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sábado, 8 de junho de 2019

Futebol e Idadismo

"São as coisas boas da vida que juntam netos e avós, deixando para os pais o domínio da regra e da ordem diária e sobrando para os avós a terra farta dos valores, da imaginação e da bonomia. Aqui pelo meio, há pais que jogam à bola com os filhos, há avós que dão uns toques e também há idas aos estádios para grandes emoções vividas em família. Depois há futebol, muito futebol pelas escolas e associações, assim como pelos espaços informais e parques de lazer onde as crianças jogam e os avós assistem. Há tudo isto e muito mais na relação de uma família com uma bola, mas não há, quer dizer, não havia, avós a jogar e netos a assistir com orgulho e a torcer por eles na bancada.

Essa é uma das grandes novidades do Walking Football! Baralhar o jogo das gerações e valorizar fisicamente a geração dos avós perante os filhos e os netos. É que o Povo há muito que anda a repetir que 'velhos são os trapos', mas cada vez encontra menos formas de o demonstrar numa sociedade que promove a desvalorizar social dos mais velhos como se fossem um peso para as novas gerações ou um factor de insustentabilidade para a segurança social. Nada mais errado, se pensarmos que somos o que somos hoje porque o passado nos trouxe até aqui e que temos o que temos porque o passado no-lo legou. Então porque é que uma geração que vive o dilema de deixar de herança uma monstruosa divida pública aos filhos, nalguns países desenvolvidos gastando a um só tempo o património de três gerações, ainda assim aponta e descrimina a geração mais velha? Só pode ser por desinformação ou por falta de pensar sobre o assunto e o tempo de hoje, sabemos bem disso, passa tão veloz que nos rouba a todos a ponderação e o discernimento. Por isso precisamos de factos e acontecimentos que nos chamem a atenção e nos despertem para a realidade no que ela tem de oculto ou menos evidente. Uma dessas coisas é que a idade activa aumentou com a esperança de vida e que é preciso tirar de uma vez por todas do armário do 'Idadismo' coisas tão importantes como a sabedoria, a capacidade e destreza física, a beleza e a vida sexual, assim como outras coisas que pertencem à vida plena de todos nós e que não se apagam por decreto quando sobre um de nós cai a tabuleta dos 65+, da Idade de Ouro ou outra qualquer de tantas que por aí há. É por isso, voltando à Bola, que o Walking Football está a ter e vai ter ainda mais sucesso entre nós: porque alerta os demais pelo insólito e contribui para valorizar por inteiro o Ser Humano, ajudando a devolver-lhe a dignidade social numa época em que o idadismo já se afirma como uma das formas mais importantes de exclusão social."


Jorge Miranda, in O Benfica

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