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domingo, 8 de setembro de 2019

'Docte Ignorance' desportiva

"O desporto impregna profundamente a vida quotidiana dos homens e das mulheres do século XXI. Divertimento aristocrático na origem, a prática desportiva conheceu, desde o século XIX, um crescimento prodigioso e continua a ser um dos fenómenos sociais mais marcantes da nossa época. A sua prática democratizou-se amplamente e envolve quase todos os indivíduos.
A actividade desportiva não tem o mesmo significado para todos. Cada indivíduo carrega consigo o seu temperamento, as suas possibilidades, as suas exigências pessoais. Ele dá um conteúdo original ao desporto e isso traduz-se: nas intenções, pela vontade de ultrapassar os seus limites; e na intensidade, por uma preparação, uma participação nas lutas desportivas e um esforço que varia segundo cada um. Trata-se, bem entendido, de envolvimentos na disciplina escolhida e no desejo de progredir.
O bem-estar e os perigos não são idênticos para todos. O desporto de alto rendimento distingue-se do desporto de massas. Para a sua elite, e para aqueles que se esforçam por o ser, a actividade desportiva exige um compromisso de todo o ser, uma disciplina a cada momento. Ele ocupa os pensamentos e orienta a maior parte das acções. O desporto favoriza as qualidades naturais e permite a afirmação da personalidade, ele revela o seu próprio valor. Ele é factor de promoção, pelo que a sua essência é a procura da performance, do resultado, uma vontade de se ultrapassar levada ao extremo. Para a massa, esta vontade existe, mas ela não é atingida pela mesma permanência, porque o atleta “amador” é submetido a obrigações que preenchem o essencial da sua vida. Apenas consagra à sua prática desportiva de eleição uma parte, mais ou menos grande, do seu tempo de lazer.
Em Portugal, fala-se muito de desporto, mas pratica-se pouco. E quando se fala dele os equívocos proliferam. Existe uma certa “docte ignorance”, como dizia o teólogo Nicolas de Cues (2013[1440])."

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