Últimas indefectivações

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Mãos nos bolsos

"Gosto de me deter nos pormenores que estão para além dos pormaiores. Em tudo na vida e também no desporto. Não para me distrair do essencial, mas para saborear o caleidoscópio da vivência do detalhe que sobressai no meio da aparência. Tal como a beleza que se descobre nos pormenores da fealdade e do feio que sempre existe na radiografia do belo.
Este arrozado vem a propósito de um pormenor muito presente no fim dos jogos aqui e lá fora: os treinadores cumprimentam-se quase sempre com uma das mãos no bolso.
Tento encontrar o racional de tão deselegante modo de cumprimento. Será para segurar o caderninho de gatafunhos escrevinhado durante os jogos? Será para conter um gesto menos amistoso com a mão que sobra do cumprimento? Será que não são mãos nos bolsos, mas antes simbolizam mãos aos bolsos de quem lhes paga? Será porque uma das mãos se recolhe mais depressa ao balneário que está mais à mão de semear? Será para disfarçar o facto de o perdedor ir com mãos a abanar para meter a mão na consciência? Será para não mostrar que se vai com uma mão atrás e outra à frente, depois de durante o jogo se ter levado as mãos à cabeça? Será para não dar uma mãozinha a um adversário?
Nos jogos com duas mãos, ainda percebo que, na primeira delas, se esconda a segunda, até para ter os trunfos na mão e não os dar de mão beijada, evitando ficar de mãos atadas.
Ou será quando a mão-cheia de golos (e já agora uma manita) precisa de mãos-largas para encher os bolsos depois de meter alguém no bolso ou meter a mão no bolso de alguém?
Não sei, afinal. Apenas sei que é feio. Ponto final."

Bagão Félix, in A Bola

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