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sexta-feira, 8 de novembro de 2019

O desporto: uma tema fantasma face às realidades

"«As questões desportivas são integradas, de pleno direito, nas ‘questões de sociedade’, com a erupção da violência, da dopagem, da corrupção; fenómenos negativos que não nada têm de específico. Isto é a melhor prova da ‘secularização’ do campo desportivo», refere Christian Pociello, no seu livro “Les cultures sportives” (1995, p. 10).
O campo desportivo apresenta uma autonomia relativa e é submetido às pressões de sociedades em crise e às influências de um mundo agitado. Se os padres não são os melhores colocados para fazer a sociologia da religião, o mesmo se passa para alguns actores associados ao desporto (eleitos, dirigentes, praticantes, pedagogos, etc.). Mas também não é fácil suscitar o interesse dos estudantes (universitários, por exemplo) para uma “cultura sábia” relacionada com o desporto e de uma certa jubilação em conhecer e compreender este objecto de estudo. A pouca participação dos estudantes de Educação Física e Desporto ou áreas relacionadas em eventos científicos (seminários, colóquios, congressos, etc.) é notória. Já colocámos várias hipóteses para este afastamento dos estudantes: o excesso de eventos realizados; os custos financeiros associados aos eventos; as dificuldades pessoais relativamente à ciência; a seriedade dos ensinos politécnico e universitário, com a utilização de uma linguagem não acessível. Outras há que poderiam ser alvitradas. Todavia, como diria Norbert Elias” (1986, p. 25), “o conhecimento do desporto é a chave do conhecimento da sociedade”.
O termo genérico “desporto” abrange um sistema complexo de práticas, de representações e de valores, que participam nos mitos actuais das sociedades contemporâneas. Nascido numa sociedade liberal e parlamentar do capitalismo industrial, o desporto moderno difundiu-se pela quase totalidade do globo terrestre. Foram os ingleses que o “inventaram” e empreenderam esforços para codificar a maior parte dos desportos modernos, explicando o impacto particularmente forte destas práticas nas zonas de influência colonial. Os franceses contribuíram para a sua universalização. Mas o movimento desportivo tem limites na expansão planetária. Existem evidentes irregularidades geográficas da sua implementação nos continentes, na intensidade da prática, na produção de performances e na distribuição de locais de organização de competições internacionais. A questão económica do desporto tornou-se um dado incontornável desse fenómeno mundial. Refugiando-se nos símbolos, sem explicar muito bem o seu significado e o seu futuro, a faculdade de ensinar, de instruir e de formar os povos por um desporto universal é fortemente colocada em questão."

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