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segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

A propósito de gostar de futebol, um exemplo que vem de Manchester

"No zerozero, pela internacionalização da marca, temos o privilégio de trabalhar, nas nossas instalações, com vários elementos dos domínios internacionais. Um deles, o playmakerstats.com, anteriormente comandado pelo Andy Packett, um típico inglês adepto do Aston Villa, é agora orientado pelo Stephen Gillett, a quem chamamos Steve, natural de Reading, de 42 anos, há muitos a viver em Portugal, um acérrimo adepto do Manchester United.
Porquê este apontamento? Porque, há uma semana, em conversa com o Steve antes do jogo do United (então nono classificado, com menos de metade dos pontos do líder Liverpool - 18 para 40) contra o Tottenham (até aí só com vitórias desde a chegada de Mourinho), perguntava-lhe se não havia algum lamento em Manchester pela troca feita há um ano, ou se voltaria a trocar. Por mais penoso que tinha sido o último ano do português em Old Trafford, entendia eu que a equipa poderia ser bem mais competitiva e apresentar melhores resultados.
Mas a resposta dele foi soberba e é sobre isso que aqui reflito: «Claro que não trocava. Podem dizer que não estamos a jogar bem nem a ganhar, mas eu revejo-me em Solskjaer e na equipa. Eles entusiasmam-me e eu tenho vontade de ver os jogos. Como adepto, é isso que me importa. Se calhar, vamos estar muitos anos sem ganhar nada, isso não me importa muito, porque o que eu quero é vê-los a jogar de forma apaixonada e ver também os novos miúdos aparecerem na equipa. It's the journey, not the destination, mate».
Recolhi, voltei ao meu lugar e retive. É esta a mentalidade que gosto e, por vezes, tão engolido num futebol resultadista e pouco voltado para os méritos principais que os adeptos procuram, até me esqueço de tal. E é bom senti-lo, vindo de um dos clubes que mais vi ganhar até ao momento, e que se poderia considerar em crise profunda. Não ganha, faz sentido. Mas entusiasma os adeptos, portanto perde sentido.
Veria, depois, que o United ganhara ao Tottenham e pensei no quão entusiasmado terá ficado o Steve. E, no fim de semana, perante a hipótese de ver o dérbi de Manchester, encostei-me no sofá com aquela mensagem no pensamento. Provavelmente, a pensar que o desequilíbrio de forças e de dinâmicas entre as duas equipas resultaria numa vitória da equipa de Guardiola. Folgada, porque não?
À medida que o jogo se desenrolava, com vantagem dos red devils, ia bebendo ainda mais daquela filosofia. Claro, também é mais fácil assim, mas... Efectivamente, havia paixão, havia entusiasmo e havia comprometimento na equipa. Era um dérbi, talvez isso o inflacionasse. Mas havia também coragem para ter bola, para tentar o terceiro quando o City apertava e para bloquear o adversário na medida legal e leal. Havia também uma notória destreza de uma nova geração, composta por Wan-Bissaka, McTominay, Lingard, Daniel James e sobretudo Rashford, capaz de se solidificar e de devolver alguma grandeza de conquistas ao poderoso United - não ao nível da Class of'92 (Beckham, Giggs, Scholes e os Neville), muito provavelmente. E então? Entusiasmante.
Acabei o jogo sem falsas ideias. Não acho que se aproxima uma retoma do United a curto prazo, muito menos acho que já está ao nível do rival, não me parece que aquele jogo, se se realizasse amanhã, voltaria a ser ganho pela equipa de Solskjaer. E daí? Acabei-o com a certeza de perceber a razão para aquela filosofia do Steve.
«It's the journey, not the destination, mate!»"

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