo o Ministério Público concluído que os cofres municipais foram prejudicados em 2,5 milhões de euros. Mais: na altura, ao mesmo tempo que exercia funções autárquicas, Nuno Cardoso detinha um cargo no Conselho Consultivo da SAD portista. Em 2000 havia sido distinguido como sócio do ano, nos Dragões de Ouro. Tendo em conta os factos e circunstâncias acima expostas, teria sido descabido acusar Nuno Cardoso de conduta dolosa relacionada com a permuta de terrenos entre a autarquia e o FC Porto, no âmbito do PPA?
• Luís Montenegro – Acaba de ser eleito líder do Partido Social Democrata, vencendo por maioria em todas as concelhias do distrito do Porto, com exceção de Baião e Felgueiras. A sua alegada pertença à mesma loja maçónica do ex-diretor dos serviços de informação Jorge Silva Carvalho - na anterior campanha interna negou alguma vez ter pertencido à maçonaria - e as faltas parlamentares para assistir a jogos do FC Porto, clube do qual é adepto e membro efetivo do Conselho Superior, foram algumas das polémicas que viveu na Assembleia da República. Em Junho de 2019, foi constituído arguido - a par dos então deputados Hugo Soares e Luís Campos Ferreira - por alegado recebimento indevido de vantagem no caso das viagens do Euro 2016, tendo negado então a prática de qualquer crime e garantido que as viagens foram pagas a expensas próprias, num processo entretanto arquivado. Boa carta de apresentação para quem se acaba de assumir como candidato a primeiro-ministro, em 2026.
• Tiago Barbosa Ribeiro - Entre 2018 e 2020 exerceu o cargo de Presidente da Mesa da Comissão Política Concelhia do PS Porto. Desde cedo tem um registo sujo, destacando-se a suspeita dos crimes de falsificação de documentos no preenchimento de fichas de filiação no partido na concelhia de Coimbra. Fez um acordo para que o caso não prosseguisse para julgamento: assunção de culpa. Mas Tiago Barbosa Ribeiro ganhou mediatismo após se ter descoberto que fazia parte de uma rede montada pelo FC Porto para atacar o SL Benfica, no sórdido caso dos emails. Personagem bastante próxima de Pedro Bragança, coautor de 'Os Truques da Imprensa Portuguesa' e autor do 'Baluarte Dragão' - os diáconos Remédios da vida são sempre homens de públicas virtudes e vícios privados, não é? Nos dias que não denunciava os truques da imprensa portuguesa, o Pedro fazia truques na imprensa portuguesa. Um craque em técnicas pidescas da manipulação de massas. Tiago Barbosa Ribeiro poderá, decerto, aspirar a altos voos com amigos destes.
• Emídio Mendes – ex-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte (CCDR-N), foi parte fundamental na entrega ao FC Porto do Complexo da Piscina da Campanhã onde o FC Porto passou a albergar a natação, o pugilismo e o desporto adaptado, em novembro de 2015. Mais uma bela negociata. Tudo embrulhado com um lacinho pelo presidente da CM Porto, Rui Moreira. O dinheiro para a reabilitação, cerca de 2 milhões de euros, foi aprovado pela organização presidida por Emídio Gomes. O préstimo foi tão grande que no mandato seguinte Pinto da Costa agraciou Emídio com o cargo de vice-presidente do FC Porto. E 4 anos depois convidou Rui Moreira para o seu Conselho Superior. Favor com favor se paga...
Tudo o que aqui relatamos pode ser facilmente comprovado. Os municípios do Porto, Gaia, Maia, Gondomar e a CCDR-N estão, há muitos anos, despudoradamente ao serviço do FC Porto, mas também as câmaras de Chaves, Póvoa do Varzim, Matosinhos e Gondomar se curvam e beijam a mão que ostenta o anel papal, prestando-lhe obsequiosa vassalagem. E disso falamos no último ponto que trazemos à colação: o escabroso esquema de financiamento encapotado com dinheiros públicos e fundos comunitários ao Porto Canal.
• PortoCanalGate – Em 2018, através de uma investigação do Jornal i, ficámos a saber que o Porto Canal, que se dedicou durante dois anos a expor e-mails roubados ao SL Benfica, continua a ser financiado por câmaras municipais da região Norte. Contas somadas, foram mais de 402 mil euros que entraram no canal do FC Porto através um conjunto de duas dezenas de contratos comerciais assinados no período de 2014 a 2018 entre aquele operador televisivo – detido pela Avenida dos Aliados S.A., empresa controlada de forma direta (82,4%) pela Futebol Clube do Porto SAD, através da FCP Media – e diversas entidades, entre as quais as autarquias das Terras de Santa Maria, Chaves, Póvoa do Varzim, Matosinhos, Porto, Gondomar e Braga. Mas as sem-vergonhices não ficam por aqui. Ao tomar conhecimento desse esquema de financiamento encapotado, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) encarregou o diretor do Departamento Jurídico de interpor um procedimento cautelar ao operador televisivo, que já era reincidente. Porém, terminou tudo quatro anos depois. O diretor jurídico da ERC, Rui Mouta, procrastinou e “engavetou” durante mais de quatro anos o procedimento oficioso, poupando assim o Porto Canal, na esfera do Futebol Clube do Porto, a sofrer coima máxima de 150 mil euros. O procedimento, que deveria ter culminado num processo de contraordenação, foi, entretanto, arquivado por “caducidade”. E ninguém se surpreendeu. Foi apenas mais um escândalo nacional com o FC Porto como denominador comum e a culpa a morrer solteira, como sempre.
A instrumentalização de autarquias e entidades do Norte do país em proteção do FC Porto é absolutamente incontestável. E perante as evidencias há um silêncio ensurdecedor no país.
Recorde-se quando Mário Centeno, então ministro das finanças, foi convidado a estar na tribuna com o filho num jogo do Estádio da Luz? Instalou-se um escândalo nacional. Passados poucos dias, o Ministério Público promovia a emissão de mandados de busca para o Terreiro do Paço. O caso, como é lógico, foi rapidamente arquivado. Poucos meses depois, Rui Moreira apareceu em plena tribuna do Estádio do Dragão. Lembram-se o que aconteceu? Rigorosamente nada. A situação foi encarada com total normalidade. Também não foram levantadas quaisquer suspeitas em relação ao antigo Ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, presença assídua na Tribuna do Dragão, que por mera coincidência é filho do ex-presidente da AG do FC Porto, o juiz jubilado José Manuel Matos Fernandes, que, em 2009, como testemunha de defesa de Pinto da Costa no julgamento do Envelope, no âmbito do processo Apito Dourado, enalteceu no tribunal "a seriedade" do dirigente e afirmou nunca lhe ter constado qualquer tentativa de suborno na arbitragem. Repare-se na diferença de tratamento dado a um caso, o que envolve o SL Benfica, em comparação com os supracitados. Assim se expõe a hipocrisia de todos aqueles que se indignaram com a banal oferta de dois bilhetes para um jogo a um responsável político, mas que, perante a situação de desastre financeiro do FC Porto, demonstram que afinal vale tudo, desde financiamentos públicos avultados para o Porto Canal à oferta de terrenos, infraestruturas e gestão de projetos de construção, passando por uma lista para o Conselho Superior manifestamente incompatível com a necessária transparência e salvaguarda do interesse geral. É tempo de acabar, de uma vez por todas, com este sentimento de inimputabilidade.
Algumas figuras políticas envergonham-se e envergonham as funções que desempenham."

2 comentários:

  1. É votar em partidos que não tenham ninguém ligado a cargos nos corruptos.

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  2. Anónimo das 05,48, olhe que não é fácil fazer o que propõe.

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